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19.11.15

FOLHA EM BRANCO - PARTE XXXV





                     Fachada em Sevilha. Foto minha


- Não digas asneiras. Foi só um pesadelo, - disse tentando que se acalmasse
- Não… não, Miguel.- Soluçava a jovem. - É verdade.  Eu lembrei, eu lembrei...
- Lembraste o quê?
-Tudo. Lembrei de tudo.
Continuava chorando com intensidade abraçada a ele.
O homem sentiu-se perturbado. Não sabia, se pela revelação que a jovem acabava de fazer, se pelo calor emanado do corpo que continuava abraçado ao seu.
-Tens a certeza de que não tiveste um pesadelo?
-Não é pesadelo Miguel. Antes fosse.
 Afastou-a de si. Sem brusquidão, mas com firmeza. Levantou-lhe o queixo obrigando-a a olhar para ele.
- Não acredito no que disseste. Tem de haver uma explicação. Por favor, acalma-te. E conta-me tudo o que te lembres.
Afastou-lhe o cabelo da cara, roçando as costas da mão pela face da jovem, numa leve caricia, que teve o condão de a acalmar um pouco.
 – Nunca conheci a minha mãe. Morreu de parto, quando eu nasci.
Meu pai era muito apaixonado e nunca a esqueceu. Por isso não voltou a casar. Emigrou para Inglaterra, e eu fiquei com os meus avós, os pais da minha mãe. Os avós paternos viviam longe, numa aldeia no norte, e nunca cheguei a conhecê-los. Vivi com meus avós até aos sete anos.  Por essa altura, minha avó sofreu um AVC e partiu pouco depois. O avô não sabia cuidar dele, muito menos de mim. Foi nessa época que o pai regressou. Gastou todas as suas economias na compra da casa, para onde fomos viver os dois. Ele sempre se esforçou para que não me faltasse nada. Era como se quisesse suprir a falta da minha mãe, assumindo ele mesmo o papel dos dois. - Ó Miguel, eu amava-o tanto!
Ele, não disse nada. Limitou-se a apertar-lhe suavemente o ombro, num gesto de apoio.
A jovem continuou:
-Eu era feliz. Fiz o secundário, e entrei para a Universidade. Escolhi comunicação e jornalismo. Estava  no segundo ano.
Este ano pela Páscoa, meu pai que estava de férias, convidou-me para ir com ele a Andaluzia, assistir às cerimónias da Semana Santa. Era a primeira viagem que fazíamos juntos, depois que me tornei adulta, e era também uma espécie de prenda de anos pois tinha acabado de fazer vinte anos.
Calou-se por momentos. Respirou fundo, e continuou:
- Foi uma semana maravilhosa. Andámos por Málaga, Marbella, Sevilha, Granada, Visitámos museus,e catedrais, e assistimos a  procissões grandiosas.
Calou-se. As recordações eram cada vez mais dolorosas.
Eu tenho a carta de condução, desde os dezoito anos, mas não tenho carro.
  Apesar disso, e sempre que o desejava, o pai emprestava-me o carro dele, e estava habituada a conduzi-lo.



  

16 comentários:

Janita disse...

Memórias dolorosas, mas agora vamos saber o que aconteceu de tão grave com a desditosa jovem.
O fim aproxima-se a passos largos, esperemos que Miguel e Mariana consigam encontrar a felicidade que merecem.

Para tristezas já basta a vida real! Acho esta personagem do Miguel muito atraente, carinhosa e encantadora.
Veremos o que se segue!

Um abraço e boa noite, Elvira

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira, que história linda!
Tomara que tudo se acerta!
Abraços, e uma boa noite amiga!
Mariangela

Rogério G.V. Pereira disse...

Um sentimento de culpa não é prova de patricídio
Miguel saberá disso...

Vera Lúcia disse...


Olá Elvira,

Vim do capítulo anterior super curiosa diante da afirmativa de Mariana. O suspense continua por aqui, mas prevejo que a morte do pai de Mariana foi apenas resultado de um acidente de carro dirigido por ela. Daí a culpa. Será que acertei???-rs.

Beijo.

Pedro Coimbra disse...

Agora já se começa a ver algo atrás dos panos.
Até amanhã

Unknown disse...

Um despertar muito doloroso.

Isa Sá disse...

À espera dos próximos capítulos!

Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

A coisa está-se a compor e pelo andamento não vem aí coisa boa.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Olinda Melo disse...


O que terá acontecido? Um acidente?
Não sei, não. Prefiro aguardar para
ver, aliás, para ler...

Bj
Olinda

P.S.

Elvira
Muito obrigada pelo texto que me enviou. Parece-me muito interessante
e muito actual. Ainda não o li todo.
Bjinho
Olinda

Edum@nes disse...

Já estou a imaginar de que a morte do pai terá sido num acidente de transito. Infelizmente, acontecem todos os dias. Quanto à morte da mãe, fez-me lembrar do que nunca na minha vida me esquecerei, também a minha mãe morreu de parto, não de mim, mas de outro filho que também não sobreviveu!

Tenha uma boa tarde de quinta-feira, amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.

Bell disse...

Tem lembranças boas outras não.

bjokas =)

Zilani Célia disse...

MUITO BOM, ELVIRA!

http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Lua Singular disse...

OI Elvira
Só posso acreditar se foi algum acidente
Beijos
Lua Singular

Socorro Melo disse...

Um acidente é capaz de deixar sequelas tão fortes que não conseguimos imaginar...

Laura Santos disse...

Ah, talvez tenha acontecido um acidente que causou a morte do pai, por isso aquela reacção de pânico ao ouvir as sirenes da ambulância!...
xx

Rosemildo Sales Furtado disse...

Continuo acreditando num acidente, conforme afirmei no comentário anterior, e ela tomando a culpa para si.

Abraços,

Furtado.