Boa noite, amigos. O estado do meu marido, continua estável e ele continua a fazer exames. Hoje está a fazer registo de Holter, fez vários testes neurológicos e falei com o neurologista que me disse que continuam à procura do que pode ter causado o AVC. Disse que vai continuar a fazer exames esta semana e dia 12 vai fazer uma ressonância a Lisboa. Também me disse que amanhã vão tentar levantá-lo e que vai ser visto por um colega de fisioterapia.
É tudo por hoje. A minha eterna gratidão para vós.
Artur já a esperava junto à porta quando saiu. Cumprimentou o amigo, e sentou-se a seu lado, apertando o cinto de segurança.
-Os meus parabéns – disse ele
- Obrigado. O Artur conhece o Ricardo há muito tempo? –
perguntou
- Quase desde sempre. Morei durante quinze anos no mesmo
andar que os seus pais. Quando fui para lá viver ele devia ter uns três ou
quatro anos. E depois disso sempre estive mais ou menos em contacto com ele,
exceto os anos que esteve em Angola.
-Então conheceu a primeira mulher dele?
-Claro!
- Estiveram casados muito tempo? Eram muito apaixonados?
Como era ela?
- Porquê todas essas perguntas agora?
- Curiosidade. Ele nunca fala do seu passado. Não sei
nada dele, até ao dia que me apareceu em casa.
- E isso é mau?
-É como se eu não tivesse qualquer importância para ele.
- Posso garantir-lhe que isso não é verdade. Às vezes há
coisas que por muito dolorosas, ou estúpidas, um homem tem vergonha de contar.
Isso, nada tem a ver com os sentimentos dele por si.
- E esse é o caso dele!
Não era uma pergunta, mas uma constatação.
- É. O que aconteceu com ele foi cruel e doloroso.
Cabe-lhe a si fazê-lo esquecer, se é que já não esqueceu.
Tinham chegado à porta do prédio onde vivera até há meia
dúzia de meses.
- Pode descer Isabel, eu vou ver se arranjo lugar para
estacionar o carro.
A jovem desceu, abriu a porta do prédio e como tantas
vezes fizera ao longo dos anos, bateu com os nós dos dedos na porta da amiga.
Natália abriu a porta, e Matilde estendeu os braços para ela, feliz com a
surpresa.
-Já comeu quase há uma hora, mas como ouviu que a Isabel
vinha almoçar, cismou que a mãe ia deitá-la e não consegui fazê-lo.
Isabel pegou-lhe ao colo e depois de a beijar, ralhou:
- Sua marota! Vamos lá fazer ó-ó, senão logo os avós não
a levam ao parque. Mas primeiro tens que fazer xixi!
Colocou-a no chão, e a menina encaminhou-se para o bacio
atravessado na entrada de casa de banho. Puxou para baixo os calções e
sentou-se.
- Muito bem! - aprovou a mãe.
Esperou que ela urinasse, limpou-a e levou-a para o
quarto. Deitou-a, deu-lhe um beijo e colocou o lençol por cima dela.
- Agora a Matilde vai fazer um soninho muito bom e depois
do lanche vai ao parque. A mãe vai almoçar e depois vai trabalhar outra vez
Fechou a porta
suavemente e encontrou os amigos a conversar na cozinha.
- Vamos almoçar? – perguntou Natália. – O tempo passa a
correr daqui a pouco já passou a sua hora de almoço.
- Vou só lavar as mãos e já volto!