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26.1.22

ARMADILHAS DO DESTINO - PARTE V

 





A mãe de Luísa, fora uma mulher frágil, que não resistira a uma pneumonia, e morrera quando ela tinha dez anos. José o pai, era um homem rude, de princípios rígidos. Acabou de criar sozinho a filha, dando-lhe tudo o que ela precisava exceto amor. 
Infelizmente para Luísa, o pai era também um homem muito ambicioso, que tinha reparado há muito, na maneira como Álvaro, o seu vizinho olhava para a sua filha. Ele ficara viúvo uns anos antes, quando a sua esposa se suicidara. Não tinha filhos, e era muito rico. Na cabeça do pai de Luísa, ele já  a tinha casado com o vizinho, quando descobriu que a filha andava "enrabichada" pelo jovem médico.

Nuno até podia ser médico, mas não era rico. Ou pelo menos, não o era em terras, que era a única riqueza que José entendia. Entre Nuno e Álvaro a escolha dele era óbvia.
Proibiu terminantemente a jovem de se encontrar com o médico e ameaçou-a de a mandar para a casa dos avós paternos que moravam numa remota  aldeia minhota, onde ela nunca fora e com quem não tinha tido o mínimo contato.
 
Prestes a fazer dezoito anos, Luísa era muito jovem e teve medo de que o pai cumprisse a ameaça. Chorou baba e ranho, mas acabou o namoro com Nuno. Ele não lhe perdoou. E quatro meses depois partia para África. Durante dezasseis anos, apenas uma vez ela o vira, numa reportagem sobre as condições de vida no Bangladesh.
Entretanto o pai combinara o casamento dela com o vizinho, com quem se casara pouco depois de completar os dezoito anos.

Fechou a torneira da água. Abriu o armário e retirou um frasco com sais de banho que espalhou na água. Despiu a blusa e as calças de ganga. Libertou-se das minúsculas peças de lingerie, e lançou uma rápida olhada ao espelho antes de entrar na banheira. Os seus olhos azuis escureceram e o seu rosto contraiu-se num esgar amargo, ao ver as múltiplas cicatrizes que o seu corpo bem proporcionado, apresentava.
Mergulhou na água quente, e cerrou os olhos, tentando em vão esquecer aquilo que acabava de observar. Cada uma daquelas cicatrizes, representavam muitas horas de choro, e sofrimento. Cada uma, abrira uma ferida enorme no seu espírito. Essa era uma das razões porque ela não se queria ver refletida num espelho. 

E a razão que a mantinha afastada dos homens, desde que enviuvara há quase catorze anos. 
Com raiva, pegou na esponja e começou a esfregar a pele com violência. Como se assim fizesse desaparecer dela todas as cicatrizes. Mas não adiantava. Ainda que por algum milagre as fizesse desaparecer da sua pele, jamais conseguiria apagá-las da sua memória.

10 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Agora fiquei arrepiado.

Tintinaine disse...

Eu lembro-me desta conversa. Isto é uma reedição, não é verdade, Elvira?
Bom dia e cuidado com o frio!

chica disse...

Impactante,Elvira!
Realmente existem marcas indeláveis! Adorei!
Ótimo dia! beijos, chica

Janita disse...

Já não estou a gostar nada 'disto'... :(

Um abraço.

Emília Pinto disse...

Este capitulo é um pouco triste, mas nem sempre a vida é boa. Amiga, espero que estejas bem e que os teus problemas de saúde estejam a ser resolvidos. Um beijinho
Emilia

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
A vida é tão dura e há mulheres que sofrem tanto!
Um episodio triste mas que reflete infelizmente tanto da realidade.
Beijinhos e saúde.
Ailime

Maria João Brito de Sousa disse...

Caramba! Até eu me arrepiei... :(

Abraço grande, Elvira.

Simon Durochefort disse...

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Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Marido rico nem sempre é sinônimo de felicidade e sim, de violência, de machismo, de posse. Coitada!
Abraços fraternos!

João Santana Pinto disse...

Quando comecei a ler, pensei que era uma publicação para dar a conhecer a personagem e também o acabou por ser, mas…
Outra das coisas que a autora nos habituou foi a retratar questões pertinentes e que merecem ser tratadas e aqui está mais um desses momentos, “arrepiante” como li em alguns dos comunitários.
Para que serve a escrita se não para enviar mensagens e esperar por um mundo melhor…

Vou passar ao seguinte.