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3.11.15

FOLHA EM BRANCO PARTE XIII




- Por mim, -disse pousando o copo vazio, em cima da mesa. Pode ficar aqui o tempo que quiser. Certo que sou um homem, que desde sempre viveu sozinho, e não é fácil dividir o meu espaço com uma desconhecida. Mas quando faço uma promessa cumpro-a, e eu prometi cuidar de si e ajudá-la. E vou fazê-lo contra tudo, até mesmo contra a sua vontade. Claro que se cooperar, será muito mais fácil para os dois.
Fechar-se em casa, horas e horas a chorar, não vai ajudá-la em nada.
Nesse momento a jovem saiu a correr para o quarto. Atirou-se em cima da cama chorando copiosamente.
Miguel deixou-a chorar durante largos minutos. Depois entrou no quarto, sentou na beira da cama e estendeu-lhe um lenço.
- Pronto. Já chega, - disse em voz baixa, num tom carinhoso, como se estivesse a falar com uma criança.
-Tem medo? Acredito que sim. Eu também teria no seu lugar. O futuro pode ser temeroso, mas o passado que se desconhece será bem mais assustador. Se não está preparada, podemos esperar mais uns dias, mas eu no seu lugar ia o mais rápido possível. Já pensou, no sofrimento que pode estar a causar a terceiros? Que os seus pais, irmãos, quiçá o namorado, podem andar por aí desesperados à sua procura?
Calou-se. Mentalmente Miguel interrogava-se. Foi impressão sua, ou sentiu uma estranha tensão no corpo da jovem, quando falou na família?
O silêncio adensou-se. Miguel não sabia que dizer mais para aquietar o coração da jovem. Fez-lhe uma leve carícia na cabeça e deixou que acalmasse por esgotamento.
Algum tempo depois, ela levantou o rosto, e olhando-o disse:
- Pode marcar a consulta. Só não sei o que vou dizer ao médico.
-Não se preocupe com isso. Na hora saberá. Agora descanse.
Levantou-se e dirigiu-se ao quintal.
Ai, acendeu um cigarro. Raramente fumava. Mas em horas de grande tensão, era no cigarro que se refugiava. Não conseguia afastar do pensamento a jovem que chorava no quarto. Franziu o sobrolho. E se ela nunca recuperasse a memória? O que ia fazer com ela? Era evidente que não podia mandá-la embora, empurrando-a sabe-se lá para que destino, quiçá de novo para a falésia.
Mas ele também não podia ficar refém dela. Precisava fazer o que sempre fizera. Pintar, viajar, seguir com a sua vida.






17 comentários:

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

E a historia continua com o seu mistério vamos lá a ver se o médico descobre alguma pista.
Um abraço e boa semana.

chica disse...

Providências já deveriam ter sido tomadas!Agora chegara a hora! Ótima leitura! bjs, chica

Ana disse...

bem, há pessoas que vivem sem memória. deve ser triste mas por outro lado, é como se tivesse acabado de nascer e tudo o que acontecesse a partir desse dia fosse o começo de uma nova vida. Na dúvida, é melhor procurar ajuda especializada.
Abraço

Edum@nes disse...

Está a ficar cada dia mais interessante essa história. Será que colocaram droga nalguma bebida e deram para a moça beber! Que lhe terá feito perder a memória?
No mundo, infelizmente, há gente capaz de fazer tudo para atingir os fins sem olhar a meios!

Tenha uma boa tarde de terça-feira, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Unknown disse...

Boa Tarde
Isto promete ser uma longa história. Uma caminhada que nem se adivinha o final

Unknown disse...

Cheguei aqui hoje e já estou a começar a ficar curiosa...

Vera Lúcia disse...


Olá Elvira,

Situação bem delicada a do Miguel. Realmente, sua vida não pode parar. Ainda bem que a jovem concordou com a consulta. Com certeza, conforme assevera Miguel, não se conhecer o passado é mais assustador do qualquer temeridade diante do futuro.

Beijo.

Rogério G.V. Pereira disse...

Tenho um sentido muito prático da vida
Se me chamasse Miguel,
a "coisa" amanhã ficaria esclarecida...
Nem que fosse... num quadro

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

É uma situação bem difícil para ambos...
Mas quem sabe indo ao médico ela melhore!
Fico aguardando o outro desfecho.
Abraços,
Mariangela

Donetzka Cercck L. Alvarez disse...

ESSE CONTO É MARAVILHOSO,QUERIDA AMIGA ELVIRA. VOCÊ É UMA GRANDE ROMANCISTA! FICAMOS AGUARDANDO O DESFECHO,DIANTE DE TANTAS SITUAÇÕES,TRAZENDO CURIOSIDADE E NOS PRENDENDO À LEITURA.DIÁLOGOS IMPECÁVEIS! ESTOU LOUCA PARA LER O FINAL E CONTINUO SENTINDO CHEIRO DE AMOR NO AR!

ESTOU USANDO UM LAP TOP PARA RETRIBUIR AS VISITAS,POIS MEU COMPUTADOR DE MESA ESTÁ COM DEFEITO.

PEÇO DESCULPAS PELA DEMORA E PELA LETRA MAIÚSCULA,POIS NÃO SEI USAR BEM ESSE APARELHO.

OBRIGADA PELA VISITA,LINDA SEMANA DE PAZ PROFUNDA

BEIJOS SABOR CARINHO

DONETZKA

Olinda Melo disse...


Ao longo da vida criamos hábitos que, depois, se tornam difíceis de relegar para segundo plano. Contudo, ele está a fazer um grande esforço que, esperemos, tenha frutos positivos. Mas, será que ela está mesmo amnésica? Não sei, surgiu-me agora esta dúvida.

Bj
Olinda

LopesCaBlog disse...

A seguir ansiosamente :)

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira.
A situação é caótica. Quem sabe levá-la ao lugar que ela ia se matar, talvez relembre alguma coisa
Beijos
minicontista2

Rosemildo Sales Furtado disse...

O fato dela aceitar a ajuda do profissional já é um grande passo. Continuo gostando e aguardando.

Abraços,

Furtado.

Laura Santos disse...

Com certeza que o psiquiátrica terá forma de descobrir alguma coisa...Vamos ver...
xx

Socorro Melo disse...


Nossa, que dilema!

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
NOSSA ESTOU MUITO ATRASADA, MAS AOS POUCOS VOU COLOCAR EM DIA.
ABRÇS

http://zilanicelia.blogspot.com.br/