Isabel, tivera um dia complicado no escritório. O telefonema de Hélder, no fim da manhã, contribuíra para uma desconcentração na parte da tarde, que a obrigara a um esforço extra para fazer alguma coisa de útil. Felizmente que no dia seguinte era sábado, podia descansar um pouco. Cansada, tomou um relaxante banho, espalhou sobre o corpo um creme hidratante, enfiou uma curta camisa de dormir, o robe de seda, e sem ânimo para fazer jantar, pensou em fazer um chá e duas tostas. Acabara de pôr a chaleira ao lume com a água para o chá, quando a campainha tocou. Espreitou pelo ralo, e ficou sem cor ao reconhecer o escritor. Olhou para si mesma, para a roupa inapropriada para receber visitas, que vestia, mas acalmou-se ao pensar que ele não podia vê-la. Mas seria mesmo ele? Devia estar enganada. Ele não sabia onde ela morava. Nem se devia lembrar já da sua existência. Nesse momento a campainha voltou a tocar de forma impaciente. Voltou a espreitar. Não havia dúvida. Era ele. Abriu a porta, quando ele se aprestava para tocar pela terceira vez.
- O que estás aqui a fazer?
Como soubeste onde morava?
- Se me convidares a entrar,
posso responder a isso e a muito mais.
- Mas estás sozinho? E o
Rex?
Ele sorriu. Sem se dar conta, perguntando pelo cão guia, ela tinha-se denunciado.
Ele sorriu. Sem se dar conta, perguntando pelo cão guia, ela tinha-se denunciado.
- Já não preciso dele, - disse
tirando os óculos e deixando-a mirar-se nos belos olhos escuros. Mas vamos ficar a conversar aqui
ao pé da porta? Não me mandas entrar?
- Sim, claro, desculpa. Vem para
a sala. Senta-te. Vou só apagar o lume, ia fazer um chá.
Regressou logo a seguir. Ele
estava de pé, com uma foto dos dois na mão. Tinha sido tirada pouco antes de se
separarem dez anos antes, e a lembrança do que tinha acontecido na época tingiu de carmim, as faces da jovem.
- Senta-te. Suponho que
convenceste a minha avó a dar-te a minha morada, -disse sentando-se no sofá em frente dele. Só não entendo para quê? Dez
anos é muito tempo, para ainda te lembrares de mim.
- Dez anos Isabel? Pensas mesmo
que não te reconheci? Que não sei que eras tu que estiveste a meu lado estes dois meses?
Ela perdeu a cor. Balbuciou.
- Como o soubeste? E desde quando?
- Senti-o no primeiro momento
na praia, quando me saudaste. Não quis acreditar, pensei que estava a ficar maluco, e por isso
não te respondi. Depois, procuraste-me para te ofereceres como secretária, e
fiquei meio convencido que realmente eras tu, mas a certeza, só a tive quando
leste para mim. Lembrava-me bem quantas vezes, tínhamos lido um para o outro há
dez anos. Quando falaste do teu amigo, senti vontade de te abraçar e te dizer
que não podias esconder-te. Estavas dentro de mim, achar-te-ia sempre, mas
depois pensei que devias ter uma razão para te esconderes, quem sabe tinhas um
namorado, sei lá. Dez anos, é muito tempo, não sabia nada de ti, podias até ter casado. Esperei que fosses tu a falar. Além disso que podia eu oferecer-te, na situação em que me encontrava? Mas logo depois,
começou a acontecer algo, com que eu já não sonhava. Começava a distinguir formas
e movimentos. Então fiz a mala e parti para Barcelona, pois tinha sido lá que
tinha tentado todos os tratamentos para recuperar a visão.
12 comentários:
Emocionante e imagino o susto dela! Vamos esperando e torcendo! bjs, chica
Como no pensamento me ocorria,
de que vai haver entendimento
sem felicidade não há alegria
o amor os unirá no casamento!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
E pronto ! Perante tudo isto a Isabel "não tem saída", ou melhor, resta-lhe aquela que
sempre ambicionou ! :)
Uma história muito bem construída, Elvira ! ... Continuo a admirar a maneira com escreve e como encontra argumentos tão consistentes !
Por aqui não é que se perde, não ! :))) ... Sabe perfeitamente encontrar os melhores caminhos ! :)
PARABÉNS !
Felizmente tudo se está a compor.
Bjn
Márcia
Que susto a menina levou!!
Curiosa, beijinhos.
Ainda bem que a avó lhe deu a morada...e ele foi logo para lá :)
Agora têm de ser entender...espero
um beijinho
Estou a gostar imenso com o desenrolar da história.
Tudo se encaixa na perfeição, mérito teu.
Beijos Elvira
Adorei a reviravolta, vai ser mais um final feliz :)
Obrigada Elvira, até os meus lábios sorriram, grande escritora.
Agora já posso ir dormir e pensar que é uma história mesmo ao meu jeito.
Beijinho grande e os meus agradecimentos.Estou feliz.
Estou aqui contente com o reencontro deles e aguardando um final feliz.
Grande beijo.
Ainda tem.mais? Já me dava por satisfeita se terminasse aqui
Kis :=}
Uma história de vida!!! Bj
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