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5.6.20

ISABEL - PARTE XVIII






Isabel concentrou-se no computador e Amélia não pôde deixar de a admirar. A mulher frágil e carente de momentos atrás tinha desaparecido e no seu lugar estava agora a profissional competente que sempre fora. Fez os telefonemas e depois disse:
- A Dulce diz que vai mandar por correio electrónico o vídeo da campanha. Se aprovares entrega o DVD para o cliente de tarde. As reuniões estão marcadas e o Paulo diz que passa por cá esta tarde. Diz que o substituto já chegou. Perguntou-lhe se queria vir com ele ver o filme e ele disse que não. Se o Paulo aprovou, estava aprovado. Ele só se interessará por campanhas futuras que ele próprio encomende. Que te parece? Deve ser um pedante daqueles que julga que trás um rei na barriga.
Perante as caretas de enjoo da amiga, Isabel não pode deixar de rir.
Passaram-se vários dias, em que Isabel trabalhou com afã, não só porque conseguira dois novos clientes e precisava idealizar as campanhas para eles, como também porque pretendia a todo o custo esquecer os factos recentes,  os anseios e desejos que povoavam agora o seu coração. Habitualmente o mês de Agosto era sempre um mês de bastante trabalho. Em Setembro começavam os novos programas de TV e sempre havia clientes que desejavam renovar os seus anúncios nessa data.
A verdade é que a maioria tratava disso bem mais cedo, e nessa altura as campanhas estavam aprovadas e gravadas. Porém sempre havia alguém que se decidia à última hora. E depois queriam sempre o trabalho para ontem. Era um sufoco. Chegava a casa estoirada, e sem vontade para nada.
E a semana passou, e chegou a tarde de Sexta- feira. Por volta das quatro horas, Isabel guardou todas as suas coisas, encerrou o computador e disse:
- Amélia vou sair. Tenho hora marcada no cabeleireiro. Preciso fazer um corte, que não aguento mais este cabelo,  com o calor que faz. Levo a correspondência e passo pelo correio. Como já não volto, até Segunda.
- Telefono-te à noite - retorquiu Amélia. O Afonso e eu estamos a pensar ir a um bar novo no Bairro Alto. Vem connosco.
- Não vale a pena. Não penso sair.
- Anima-te. Dizem que é um sítio muito acolhedor. Não é verdade, Luísa?
- Eu gostei muito. Fui lá na semana passada, com o meu namorado e alguns amigos.
Ela não contestou. Agarrou nas cartas que Amélia lhe estendia, colocou sobre o ombro esquerdo a alça da mala e depois de ter posto os óculos escuros saiu. Já na rua olhou o relógio indecisa.
 Estava quase na hora marcada. Se fosse primeiro ao correio decerto chegaria ao cabeleireiro atrasada. Decidiu ir primeiro ao salão.
Foi recebida com extrema simpatia. Era cliente antiga. Uma empregada lavou-lhe a cabeça e depois João, o cabeleireiro, veio fazer o corte. Isabel nunca se preocupava muito. Confiava plenamente em João e ele sempre decidia o corte em função da moda actual, mas também do tipo de rosto de Isabel. Naquele dia não foi diferente, e quando uma hora depois João lhe colocou o espelho, ela achou que estava bem melhor. Até parecia mais nova. As mulheres precisam de mudar a imagem de vez em quando, para levantarem a auto estima. Isabel saiu do cabeleireiro, sentindo-se bem mais bonita. Olhou o relógio. Faltava meia hora para  o  encerramento dos correios. 

23.8.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE XXVI


                                          
. -Muito bem doutor. Mas, eu não posso ficar mais tempo na cidade. É imperioso que regresse a Lisboa. Posso viajar com a Mariana?- Perguntou Miguel.
- Do ponto de vista médico, claro que pode. Em Lisboa existem bons médicos, ela pode perfeitamente ser acompanhada lá. Pode inclusive ser melhor para o restabelecimento da normalidade cognitiva da paciente, se o factor causa-efeito, estiver nesta cidade. O afastamento do local, de uma tragédia, não faz com que ela seja menor, mas faz com que pareça menos trágica. Agora, do ponto de vista legal, pode ser problemático, uma vez que uma pessoa em amnésia, não tem vontade própria, e segundo me disse, a paciente não é sua parente. Mas isso, claro, não é comigo.  E sim com o senhor e as autoridades.
-Compreendo. E o doutor poderia recomendar-me algum colega, em Lisboa?
- Claro que sim. Se quiserem aguardar um pouco na sala, eu vou escrever uma carta a um colega meu. Convém que levem a RM. Se não puder esperar, passe pela clínica, deixe a morada que eles enviam-na pelo correio. Se não o fizer, o colega vai pedir-lhe para ir fazer outra e não há necessidade disso.
-Muito obrigado, doutor.
- Boa sorte! - Respondeu o médico.
Aguardaram alguns minutos na sala, até que a assistente, lhes veio trazer uma carta endereçada a um tal doutor João Serra, na rua António Augusto de Aguiar.
Consulta paga, e já na rua, Miguel perguntou:
-Está desiludida, Mariana?
-Não devia estar? Retorquiu com amargura.
- Não. Já sabemos que não tem nada físico, o que podia tornar irreversível o seu estado. Então é preciso não perder a esperança.
Amanhã vou despachar as telas para Lisboa, e depois seguimos nós. Precisamos comprar uma mala para as suas coisas. Vai gostar da minha casa em Lisboa. Fica num sítio muito bonito, e tem outras condições que esta não tem. E, preciso contratar alguém para ir consigo ao médico e lhe fazer companhia. Vou estar muito ocupado nos próximos tempos. Tenho uma exposição para fazer, e estou muito atrasado. Tenho que ver o espaço, na galeria, escolher as telas que vou expor, mandar fazer os folhetos de apresentação, os convites,  contatar a imprensa, um sem fim de coisas.
Calou-se ao ver que a jovem chorava.
- Mau. O que é isso agora?
- Estraguei a sua vida. Deixou de pintar, de ir às suas tertúlias, está farto de gastar dinheiro comigo. Devia ir-se embora sem mim.
Estacou, zangado:
-Não digas, asneiras, - disse tuteando-a pela primeira vez







19.7.18

O DIREITO À VERDADE - XXXVII




Setembro estava a chegar ao fim. Cláudio saiu da adega, depois de ter mexido o mosto, e verificado o açúcar do vinho que estava no seu processo de fermentação. Ia sentar-se no alpendre mas ao ver o pai, fez menção de entrar em casa.   O pai gorou-lhe a intenção.
- Senta-te filho. Precisamos conversar.
 Sentou-se de má vontade. Não queria falar com ele, se pudesse nem queria vê-lo. Não conseguia esquecer a imagem do pai a entrar no hotel com a jovem Helena. Dois dias depois, ao retirar o correio, viu uma carta do hotel dirigida ao pai. Claro, ele devia estar a pagar-lhe as despesas. Durante as vindimas o pai não tinha ido a Viseu, mas várias vezes o surpreendeu ao telemóvel, todo carinhoso. E naquela tarde ele voltara à cidade. Cláudio toda a vida amara e respeitara aquele homem com se fora o seu pai. Houve uma altura em que Jorge quisera adotá-lo. Cláudio tinha então dez anos, tinha perdido o pai havia quatro anos. Lembrava-se bem do progenitor, parecera-lhe que a adoção seria uma traição à memória do pai, e não quis que Jorge o adotasse. Disse à mãe que fugiria se eles levassem aquela ideia adiante. Mas quando tinha catorze anos, seduzido pelo amor que o marido da mãe lhe dedicava, começou a chamar-lhe pai. E nunca se arrependeu. Até descobrir que o pai não só traía a mãe, como o fazia com a única mulher do mundo  que não podia fazê-lo. A mulher que ele amava. Aquela com quem sonhava todas as noites, a mulher que não lhe saía do pensamento apesar de saber da sua indignidade. Tinha horas, em que lhe apetecia desaparecer, para não ter de encarar o pai.
- Queres dizer-me o que se passa contigo? Porque andas com essa cara de quem comeu e não gostou e foges do nosso convívio? A tua mãe já anda preocupada.
Apertou os punhos, furioso.
- Será que não sabes? Como podes ser tão cínico? “Se pensas que eu era capaz de trair a tua mãe, não me conheces. Amo-a mais do que a mim mesmo” – disse imitando o jeito de falar do pai.  És um hipócrita. Julgas que eu não sei que tens uma amante?
- Baixa a voz, Cláudio. Que a tua mãe não oiça tal disparate!
- Isso, finge que te preocupas com ela. Mas não penses que me enganas.
- Não sei o que te disseram, mas não te admito que me faltes ao respeito.
- Que respeito, julgas que me mereces, quando te vejo levar para um hotel uma jovem mais nova que eu, enquanto a mãe estava a convalescer da cirurgia? E não me venhas dizer que é mentira, eu vi, ninguém me contou.
Furioso, Jorge levantou-se e dirigiu-se ao filho. Cláudio pensou que o pai lhe ia bater, e preparou-se para se defender. Apesar de toda a raiva acumulada durante aqueles dias, um resto de respeito impedia-o de revidar, se o pai o agredisse. Porém Jorge limitou-se a passar por ele ordenando.
- Vem comigo ao escritório. Agora!
E sem ver se o filho o seguia, ou não, encaminhou-se para o aposento.



12.7.18

O DIREITO À VERDADE - XXV




Três dias mais tarde, Helena recebeu uma chamada de um número identificado, mas que não conhecia. Atendeu.
-Estou!
- Menina Helena?
-Sim.
- Fala Jorge Noronha. Seu tio telefonou-me ontem de manhã, dizendo que tem uma coisa para me entregar. Estou em Viseu. Pode encontrar-se comigo?
-Claro. Estou no hotel Avenida. Pode passar por cá?
- A que horas?
- Quando quiser ou puder. Peça na receção para me avisarem que eu desço.
- Certo. Estou muito perto, dentro de minutos estou aí. Até já.
-Até já.
A jovem desligou o telemóvel, foi à casa de banho, escovou os cabelos, deu uma olhadela ao espelho, meteu na bolsa as certidões e a caixinha com a joia, e desceu para a salinha no átrio. Estava ansiosa e emocionada. Como seria o homem que lhe dera o ser?
Minutos mais tarde, viu entrar um homem de meia-idade, alto e magro. Caminhou com segurança até ao balcão de receção e falou com a empregada. Esta apontou na sua direção e o homem voltou-se e olhou-a. Depois disse qualquer coisa à empregada, que a jovem supôs ser um agradecimento e dirigiu-se para ela. A tremer a jovem via-o aproximar-se sentindo vontade de desatar a correr e ir-se embora. Porém não se mexeu. Os dois tinham direito a conhecer a verdade. O que acontecesse depois, se o homem ia ou não rejeitá-la já era outra história e ela tinha que estar preparada para tudo.
Cumprimentaram-se com um aperto de mão, e sentaram-se.
- Não percebo o que pode ter o Alberto de tão importante para me mandar que não o pudesse fazer pelo correio.
-Já vai entender, - disse a jovem tirando do envelope a certidão de casamento e estendendo-lha.
Ele deu uma olhada rápida ao documento, e franziu o sobrolho.
- Que quer isto dizer? – Perguntou
A jovem não respondeu. Em vez disse passou-lhe o registo do divórcio.
- Cada vez entendo menos. Para que é que o Alberto me mandou isto?
- Não foi o tio que lhas mandou. Fui eu que quis vir. Nessa certidão de divórcio a data é de vinte e oito de Novembro de mil novecentos e noventa e um. É correta essa data?
- Sim, mas continuo sem entender. Quem a mandou vir? A Natália? O que é que ela pretende agora?
- Vim por minha espontânea vontade, senhor. Vai entender se lhe disser que encontrei esses papéis, no quarto da minha mãe, Natália Trindade, exatamente há vinte e cinco dias após o seu funeral.
-A Natália morreu? 
-Vitima de cancro, no dia doze do mês passado. 
-Lamento. Apesar de tudo, não lhe desejava mal. Mas continuo sem entender, porque guardou  esses documentos, durante tantos anos, E porque a menina faz questão de mos entregar.
- Vai entender se lhe disser que eu nasci cinco meses e vinte dias após esse divórcio.
Fez-se silêncio. Um silêncio interminável, enquanto os dois se olhavam. A jovem expiando as reações no rosto do homem, enquanto ele tentava digerir a informação.
- Isso quer dizer que a menina é minha filha, - disse por fim. Era uma afirmação, não uma pergunta.
- Penso que sim. Por isso vim. Para lhe pedir que fizesse comigo um exame de ADN. Ambos temos o direito a saber a verdade.


12.11.15

FOLHA EM BRANCO - PARTE XXVI


                                          foto do google
. -Muito bem doutor. Mas, eu não posso ficar mais tempo na cidade. É imperioso que regresse a Lisboa. Posso viajar com a Mariana?- Perguntou Miguel.
- Do ponto de vista médico, claro que pode. Em Lisboa existem bons médicos, ela pode perfeitamente ser acompanhada lá. Pode inclusive ser melhor para o restabelecimento da normalidade cognitiva da paciente, se o factor causa-efeito, estiver nesta cidade. O afastamento do local, de uma tragédia, não faz com que ela seja menor, mas faz com que pareça menos trágica. Agora, do ponto de vista legal, pode ser problemático, uma vez que uma pessoa em amnésia, não tem vontade própria, e segundo me disse, a paciente não é sua parente. Mas isso, claro, não é comigo.  E sim com o senhor e as autoridades.
-Compreendo. E o doutor poderia recomendar-me algum colega, em Lisboa?
- Claro que sim. Se quiserem aguardar um pouco na sala, eu vou escrever uma carta a um colega meu. Convém que levem a RM. Se não puder esperar, passe pela clínica, deixe a morada que eles enviam-na pelo correio. Se não o fizer, o colega vai pedir-lhe para ir fazer outra e não há necessidade disso.
-Muito obrigado, doutor.
- Boa sorte! - Respondeu o médico.
Aguardaram alguns minutos na sala, até que a assistente, lhes veio trazer uma carta endereçada a um tal doutor João Serra, na rua António Augusto de Aguiar.
Consulta paga, e já na rua, Miguel perguntou:
-Está desiludida, Mariana?
-Não devia estar? Retorquiu com amargura.
- Não. Já sabemos que não tem nada físico, o que podia tornar irreversível o seu estado. Então é preciso não perder a esperança.
Amanhã vou despachar as telas para Lisboa, e depois seguimos nós. Precisamos comprar uma mala para as suas coisas. Vai gostar da minha casa em Lisboa. Fica num sítio muito bonito, e tem outras condições que esta não tem. E, preciso contratar alguém para ir consigo ao médico e lhe fazer companhia. Vou estar muito ocupado nos próximos tempos. Tenho uma exposição para fazer, e estou muito atrasado. Tenho que ver o espaço, na galeria, escolher as telas que vou expor, mandar fazer os folhetos de apresentação, os convites,  contactar a imprensa, um sem fim de coisas.
Calou-se ao ver que a jovem chorava.
- Mau. O que é isso agora?
- Estraguei a sua vida. Deixou de pintar, de ir às suas tertúlias, está farto de gastar dinheiro comigo. Devia ir-se embora sem mim.
Estacou, zangado:
-Não digas, asneiras, - disse tuteando-a pela primeira vez




Amigos, porque amanhã é Sexta-Feira 13, o Miguel e a Mariana estarão de folga. Mas se quiserem passar por aqui, tenho a certeza que gostarão da história que tenho para vos contar. Trata-se de uma história verídica, alusiva ao dia.