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27.6.22

MEDO DE AMAR - PARTE XXIII




Miguel já adormecera há muito, e as duas adolescentes, por estarem de férias e terem autorização para dormir mais tarde, viam um filme na TV.

Aproveitando que estavam sozinhas, Helena perguntou:

- Como está a tua relação com o Fernando?

- Não sei se posso dizer que tenho outra relação que não seja a de empregada patrão, além da amizade que sempre tivemos.

-Mas, todos sabemos do amor que te tem, e com esta convivência mais assídua, não surgiu nenhuma chama entre vocês? Nem um beijo? Desculpa a curiosidade, mas ele disse ao teu irmão que tinha muita esperança de que em breve aceitasses o seu amor.

- Na verdade temos trocado uns beijos apaixonados. A química entre nós é muito grande, mas não consigo esquecer o Quim e a sua morte repentina. Morro de medo de me entregar de corpo e alma a um novo sentimento e de um momento para o outro voltar a sofrer um desgosto igual.

-  Não chegaste a procurar a ajuda de um psicólogo? Laura, precisas de ajuda especializada para ultrapassar esse pânico. O próprio Fernando te podia ajudar, mas se não queres contar-lhe, posso dar-te o número de telefone de uma psicóloga. Ela é muito boa, foi ela que ajudou a Rita a ultrapassar o divórcio do seu primeiro marido, que quase a destruiu.

Não podes viver com esse pânico, agora que te apaixonaste de novo. Nem renunciar a uma vida que não só te iria fazer feliz, mas que seria igualmente boa para as crianças. Elas adoram-no. E necessitam de alguém que ocupe o lugar do pai nas diversas situações que vão encontrar na vida, para os ajudar a encontrar o caminho certo.

Tu sabes que criei a Matilde sozinha. Eu pensava que lhe bastava e que ela era feliz. No entanto a sua alegria, quando conheceu o pai e a Matilde de agora que casamos e ela sente a presença do pai todos os dias é uma jovem muito mais equilibrada e feliz.

 Talvez a Sara, nunca encare o Fernando como um pai, ela tem viva a memória do Quim, mas ela adora-o e vai sempre vê-lo como um tio querido. Mas para Miguel é totalmente diferente. Primeiro porque os rapazes por norma sentem sempre mais a falta de uma figura masculina, que seja o seu herói, depois ele nunca conheceu o pai.  

-Eu sei tudo isso, repito-o a mim mesma, vezes sem conta. Sei que o Fernando os ama muito, conheço-o desde criança e embora estivéssemos  afastados vários anos após ter conhecido e casado com o Quim, ele sempre esteve presente em casa dos meus pais e junto do Gonçalo.  É um homem de sentimentos firmes, que amava muito os seus pais e que se sente solitário e carente desde que eles morreram. 

Sei que será um bom pai para os meus filhos, mas a o meu medo é maior de que tudo o resto.  eu não conseguiria resistir a outra morte repentina, a passar pelo mesmo que já passei com o Quim. Tu não sabes o que é estar com uma pessoa que amas de todo o coração, a passar um serão em família, e de um momento para o outro ele diz que está com uma dor de cabeça terrível. Levantei-me para ir buscar um comprimido e um copo de água e quando voltei já estava inconsciente.

 Chamei a ambulância, que o levou para o hospital e fiquei à espera que uma amiga chegasse para ficar com a Sara. Quando cheguei ao hospital disseram-me que ele chegara já sem quaisquer sinais vitais e que não conseguiram reanimá-lo.   Não houve tempo para um beijo, para um amo-te, para nada que o pudesse consolar naquela hora.

-Deve ter sido extremamente doloroso, para ti, mas devia consolar-te a certeza de que ele não sofreu. E já se passaram mais de três anos. O teu coração começa a abrir-se de novo para o amor. Não podes deixar que esse medo irracional te vença.

A vida é mesmo assim acontece a qualquer um a qualquer hora. De um aneurisma, de um ataque cardíaco, de um acidente de automóvel. Pega o telemóvel e toma nota do número da minha amiga psicóloga. Ou abre o teu coração para o Fernando, ele pode ajudar-te.

- Mas o que fazem vocês as duas, aí a cochichar? - disse Gonçalo entrando na cozinha.

- Não sentes as orelhas a arder? – perguntou Fernando rindo-se atrás dele.

16.7.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXXII


Por razões diferentes, mãe e filha quase não dormiram nessa noite. Matilde estava radiante com o facto de finalmente ter um pais como as suas amiguinhas. E um pai como o doutor Gonçalo, era algo de que nem todas se poderiam gabar.

Ela tinha ficado encantada com ele no hospital, quando ainda não sabia que era o seu pai. Ele era bonito e carinhoso. A mãe dissera que ele chegaria por volta das onze e ela queria estar junto do portão da quinta para o receber. Queria encontrá-lo sozinha, tinha a certeza de que ia chorar, quando o abraçasse e não queria virar motivo de gozo para os primos.

As preocupações de Lena eram bem diferentes. Ela sentia-se pressionada por toda a família para aceitar o pedido de casamento que Gonçalo lhe fizera.

Muito cedo, antes de se levantar, ouvindo os sons familiares da quinta; os pássaros que saudavam o nascer de um novo dia, a brisa suave que passava por entre as folhas das árvores, o cantar do galo, ela pensava na volta que a sua vida dera e no que ela iria fazer dali para a frente.  

Sabia que Gonçalo tinha sido sincero, mas não era preciso ser psicóloga, para saber que devido aquele terrível acidente, e sobretudo à amnésia que se seguira, a descoberta atual de ser pai, vinha preencher a carência de afetos e de família a que voluntariamente se submetera ao longo dos últimos catorze anos.

 E pelo que conhecera dele enquanto namorara e pelo que agora lhe contara acerca da proteção à sua irmã viúva e aos seus sobrinhos, Gonçalo era um homem de família. 

Debatia-se num mar de dúvidas. Era verdade que apesar de desiludida pelo seu abandono e pensar que não passara de brinquedo de verão para ele, o su coração nunca o esquecera. Afinal fora o seu primeiro e único amor. Também sabia que se não fosse com ele nunca se casaria, pois não queria dar um padrasto à sua filha. 

Mas embora soubesse tudo isso, a razão continuava a dizer-lhe que não podia ceder. Ele não se recordava dela. Conhecera-a há uma semana, e desde esse dia, apenas na véspera estivera com ele várias horas. É certo que havia uma enorme tensão sexual entre os dois, quando estavam juntos, mas um casamento não se sustenta de sexo. O desejo, quando não é parte do amor, morre quando é satisfeito. 

Ela não sabia que fazer e não podia aconselhar-se com ninguém, porque toda a família a empurrava para o casamento. E se telefonasse à Rita. É verdade que tinha pensado contar-lhe pessoalmente, mas se ela só vinha na Sexta à tarde, provavelmente só a veria no sábado e nessa altura com Gonçalo presente não havia lugar para essas conversas. Não, o melhor seria falar com ela logo pela manhã antes que ele chegasse. 

E se bem o pensou, logo o pôs em prática. Logo depois do pequeno--almoço, desculpou-se perante a família, afirmando precisar de fazer uma chamada e recolheu-se no quarto a fim de ligar à amiga.

Assim que Rita atendeu, Helena contou o mais resumidamente possível os últimos acontecimentos, mas ficou dececionada ao perceber que a amiga não entendia as suas dúvidas e entrava no grupo de apoio ao casamento.





22.11.19

OS SONHOS DO GIL GASPAR - PARTE XVII




-O menino que tem cinco anos estava visivelmente assustado.
-Meu Deus! E o menino ficou lá?
-Segundo a psicóloga, o menino foi entregue a uma família de acolhimento, porque ela tinha medo que ele o descobrisse e lhe fizesse mal para a tingir, porque ele não queria o divórcio.
- Porque não me contaste?
- Porque naquela altura tinhas preocupações mais que suficientes, com o nascimento da Mariana, o funeral da Sara, o teu sogro e cunhados, e as visitas ao hospital. Mas agora que falamos nisso, penso que podias trazer o filho dela para aqui. Esta casa é tão grande que decerto nem ias dar pelo miúdo. A mãe ficaria mais descansada, e sem preocupações o que era uma mais valia para a Mariana. O que dizes?
- Apesar de a levar todos os dias ao hospital, não troquei com ela mais do que meia dúzia de palavras, e sempre sobre o estado da minha filha. Tu é que a contrataste, fala com ela e diz-lhe que se quiser pode trazer o filho para viver aqui. Pode ser que assim se estabeleça um vínculo de amizade entre ela e as demais empregadas. Não me agrada o ambiente entre elas. Outra coisa, desde quando o meu advogado é para ti “o Alcides”? Que se passa com vocês?
Sem responder, a jovem levantou-se e foi até à janela. Pouco passava das quatro, mas dia escurecia rapidamente. Pensou que era normal, afinal faltavam duas semanas para o Natal. Voltou para junto da secretária e sentou-se. Só então respondeu ao irmão.
- Nada mais do que uma boa amizade. Quando, ou se, chegar a ser algo mais, podes ter a certeza que te direi, embora me considere suficientemente adulta para não ter de te dar conta dos meus atos.
- Sabes que só quero que sejas feliz.
- Eu sei, mano - disse Laura abraçando-o. - Sabe Deus como eu também quero a tua felicidade. Mas tenho fé que ainda vais arranjar alguém, que te faça feliz. Quem sabe a Luna? Ou ela é casada?
- Agora és tu que queres governar a minha vida? A Luna é uma boa amiga, uma espetacular mulher de negócios, a melhor agente literária que conheço, mas é também uma mulher muito independente, e eu seria completamente insensato e muito infeliz se me apaixonasse por ela.
Por outro lado, a minha experiência matrimonial não me deixou muita vontade de reincidir. Neste momento o que me preocupa, é a minha filha, os meus projetos, e a tua situação. Já pensaste no sítio onde queres montar a clínica?
- Não. Na verdade, já tenho uma proposta para um hospital particular. Depois o Alcides contou-me o teu projeto de Fundação, e se se concretizar pretendo trabalhar nele.
-Como assim?
- Vai ter um posto médico, não vai?
-Claro. Mas tinha pensado em algo básico, com uma enfermeira, para fazer alguns pensos, dar injeções e sobretudo ensinar às pessoas certos hábitos de higiene, distribuísse escovas e pasta de dentes, e preservativos.