Dias
depois, também Laura se despediu desta vez por pouco tempo. Faltava-lhe apenas
uma semana para o término do estágio e não podia deixar de o acabar para que
pudesse constar do seu currículo.
Gil
dirigia-se todos os dias ao hospital. Via a filha e ia-se embora deixando Inês
no hospital, para que pudesse estar com a bebé todo o tempo que lhe era
permitido. Quando este terminava, ela apanhava um táxi para se dirigir à
residência do seu patrão, onde agora também morava.
Inês
era uma mulher de estatura média, de grandes e expressivos olhos castanhos,
cabelo curto e de um bonito tom de mel. Apesar de ser magra, tinha as formas
bem definidas. Era educada, com as
outras empregadas da casa, mas falava com elas apenas o estritamente
necessário, embora tivesse a noção de que elas a achavam arrogante e
empertigada.
Inês
não se importava com o que elas pudessem pensar. O seu trabalho seria cuidar da
bebé e isso ela faria com todo o seu saber e amor. Sim porque ela adorava
crianças.
A
sua vida, tudo o que passara até chegar ali, era a sua vida e só a ela
interessava.
O
patrão não lhe fizera perguntas, mas a irmã, sim. E foram tantas as que não
respondeu, que se admirou quando ela lhe telefonara a dizer que o lugar era
seu. Afinal ela não tinha outras referências que as do hospital pediátrico onde
trabalhara, e cujo emprego se vira obrigada a deixar, para se poder esconder de
um marido extremamente violento. O que mais a entristecia, era estar separada
do filho, Jorge, de cinco anos. Não podia tê-lo consigo, nem levá-lo para casa
dos seus pais, pois seria o primeiro lugar onde o ex-marido o procuraria. No
centro de apoio onde se acolheram, arranjaram-lhe um lar de acolhimento onde
poderia estar um máximo de seis meses, até que ela conseguisse resolver a sua
situação.
Apesar
do divórcio e da proibição feita ao marido de não se poder aproximar dela, Inês
tinha muito medo. Estava cansada de ouvir notícias de homens que matavam as
mulheres, apesar de estarem proibidos de se aproximarem delas. Ela não temia
por ela, mas pelo que ele podia fazer ao filho, sabendo que isso a faria sofrer
muito mais do que qualquer coisa que lhe fizesse a ela.
Alheio
a toda esta situação, Gil pensava, se a irmã tinha feito bem em contratar para
cuidar da sua filha, uma mulher que parecia estar zangada com o mundo inteiro.
Por isso quando a irmã regressou,
não
pôde evitar a pergunta.
-
Que te levou a contratar aquela mulher para cuidar da minha filha? Que
referências te deu?
Os
dois irmãos encontravam-se sentados na sala que era simultaneamente biblioteca
e escritório, no piso inferior da moradia. Laura encarou o irmão e perguntou:
- O
que é que ela fez? Não tem ido ver a menina? Fizeram alguma queixa dela, no
hospital?
-
Não. Mas está sempre com uma expressão, que parece que todos lhe devem e ninguém
lhe quer pagar. E tenho notado que não fez amizade com nenhuma das empregadas da
casa.
-Bom, as referências do hospital onde trabalhou, foram as melhores. Sabes que é
divorciada? A vida dela não deve ter sido nada fácil. O Alcides foi à morada
que ela me deu e sabes o que era? Uma casa de apoio às vítimas de violência
doméstica. Como a psicóloga de lá é conhecida dele, conseguiu saber que quando
chegou lá com o filho, apresentava várias marcas de espancamento.
15 comentários:
Esta história está a ser uma maravilha, uma história abrangente do mundo, nem sempre bom, em que todos nos inserimos.
Parabéns, Elvira
Um bom descanso
Boa noite Elvira,
Um episódio emocionante abordando, entre outros, o tema da violência doméstica, infelizmente tão atual.
Bejinhos e até amanhã.
Ailime
A cara quase sempre mostra o que sente o coração.
Abraço
Violência doméstica é assunto que está na moda. No mundo moderno há cada vez menos amor e mais interesse, o que explica, em parte, esta doença social.
Pois. Uma pessoa que sofreu de violência, por norma é mais cautelosa com a "amizades" que faz, porque se fecha por vergonha e medo. Ela vai dar a volta :))
Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira.
Continuo presente e a acompanhar.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Acompanhando e gostando!! Beleza! beijos, chica
Cá estou de novo, posta em dia a leitura de OS SONHOS DE GIL GASPAR.
Forte abraço, amiga!
Boa tarde:- Sem dúvida uma leitura muito agradável de seguir
.
…………… Poema ……………
^^^ Impuros Desejos ^^^
.
Deixando um abraço.
Eu acho que o Gil vai dar-se bem com o Silêncio dela! :)
Amei!
Beijos e um excelente dia!
gosto muito da sua de narrar, minha amiga
e tenho pena de não acompanhar desde inicio esta interessante narrativa.
beijo
Agora na baila está a Inês. Divorciada e vitima de ameaça doméstica. Seja lá como for, o que mais agora ao Gil interessa é que ela seja uma boa ama para sua filha. E com o decorrer do tempo poderá ser mais do que isso?
Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.
A cada capitulo mais gosto desta historia
Bjs
Kique
Hoje em Caminhos Percorridos - Urgências...irá melhorar
Um tema real e realmente preocupante que merece ser sempre retratado e divulgado por forma a passar a mensagem que a violência não é aceitável.
Mais um drama dentro de um drama, um enredo bem trabalhado em várias frentes onde até os personagens secundários acabam por marcar
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