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30.6.17

ROSA - PARTE I

Porque têm sido muitos os amigos que me têm manifestado o desejo de conhecerem esta história,  a única publicada em livro até agora, e esgotada, e de momento não ter hipótese de fazer uma nova edição, eis aqui a ROSA




Obra licenciada pelo IGAC nº  1283 e publicada em livro


(esgotado)



Olhou-se uma vez mais no velho espelho do desconjuntado armário. Não se reconhecia naquela estranha de grandes olhos negros que a olhavam com um misto de pena e desespero, na imagem que o espelho lhe devolvia. Sentia-se cansada e sem vontade de nada. Era como se dentro daquele corpo não habitasse ninguém. E se habitava não era ela. Ela ficara lá longe, na sua aldeia, muitos anos atrás. Quem sabe, andava lá pelo monte da Landeira, pastoreando as ovelhas.
Como era feliz nessa altura! Por que é que estamos sempre desejando mais do que aquilo que temos e lastimando a nossa infelicidade, para depois chegarmos à conclusão que aquela era afinal a felicidade?
Ela fora uma miúda normal numa aldeia do interior, maioritariamente povoada por gente pobre. Tivera uma infância exatamente igual à das outras meninas na aldeia. Só com a diferença que nunca conheceu o pai. Mas nem nisso era muito original, já que havia na aldeia, mais duas ou três meninas que ela pensava que eram suas irmãs, porque eram filhas do mesmo pai. Sim porque ela sabia que o seu pai se chamava “pai incógnito” e o pai dessas meninas também se chamava assim. Um dia, a avó explicou-lhe que “pai incógnito” significava que ninguém sabia quem era o seu pai. Não era nome de gente. Rosa ficou espantada. Como era possível? Não sabiam quem era o pai? Não era da aldeia? Então e as outras meninas? Também não sabiam quem era o pai? Então se calhar eram mesmo irmãs. Que não, tornou a avó. Eram filhas de outro pai. Ela não percebia. Então se não sabiam quem era como é que sabiam que não era o mesmo? Mais tarde, quando fora para a escola, atreveu-se a perguntar à professora e esta fizera-lhe entender o mistério. Ela gostava da escola. Como gostava! Os livros contavam cada história! Infelizmente, quando tinha oito anos, a mãe morreu e ela ficou sozinha com a velha avó. A vida que lá em casa já não era fácil, piorou drasticamente. Teve que deixar a escola.
O Sr. António era o homem mais rico da aldeia. Tinha terras, bois, vacas, cabras e ovelhas. Vivia numa casa grande, feita de grandes blocos de granito, e diziam os que já lá tinham entrado, por dentro parecia um palácio. A avó conseguiu que ela fosse trabalhar para lá como guardadora do rebanho. Foi um pedido feito à Ti'Zefa, a criada do Sr. António. Ganhava um dinheirito, pouco, no fim do mês, mas tinha a barriga cheia, pois segundo se dizia era casa farta. E assim a avó sempre ficava mais descansada. Ela, a avó, sempre conseguia um prato de sopa a troco de algum trabalho. Era exímia a cerzir e as vizinhas tinham sempre o bibe dum filho ou a camisa do marido com um rasgão a pedir a sua intervenção.




Continua amanhã

20 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Aqui em Portugal o problema dos livros é que fazem edições muito limitadas.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Vai ser bom reler ! História muito boa! bjs, lindo dia! chica

António Querido disse...

Gostei de ler, mas sobretudo de ver as minhas ovelhas pastoreando, não sou um António rico, mas sim um rico António!
Com o meu abraço.

Tintinaine disse...

Eu também andei atrás das ovelhas, quando era pequeno, lá na minha aldeia do Minho e sei o que isso é.
Vamos ver as voltas que dá a história da Rosa!

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanha as histórias!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Mariazita disse...

Gostei de reler - já que li o livro há algum tempo... - e assim posso relembrar.
Acho que faz muito bem em publicá-lo aqui, pois assim dá oportunidade, a que não pôde adquirir o livro, de conhecer esta sua obra, que é muito boa.
Excelente ideia.

Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Os olhares da Gracinha! disse...

Um cenário bem português e o início recorda_me uma história de vida que conheci!!!
Bj

Bell disse...

A vida é dura e por vezes sentimos saudades de um passado que julgamos termos sidos felizes.

bjokas =)

Janita disse...

Como não li este seu romance, é com bastante agrado que verifico aqui a sua publicação em capítulos. Comecei a acompanhar.
Quando começo a ler logo de início é certo que não deixarei de ir até ao fim.
Um abraço e bom fim de semana.

Edum@nes disse...

Mal por mal, mais vale ser filho de pai incógnito. Do que chamar pai a outro, ou seja. Chamar pai a quem seu pai não é! Acho que já li esta história, se é que enganado não estou?

Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Silenciosamente ouvindo... disse...

As suas histórias, além de serem muito boas,
retrata vivências: pessoas, lugares, épocas
e isso é mtº. bom de ler.
Bjs. amiga e bom fim de semana.
Irene Alves

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um início de história que promete. Gostei muito.
Beijinhos e bom fim de semana.
Ailime

Prata da casa disse...

Está a começar bem. Estou a gostar.
Bjn
Márcia

Jack Lins disse...

Olá querida Elvira,
Gostei muito desse início, irei acompanhar os demais capítulos, com certeza.
Grande beijo e um ótimo final de semana.

Lua Singular disse...

Oi Elvira,
Fiquei com dó da menina: todos querem ter um pai presente, é o orgulho de todo filho.
Se eu for contar a história da minha vida e você escrever num livro esgotaria numa semana. Foi uma triste, amarga e doce aventura.
Estou a postar devagar, ainda não estou muito bem.
Beijos no coração
Lua Singular

Cantinho da Gaiata disse...

Passando para começar a ler mais uma história que certamente vai trazer muitas vivências do passado.
Bj

redonda disse...

Obrigada pela oportunidade de ler a Rosa :)
Para já, gostei do primeiro capítulo, vou já ler o segundo

um beijinho

Graça Sampaio disse...

A vida tristemente infeliz de tantas raparigas da primeira metade do século passado nas aldeias deste nosso pobre país...

Louraini Christmann - Lola disse...

Gostei da Rosa.
Gostei do estilo de escrita.
Vou acompanhar.

abraço
Lola

Berço do Mundo disse...

Em primeiro lugar, muitos parabéns por ter esgotado a primeira edição do livro. Espero que a segunda se torne realidade em breve.
Vou espreitar o próximo excerto.
Beijinho