A irmã estava na idade, em que as hormonas se começavam a fazer sentir. A preocupação dela, estava em olhar e escolher entre os rapazes que andavam à sua volta, como abelhas em torno de flores.
Completamente sozinho consigo próprio, com as suas
frustrações, e os seus anseios, dia após dia, Bruno caía no poço sem fundo da
depressão.
E os anos foram passando, a irmã casou, o irmão já era
pai.
Uns meses atrás o pai terminara o contrato de trabalho na
Alemanha e regressara cheio de planos para a tal casinha.
Estranhara ver o filho tão macambúzio, mas dissera. ”É
muito jovem, tem a vida pela frente, aquilo passa-lhe. O que ele precisa é de arranjar mulher”
Um mês depois a irmã fora mãe, e os pais, viviam
“babados” nas gracinhas dos netos.
Durante o dia, Bruno castiga o corpo, enfrentando os
trabalhos mais pesados com determinação. Para que à noite esteja tão cansado
que adormeça, logo que cai na cama. Porém o descanso dura pouco mais de três
horas. Depois acorda. Quando o galo canta, ele já está farto de andar às voltas
na cama. Remexe-se inquieto, com a
solidão por companheira. A solidão é lixada. Está sempre presente, mas não se
deixa abraçar, não faz amor com ele, não acalma as suas angústias. Fecha os
olhos na esperança de que algo mude, mas ao abri-los só o vazio persiste à sua
volta. E volta o mesmo pensamento. Belo como um raio de luz, cálido como um
abraço materno. Persistente. Insidioso. Há meses que por esta hora, a ideia do suicídio, o
acalenta. Inebria-o como o aroma de um perfume raro. E dia após dia, ele vai-se deixando conquistar. Como se nele encontrasse a realização dos seus sonhos, o fim certo, para os seus medos, os seus fantasmas. No quintal do vizinho o galo canta. Como se fosse um sinal, Bruno
põe-se de pé e de mansinho, abre a porta da cozinha e sai para o quintal. Ao
fundo a casa das ferramentas. No meio do quintal um pilar de ferro, donde parte
um arame que passa pelo terraço por cima da casa de ferramentas. O estendal da
roupa. Como um automato, vai à casa das ferramentas e sai com uma corda e um
pequeno banco. Cuidadosamente faz um laço numa das pontas, passa-a pelo pescoço, sobe para o
banco, amarra bem a outra ponta no pilar de ferro. Lentamente o dia vai clareando. Bruno lança à sua volta um último olhar. Depois sem hesitar,
derruba o banco.
No quintal do vizinho, o galo canta de novo.
Maria Elvira Carvalho
25 comentários:
Por esta é que eu não esperava!
Bom fim de semana, Elvira!
Puxa! Surpreendente e triste final! Pobre Bruno!!! Foi legal te acompanhar! bjs, chica
Depois de ir seguindo atentamente os primeiros episódios,calculei logo um fim trágico.
A baixa auto estima, a frustração e a depressão só podia dar nesse triste
fim.
Este foi bem diferente dos finais que gosto, mas é uma realidade dos nossos tempos.
Beijinho grande Elvira e bom fim de semana.
A passar por cá para acompanhar a história e desejar um bom fim de semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Bom dia
aconteceu aqui bem perto de mim á relativamente pouco tempo um caso muito idêntico em que a própria família ainda hoje não sabe o porquê de tal atitude.
e fica para sempre a duvida destas decisões que vemos alguém tomar !!!
foi realmente um final triste .
B.F.S.
JAFR
É em alturas como esta, e outras idênticas, que me pergunto:
- por onde anda Deus, esse ser omnipotente e omnipresente, que abandona à sua sorte quem precisa tanto de ajuda e de um pouco de alento? Bastava um sinal, algo que lhe fizesse vislumbrar uma réstia de luz, de esperança...
Sei...Deus ajuda quem se ajuda. :(
Um abraço, bom FDS.
Chiça, para não dizer um palavrão! Esta última vez que o galo cantou, já devia estar a fazer uma cabidela.
BOM FIM DE SEMANA COM OS 44º.
Há muitos casos parecidos com os do Bruno e quase ninguém se apercebe do drama que estas pessoas vivem. E toda a sociedade é culpada, ainda que o próprio seja o centro do problema, já que não tem forças para resistir à diferença, seja ela na altura ou noutra coisa qualquer.
Uma excelente história, bem contada e que prende o leitor da primeira à última linha (li os 3 capítulos seguidos).
Bom fim de semana, amiga Elvira.
Beijo.
Infelizmente ...um estado de alma que acontece mais vezes do que o desejado!
Por isso todos os sinais devem ser tidos em conta!!!bj
Ele chegou ao máximo das suas forças interiores, muito triste! Infelizmente não teve ninguém para socorrê-lo nos seus dias, anos de tanta solidão e conflito!...
Uma reflexão muito boa, Elvira.
Creio que as dores na alma são as piores, maiores que existem...
Bj e bom sábado
Ah amiga: desculpe,mas não gostei deste final.
Bjn
Márcia
são ideias, não sei se de cobardia ou de coragem. Por enquanto não penso pôr fim à vida porque a morte é certa. E quanto mais tempo demorar em chegar melhor. Porque eu não tenho pressa d'abalar!
Tenha uma boa noite de sábado e bom dia de domingo amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Enfim...
«São coisas da vida, coisas de qualquer lugar...»
Ainda tenho esperança que a corda se parta...
Ótimo e feliz Domingo.
Abraço
~~~
Desta vez, apenas apreciei a forma... o conteúdo, não tanto... o Bruno merecia melhor sorte!
Um relato denso, envolvente, que prende até à última palavra...
Oxalá o cantar do galo acabe por salvar o Bruno!
Um beijinho, Elvira :)
Que triste que tenha acabado assim...
Entretanto, há dias tinha feito um post sobre a possibilidade de se participar numa 2ª Colectânea de Contos Eróticos - para participar na primeira fiz um conto que coloquei em blogue e crítica geral à qual aderi é que de erótico não tinha nada ou pouco...não sei ainda se irei tentar escrever outro conto para participar nesta, mas vou deixar aqui o link
https://www.facebook.com/groups/444472715578007/permalink/1687527911272475/
um beijinho e bom fim-de-semana
(espero que o próximo conto acabe bem)
Que triste Elvira querida!
Que dó do Bruno, pena que não tivesse um amigo que pudesse confiar...que dó!
Um abraço.
Nossa, que triste! A depressão é mesmo uma doença terrível, infernal.É necessário um acompanhamento psicológico muito sério para vencer certas limitações.
Infelizmente, um triste fim. Lembrei-me de uma baboseira que escrevi,e diz o seguinte: “O suicídio é o único erro lamentável, impensado, brutal, covarde, irreparável, imperdoável e 'irrepetível' que o ser humano pode cometer.”
Abraços,
Furtado
Uma história com um final triste, mas na verdade um grande alerta.
Um beijinho,
Ailime
Oi Elvira
Fim trágico,
já soube perto de casa de uma jovem linda que virou prostituta e disse a mãe que ia se matar, dormia em postos de gasolina, fumava maconha.
Chegou em casa à noite colocou gasolinas no corpo no quintal e pôs fogo.
Era era tão linda, mas se perdeu na vida e nem teve o conselho da mãe
Beijos
Lua Singular
Amanhã volto para ler o resto, fui ao médico e estou cansada
Li os capítulos de seguida. e deixo os meus parabéns pela narrativa.
Infelizmente, situações do género são muito mais usuais do que se pensa. A escola (e a sociedade em geral) exerce muita pressão sobre quem não está dentro dos parâmetros, sobre quem é diferente. A depressão é um estado muito comum; alguns convivem com ela, entre psicólogos e afins, outros chegam a este final.
Bjinho, Elvira
muito denso, mas, já sabíamos que era um alerta conforme nos avisou a autora.
o suicídio é muito triste, e o que eu me questiono muitas vezes, é que, será o suicida um cobarde? ou um corajoso.
muito triste...
:(
Uma história triste e sem final feliz (ao contrário do habitual) mas, infelizmente, mais vulgar do que se possa imaginar.
Há muita gente assim, que por terem a auto-estima tão baixa vivem num drama e só não se suicidam porque não têm coragem....ou têm muita coragem para continuarem a viver.
Eu continuo a achar que, por muito má que a vida seja, enquanto cá andamos sempre vemos qualquer coisa.....
Beijos.
Puxa Elvirinha...
Pensei que ele iria dar a volta por cima...
Fiquei triste, mas achei bonito e poético esse final.
Um abração!
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