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30.11.19

POEMA


SOU

Folha perdida
que o vento
levou
para longe
e deixou...
esquecida entre pinhais
suja de lama
vencida pela vida.

Pássaro ferido
assustado,
caído...
Grito mudo
mutilado
em garganta amordaçada.


Vendaval de emoções
engolido
nos maremotos da vida.



Elvira Carvalho


29.11.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XX




O Natal desse ano, não teve o brilho nem o esplendor daqueles que Sara  organizava, mas em compensação o calor humano esteve sempre presente. Nele estiveram presentes, além de Gil, os seus irmãos, Marco com Isabel e os futuros sogros, Laura com Alcides, cuja amizade parecia desviar-se para dar lugar a outro sentimento, a julgar pelos olhares que trocavam entre si. Estavam também à mesa, Celeste, a empregada que estava na casa há mais de dez anos, viúva, cujos filhos se encontravam emigrados, e Inês e o seu filho, o pequeno Luís, um garoto moreno e franzino, que parecia estar sempre em sobressalto como se temesse algo.
Odete, que tinha sido despedida por Sara, e fora reintegrada depois do acidente, e Maria, tinham tido licença para passarem o Natal em casa com as respetivas famílias.
Mariana que saíra do hospital dois dias antes, dormia docemente no seu quartinho, depois de ter tomado banho e bebido todo o leite do biberão.
Pelas vinte horas, o pessoal do restaurante onde Gil encomendara não só a Ceia de Natal, mas também as refeições do dia seguinte, vieram fazer a entrega, e Celeste ajudada por Inês, (que desde que tinha o filho consigo parecia outra pessoa e ganhara de imediato a confiança das restantes empregadas) puseram a mesa.
A ceia, decorreu, pois, num ambiente de fraternidade. Durante ela, Marco e Isabel disseram que pensavam casar no primeiro domingo de Março, do ano seguinte. E Gil informou que tinha aceitado, a proposta de venda dos direitos do seu primeiro livro "Almas Sombrias" para o cinema e que por isso viajaria logo a seguir ao Ano Novo para Nova Iorque, onde se ia reunir com um famoso guionista, que iria transformar a história do livro no guião para o filme.
-Custa-me muito separar-me da minha filha tão pequenina, mas é impossível viajar com ela. Vou conversar com o guionista, saber como ele pretende fazer a adaptação e iniciar o trabalho com ele. Espero estar fora no máximo uma semana. Depois de termos elaborado o projeto poderei analisar e acompanhar o seu trabalho via Internet. Se por algum motivo a estadia se prolongar vou voltar no fim de semana a fim de estar com ela um ou dois dias. E estarei convosco todos os dias por video chamada. A escritura do prédio para a futura Fundação está marcada para o dia vinte e oito e o doutor Alcides tratará imediatamente de contratar a empresa que combinamos a fim de iniciar as obras do projeto que já aprovei. Há umas pequenas alterações com a sala para consultas, mas isso deixo com a Laura que percebe mais de uma sala de consultas do que eu. Ela tratará com o arquiteto. Quero aquilo pronto o mais rápido possível.
- E como se chamará a Fundação? – perguntou a irmã.
- Mariana Gaspar – respondeu Gil emocionando os irmãos, pois todos comungavam da mesma devoção, pela mulher que lhes dera a vida e que tanto sofrera para os criar.
- Laura, tu estarás aqui em casa enquanto eu estiver fora, ou vais para o teu apartamento? – perguntou um pouco mais tarde.
-É claro que estarei aqui durante a tua ausência, exceto claro o tempo que estiver no hospital, pois como sabes vou começar a trabalhar dia dois de Janeiro.
- Obrigado. Fico mais descansado, contigo aqui, não porque não confie em vós, - disse voltando-se para Inês e Celeste. – Mas as crianças nestas idades adoecem com facilidade, e é sempre bom ter uma médica perto.




E com o comentário do Esteban chegamos aos 44.000 

27.11.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XIX



Minutos mais tarde, Laura voltava acompanhada de Inês.
-Boa-noite - saudou olhando preocupada o homem que do outro lado da secretária se pôs em pé quando as duas entraram.
-Boa-noite, Inês. Sente-se e diga-me. Como encontrou hoje a minha filha? Recebeu alguma informação? Sabe quando ela terá alta?
- Falei com o médico. Ele disse-me que apenas quer repetir uns exames e depois lhe dará alta. Perguntei quando faria esses exames, e disse-me que no dia dezanove, e se tudo estiver bem como lhe parece, o mais tardar dia vinte e um terá alta, e já passará em casa o dia de Natal.
- Que bom - disse Laura indo abraçar o irmão.
Durante alguns segundos permaneceram enlaçados na mesma emoção, como se não lembrassem que não estavam sozinhos.
Por fim, Gil afastou a irmã, voltou costas e foi de novo sentar-se à secretária. Exercendo todo o seu controlo sobre os sentimentos, quando falou a sua voz soou serena.
- Obrigado. E diga-me, Inês. Está contente com o seu emprego?
- Estaria mais contente se a menina estivesse aqui, é uma bebé adorável, de quem vou cuidar com muito gosto. Mas sim estou muito feliz com o emprego.
-Contudo a sua expressão não demonstra essa felicidade.
- A minha expressão não vai influir em nada os meus cuidados com a sua filha senhor. Ela estará sempre acima de qualquer preocupação que me atormente. Juro-vos.
Os seus olhos rodavam preocupados, de um para outro dos irmãos, como se temesse que a fossem despedir. Gil notou o brilho húmido e receou que a jovem fosse começar a chorar.
- Tenho a certeza disso. Acalme-se, só queremos ajudá-la - disse Laura sentando-se a seu lado e segurando-lhe nas mãos. Estavam geladas.
Gil esperou uns segundos, para que a jovem se acalmasse e depois retomou a palavra.
- Não vou denunciar a fonte, mas ficámos a saber, o que se passou consigo, a razão do seu divórcio, bem como da existência do seu filho.  Eu e a minha irmã conversámos sobre isso e chegamos à conclusão, de que uma vez que vai ficar a viver aqui, deve trazer para cá o seu filho. Amanhã vou mandar pôr um divã no seu quarto, e depois com mais tempo poderá decorar o quarto a seguir ao seu para ele. A minha irmã vai ajudá-la.
Laura abraçava a jovem que chorava copiosamente, sem saber que dizer, nem como lhes agradecer.
Gil não gostava de ver uma mulher chorar. Levantou-se da cadeira e dirigiu-se à porta dizendo à irmã:
- Tenho que ir ao quarto buscar uns documentos. Combinem a hora a que podem ir buscar o menino de manhã, uma vez que de tarde a Inês terá que ir ao hospital.
Fechou a porta e subiu. Não porque precisasse de ir buscar algum documento, mas porque tinha de digerir a emoção, que o facto de saber que em breve tinha a filha em casa lhe proporcionara. Saber que dentro de dias ia poder abraçá-la, dava-lhe um aperto no peito, e punha-lhe os olhos brilhantes.  Podia compreender a angústia de Inês, tendo que viver longe do filho. E sentia-se satisfeito pela decisão que tomara de trazer o miúdo para junto da mãe. Aquela casa estava demasiado triste. Duas crianças iam decerto ser como um raio de sol que rompe a escuridão e ilumina tudo à sua passagem.

  

26.11.19

NOTÍCIAS DO DIA



Boa tarde,amigos. Estivemos hoje no hospital do Barreiro, onde o marido esteve internado em Julho,   para a consulta de neurologia, por causa do AVC que sofreu em Julho. O médico achou que estava muito bem, respondeu à questão das falhas de memória que por vezes tem, dizendo que os exames estão bem, e que aquelas são queixas normais, em toda a gente que sofre AVC. Marcou nova consulta para Abril e diz que nessa altura parte dessas queixas devem ter desaparecido, mas que ele tem que pensar que com a idade a nossa memória vai enfraquecendo e vai haver sempre alguns esquecimentos.

Muito obrigada a todos pelo apoio.

PENSAMENTO DO DIA


E hoje é dia do marido voltar ao hospital para  a consulta de neurologia, por causa do AVC que teve no início de Julho.

25.11.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XVIII




- Pois a minha proposta é a seguinte. Montas uma boa sala de consultório, com tudo o que seja necessário para dar consultas e para tratar de uma boca. Eu assumo as consultas e terás que arranjar um bom dentista. Pudemos dividir o espaço trabalhando duas vezes por semana cada um em dias alternados. A propósito tu imaginas quantas doenças advêm de uma boca em mau estado?
-Mas tu és uma neurologista.
-Mas antes de me poder especializar, a minha formação foi medicina geral. Isso não me preocupa, até posso exercer as duas especialidades alternadamente sempre que necessário. Imaginas quanto tempo de espera tem atualmente uma consulta de neurologia num hospital público? E a gente a quem a Fundação se destina não tem meios para os privados. Mas adiante, o que me preocupa, é que um projeto como o que o Alcides me descreveu, não é coisa de meia dúzia de milhões. Tanto eu como o Marco conhecemos os teus sonhos desde que somos gente. Mas lembras-te do que a nossa mãe dizia? “Não se pode dar um passo maior do que a perna.” Tens noção daquilo em que te estás a meter? Que eu saiba não tens nenhum poço de petróleo nem nenhuma mina de ouro.
- Não. Mas tenho um gestor financeiro que vale o seu peso em ouro, e alguns investimentos no oriente, em poços de petróleo sim. De resto, deves saber que há sempre alguns mecenas que preferem investir dinheiro em obras destas, do que ter de o dar ao estado em impostos.
- Bom tu é que sabes. Tens alguma ideia do investimento inicial?
-Uns cem milhões aproximadamente.
A jovem, assobiou ao mesmo tempo que se inclinava sobre a secretária, na frente do irmão.
- Caramba, Gil, quase me matas do coração. Como é que podes dizer isso assim com essa calma?
- Laura, eu nasci pobre, mas Deus deu-me um dom que me trouxe muito dinheiro. E quando esse acabou, deu-me este, - apontou para a cabeça – que continuou a dar-me muito dinheiro. Por fim deu-me pessoas especiais, honestas e inteligentes que fazem crescer a minha fortuna todos os dias. ELE ficaria muito desiludido comigo, se eu me limitasse a amontoar os milhões. E na verdade, eu também não gostaria de mim próprio se fosse assim. Porque eu sei que quando morrer a única diferença com o nascimento será que nasci nu e morro vestido. Tudo o resto cá ficará.
 -És um filósofo e um filantropo.  Mas tens uma filha, e poderás ter mais filhos. Não pensas neles?
-Claro que sim. Mas não é o dinheiro a melhor coisa que lhes quero deixar. Quero que eles encontrem um mundo melhor do que aquele que eu encontrei e quero lutar para que isso aconteça. E ensinar-lhes com o meu exemplo a também eles contribuírem com a sua parte para essa mudança. Como diz o meu amigo Rogério, "mudar o mundo não custa. Leva é tempo."
Calou-se por momentos e depois disse:
-A esta hora, a Inês já deve ter chegado do hospital. Hoje não vi a minha filha mais do que cinco minutos. E estava a dormir. Também não pude falar com o médico dela que estava no bloco operatório. Importas-te de ver se ela já chegou e pedir-lhe que venha aqui falar comigo? Gostava que estivesses presente, podíamos resolver a situação do filho dela.
- Está bem. Continuamos a nossa conversa ao jantar – disse saindo da biblioteca




24.11.19

PORQUE HOJE É DOMINGO





Ao telefone, diz uma mulher:
- Bom dia, é do consultório médico?
Respondem do outro lado:
- É sim, minha senhora. Faça favor de dizer.
Diz a mulher:
- Eu, esta manhã, tive uma consulta com o senhor doutor e só queria saber se as minhas cuequinhas não ficaram aí por esquecimento…
Diz a recepcionista:
- Um momento…vou já ver, minha senhora.
Três minutos depois a assistente informou a senhora que não tinha encontrado nenhuma cuequinha.
Responde a mulher:
- Obrigada! Vou ligar então para o consultório do meu dentista…



                                                   ***********************

Um amigo apanha outro no WC a urinar sentado na sanita, admirado diz:
- Mas o que é isto, os homens mijam de pé! O que te aconteceu?!
Explica o homem:
- Olha, na 2ª feira passada saí com uma loira, 1,80 m, seios fartos, um corpo inacreditável, e na “hora H” murchei! Na 3ª feira saí com uma morena, 20 anos, corpo firme, carinha laroca, e na “hora H” murchei! Na 4ª feira foi com uma ruiva, murchei! Na 5ª feira com uma cota enxuta, tudo em baixo…
O amigo, indignado, pergunta-lhe:
- E pá, tudo bem, murchar faz parte, acontece a qualquer um, mas porquê mijar sentado?

Responde o homem:
- Então tu achas, que depois disto tudo ainda vou dar a mão a este traidor?!


                                                            *********************





Para testar a personalidade de um alentejano, o dono da empresa mandou pagar 500€ a mais no salário dele. Os dias passam, e o funcionário não diz nada. No mês seguinte, o patrão faz o inverso e manda tirar 500€.
Nesse mesmo dia, o funcionário entra na sala para falar com ele:
- Engenheiro, acho que houve um engano e tiraram-me 500€ do meu salário.
- Ah é?! Curioso porque no mês passado eu paguei-lhe 500€ a mais e você não comentou nada! – Informou o chefe.

- Pois, mas é que um erro eu ainda tolero agora dois acho um abuso!!!



                                                                    **************************



Uma loira acorda, chega ao quintal e depara-se com um pinguim. Ao mesmo tempo, olha para o lado, vê o seu vizinho e, sem saber o que fazer,  pergunta:
- Já viu o que está aqui? Um pinguim! O que é que eu faço?
O vizinho responde:
- Não sei! Olhe, leve-o ao Jardim Zoológico.
No dia seguinte, o vizinho olha para a casa da loira e vê-a a sair com o Pinguim preso por uma trela e pergunta:
- Então, não levou o pinguim ao Jardim Zoológico?!
E a loira:
- Sim sim e ele gostou muito! Hoje vamos ao Oceanário!.



                                     *********************************



Um velhinho, com os seus 85 anos, voltando da viagem de lua-de-mel, encontra um amigo que lhe pergunta:
- Então, como foi a lua-de-mel?
- Óptima ! – Responde o velhinho.
O amigo, querendo gozar com o velho, pergunta:
- E o sexo, como foi?
Diz o velhinho:
- O sexo? Fizemos quase todos os dias!
Espantado diz o amigo:
- Como assim, quase todos os dias?!
Explica o velhinho:
- É isso mesmo! Quase fizemos na segunda, quase fizemos na terça, quase fizemos na quarta…



Bom domingo

23.11.19

PARA MEDITAR

Perguntaram ao Dalai Lama...
"O que mais o surpreende na humanidade?"
E ele respondeu:
Os homens... Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.


Bom fim de semana

22.11.19

OS SONHOS DO GIL GASPAR - PARTE XVII




-O menino que tem cinco anos estava visivelmente assustado.
-Meu Deus! E o menino ficou lá?
-Segundo a psicóloga, o menino foi entregue a uma família de acolhimento, porque ela tinha medo que ele o descobrisse e lhe fizesse mal para a tingir, porque ele não queria o divórcio.
- Porque não me contaste?
- Porque naquela altura tinhas preocupações mais que suficientes, com o nascimento da Mariana, o funeral da Sara, o teu sogro e cunhados, e as visitas ao hospital. Mas agora que falamos nisso, penso que podias trazer o filho dela para aqui. Esta casa é tão grande que decerto nem ias dar pelo miúdo. A mãe ficaria mais descansada, e sem preocupações o que era uma mais valia para a Mariana. O que dizes?
- Apesar de a levar todos os dias ao hospital, não troquei com ela mais do que meia dúzia de palavras, e sempre sobre o estado da minha filha. Tu é que a contrataste, fala com ela e diz-lhe que se quiser pode trazer o filho para viver aqui. Pode ser que assim se estabeleça um vínculo de amizade entre ela e as demais empregadas. Não me agrada o ambiente entre elas. Outra coisa, desde quando o meu advogado é para ti “o Alcides”? Que se passa com vocês?
Sem responder, a jovem levantou-se e foi até à janela. Pouco passava das quatro, mas dia escurecia rapidamente. Pensou que era normal, afinal faltavam duas semanas para o Natal. Voltou para junto da secretária e sentou-se. Só então respondeu ao irmão.
- Nada mais do que uma boa amizade. Quando, ou se, chegar a ser algo mais, podes ter a certeza que te direi, embora me considere suficientemente adulta para não ter de te dar conta dos meus atos.
- Sabes que só quero que sejas feliz.
- Eu sei, mano - disse Laura abraçando-o. - Sabe Deus como eu também quero a tua felicidade. Mas tenho fé que ainda vais arranjar alguém, que te faça feliz. Quem sabe a Luna? Ou ela é casada?
- Agora és tu que queres governar a minha vida? A Luna é uma boa amiga, uma espetacular mulher de negócios, a melhor agente literária que conheço, mas é também uma mulher muito independente, e eu seria completamente insensato e muito infeliz se me apaixonasse por ela.
Por outro lado, a minha experiência matrimonial não me deixou muita vontade de reincidir. Neste momento o que me preocupa, é a minha filha, os meus projetos, e a tua situação. Já pensaste no sítio onde queres montar a clínica?
- Não. Na verdade, já tenho uma proposta para um hospital particular. Depois o Alcides contou-me o teu projeto de Fundação, e se se concretizar pretendo trabalhar nele.
-Como assim?
- Vai ter um posto médico, não vai?
-Claro. Mas tinha pensado em algo básico, com uma enfermeira, para fazer alguns pensos, dar injeções e sobretudo ensinar às pessoas certos hábitos de higiene, distribuísse escovas e pasta de dentes, e preservativos.



20.11.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XVI





Dias depois, também Laura se despediu desta vez por pouco tempo. Faltava-lhe apenas uma semana para o término do estágio e não podia deixar de o acabar para que pudesse constar do seu currículo.
Gil dirigia-se todos os dias ao hospital. Via a filha e ia-se embora deixando Inês no hospital, para que pudesse estar com a bebé todo o tempo que lhe era permitido. Quando este terminava, ela apanhava um táxi para se dirigir à residência do seu patrão, onde agora também morava.
Inês era uma mulher de estatura média, de grandes e expressivos olhos castanhos, cabelo curto e de um bonito tom de mel. Apesar de ser magra, tinha as formas bem definidas.  Era educada, com as outras empregadas da casa, mas falava com elas apenas o estritamente necessário, embora tivesse a noção de que elas a achavam arrogante e empertigada.
Inês não se importava com o que elas pudessem pensar. O seu trabalho seria cuidar da bebé e isso ela faria com todo o seu saber e amor. Sim porque ela adorava crianças.
A sua vida, tudo o que passara até chegar ali, era a sua vida e só a ela interessava.
O patrão não lhe fizera perguntas, mas a irmã, sim. E foram tantas as que não respondeu, que se admirou quando ela lhe telefonara a dizer que o lugar era seu. Afinal ela não tinha outras referências que as do hospital pediátrico onde trabalhara, e cujo emprego se vira obrigada a deixar, para se poder esconder de um marido extremamente violento. O que mais a entristecia, era estar separada do filho, Jorge, de cinco anos. Não podia tê-lo consigo, nem levá-lo para casa dos seus pais, pois seria o primeiro lugar onde o ex-marido o procuraria. No centro de apoio onde se acolheram, arranjaram-lhe um lar de acolhimento onde poderia estar um máximo de seis meses, até que ela conseguisse resolver a sua situação.
Apesar do divórcio e da proibição feita ao marido de não se poder aproximar dela, Inês tinha muito medo. Estava cansada de ouvir notícias de homens que matavam as mulheres, apesar de estarem proibidos de se aproximarem delas. Ela não temia por ela, mas pelo que ele podia fazer ao filho, sabendo que isso a faria sofrer muito mais do que qualquer coisa que lhe fizesse a ela.
Alheio a toda esta situação, Gil pensava, se a irmã tinha feito bem em contratar para cuidar da sua filha, uma mulher que parecia estar zangada com o mundo inteiro. Por isso quando a irmã regressou,
não pôde evitar a pergunta.
- Que te levou a contratar aquela mulher para cuidar da minha filha? Que referências te deu?
Os dois irmãos encontravam-se sentados na sala que era simultaneamente biblioteca e escritório, no piso inferior da moradia. Laura encarou o irmão e perguntou:
- O que é que ela fez? Não tem ido ver a menina? Fizeram alguma queixa dela, no hospital?
- Não. Mas está sempre com uma expressão, que parece que todos lhe devem e ninguém lhe quer pagar. E tenho notado que não fez amizade com nenhuma das empregadas da casa.
-Bom, as referências do hospital onde trabalhou, foram as melhores. Sabes que é divorciada? A vida dela não deve ter sido nada fácil. O Alcides foi à morada que ela me deu e sabes o que era? Uma casa de apoio às vítimas de violência doméstica. Como a psicóloga de lá é conhecida dele, conseguiu saber que quando chegou lá com o filho, apresentava várias marcas de espancamento. 

18.11.19

OS SONHOS DO GIL GASPAR - PARTE XV






Nos dias que se seguiram Gil, teve que ir ao aeroporto esperar o pai de Sara e os seus meios-irmãos, e levá-los para um hotel. Apesar da sua casa ter espaço suficiente para os instalar, ele vira-os apenas três vezes em todo o tempo que durou o seu casamento, não tinha com eles um vínculo afetivo que lhe permitisse sentir-se confortável em partilhar com eles a sua casa. Por outro lado, eles eram respetivamente avô e tios da sua filha, e tinham todo o direito de querer vir a Portugal ver a menina quando quisessem. Foi isso mesmo que disse ao sogro, quando o levou ao hospital para que pudesse ver a neta.
Pese a tragédia que se abatera sobre a sua vida, Gil contava com o apoio constante dos seus irmãos. Marco e Laura, que logo que soube do nascimento da sobrinha viajou para Portugal.
Foi Laura quem fez as entrevistas para a ama da bebé, apesar das empregadas de Gil, garantirem que entre as três cuidariam da menina, com todo o carinho, como se de uma neta se tratasse. Mas Laura disse que a criança precisaria de uma pessoa mais jovem para cuidar dela. E dado que era uma bebé prematura, ela exigira e acabara por contratar, uma ama com conhecimentos de enfermagem. Gil ainda nem a vira, apenas sabia pela irmã, que se chamava Inês, tinha trinta anos e era divorciada. Bom a vida da ama não lhe interessava, só desejava que fosse competente. Ela iria ao escritório do advogado assinar o contrato no dia seguinte, e seria a partir desse momento a ama da sua filha. Laura decidira que ela devia ir todos os dias ao hospital e estar com a menina todo o tempo que lhe fosse permitido a fim de que a bebé, se habituasse à sua presença.
Também o doutor Alcides, foi de uma enorme ajuda. Ele estivera presente junto da família, como se de um membro da mesma se tratasse, muito embora Gil pensasse que não o fazia apenas por altruísmo. Não lhe passara despercebido, o agrado do advogado quando lhe apresentara a sua irmã. Nem a troca de olhares que surpreendeu entre os dois por mais do que uma vez. Se isso ia significar ou não alguma coisa, não sabia, mas não lhe desagradava nada se os dois se apaixonassem. Tinha pelo advogado uma relação que ia muito para além da que um cliente tem pelo seu causídico.
Após o funeral, Gil acompanhou a família da sua falecida esposa ao aeroporto, reiterou o convite para virem visitar a bebé quando quisessem, mas o sogro usando de uma franqueza que muito lhe agradou, disse:
- Não será muito fácil, voltar a Portugal tão cedo. A minha família, é grande, os dois rapazes mais velhos, que já estão a trabalhar dão uma pequena ajuda, mas os dois também se preparam para constituir família, e não podem ajudar muito
. Os outros ainda estão na escola, e eu e a minha mulher trabalhamos muito para lhes dar o essencial. E as viagens para Portugal, são caras.
- Mas isso não é problema. Só me dizem quando querem vir, eu trato do resto.
- Eu sei que o senhor é rico e que o faz sem qualquer esforço, mas não. Se o aceitei agora, foi porque era a única hipótese que tínhamos de nos despedir da nossa querida Sara. Nunca mais o farei. Um homem pode ser pobre, mas isso não quer dizer que não tenha orgulho. De qualquer modo, muito obrigado por tudo, e se por acaso um dia for a França com a menina e quiser passar pela minha casa, vou ter muito gosto em poder abraçar a minha neta.
Despediram-se com um forte abraço. Gil ficou no aeroporto até o avião se elevar nas alturas.







17.11.19

PORQUE HOJE É DOMINGO




Um casal americano foi  visitar Jerusalém. No segundo dia de viagem, o marido, morre subitamente de um ataque cardíaco. O agente funerário vai ter com a viúva para tratar do funeral.
-Quanto custa? - perguntou ela.
- Se o funeral for feito aqui, são 1.000 dólares. Se for para a América são 20.000 dólares - informou o homem.
A viúva pensou por uns minutos e depois disse:
- Quero o funeral para a América.
O agente estranhou. Afinal era uma grande diferença em dinheiro, e ao morto tanto fazia ser enterrado num lado como noutro. Perguntou:
-Tem a certeza minha senhora?
-Ontem, durante a visita, o guia disse-nos que foi aqui, que há mais de dois mil anos ressuscitou aqui um homem. Não vou correr esse risco,- respondeu a viúva.




                                                              ***************

Estava um alentejano sentado à mesa de um café, em Porto Covo, quando chegam três turistas da capital, e sentam-se à mesa dispostos a gozar com ele…
Diz o primeiro lisboeta:
- Eu tenho muito dinheiro.. Vou comprar o banco BPI !
Diz o segundo lisboeta:
- Eu sou muito rico… Eu vou comprar a fábrica Fiat Automóveis !
Diz o terceiro lisboeta:
- Eu sou um magnata.. Vou comprar todos os supermercados Continente !
E os três ficam esperando o que o alentejano vai dizer. Ele dá uma baforada no cigarrito, engole a saliva… faz uma pausa… cospe no chão e diz:
- Nã vendo…!


                                                     **********************


Num escritório trabalhavam três mulheres que tinham por chefe, também uma mulher. A cada dia elas reparavam que a chefe saía sempre mais cedo. Um dia todas decidiram que, quando a chefe saísse, elas fariam o mesmo. Afinal, depois de sair a chefe nunca mais voltava, nem dizia mais nada, por isso estariam seguras. E porque é que também não poderiam ir para casa mais cedo?
A morena ficou absolutamente radiante por ir mais cedo para casa. Pôde tratar um pouco do jardim, passar algum tempo a brincar com o filho e conseguiu ir para a cama mais cedo.
A ruiva ficou também deliciada com o tempo extra. Aproveitou para uma curta aula no ginásio antes de se preparar para um encontro ao jantar.
A loira também ficou contente com a ideia de chegar a casa mais cedo e surpreender o marido. Mas quando se aproximou do quarto ouviu vários sons e ao abrir a porta ficou mortificada por ver o marido com a sua chefe em grande acção na cama! Suavemente fechou a porta e saiu de casa.
No dia seguinte, durante a pausa para café, a morena e a ruiva planeavam sair de novo mais cedo e perguntaram à loira se ela ia fazer o mesmo. Ao que a loira respondeu:
- Acham?! Nem pensar! Então não é que ontem, quase que fui apanhada…

                                                      *******************


Duas amigas encontram-se na rua e lamenta uma delas:
- Estou com umas dores de garganta que quase nem consigo falar.
Diz a amiga:
- A sério? Que mau! Mas olha, quando tenho dores de garganta, costumo fazer uma coisa e fico logo boa!
- Ai é?! E o que fazes? – Pergunta interessada a primeira.
Explica a mulher:
- Faço sexo oral ao meu marido e, por incrível que pareça, no dia seguinte estou uma maravilha.
A amiga estranhou o método da mulher mas lá aceitou o conselho e seguiu caminho. No dia seguinte encontram-se novamente e pergunta a segunda:
- Então que tal das dores de garganta?
Informa a primeira:
- Espectacular! Fiz aquilo que me disseste e resultou na perfeição! Ao teu marido é que lhe  custou a acreditar que tinha sido ideia tua…

                                                       ********************



Pede o Joãozinho:
- Pai, diga o nome de uma coisa que evapora rapidamente.
Responde o pai:
- O éter.
Insiste o Joãozinho:
- Outra!
Sem saber o que dizer, diz o pai:
- O álcool.
O Joãozinho:
- Agora, é a tua vez mãe!
Diz a mãe:
- O ordenado do teu pai…

16.11.19

CURIOSIDADES LINGUÍSTICAS






Costuma dizer-se que a Língua  Portuguesa  é muito traiçoeira, por causa das palavras cujo significado pode ser dúbio. Mas pode ser igualmente traiçoeira quando viajamos para o estrangeiro, e a falamos abertamente junto dos habitantes desses países. Eis alguns exemplos:



1) Braga  (Espanhol)
Para nós portugueses, Braga é a lindíssima capital do Minho, mas Braga em espanhol quer dizer... cuecas. Não será pois de estranhar que ao visitarem o norte de Portugal, os nossos vizinhos se espantem ao depararem com o nome da nossa bela cidade.


2) Droga   (Polaco )

Bom se em português droga, quer dizer uma substância má e viciante com efeitos nocivos, em polaco droga quer dizer... estrada. Então se alguém lhe disser na Polónia que anda na droga não se escandalize. Provavelmente está apenas a caminho de casa.



3)  Rui  (Russo)

Na nossa Língua Rui é um nome próprio masculino. Mas se por acaso se deslocar a Moscovo de férias, não se faça acompanhar por nenhum amigo com este nome pois ia suar muito mal aos russos cada vez que o chamasse. Porque em russo Rui é uma asneira muito feia. É o calão mais básico para designar o pénis.



4)  Propina   (Espanhol)

A palavra propina pode não ter um bom significado na nossa Língua, mas para os nossos vizinhos,  não é nada demais. Para eles propina quer dizer gorjeta.


5) Burro  (Italiano)

O que faria se estivesse a tomar o pequeno almoço e alguém lhe dissesse "burro"?  Se estiver em Itália não se amofine, pois provavelmente estão apenas a pedir-lhe ... manteiga. Isto porque em italiano  a palavra burro significa exatamente isso. Manteiga.


6) Assume (Inglês)

Em português a palavra assume é o verbo assumir conjugado, enquanto em inglês a palavra quer dizer...  supor alguma coisa.


7)  Subir (Francês)

Toda a gente sabe o que quer dizer subir em português, todavia para os franceses, embora a escrevam exatamente da mesma maneira o significado é totalmente diferente. Para eles subir quer dizer... sofrer.


8) Acreditar  (Espanhol)

Para nós, acreditar significa crer em algo. Para nuestros hermanos acreditar não é mais do que ... creditar dinheiro.


9) Despido  (Espanhol)

Bom se algum espanhol lhe disser que foi despido, não quer de modo algum dizer que o deixaram nu, mas sim que foi... despedido do seu emprego.


10) Bâton  (Francês)

Em francês a palavra bâton não significa de modo algum o batom que usamos nos lábios embora a grafia seja muito parecida. Bâton significa bastão.


11) Birra  (Italiano)

Se para nós uma birra é coisa de criança, em Itália pelo contrário é coisa de adulto pois birra quer dizer... cerveja.


12) Embaraçada  (Espanhol)

Em Portugal uma mulher embaraçada é uma mulher que está numa situação  que lhe causa vergonha ou constrangimento. Para nuestros hermanos uma mulher embaraçada quer dizer que está... grávida.


13 Dobra  (Polaco)

Se para nós uma dobra é uma espécie de curvatura, para os polacos dobra significa ... bom



14) Fita   (Norueguês)

Todos nós sabemos o que é uma fita em Portugal. Mas se for à Noruega, evite dizer semelhante palavra em público. É que para eles, fita, é uma forma de baixo calão para se referirem ao órgão sexual feminino.


15)  Presunto   (Espanhol)

Se em Portugal, presunto é um pedaço de carne fumada da perna de porco, para os espanhóis , presunto quer dizer... presumível. Será usada por exemplo para dizer "O presumível autor deste artigo divertiu-se muito enquanto o escrevia"


16)  Curva  (Romeno)

Mais uma palavra difícil de explicar sem ferir susceptibilidades ( e esta já tive que a explicar muito bem em 2001 a Galina, uma emigrante colega de trabalho).
É que em romeno curva é o mais baixo calão para designar uma prostituta.



Já agora, sabem o que são falsos cognatos? Falso cognato ou falso amigo, é quando a palavra se escreve ou se pronuncia da mesma maneira que na nossa língua, mas possui um significado diferente.


fonte  Vortex Magazine

15.11.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XIV






Duas semanas depois, os médicos decidiram que era chegada a hora de fazerem Mariana nascer.  Estava com trinta e duas semanas, tinha boas hipóteses de sobreviver sem qualquer sequela, e a situação no útero da mãe começava a tornar-se mais complicada à medida que a situação materna se ia deteriorando.
Gil fora avisado de véspera e por isso logo de manhã, dirigiu-se ao hospital com a mala de roupa que preparara com a ajuda da Celeste, pois a falar verdade não tinha a noção do que devia escolher entre a quantidade de roupinhas que enchiam as gavetas da cómoda, no quarto que seria o da filha.
No hospital, foi-lhe dada autorização para assistir à cesariana, e para isso teve de se despir e vestir a bata esterilizada bem como a touca e sapatos cirúrgicos que a enfermeira lhe deu.
E foi com enorme emoção e algum receio que segurou a filha quando uma enfermeira lhe desapertou a bata e lhe encostou o recém-nascido e minúsculo corpo da menina ao seu próprio peito nu. Nada nem ninguém podia ter preparado Gil para a intensa emoção que acelerou os seus batimentos cardíacos, e lhe pôs um nó na garganta que lhe impediu qualquer palavra. Limitou-se a segurá-la com carinho, e a tentar fazer-lhe sentir toda a força do seu amor, através do bater acelerado do seu coração.
Como se isso a tornasse mais forte e mais apta a sobreviver. Mas logo a enfermeira a levou, para a pesar, vestir, ser vista pelo médico e levada para a incubadora, até que lhe fosse dada alta.
 Mil anos que ele vivesse, jamais esqueceria a emoção que sentira no momento em que pegou na filha recém-nascida ao colo e sentiu o frágil bater do seu pequeno coração
Pouco depois, uma enfermeira fê-lo sair do bloco de partos, enquanto o informava que as máquinas que mantiveram Sara artificialmente viva, iam ser desligadas. O médico iria passar a certidão de óbito, e ele poderia iniciar com a agência funerária os trâmites para o funeral.
Um pouco mais tarde, já vestido abraçava o irmão, que chegara ao hospital, no momento em que ele ia para o bloco operatório, e aguardara na sala de espera, por notícias.
- Foi emocionante, Marco – disse Gil respondendo à muda interrogação dos olhos do irmão. – Segurar nos braços aquele pedacinho de carne, sentir o seu coraçãozinho bater no meu peito, nem consigo descrever o que senti.
- Ela está bem de saúde? E o que vai acontecer agora? – perguntou o irmão.
-É muito pequenina, mas fisicamente é perfeita e tem bons pulmões. Se visses como chorou enquanto a limpavam. Agora vai ser examinada por um pediatra e levada para a incubadora.
Uma enfermeira virá avisar quando a Mariana esteja na incubadora. Vais comigo, vê-la?
-Posso?
- Segundo me informaram, só  vamos vê-la através de um vidro. O médico acabou de me informar que vão desligar as máquinas que mantinham a Sara em vida artificial. Tenho que telefonar ao pai dela, e saber se a família vem 
despedir-se dela, e se assim for, conseguir passagens de avião para eles.
- Vamos tratar de tudo juntos, não te preocupes. Enquanto telefonas para o teu sogro eu vou ligar para a Laura.