- Mas tem que haver alguém, que ficou com esse dinheiro. Porque o meu pai não foi.
- Sabes que a polícia descobriu que a contabilidade da firma foi adulterada, não sabes?
- Sei. O meu pai, diz que não sabe por quem, mas acredita que quem o fez, foi a mesma pessoa que ficou com o dinheiro.
- E o teu pai, não desconfia de ninguém? Ou também está convencido que fui eu? Foi dele a ideia de me espiares?
- Não! Ele nem sequer sabe que deixei o meu emprego anterior, e que sou agora a sua secretária. E ele não desconfia de ninguém em particular. Fui eu que desconfiei do senhor, quando soube que tinha comprado a parte do seu sócio, pouco tempo depois, e era agora o único dono da empresa.
-Parece que tenho que te agradecer a boa imagem que tens de mim - concluiu sarcástico. Depois de uns momentos de silêncio acrescentou:
-Bom, Sandra, deves estar muito cansada. Faz um chá e tenta dormir. Preciso pensar seriamente em tudo o que aconteceu hoje. Se não for antes, na segunda-feira, conversamos.
-Bom, Sandra, deves estar muito cansada. Faz um chá e tenta dormir. Preciso pensar seriamente em tudo o que aconteceu hoje. Se não for antes, na segunda-feira, conversamos.
Dirigiu-se à porta e disse ao ver que ela o seguia.
-Não é preciso. Sei o caminho.
Saiu fechando a porta atrás de si.
Sandra, foi até à cozinha, acendeu o fogão e pôs a chaleira com água ao lume para o chá. Sentia-se arrasada. Quase quatro anos a lutar contra aquela dor. Anos em que se deitava e se levantava a pensar em como estaria o pai. No dia seguinte era dia de o visitar. Esperava duas semanas por aquele dia e quando ele se aproximava ficava à beira de um ataque de nervos, por não saber como ia encontrá-lo. Era deprimente e desanimador. E o pior, era ter que fingir que estava tudo bem para que o pai não ficasse ainda mais abatido.
Por outro lado, ter sido descoberta era como se lhe tivessem tirado um peso de cima. Não ter que fingir ser outra pessoa, não viver sempre no medo de ser apanhada, dava-lhe uma sensação de liberdade e bem-estar, que só não era total, pela preocupação constante com o pai.
Por outro lado, ter sido descoberta era como se lhe tivessem tirado um peso de cima. Não ter que fingir ser outra pessoa, não viver sempre no medo de ser apanhada, dava-lhe uma sensação de liberdade e bem-estar, que só não era total, pela preocupação constante com o pai.
Mas agora tinha outra preocupação. E se Gabriel a despedisse? Atualmente havia tanta dificuldade em encontrar um bom emprego. Se fosse despedida,- e nem podia recriminá-lo se o fizesse, depois de lhe ter dito que desconfiava dele e andara a vasculhar no seu escritório – como ia pagar as suas contas?
Bebeu o chá, depois foi à casa de banho e tomou um duche. Precisava relaxar, ou não conseguiria dormir. Ao olhar-se ao espelho reparou nas manchas violáceas que tinha nos ombros, fruto da pressão das mãos de Gabriel. Procurou no armário uma bisnaga de Trombocid, e passou um pouco sobre as manchas. Vestiu o pijama, escovou os dentes e finalmente deitou-se.
O cansaço era tanto que não tardou a adormecer.