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31.7.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE II





Tudo arrumado, Miguel acendeu um cigarro. A jovem estava a levar mais tempo a acordar do que aquilo que ele previra. Quem seria? À primeira vista, não tinha documentos, pois não trazia nenhuma bolsa, nem se lhe notava na roupa qualquer carteira.
A jovem soltou um gemido e pouco depois abriu os olhos. E que olhos! Grandes, de um quente e aveludado castanho dourado. Na mente de Miguel ficou impressa a imagem que mais tarde iria transpor para a tela. Ele não era um pintor famoso, daqueles cujas obras vão para os museus, mas modéstia à parte considerava-se um bom pintor. Tinha palmilhado meio mundo, e em todos os lugares onde expôs, os seus quadros sempre se venderam bem, e sempre foi disso que ele viveu. Nunca se tinha dedicado a pintar o ser humano. Era um apaixonado da natureza, e  sempre optara por perpetuar as suas maravilhas, mas aquela imagem da jovem, deitada na vegetação o corpo soerguido sobre o cotovelo esquerdo, olhando-o de forma inquiridora, era por demais sugestiva.
Aproximou-se dela.
-Como se sente? - Perguntou.
- Confusa, -respondeu a jovem numa voz melodiosa. – O que faço aqui? Que lugar é este? E quem é o senhor?
Miguel engoliu em seco.“Querem ver que é doida?” – Pensou.
Estendeu-lhe a mão para a ajudar a levantar-se.
- Vamos por partes, - disse calmo. Chamo-me Miguel. E a menina?
- Não sei, - respondeu desconcertada.
Passou a mão, de dedos longos e finos pela testa, como se quisesse lembrar de alguma coisa e por fim murmurou.
- A verdade é que não me lembro. Não me lembro de nada. A minha cabeça está vazia.
Fez-se silêncio. A cabeça da jovem podia estar vazia, mas a de Miguel estava a mil. Quem seria ela? Teria sido a comoção do momento que lhe fizera perder a memória? Ou já tinha acontecido antes, e fora o desespero de não saber quem era, que a levara a tentar o suicídio? De súbito a jovem quebrou o silêncio, como quem acaba de ter uma ideia.
- Mas você sabe quem eu sou, verdade? Não teria vindo para aqui se não fossemos conhecidos. Vejo que é pintor. Sou sua modelo? 
-Não, - retorquiu Miguel. A menina não veio comigo.
-Como assim?- Interrogou a jovem. Pois se estava aqui dormindo, enquanto pintava.
Apertou a cabeça entre as mãos e desatou a chorar.
-Que se passa comigo? Porque não me lembro de nada? Porquê?- Gritou em desespero.




15 comentários:

Larissa Santos disse...

Bom dia. Muito intenso este capitulo. Vamos a ver se ela mais tarde se lembra. Complicado para ele. Adorei :))

Bjos
Votos de uma óptima Terça- Feira

noname disse...

Promete, e eu vou cá estar para ler :)

Bom dia, Elvira

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Capitulo curto mas muito intenso !!
JAFR

chica disse...

Que situação a da jovem...Vamos indo contigo! bjs, chica

Edum@nes disse...

Se recordar é viver,
por isso estou aqui
para não me esquecer
do que antes já li!

Tenha umas boas férias amiga Elvira.
Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Isto está aqui um bicho de sete cabeças para o Jovem Pintor!

:- Juro, que o meu coração não é traiçoeiro

Beijo um excelente dia!

Meu Velho Baú disse...

Mais um enigma que nos vai prender à leitura...
Beijinhos

AFlores disse...

Óptimas leituras neste espaço especial da minha amiga.
Grato pela partilha.
Um excelente Agosto desejo.
Tudo de bom.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Perca da memória, sem rumo, sem prumo, ô vida!
Beijos!

Kique disse...

Mais uma grande historia que promete
Bjs

Hoje em Caminhos Percorridos - RACISMO

Cantinho da Gaiata disse...

Eu sei da história, mas não digo😂😂😂
Bjs

Pedro Coimbra disse...

O drama de quem perde o essencial - a memória, o noção de quem é, onde está e porquê.
Abraço

lis disse...

E vai ficando interessante rs
Amnésia? vejo que outros ja leram esse conto.Se li,nao lembro.
Também ando distraída, tal qual a moça bonita.rs

Cantinho da Gaiata disse...

Estou a gostar de reler está linda história.
Bjs

Os olhares da Gracinha! disse...

Já não me recordo ... pode ser que me lembre um pouco mais à frente!!!
Mas foi um excelente capítulo!!!bj