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24.4.20

À MÉDIA LUZ - PARTE X





Ela olhou-o muito séria.
- Mas tem que haver alguém, que ficou com  esse dinheiro. Porque o meu pai não foi.
- Sabes que a polícia descobriu que a contabilidade da firma foi adulterada, não sabes?
- Sei. O meu pai, diz que não sabe por quem, mas acredita que quem o fez, foi a mesma pessoa que ficou com o dinheiro.
- E o teu pai, não desconfia de ninguém? Ou também está convencido que fui eu? Foi dele a ideia de me espiares?
- Não! Ele nem sequer sabe que deixei o meu emprego anterior, e que sou agora a sua secretária. E ele não desconfia de ninguém em particular. Fui eu que desconfiei do senhor, quando soube que tinha comprado a parte do seu sócio, pouco tempo depois, e era agora o único dono da empresa.
-Parece que tenho que te agradecer a boa imagem que tens de mim - concluiu   sarcástico. Depois de uns momentos de silêncio acrescentou: 
-Bom, Sandra, deves estar muito cansada. Faz um chá e tenta dormir. Preciso pensar seriamente em tudo o que aconteceu hoje. Se não for antes, na segunda-feira, conversamos.
Dirigiu-se à porta e disse ao ver que ela o seguia. 
-Não é preciso. Sei o caminho.
Saiu fechando a porta atrás de si.
Sandra, foi até à cozinha, acendeu o fogão e pôs a chaleira com água ao lume para o chá. Sentia-se arrasada. Quase quatro anos a lutar contra aquela dor. Anos em que se deitava e se levantava a pensar em como estaria o pai. No dia seguinte era dia de o visitar. Esperava duas semanas por aquele dia  e quando ele se aproximava ficava à beira de um ataque de nervos, por não saber como ia encontrá-lo. Era deprimente e desanimador. E o pior, era ter que fingir que estava tudo bem para que o pai não ficasse ainda mais abatido.
 Por outro lado, ter sido descoberta era como se lhe tivessem tirado um peso de cima. Não ter que fingir ser outra pessoa, não viver sempre no medo de ser apanhada, dava-lhe uma sensação de liberdade e bem-estar, que só não era total, pela preocupação constante com o pai.
Mas agora tinha outra preocupação. E se Gabriel a despedisse? Atualmente havia tanta dificuldade em encontrar um bom emprego. Se fosse despedida,- e nem podia recriminá-lo se o fizesse, depois de lhe ter dito que desconfiava dele e andara a vasculhar no seu escritório – como ia pagar as suas contas?  
Bebeu o chá, depois foi à casa de banho e tomou um duche. Precisava relaxar, ou não conseguiria dormir. Ao olhar-se ao espelho reparou nas manchas violáceas que tinha nos ombros, fruto da pressão das mãos de Gabriel. Procurou no armário uma bisnaga de Trombocid, e passou um pouco  sobre as manchas. Vestiu o pijama, escovou os dentes e finalmente deitou-se.
O cansaço era tanto que não tardou a adormecer.



30.4.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XXXIV



Caminhavam lado a lado em direção às traseiras da casa, onde estava montada a tenda e onde se faria a festa propriamente dita.
- Se era isso que te preocupava, podes ficar descansado. Se queres saber a reação do meu pai, desculpa não quero falar disso. Mas quero que saibas, que te estou muito grata por teres desistido da tua vingança. Não por mim, recebi a minha parte da herança da minha mãe, que me serviu para montar a minha empresa, e é do meu trabalho que vivo. Mas pela Cidália e pelo Miguel.
- Pelo teu pai, não?
-A minha ligação com o meu pai nunca foi muito boa. É meu pai e como tal o respeito, mas ele nunca fez nada para ganhar o meu amor. Por isso fui viver sozinha. Mas não vamos falar disso agora. A tua irmã já sabe da festa.
-O Eduardo ia dizer-lhe ontem à noite. Ele contratou os serviços de um salão de beleza para que fossem cuidar dela esta manhã, e teve que lhe explicar porquê. Devem chegar daqui a pouco, almoçam connosco e vestem-se aqui, a loja já mandou entregar a roupa há dias.
- Sem ela escolher? Vocês não estão bons da cabeça. Isso não vai dar certo.
- Ela escolheu. O Eduardo levou-a à loja com o pretexto que era para o meu sócio fazer uma surpresa à noiva. Mas a minha irmã, não é parva e deve ter entendido logo que era uma prenda para o aniversário. E se não tinha a certeza, teve-a ontem quando ele lhe contou da festa. Só ainda não sabe que vai de lua-de-mel para a República Dominicana.
Conversavam enquanto Paula ia pondo nas mesas, os arranjos florais. Ninguém diria que três semanas antes, ela achava o homem arrogante e odioso. Pareciam amigos de longa data. Pareciam, mas na verdade não passava de aparência, cada um tentando esconder do outro os seus verdadeiros sentimentos.
- Está tudo pronto, não é verdade? - perguntou quando ela colocou o último arranjo na mesa que faltava.
-Por agora sim. O resto não depende de mim.
-Então vem comigo ao escritório. Preciso conversar contigo.
Afastou-se em direção à casa, sem esperar para ver se o seguia. Ao chegar à porta, voltou-se e verificou que ela continuava no mesmo lugar. Ficou parado, indeciso sem saber se continuar, ou voltar atrás. Só então Paula avançou.
-Aconteceu alguma coisa?- perguntou quando ela chegou junto de si.
- Estava a pensar se foste sempre assim, mandão e prepotente, ou se é só comigo. Por acaso ocorreu-te pedir-me para te acompanhar, ou ser delicado não faz parte da tua personalidade?
-Desculpa. Reconheço que por vezes sou um tanto rude, mas não tive qualquer intenção de te menosprezar.  A verdade é que preciso falar contigo. Queres acompanhar-me?
-Assim está melhor. Sou um tanto rebelde, não gosto de receber ordens. Essa é uma das razões que me levaram a fundar a minha própria empresa.
Tinham chegado ao escritório. Ele abriu a porta e afastou-se para a deixar passar. Entrou atrás dela e fechou a porta.
-Queres fazer o favor de te sentares. É quase meio-dia, a Gabi o marido e o filho devem estar a chegar e depois vamos almoçar. Gostava de falar contigo antes que eles cheguem.
-Bom, tu dirás.
-Daqui a pouco na festa, vou apresentar-te o meu sócio, Júlio Correia, e a sua noiva. Júlio vai casar dentro de oito dias. Eu vou ser o padrinho. Como não sou casado, nem tenho compromisso, querem apresentar-me uma prima da noiva para meu par. Não estou interessado em conhecê-la, nem em ter por par, uma pessoa que não me interessa.  Gostaria que me acompanhasses ao casamento.
Levantou-se nervosa. Acompanhá-lo ao casamento, passar o dia a seu lado, sem ser em trabalho, dançar com ele? Era demasiado perigoso, tendo em conta a descoberta recente do sentimento que ele lhe inspirava. O que ela queria era que aquela festa acabasse depressa para se afastar e tentar esquecê-lo.
-Não. Não me podes pedir semelhante coisa.
-Porquê? O que tem de mal? Não somos amigos?
- Amigos? Conhecemos-nos há quinze dias!
- Conheces-me há quinze dias. Eu conheço-te desde que tinhas este tamanho, - disse apontando com a mão a altura da sua anca. – Além disso, há quem acabe de se conhecer e fique amigo para a vida inteira. Diz antes que continuas a pensar que sou um ser odioso e vingativo, como disseste na primeira vez que nos encontrámos.


O Sexta, pede-me para vos agradecer a presença na sua festa. Diz que vocês são fantásticos, e que sem vocês ele simplesmente deixaria de existir. Bem Hajam



E porque amanhã é o 1º de Maio, esta história volta na Quinta-feira. A propósito, ainda se lembram como começou? É que o primeiro capítulo foi publicado a 14/3


9.4.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XX



-Sim…
- Tenho a dona Paula Maldonado ao telefone. Pode atender?
-Sim, claro. Passe-me a chamada por favor.
- Estou: Bom dia Paula. Porque não ligaste para o meu telemóvel?
- Não é uma chamada pessoal. Prefiro tratar os negócios pelo telefone. Preciso conhecer o local da festa, com urgência. O espaço temporal é demasiado curto e ainda não me disseste onde se vai realizar a festa.
- Falaste numa festa ao ar livre e eu gostei da ideia. Tenho uma casa em Sintra, numa pequena quinta. Só lá vou aos fins-de-semana, mas tem um bonito jardim, com um pequeno lago, penso que seria o ideal.
-Preciso vê-lo. Saber onde fica a igreja mais próxima, ir falar com o padre, uma infinidade de coisas.
-Eu mesmo gostaria de te levar lá, mas vou ter uma reunião dentro de meia hora com o meu sócio. Não podes deixar a visita para mais tarde?
- Prefiro ir já.
-Muito bem. Vou enviar-te a morada. E telefonar à governanta para que te mostre o jardim. Entretanto logo que termine a reunião vou lá ter. Almoçamos e depois podemos ir juntos falar com o padre. Além disso,- apressou-se a dizer, antes que ela recusasse. – Gostava de te mostrar a casa, e de ter uma ideia do que pensas fazer.
- Bom, manda então a morada. E vou falar com o padre, sozinha. Não quero correr o risco de encontrar alguém conhecido, e alimentar boatos em revistas cor-de-rosa. Vou desligar. Até logo!
António desligou a chamada, enviou a mensagem com a morada e ficou pensativo. A ele também não lhe agradavam os boatos, mas não desdenharia nada de sair nas revistas como noivo dela, se isso fosse verdade. Pelo contrário ia sentir-se muito feliz. Cada dia que passava, mais pensava nela. E não tinha nada a ver com a vingança que durante tantos anos alimentou contra o pai dela.
Na verdade sempre que pensava na jovem, conseguia imaginar muita coisa, mas nada que a ligasse ao pai e ao seu desejo de se vingar.  Desejo que aliás pôs de parte, por ela. Nunca em toda a sua vida sentiu algo parecido por outra mulher. Estaria apaixonado?
Foi interrompido nos seus pensamentos, por uma batida na porta, e logo Susana, a sua secretária entrou dizendo:
- Chegou o senhor Júlio Correia, e doutor Eduardo Soares.
- Faça-os entrar. E pode retirar-se. Se precisar de si, chamo.
Os dois homens entraram no escritório, e a secretária retirou-se fechando a porta atrás de si.
António levantou-se e os três homens, cumprimentaram-se de forma amistosa.
- Sentem-se. Querem tomar alguma coisa?- Perguntou António.
- Não, - disse o seu sócio. – Deves lembrar-te que nunca bebo de manhã.
-Eu também não, acabei de beber um café, -disse Eduardo, antecipando-se à pergunta do cunhado.
- Então vamos lá trabalhar. Já marcaram a escritura em Faro?
- Está agendada para depois de amanhã às quinze. Vais connosco não é verdade?- Perguntou Júlio.
- Bom, não era necessário, mas o Eduardo diz que fazes questão na minha presença.
- Sinto-me mais confiante assim. Somos amigos, mas também somos sócios, e lembras-te de quando tinhas o boletim premiado? No mesmo dia quiseste que fossemos a um advogado para firmar uma sociedade. Quando te disse  que não era necessário, porque confiava em ti, disseste. “Amigos, amigos, negócios à parte.” Hoje digo-te o mesmo.
-Não é a mesma coisa, além de que o Eduardo estará lá com o doutor Alcides, teu advogado, e podes ter a certeza que eles terão muita atenção a todos os pormenores da compra. Irei convosco se fazes questão, mas esse negócio tal como os outros relacionados com os automóveis, terá que ser dirigido por ti, eu já tenho imenso trabalho com os restaurantes e a Imobiliária.
-Então está combinado. Vamos depois de amanhã às nove horas.Outra coisa. Sabes que vou casar no final do próximo mês? - Perguntou Júlio.
- Penso que já tinha ouvido alguma coisa sobre o assunto. Os meus parabéns.
- Obrigado. Eu ficaria muito feliz se aceitasses ser o meu padrinho.
Aceitas?
- E eu sinto-me honrado com o convite. Claro que aceito, - disse levantando-se e abraçando o amigo. – Depois conversamos sobre isso. Agora tenho que sair, tenho um compromisso em Sintra.


12.9.17

À MÉDIA LUZ - PARTE IX






Abriu a porta e desviou-se para lhe dar passagem. Ela acendeu a luz, e ele olhou com curiosidade para o apartamento. Sandra encaminhou-se para a sala. Depositou a mala numa cadeira.
- Sente-se. Posso oferecer-lhe um café?
- Agora não, obrigado. Não estamos numa visita social. Estou à espera do que tenhas para me dizer.
- É complicado. O meu nome é Sandra Martins Machado. O apelido Machado diz-lhe alguma coisa?
- Não. É um apelido vulgar. Porquê?
- Porque há pouco mais de três anos, o seu contabilista Joaquim Machado, foi acusado e condenado por ter feito um desfalque na sua empresa.
- Sim. E o que é que isso tem a ver contigo?
- Joaquim Machado é meu pai. Nunca fez qualquer desfalque e está preso. É inocente, e vocês acusaram-no.
Desatou a chorar. Ele levantou-se. Começava a perceber a dor e a raiva da jovem, mas ainda não entendia o que é que ela tinha ido fazer para a firma.
- Desculpa, não fomos nós que julgamos e condenamos o teu pai. Nós só demos parte do desfalque. O resto foi trabalho da polícia, e do tribunal.
- O meu pai está inocente. Era incapaz de roubar um cêntimo que fosse. E se houve desfalque alguém o fez. Não ele, que morre um pouco todos os dias, de vergonha.
- E se houve? O que queres dizer com isso? Julgas que não houve desvio daquela verba? Que nós fizemos uma participação falsa à polícia?
- Não. Acredito que tenha havido o desvio dessa verba. Mas qualquer outro o podia fazer. Até mesmo um dos dois sócios.
- Estás doida?
- Será? Porque é que o senhor comprou a parte do seu sócio, menos de um ano depois de meu pai ser preso?
- Boa! Agora entendi. Quer dizer que pensas que eu desfalquei a empresa, para obrigar o meu sócio a vender, a sua parte, e ficar com a totalidade da firma? Era isso que procuravas, infiltrando-te como minha secretária, e vestida daquele jeito ridículo? Uma prova para me acusares?
Tinha-se levantado, e passeava pela sala como leão enjaulado. Estava verdadeiramente zangado. Mais do que isso. Estava furioso.
 Ela começava a pensar que se excedera.
- Desculpe, - balbuciou. Mas o senhor pediu sinceridade. Por outro lado, já não sei o que fazer para provar a inocência do meu pai.
Ele parou. No meio da ira que o invadia, pensou vagamente que era extraordinária, a garra com que ela defendia o progenitor. Mais, pensou que gostaria que ela confiasse nele  com a mesma fé que depositava no pai.
-Suponho que não acreditarás se te disser que não tenho nada a ver com esse desvio, - disse com ironia.


8.6.17

JOGO PERIGOSO - PARTE XXII








Às quinze horas, entraram juntos no refeitório, e depois de pedir que se sentassem, Daniela disse.
-Como sabem, há dois meses que esta empresa, passou a ter um novo sócio. O senhor David Ribeiro aqui presente, e que já vos apresentei informalmente. Acontece que o senhor Ribeiro, vai investir um bom capital na fábrica, acaba de comprar novas máquinas de tecelagem, a primeira das quais será montada já para a semana. Vai criar mais postos de trabalho, e como tal é justo que vá assumir a gerência da fábrica, motivo pelo qual, a partir deste momento, todo e qualquer assunto referente à laboração, deve ser comunicado ao senhor Ribeiro. 
Calou-se e recuou, esperando o que ele poderia dizer, mas David, limitou-se a fazer um gesto com a mão e acrescentou.
- Espero que a nossa relação laboral continue a ser boa para ambas as partes. Podem voltar aos vossos postos de trabalho.
Virou-lhes as costas e ela apressou-se a segui-lo.
Uma vez no gabinete, ela sentou-se e disse:
-Vamos lá então tratar disto. Aqui estão as pastas com as encomendas, e o prazo de entregas estipulado para cada uma. O livro de cheques, a chave do cofre, e o endereço eletrônico da firma. A pasta do pessoal, dos Fornecedores, da Segurança Social, e das Finanças. Qualquer informação adicional, a Madalena dar-ta-á. É uma excelente secretária está na firma há muitos anos, sabe de tudo o que a ela diz respeito. Há três anos que não tiro férias. Uma vez que tomaste conta de tudo posso ir descansada.
Encarou-a com raiva.
-Não podes, fazer isso.
-Porque não? É um direito que me assiste.
- Mas posso precisar de ti.
- Para quê? Para alguma assinatura legal? Posso passar-te uma procuração.
- Faz isso e diz adeus às tuas ações na fábrica.
- Confio em ti. Sei que não o farás, - sorriu com tristeza.
Engoliu em seco. Como podia confiar nele, depois de conhecer o seu desejo de vingança? Que se passava com ela? Era muito ingénua, ou demasiado estúpida?
-Para onde vais?
- Estou a pensar ir até Moçambique. Há muito tempo não vejo o meu irmão. É a minha única família, estou com saudades.
Ele quis ser mordaz, dizer alguma coisa que a ferisse tanto, quanto ele se sentia, mas por qualquer razão não foi capaz. Voltou-lhe as costas, e por isso não pode ver o olhar de tristeza com que ela o brindou, antes de se dirigir  para a saída.