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12.7.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE XLVII

Boa noite, amigos.
Hoje falei com o neurologista que acompanha o meu marido. Disse-me que o registo do holter estava normalíssimo. Que amanhã fará a RM, na Segunda feira fará o dopler das carótidas e começará a ir ao ginásio a fim de fazer fisioterapia pelo menos uma semana. no dia 19 fará um ecocardiograma e se continuar tudo bem, virá para casa. Entretanto eu estou com uma tendinite no braço direito. Que mais nos acontecerá neste ano que tem sido tão aziago.






Sentiu que uma garra gelada lhe penetrava no peito e o rasgava de cima, abaixo.
- Perguntou quase num sussurro:
- Queres o divórcio? Estás apaixonada por alguém?
“ Meu Deus! Como pode ser tão inteligente para os negócios e tão burro para as coisas do coração?”- pensou Isabel, sentindo que tinha chegado a hora de abrir o seu coração, e deixar que ele visse o que a trazia atormentada.
-É claro que não quero o divórcio. Mas não sei onde arranjar forças para continuar a aguentar este arremedo de casamento. Perguntaste se estou apaixonada por alguém. É óbvio que estou. Estou apaixonada por um homem que me quer dar segurança material, mas não me dá o seu coração. Estou apaixonada por um homem, a quem dei tudo o que tinha, o meu corpo, o meu coração, os meus pensamentos, os meus sonhos. E o que me deu esse homem, em troca? Sexo. O sexo é bom, tão bom que me deixei deslumbrar e pensei poder viver do prazer que ele me dava. Mas depressa verifiquei que era uma triste imitação daquilo que o meu coração ansiava. O homem por quem me apaixonei, nunca me falou da sua vida passada, dos seus sonhos para o futuro, nada. Eu amo tanto esse homem, que o maior sonho da minha vida, é ter um filho seu. Mas em momento algum, ele mostrou desejo de ter esse filho, e assim tomo a pílula todos os dias, não vá ter uma gravidez que ele não deseje, e acabar com a pouca esperança que me resta, de que um dia sinta por mim, o mesmo amor que sinto por ele.
Estava descontrolada. Chorava copiosamente, mas nem por um momento pensou em se calar. As palavras saíam em catadupa, cheias de amargura.
Ricardo levantou-se. O seu rosto estava tão pálido quanto o de um defunto. As mãos trémulas, ansiavam por acariciar a mulher. Mas de algum modo, sabia que se o fizesse naquele momento, ela rejeitá-lo-ia. Virou-lhe as costas e caminhou até à janela, deixando que ela chorasse até se acalmar. Quando percebeu que o choro tinha perdido intensidade, ele retomou a conversa, sem se voltar para ela, o olhar perdido no Tejo.
Aquele homem de quem te falei, apaixonou-se uma vez quando era ainda estudante, um miúdo que acabara de completar vinte anos. Nessa idade, o mundo é demasiado pequeno para os nossos sonhos, e fazemos tudo em demasia. Comemos demais, bebemos demais, amamos demais. Ele apaixonou-se loucamente, por uma mulher um pouco mais velha, e sentiu-se o homem mais feliz do universo quando num momento, que ele pensava ser de paixão retribuída, fez amor sem tomar precauções. Pouco tempo depois ela disse-lhe que estava grávida. Ele ficou aflito, ainda estava na faculdade, não tinha como sustentar uma casa, mas nem por um segundo, pensou livrar-se dela ou do bebé, que amou desde o primeiro momento. Falou com os pais, e eles assumiram as despesas do casamento, em troca dele transferir a matrícula para a noite, e ir trabalhar com o pai para a oficina, pois nessa altura já era um bom mecânico.
Sem se voltar uma única vez, Ricardo contou tudo o que passou com aquele casamento, o que sofreu, quando tomou conhecimento de como aquela mulher e o tinha enganado, da dor que foi descobrir que aquele pequeno ser que tanto amava e que nunca iria conhecer, por quem aguentou aqueles seis meses de martírio, não era nada seu. 




2.2.18

A VIDA É... UM COMBOIO - PARTE XXV








- Então, filha, porque não convidaste o jovem a entrar. O Martim veio todo contente, dizer que tu autorizaste que eles fossem juntos ao jogo.
- E onde está o Martim, avó?
- Lá em cima no quarto. Trazia um livro, disse que ia ler. Mas… agora reparo. Onde é que está a tua aliança?
- No fundo do rio.
- Viva! Foi esse rapaz que conseguiu o milagre?
- Não foi o que me disseste para fazer, quando ia a sair de casa? Pois fiz-te a vontade.
- Vou fingir que acredito. Mas diz-me: Como é esse rapaz? É que o teu filho, fala dele com um entusiasmo que muitas crianças não têm pelo próprio pai. Sempre é o sobrinho do falecido António?
-É. Sobrinho, único herdeiro, jovem, atraente e muito rico. Chega para a tua curiosidade?
- Caramba Amélia, dizes isso como se estivesses com raiva do pobre rapaz. O que é que ele fez? Ignorou-te? Se assim é deve estar a precisar de óculos.
- Nada disso, avó. É que me irrita que de repente os meus amigos, a minha avó e até o meu próprio filho,  queiram à força que arranje um namorado. E como se isso não chegasse, cai-me do céu um homem que mexe comigo e me faz pôr em causa, tudo o que acreditei como certo até agora.
- Bom se admites que o rapaz mexe contigo, isso já me dá esperanças de te ver amparada antes de fechar os olhos. Só não entendo porque não o mandaste entrar.
- Porque ele convidou-nos a passar o dia na sua quinta, amanhã. Além disso praticamente se declarou. E eu precisava pensar em tudo o que me disse, antes de me decidir, e não queria ser pressionada. Importas-te de dizer ao Martim que venha jantar. Vou pôr a mesa, e aquecer a comida.
- Eu vou. Mas não penses que te escapas assim. Continuamos  esta conversa mais tarde.
Durante o jantar, Martim falou pelos cotovelos como soe dizer-se.  Estava entusiasmado com o encontro com Paulo e com a perspetiva de ele o acompanhar na festa da escola. Era incrível como em apenas dois encontros a criança se apegara aquele homem. E mais estranho ainda que da parte de Paulo, houvesse o mesmo carinho. Como se os dois já se conhecessem de qualquer lado.
De vez em quando avó e neta trocavam olhares. Era como se mantivessem uma conversa muda, mas que versava a admiração que o facto causava nas duas.
- O Paulo convidou-nos a passar o dia amanhã com ele. O caseiro tem três filhos, gostarias de os conhecer? – Perguntou Amélia.
- Claro que sim, mãe. E vamos todos? Também a avó e o Rex?
-Todos menos o Rex. Não sabemos os animais que há na quinta, não vamos criar confusão.O Paulo vem-nos buscar às onze horas. Agora vai escovar os dentes e vai para a cama. A mãe já lá vai dar-te um beijo



1.4.13

VIDAS CRUZADAS - PARTE VII




 Quando voltou, duas horas mais tarde, a tia Rosa já tinha chegado, com o seu inseparável Tomé, um gato siamês que quase não se mexia de tão gordo que estava. A mãe já estava com o almoço pronto para pôr na mesa. Depois de beijar a tia, comentou:
- Gordinho o bichano, tia.
- Que queres, ficou assim depois de castrado. Já me tinham dito, mas o malandro não parava em casa antes da operação.
- Coitado...
 – Vamos almoçar que se faz tarde – interrompeu a mãe com a terrina da sopa na mão.
O almoço foi servido com as duas mulheres sempre tagarelando. Absorto nos seus pensamentos, Pedro isolou-se da conversa e foi com sobressalto que sentiu a mão da tia no seu braço, seguida da pergunta:
- Não me estás a ouvir, rapaz?
 – Desculpe tia, estava a pensar nas férias...
 – Então vê se me arranjas por lá namorada, que eu bem sei o desgosto que a minha irmã sente de nunca mais te resolveres a criar o teu ninho. Sabes que és um caso raro na nossa família? Nunca ninguém esteve solteiro até à tua idade.
- Ora tia, quando chegar a hora, eu penso nisso...
 – Quando chegar a hora? Mas rapaz estás quase com trinta anos.
 
 Incomodado com o rumo da conversa, Pedro levantou-se dando o almoço por terminado.
- Vês o que fizeste, mulher? - A voz da mãe fez-se ouvir em tom de reprovação. - Por tua causa não comeu o suficiente.
- Ora essa! Mas eu não disse nada demais. Não me digas que o teu filho fez votos de castidade. Ora se ele não é padre...
 – Nada disso, minha mãe. Não quis comer mais para não me dar o sono a conduzir. Pelo caminho paro em qualquer lado e como mais alguma coisa. Vou pôr as malas no carro. A distância é grande, e a mãe sabe que não gosto de velocidades.
E dizendo isto voltou costas às duas mulheres, que continuaram a conversar. Tratou de meter a bagagem no carro e voltou para se despedir. Abraçou primeiro a tia, fazendo-lhe recomendações em relação à mãe, e por fim abraçou esta, apertando-a com força junto ao peito.
- Que se passa, filho? Sinto-te estranho desde ontem. Parece que me escondes alguma coisa.
- Nada mãe, é que é a primeira vez que vou de férias sem a sua companhia – enquanto tentava tranquilizar a mãe, não pôde deixar de pensar que coração de mãe não se engana nunca.
Arrancou e sem olhar para trás ergueu a mão num adeus. Sabia que as duas mulheres iriam estar ali acenando até o carro desaparecer na curva da estrada.


DESEJO-VOS UMA EXCELENTE SEMANA