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14.7.18

O DIREITO À VERDADE - XXVIII




“Senhor, vós sabeis que eu não sei orar. Nunca ninguém me ensinou, como dirigir-me a Ti, mas sempre ouvi que Tu sabes o que vai nos nossos corações. Acredito que assim seja, afinal somos obra Tua. 
Assim sendo, sabes o que a minha mãe fez. Quero dizer-Te que lhe perdoei, e não lhe guardo rancor. Não Sejas muito severo com ela, que já expiou na terra o seu pecado, porque como Sabes, nunca foi feliz.
Senhor, quero agradecer-Te pelo tio que me deste, e pedir- Te que alivias a sua tristeza e a sua dor. E acreditando que Jorge Noronha, é o meu pai, também Te quero dar graças por tê-lo encontrado e por ele ser a pessoa  integra e digna que é. Obrigado meu Deus.
Senhor; quero ainda falar-Te de um homem que conheci há dias e que não me sai do pensamento. Nunca tinha conhecido ninguém que me impressionasse tanto. Como decerto não vou voltar a vê-lo, Faz com que ele seja feliz e que eu o esqueça. Obrigado, Senhor.”
Ficou ainda uns momentos em silêncio olhando a imagem do Sagrado Coração de Jesus, como se esperasse ver algum sinal de que Deus a escutara. Depois persignou-se e abandonou o local. Desceu a escadaria, e olhou o largo e a rua que se seguia. Ao contrário de quando chegara, nos últimos dias de Agosto, em que a cidade fervilhava de gente a toda a hora, agora, terminadas as férias os emigrantes regressaram aos países onde ganhavam a vida, não se via naquele domingo ninguém nas ruas. É verdade que Setembro ia bastante quente, mas ainda assim uma semana antes havia muita gente pelas ruas.
Ali mesmo ao pé da Igreja, na rua do Coval, estava a Casa da Ribeira, um Museu Etnográfico, um espaço de memórias de outros tempos, outras gentes, outros saberes. Helena gostava muito de artesanato, não ia deixar de ver, tanto mais que a visita era gratuita. Encantou-se com as técnicas usadas na fiação e tecelagem do linho. Conversou com a artesã, que estava a tecer uma manta de trapos, num enorme tear manual. Viu como a peça que ela tecia ia crescendo, viu as fotos dos antigos barcos que traziam os romeiros para a Igreja de Nª Srª da Conceição, de onde ela saíra minutos antes. Aprendeu toda a técnica de trabalhar a lã desde a tosquia, até à fiação, passando pela lavagem, secagem, e cardação. Viu as almofadas com o pique e os bilros onde as rendeiras faziam a bonita e delicada renda, como demonstravam as fotos na parede, e também sobre uma mesa algumas rendas já feitas.
 Encantou-se também com os trabalhos de olaria expostos, e pelas fotos viu como era trabalhado o barro, a sua cozedura e todo o processo até finalizar a peça. E ainda belos trabalhos de cestaria, em vários objetos expostos.
Foram quase duas horas em que se esqueceu de tudo, menos do que via e aprendia. Como o Museu tinha uma secção de venda ao público, ela adquiriu uma miniatura de uma estatueta em olaria, que lhe chamara a atenção, como recordação daquela visita.



11 comentários:

Larissa Santos disse...

Um episódio muito crente que adorei ler :)) Belas imagens:))

Hoje:-{ B. C -Poetizando }Juras de amor num alvorecer tão terno.

Bjos
Votos de um óptimo Sábado.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Capítulo cheio de espiritualidade e cultura, amei!
Beijos!

aluap disse...

Bem-haja Elvira por falar dessas actividades, se não as divulgar-mos, a gente desta geração nunca saberão o que foi a vida nesta região assim como em muitas partes de Portugal.
Abraço/Bom fim de semana.

Edum@nes disse...

Geringonças do passado, as quais podem ser vistas nos museus, onde estão expostas. Agora há outras geringonças mais modernas que produzem muito mais com menos esforço humano. Viva o progresso!

Tenha uma boa noite de Sábado e um bom dia de Domingo, amiga Elvira.
Um abraço.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Para alem da historia em si temos quase todos os dias uma lição extra dos mais variados temas .
È um prazer enorme acompanhar as historias da Dª Elvira.
Um santo domingo para todos !!
JAFR

Cantinho da Gaiata disse...

Passando para pôr a escrita toda em dia, estou a adorar.
Vamos esperar para ver os resultados do ADN, certamente irá dar positivo.
BJ grande e bom domingo.

Cidália Ferreira disse...

Muito bem!!
Momentos de reflexão que, fazem sempre bem!!

Especial... A pureza de um abraço, era a carícia (Poetizando e Encantando)

Beijos e um excelente Domingo!

Rui disse...

Que pena tenho de este seu conto ter “saído” nesta altura em que tenho andado tão afastado da blogosfera e que me tem obrigado a ler meia dúzia de capítulos de cada vez ! … ☹
Até pela “coincidência” (?) do nome da protagonista ! ☺
Mas o que me tem impressionado mais, positivamente, é que a Elvira, para além da estória em si, do enredo sempre tão bem “construído”, nunca falhando um pequeno pormenor a dar consistência a tudo, sem arranjar situações "construídas" ao acaso, nos mostra profundos e vastos conhecimentos de toda a ordem, envolvendo uma estória de base !!!
A Elvira é uma escritora notável !!!
Um grande abraço e sinceros parabéns !

Roselia Bezerra disse...

Bom dia, querida amiga Elvira!
Que entrega belíssima a personagem fez!
Tudo dará certo na vida dela pois.confia no.Senhor.
Tenha dias felizes e abençoados!
Bjm fraterno de paz e bem

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

São sempre bons os momentos de reflexão.
Um abraço e bom Domingo.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Janita disse...

Mas que espírito de abnegação e sacrifício esta Menina tem!!Nem Madre Teresa de Calcutá, faria tanto!
Já está a pedir a Deus pela felicidade de alguém que acabou de conhecer e de quem gosta, renunciando a um amor sem sequer saber se é correspondida, sem se aperceber, segue o exemplo da mãe. Enfim...

Sigamos desfrutando e apreciando os nossos tesouros históricos, juntamente com Helena. Nada de pressas...:)

Bom Domingo, um abraço.