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15.7.18

O DIREITO À VERDADE - XXIX




Já o sol baixava no horizonte quando Cláudio entrou no alpendre que  rodeava a casa. Limpou os ténis no tapete, mirou-lhes a sola em busca de alguma impureza que fosse sujar a casa e só depois entrou em casa. Pendurou o boné num bengaleiro na entrada e seguiu para o quarto. Vestia umas calças de ganga velhas e sujas, e uma camisa que deveria ter sido branca quando a vestiu, mas que se apresentava suada e suja. Se Helena o visse naquela hora, teria dificuldade em reconhecer o homem elegante, que conhecera há dez dias. Ouviu a voz dos pais que conversavam na sala, mas seguiu para o quarto, e daí passou à casa de banho. Despiu-se, enfiou no cesto, a roupa para lavar, e meteu-se debaixo do duche.  Fechou os olhos e deliciou-se com a frescura da água que lhe acariciava o corpo. Estava cansado. Toda a amanhã, percorrera os vinhedos, verificara o estado de maturação das uvas das duas castas de uvas que a quinta produzia, a fim de decidir o momento certo de iniciar as vindimas.
Porque as uvas não são todas colhidas na mesma época. Há castas que amadurecem mais cedo, e o próprio clima influencia esse amadurecimento. Se elas forem colhidas, antes do seu ponto ideal de maturação, o vinho será mais ácido e menos alcoólico. Se pelo contrário forem colhidas mais tarde, os vinhos terão menos acidez e mais álcool. Em qualquer dos casos nunca será um vinho de primeira qualidade.
Cláudio amava a terra como amava a própria vida. Ele nunca seria um homem de cidade, nunca seria capaz de levar a vida metido num escritório. Claro que  gostava das cidades. Para passear, para relaxar, para um jantar de amigos, (embora não tivesse muitos) para um almoço de negócios, ou mesmo passar a noite com uma mulher bonita, mas a sua vida era o campo, o trabalho na terra, o ver crescer o que plantou. Por isso se formou em Agronomia. Quando era mais novo, acalentou o sonho de ir para África quando terminasse o curso. Ajudar a desenvolver as zonas mais pobres do planeta, explorando a terra e tirando dela tudo o que tinha a certeza ela podia produzir. Com o tempo arrumou o sonho numa gaveta escura da memória. A saúde da mãe era periclitante e ela morreria se ele fosse para tão longe. Por isso mal terminou o curso de Agronomia na Escola Superior Agrária de Viseu,  matriculou-se na Universidade de Trás-os-Montes e alto Douro, único sítio no país onde poderia tirar o curso de Enologia, que o ia ajudar a fazer com que os vinhedos da quinta do pai, produzissem um dos melhores vinhos da região a que pertencia. 
Desde que Cláudio assumira a direção da quinta, a sua produção melhorara imenso e os seus vinhos embora ainda não tivessem atingido a qualidade que ele desejava, eram já vinhos muito bons. 
Acabado o duche, fechou o chuveiro, enxugou-se, e completamente nu, passou ao quarto, onde se vestiu.
Aquela casa também era agora bem diferente do que tinha sido outrora. Quando o pai a comprara, ele não tinha mais do que doze anos. A casa, uma vivenda térrea, com um bom espaço à sua volta, era uma típica casa de agricultores, com boa construção, mas poucas comodidades. Quando o pai comprara a quinta e decidira desistir da agricultura para se dedicar à vinicultura, o dinheiro escasseava, e a casa manteve-se tal como a tinha comprado. Anos mais tarde, já os vinhedos a produzirem bem, ele decidiu então transformar a casa e deixá-la como sonhava. Deixando de pé apenas as estruturas, redimensionou espaços, deitou abaixo algumas paredes,   tornando as divisões maiores, e introduzindo-lhes alterações como nos quartos, em que cada um tinha acesso a uma casa de banho, para uso pessoal do ocupante. Também mandara instalar uma moderna cozinha, e um alpendre no espaço fronteiro à entrada. A casa dispunha ainda de dois quartos de hóspedes, num deles, dormia agora a enfermeira que eles tinham contratado para lhes ajudar a cuidar da mãe, naqueles primeiros tempos, (porque embora os médicos dissessem que hoje em dia uma cirurgia de coração aberto, não oferece o risco de outrora, para os leigos como ele e o pai, era assustador), o escritório que ele partilhava com o pai e uma sala comum à casa de jantar.


16 comentários:

Edum@nes disse...

Cláudio percorrendo os vinhedos. Helena visita museus e monumentos religiosos. Cada um com os seus pensamentos. Que de certeza serão pensando um no outro?

Tenha uma boa tarde de domingo amiga Elvira.
Um abraço.

Janita disse...

Foi uma delícia a leitura deste capítulo. Gosto de saber dos gostos e preferências das personagens que leio, gosto de saber do que lhes vai na mente e no coração, podendo, assim, avaliar do seu carácter. Gostar ou não gostar deles. Gostei do que li, gosto do Cláudio!
Um homem de bem.

Será que o final da história se aproxima a passos largos? Veremos!

Abraço.

Tintinaine disse...

Com que então um senhor engenheiro agrónomo!
E tem a vida toda organizadinha, só lhe falta mesmo uma mulher para fazer o papel de fada do lar. Vamos esperar que a sogra goste dela e lhe facilite a vida.

Larissa Santos disse...

Está a fazer-se luz :)) Adorei o episódio! Já estou curiosa pelo próximo :))

:-{ B. C -Poetizando }Juras de amor num alvorecer tão terno.

Bjos
Votos de um óptimo Domingo.

Cantinho da Gaiata disse...

Passando e lendo mais um capítulo delicioso.
BJ e bom domingo

Cidália Ferreira disse...

Adorarei este capitulo. Estamos a começar a ligar as coisas !! :) Muito bom!


Beijos - Boa noite!

Kique disse...

Mais uma visita para acompanhar esta maravilhosa historia

Bjs

Hoje em Caminhos Percorridos - Mostrando as pernas e os peitos...

chica disse...

Continuando a acompanhar pra nao perder nada!
Gostando! Bjs praianos,chica

noname disse...

E presa à história, cá a vou seguindo :)

Boa noite

lourdes disse...

Que grande surpresa que os nossos meninos vão ter quando o pai do Cláudio levar a filha lá a casa para apresentação à família.
Acho que vão cair os dois para o lado!
Bjs.

esteban lob disse...

Interesante y llamativa situación, Elvira. Me sirve, además, para practicar la lectura del portugués.

Abrazo.

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história e desejar uma ótima semana!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Vamos ter mais uma semana na espectativa de um bom final .
JAFR

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Acompanhando com bastante gosto e ansiedade!
Beijos!

Socorro Melo disse...


Oiê!

Gosto muito de vinhos e de conhecer sobre o processo de produção. Amei as informações.

Gaja Maria disse...

Quando irão encontrar-se de novo cara a cara? Vai ser um choque para ambos...