Boa noite, amigos.
Hoje falei com o neurologista que acompanha o meu marido. Disse-me que o registo do holter estava normalíssimo. Que amanhã fará a RM, na Segunda feira fará o dopler das carótidas e começará a ir ao ginásio a fim de fazer fisioterapia pelo menos uma semana. no dia 19 fará um ecocardiograma e se continuar tudo bem, virá para casa. Entretanto eu estou com uma tendinite no braço direito. Que mais nos acontecerá neste ano que tem sido tão aziago.
- Perguntou quase num sussurro:
- Queres o divórcio? Estás apaixonada por alguém?
“ Meu Deus! Como pode ser tão inteligente para os
negócios e tão burro para as coisas do coração?”- pensou Isabel, sentindo que
tinha chegado a hora de abrir o seu coração, e deixar que ele visse o que a
trazia atormentada.
-É claro que não quero o divórcio. Mas não sei onde
arranjar forças para continuar a aguentar este arremedo de casamento.
Perguntaste se estou apaixonada por alguém. É óbvio que estou. Estou apaixonada
por um homem que me quer dar segurança material, mas não me dá o seu coração. Estou
apaixonada por um homem, a quem dei tudo o que tinha, o meu corpo, o meu
coração, os meus pensamentos, os meus sonhos. E o que me deu esse homem, em troca?
Sexo. O sexo é bom, tão bom que me deixei deslumbrar e pensei poder viver do
prazer que ele me dava. Mas depressa verifiquei que era uma triste imitação
daquilo que o meu coração ansiava. O homem por quem me apaixonei, nunca me
falou da sua vida passada, dos seus sonhos para o futuro, nada. Eu amo tanto
esse homem, que o maior sonho da minha vida, é ter um filho seu. Mas em momento algum, ele mostrou desejo de ter esse filho, e assim tomo a pílula todos
os dias, não vá ter uma gravidez que ele não deseje, e acabar com a pouca
esperança que me resta, de que um dia sinta por mim, o mesmo amor que sinto por ele.
Estava descontrolada. Chorava copiosamente, mas nem por
um momento pensou em se calar. As palavras saíam em catadupa, cheias de
amargura.
Ricardo levantou-se. O seu rosto estava tão pálido quanto
o de um defunto. As mãos trémulas, ansiavam por acariciar a mulher. Mas de
algum modo, sabia que se o fizesse naquele momento, ela rejeitá-lo-ia. Virou-lhe
as costas e caminhou até à janela, deixando que ela chorasse até se acalmar.
Quando percebeu que o choro tinha perdido intensidade, ele retomou a conversa, sem se voltar para ela, o olhar
perdido no Tejo.
Aquele homem de quem te falei, apaixonou-se uma vez
quando era ainda estudante, um miúdo que acabara de completar vinte anos. Nessa
idade, o mundo é demasiado pequeno para os nossos sonhos, e fazemos tudo em
demasia. Comemos demais, bebemos demais, amamos demais. Ele apaixonou-se loucamente, por uma mulher um pouco mais velha, e sentiu-se o homem mais feliz do universo
quando num momento, que ele pensava ser de paixão retribuída, fez amor sem tomar
precauções. Pouco tempo depois ela disse-lhe que estava grávida. Ele ficou
aflito, ainda estava na faculdade, não tinha como sustentar uma casa, mas nem
por um segundo, pensou livrar-se dela ou do bebé, que amou desde o primeiro
momento. Falou com os pais, e eles assumiram as despesas do casamento, em troca dele transferir a matrícula para a noite, e ir trabalhar com o pai para a
oficina, pois nessa altura já era um bom mecânico.
Sem se voltar uma única vez, Ricardo contou tudo o que
passou com aquele casamento, o que sofreu, quando tomou conhecimento de como aquela mulher e o tinha enganado, da dor que foi descobrir que aquele pequeno ser que tanto amava e que
nunca iria conhecer, por quem aguentou aqueles
seis meses de martírio, não era nada seu.