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31.5.21

COMEÇAR DE NOVO PARTE XIII

 


Na sexta-feira de semana anterior à Semana Santa, Matilde acordou maldisposta e a queixar-se da barriga. Como pertencia aos escuteiros e estivera três dias acampada com o grupo, inicialmente a mãe pensou que a má disposição fosse efeito de qualquer coisa que teria comido no acampamento. Foi fazer um chá e telefonou á Rita avisando que iria mais tarde, logo que a filha se sentisse melhor. Todavia quando regressou com o chá encontrou-a a tiritar de frio, e quando lhe mediu a temperatura verificou que estava com trinta e nove graus de febre. Deu-lhe um comprimido antipirético, aconchegou-lhe a roupa e disse-lhe para dormir um pouco mais.

Uma hora depois, ouviu-a gemer. Foi ao quarto e encontrou-a toda encolhida com as mãos na barriga e a chorar. Voltou a medir a temperatura e estava com quase quarenta graus. Assustada ajudou-a a vestir-se e a sair de casa até ao carro, saindo para o hospital no limite da velocidade.

Foi atendida por uma médica que depois de um breve exame, perguntou há quanto tempo ela tinha dores de barriga, ao que Matilde respondeu que tinha começado no último dia de aulas, mas não se queixara com receio de que a mãe não a deixasse ir acampar.

- É grave doutora? – perguntou Helena.

- Parece—me uma apendicite. Vai fazer umas análises e uma ecografia, depois será observada pelo cirurgião, e dependendo da gravidade da situação poderá ter que ser operada de urgência, pois como deve saber um apêndice infetado é muito perigoso. Mas não se preocupe. Ultimamente estamos a operar por laparoscopia, não tem perigo e recupera rapidamente. Mas o principal agora é fazer os exames que eu pedi. Vou pedir a um maqueiro que a leve, ela não pode ir a caminhar. Assim que chegarem os resultados, consoante a gravidade da situação um colega lhe dirá se terá de ser ou não submetida a uma cirurgia de urgência.

- Não será a doutora?

-O meu turno está prestes a terminar, os resultados levam algum tempo a chegar. Mas fique descansada. Qualquer dos médicos da equipa é tão ou mais competente que eu.

- E posso acompanhá-la, até fazer os exames? – perguntou Helena preocupada.

-Claro que sim, mãe. E não esteja tão aflita por favor. De todos os problemas que a Matilde poderia ter, apendicite é dos mais simples.

Entretanto chegou o maqueiro, a enfermeira passou a menina da marquesa onde se encontrava deitada para a maca e os três dirigiram-se ao laboratório.

Enquanto percorriam os enormes corredores que ligavam as urgências ao laboratório, Matilde não parou de gemer e de apertar a mão da mãe. A parte racional de Helena, repetia-lhe o que a médica dissera sobre a apendicite, mas os olhos viam o sofrimento da filha e o seu coração de mãe, estava num grande desassossego.

Quase três horas mais tarde, Matilde estava na maca, com a mãe a seu lado, separada de outros doentes por cortinas de poliéster, no espaço, fora dos gabinetes de atendimento médico. Esperavam o resultado dos exames quando um médico se lhes dirigiu, e fez algumas perguntas. Ao vê-lo, Helena quase ficava em choque, pois o médico em causa era Gonçalo Bacelar. Fazendo um esforço sobre-humano, conseguiu olhá-lo e questionar o estado de saúde da filha.  Ele voltou-se e encarou-a. Tinha uma expressão estranha, e Helena teve a certeza de que ele a teria reconhecido, embora não o desse a entender.

- A Matilde está com uma apendicite aguda, vai ser operada de urgência, a enfermeira Ilda vai prepará-la para a cirurgia e levá-la para o bloco operatório, onde uma equipa médica já está à espera dela.

E voltando—se para a menina, disse:

- Vai correr tudo bem, não te preocupes, nem fiques com medo. Dormes um bocadinho e quando acordares já passou, vais ver que não custa nada. E tu tens cara de ser uma menina corajosa.

Virou costas e afastou-se depois de deixar em cima da maca a papeleta com o nome e os resultados dos exames.

A enfermeira começou então a empurrar a maca dizendo:

-Venha comigo, mãe. Vou prepará-la para ir para o bloco e terá que guardar as roupas dela.

 

 Tenho mais dois dias de tratamento intensivo e depois começo a reduzir e aos pouco vou voltar ao vosso convívio. Ainda tenho posts programados para esta semana, mas espero estar de volta antes do fim de semana. Estou-vos muito  grata pelo vosso carinho e compreensão. 

28.5.21

NOTÍCIAS




Boa tarde amigos.

Como sabem estive hoje no Hospital de Santa Maria.  Fui confiante pensando que ia tirar os pontos hoje e dentro de alguns dias podia fazer os exames para que me receitassem os óculos. Fui informada que dos vinte pontos que formavam a coroa do transplante, o meu organismo não absorveu nenhum, só faltavam os 5 que me tiraram em Outubro por estarem demasiado apertados e a provocarem dor. E dado que eu já fiz duas descolagens de retina e o anel de silicone que me tinham posto após a segunda  colagem se rompeu e já não existe, não arriscaram tirar todos os pontos. Assim tiraram 7 e deixaram os restantes 4 em cima e 4 em baixo para tirarem a 30 de Junho. 

E entretanto como o olho não estava tão bem como deveria, aumentaram-me as gotas de Ronic para 5 x ao dia, e foi-me receitado Levofloxacina  1 gota 4x ao dia, e Hylo gel também 1 gota 4 x ao dia. É um desanimo. Vai a caminho dos três anos de  operações e tratamentos. Muito dinheiro gasto, já que três das cinco cirurgias foram feitas no privado e nunca mais estou bem.

Obrigada a todos pelo carinho e pela força.


COMEÇAR DE NOVO PARTE XII

 


Cinco dias depois, na agência sem clientes à vista, Rita e Lena conversavam.

- O Inácio está doido de alegria, e os meus pais nem se fala. – dizia Rita passando a mão pela negra cabeleira.

--E tu não? – perguntou a amiga

-- Também estou feliz, claro que sim – disse sem muita convicção

- Mas não pareces muito entusiasmada. Que se passa? - perguntou Lena

- Depois de seis anos de tentativas infrutíferas, penso que já me tinha mentalizado que nunca engravidaria. E agora que o consegui, o medo não me deixa saborear a felicidade.

- Medo? De quê? – perguntou espantada, pois a amiga sempre fora a imagem personificada de uma mulher forte, com nervos de aço.

- Faltam-me poucos meses para fazer quarenta anos. E sabes o que se diz sobre ter o primeiro filho depois dos trinta e cinco.

- Por amor de Deus, Rita! Isso era antigamente. Hoje em dia, as mulheres trabalham fora de casa, têm as suas carreiras e são mães cada vez mais tarde. Por um lado, a ciência evoluiu muito, por outro o próprio corpo humano vai-se adaptando às novas condições.

Nesse momento o seu telemóvel deu sinal de mensagem, E Helena apressou-se a lê-la.

É da Matilde? - perguntou Rita.

-- É. Diz que chegaram bem, que já montaram as tendas, e que vai ter de desligar, pois só podem ter os telemóveis ligados de manhã e à noite.

-Pronto, já podes ficar calma. Há mais de seis anos que a Matilde está nos escuteiros e vai acampar três ou quatro vezes por ano, e tu ficas sempre nessa ansiedade. Nem sei porque a deixas ir.

- Penso que a vida nos escuteiros, é um aprendizado importante para ela. Mas isso não impede que nos dois, três dias em que está ausente, a preocupação e a saudade não tomem conta de mim. Quando fores mãe, saberás o que sinto.

- Talvez tenhas razão. Bom mudando de assunto, como vamos fechar a agência para a semana, vais passar a Páscoa à aldeia?

-Vou. Desde o Natal que não vejo os meus pais. Tenho muitas saudades deles. O meu irmão também vai. Conheces-nos, sabes como somos uma família unida. É verdade, sabes que a Sofia está outra vez grávida?

- O quê? – Mas o teu irmão não tinha dito que ficavam por ali quando o Mário nasceu?

-Segundo o meu irmão me disse, a Sofia queria tentar de novo a menina. E ele resolveu fazer—lhe a vontade. Espero que não venha outro rapaz.

- Mas porque esperaram tantos anos? O Maurício daqui a pouco já namora…

-Ainda só fez quinze anos! E o Mário fez há dias 12 doze. Estou desejando de os rever.

-A tua cunhada é uma mulher corajosa. Eu acho que no lugar dela não me atrevia a uma nova gravidez. Compreendo o desejo de uma menina, mas que hipóteses tem de que isso aconteça? E se vem outro menino?

- Seja menina ou menino toda a família, vai acolher o bebé com muito amor.

-Isso é certo. Mas ela vai passar um mau bocado. Não me consigo imaginar a conviver diariamente com um bebé, noites sem dormir ou mal dormidas e dias com um adolescente e um pré-adolescente. Dava em doida.

-A Sofia é uma mulher calma e paciente. Mas voltando à Páscoa. E vocês? Passam—na com os teus pais ou com os pais do Inácio?

-Estamos a pensar ir também para a aldeia.  Parece que o meu avô tem estado doente, e o pai quer passar com ele algum tempo. E nós também não o vemos desde que ele veio ao casamento há seis anos. Está velhinho e pode partir a qualquer altura. Por isso vamos todos, incluindo os meus sogros.

- E não se esqueçam de ir visitar os meus pais. Para além da amizade que liga os nossos pais, sabes que os meus te adoram, como se fosses parte da nossa família.

- Claro que iremos. Eu também os adoro.

 

27.5.21

PARA MEDITAR

 




A Vida é como uma viagem de trem


Amigos, estou com os olhos um pouco inflamados e como vou dia 28 tirara os pontos do transplante estou numa de contenção ao tempo no computador. Os posts vão continuar a sair diariamente já que estão programados para uns dias, e espero melhorara antes que terminem. 

26.5.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE XI


Gonçalo acabou de jantar. Levou o prato sujo para o lava loiça, e ligou a máquina de café. Eram oito e meia e ele ainda queria dormir umas duas horas antes de se dirigir ao hospital onde passaria a noite nas urgências. Não conseguia deixar de pensar naquela mulher que segurara nos braços durante alguns segundos nessa manhã e na estranha sensação de que ela era parte de si mesmo. 

Aquilo nunca lhe acontecera antes. Passara o dia em casa da irmã, mas não quisera ficar para o jantar, pois precisava de por os seus pensamentos em ordem, coisa que não conseguia lá em casa, com a natural traquinice dos sobrinhos por um lado e por outro a insistência de Laura em que ele devia arranjar uma companheira.

Fugira do lar paterno por causa da mania casamenteira da mãe. Agora era a irmã. Como se fosse fácil! Desde que há mais de treze anos sofrera aquele terrível acidente, que o deixara cinquenta e cinco dias, em coma no Hospital de Santo António no Porto e mais de seis meses em tratamento, no Serviço de Medicina Física e .de Reabilitação do Hospital de Braga, para onde fora transferido quando recobrara a consciência, que vivia numa constante procura, embora para ser sincero, nem sabia bem de quê.  O acidente fora tão grave, que os médicos chegaram a julga-lo perdido, segundo lhe disseram mais tarde ao assegurarem-lhe que estar vivo, era um verdadeiro milagre.

Todavia as mazelas físicas não foram o pior, apesar de quase o terem matado. O pior fora a amnésia. Uma perda de memória parcial devido, segundo os médicos, à parte do cérebro afetado pela pancada, ou segundo o psicólogo, que o visitou no hospital, a algo ou alguém, em que ia a pensar no momento do acidente e que o seu subconsciente não quer recordar, para não sofrer de novo o choque brutal que quase o matara.

O acidente ocorrera no último dia de Setembro, ia fazer dentro de meses catorze anos. Gonçalo conduzia a sua mota nova, que o pai lhe oferecera pouco tempo antes como prenda de aniversário, de Braga onde fora visitar os pais, para o Porto, quando um carro que seguia em sentido contrário e cujo motorista adormecera ao volante, veio em cima dele. O choque violento, projetou-o para fora da estrada, fazendo-o embater contra o muro de uma quinta.

 Quando acordou no hospital, as vivências dos últimos anos, tinham desaparecido. Com o tempo, o apoio psiquiátrico e psicológico, que o hospital lhe disponibilizara,  a sua memória foi voltando, mas havia um pequeno lapso de tempo que Gonçalo não conseguiu recordar e que o deixava frustrado. Era como se não estivesse inteiro, e isso mesmo o afastara sempre de uma relação séria.

A última recordação que tinha era a de ter ido de férias para o Algarve, com uns amigos, dois meses antes do acidente.  Sabia que se tinha apaixonado por uma jovem nessas férias, pois os amigos brincavam com ele sobre isso, mas não se lembrava dela, nem sequer do seu nome, e não quisera contar aos amigos o que se passava com ele, para não ser motivo de troça ou de pena. Nem mesmo a família sabia, pois lhes fizera crer que tinha recuperado a memória por completo.

Desde essa data que inconscientemente procurava essa mulher em todas as que se cruzavam com ele. Mas como encontrar uma mulher sem nome nem rosto? Convencido de que isso era impossível, acabara por desistir, porém nessa manhã, quando aquela mulher chocara com ele, o seu coração acelerou e o seu corpo reagiu de forma esquisita, como se de alguma forma reconhecesse aquele outro que lhe tinha caído nos braços.

Seria ela, a mulher por quem se apaixonara no passado? Num breve segundo, quando a olhou pareceu-lhe descobrir surpresa no olhar feminino. Tinha de descobrir quem era, e se tivera no passado alguma ligação com ele.

Fosse quem fosse a mulher com quem,  segundo os amigos, vivera uma intensa história de amor naquelas férias, tê-lo-ia esquecido e estaria decerto casada, pelo que não esperava outra coisa que a sua libertação do passado, para poder pôr um ponto final naquela época e encarar enfim a vida, como qualquer homem da sua idade.

Bebeu o café, lavou o prato e a chávena e depois de os guardar foi para o quarto, descalçou os sapatos e deitou-se vestido sobre a colcha. Precisava dormir um pouco as noites no Serviço de Urgências costumavam ser complicadas, mas não sabia se ia conseguir.

 


25.5.21

POESIA ÀS TERÇAS - A PALAVRA DOS AMIGOS








Se eu fosse

Se eu fosse gaivota branca

E pudesse voar

Poisaria na torre mais alta

Para te ver despertar.

E num rodopiar

Suave, terno e manso

Te diria:

- Acorda, que já é dia!

Vem ver o sol a nascer

E as crianças a correr.


Se eu fosse gaivota branca

E pudesse voar

Poisaria em ti criança

Para te ver despertar

E com bicadinhas de ternura

Te diria:

- salta da cama,

Abre a janela de par em par,

 Pula escada fora

E vai para a rua brincar!

Se eu fosse gaivota branca


E pudesse voar

Poisaria em ti velhinho

Quando estás a ver passar.

E com largo abraço

Te diria:

- Olha este azul do céu

Esta imensidão do mar

Que foi sempre o teu olhar.

O dia não escureceu 

Agarra-te à vida

Que este dia ainda é teu.



Se eu fosse gaivota branca

E pudesse voar

Estaria sempre contigo

Aqui ou em qualquer lugar.



Maria José Areal in Pedaços de Mim


Maria José Areal, uma poetisa do norte, que embora só conheça dos blogues e do FB, já trocamos alguma correspondência e a quem devo o carinho da oferta de alguns dos seus livros.

24.5.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE X

 





- O que aconteceu, Lena? A Matilde está com problemas na escola?

- Não. Apesar de ter baixado um pouco nos últimos testes não foi nada de muito grave. As notas deste período não vão baixar.

-Bom. Todavia se tudo está bem, qual a razão desse nervosismo?

-Quem disse que estou nervosa? – perguntou sorrindo.

-Conheço-te bem, Lena. Podes enganar os nossos clientes com esse falso sorriso, mas não a mim.

-Tens razão! – disse deixando-se cair na cadeira. Vi o Gonçalo.

-O Gonçalo? Que Gonçalo? Não conheço nenhum… espera, estás a falar do pai da tua filha?

-Pai é quem cria, dá amor! A Matilde não tem pai.

-Pai, progenitor, dador de esperma, o que quiseres. É dele que estás a falar? Tens a certeza? As pessoas mudam muito, e já se passaram vários anos.

-Absoluta. Foi há mais de treze anos, mas podiam passar mil anos e eu reconhecê-lo-ia, em qualquer lugar da terra.

- Meu Deus, Lena! A conversa de que não acreditas no amor, não passa disso mesmo. Conversa. Tu continuas apaixonada por esse homem. Como é que eu nunca me apercebi disso!

-Não digas asneiras. Não se ama, quem se odeia!

-Não? Pois eu sempre entendi que o ódio é a outra face da moeda do amor. Mas deixemos isso agora e conta-me. Como foi isso? E ele reconheceu-te?

- Foi em frente à escola. Eu ia quase a correr, e ao dobrar uma esquina esbarrei num homem que vinha com uma menina pouco mais nova que a Matilde. Teria caído, se ele não me segurasse pela cintura, e ao levantar os olhos para me desculpar, quase desmaiava com a surpresa.

-Não me digas! Se ele tem a filha na mesma escola, significa que mora perto, e que talvez se voltem a encontrar. Mas não te reconheceu?

- Não sei! Mal me apercebi de quem era, pedi desculpa e saí correndo.

-E agora, o que vais fazer?

-Nada. Só espero nunca mais me cruzar com ele.

- A vida prega-nos muitas partidas e do mesmo modo que se encontraram hoje, pode voltar a acontecer. E um dia ele vai reconhecer-te. E se vir a Matilde e souber somar dois mais dois vai descobrir a verdade. E tens de pensar na Matilde e na promessa que lhe fizeste. Que lhe vais dizer? Que não sabes o que foi feito dele, quando provavelmente ele já se cruzou com ela na entrada ou saída da escola.

-A promessa de lhe falar sobre o pai quando fizesse treze anos!  E falta menos de um mês para o seu aniversário, - Lena deixou—se cair na cadeira com um suspiro de desalento.

--A Matilde é extremamente inteligente e muito obstinada, - continuou Rita. Tenho a certeza que é a primeira coisa que te vai perguntar no dia do seu aniversário. E é bem capaz de tentar encontra-lo. Sabes que hoje em dia os miúdos, com um computador nas mãos, sabem tudo o que querem. O que farás se ela quiser entrar em contacto com o pai?

-Não sei. Talvez lhe diga que ele morreu.

-Isso é meio caminho andado para perderes a tua filha, se ela um dia tomar conhecimento da verdade. Nunca mais confiará em ti. Se queres o meu conselho conta-lhe toda a verdade, embora claro não lhe digas que provavelmente ele vive perto. E agora vamos almoçar, ou esperamos pela Matilde?

-Hoje é Quinta-feira, ela almoça na escola tem aulas até às dezasseis. E o Inácio? Não vem almoçar connosco, hoje?

-Não. Vai almoçar com um cliente. Então vamos!

 


23.5.21

DOMINGO COM HUMOR

 



- Amor, o que você faria se eu fugisse com o seu melhor amigo? 

- Você sabe que eu só tenho um melhor amigo!
- Sim, mas o que você faria se eu fugisse com o seu melhor amigo?
-Ué? Tinha que ser com o meu melhor amigo? Não podia ser com outro tipo, não?
- E qual é a diferença, entre eu fugir com o seu melhor amigo, ou com outro tipo qualquer?
- A diferença? Ué, se você fugir com o meu melhor amigo, eu vou festejar com quem?

                                                 ********************

- Amor, tenho uma coisa para te dizer, mas nem sei como.
- Pode falar, amor!
- Mandei fazer o teste do ADN ao nosso filho, e o menino não é nosso!
- Ah! É isso! Não lembra não? Você é esquecida mesmo! Quando a gente estava saindo da maternidade o menino estava cheio de cocó, e você disse, amor vai lá trocar ele que eu te espero aqui. Aí eu fui lá, trouxe um bem limpinho e deixei o cagado lá!

                                                    *******************

Moisés lia os Mandamentos perante os homens no deserto:
- Nono Mandamento. "Não cobiçarás a mulher do próximo"
Levanta-se um enorme burburinho, e Moisés diz:
-Calma, isto é o que diz a Lei, vamos ver o que diz a Jurisprudência.
 
                                                       *****************

Dois amigos conversam. Diz um:
-Ó pá as mulheres são incríveis. Tu não lhes dizes nada e elas entendem tudo. Elas dizem-te tudo e tu não entendes nada!

                                                      *******************
Um homem está a vender semente de maçã na rua.
Um policial chega e pergunta o que ele está fazendo:
-Estou a vender sementes de maçã que fazem você ficar mais inteligente se comê-las.
- Sério? E elas funcionam mesmo?
-Bem, o senhor pode comprá-las e ver por si mesmo.
-Tudo bem,  me dê 5 sementes.
-Aqui tem. São 10 reais.
O polícia pagou comeu as sementes e dois minutos depois disse:
- Espere aí, 10 reais por 5 sementes? Com esse dinheiro eu podia comprar 10 maçãs e conseguir 20 ou 30 sementes.
- Viu? Já está fazendo efeito!
- Nossa, é mesmo verdade! Então me dá mais 5...


21.5.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE IX

 


- E a mim, que sou seu tio e padrinho. Bem sei que não é a mesma coisa que um pai, mas sabes que estarei sempre aqui para ele, e para vocês. O Miguel precisa conviver com outras crianças da sua idade. Sabes tão bem como eu, como isso é importante para o seu desenvolvimento. E tu também precisas voltar ao trabalho o mais rápido possível. Não podes continuar fechada para a vida. Sei como amavas o Quim e que a sua perda te causou uma dor enorme.

Não te peço que o esqueças, sei que ele vai ter sempre um lugar no teu coração, mas não deixes que o ocupe na totalidade. Tens dois filhos amorosos, tens que pensar neles. Tenho a certeza que um coração generoso como o do Quim não ia gostar de te ver assim.

Ele ia gostar que seguisses com a tua vida. Meu Deus, Laura só tens trinta e dois anos, és uma mulher inteligente e linda. Tens que dar uma nova oportunidade ao amor e a ti própria. Mereces isso.

- Fala a voz da experiência, Gonçalo? Quantas oportunidades deste tu ao amor? A Inês Rodrigues andava atrás de ti, como cachorro atrás do dono, a João Guerreiro era capaz de correr uma maratona por ti e a Amália Roque vendia a alma ao diabo, por uma saída contigo? Deste uma oportunidade a alguma delas?

-Um médico não tem grande disponibilidade para relações, mana.

-Não me convences. Quando dava aulas no colégio tinha vários miúdos, cujos pais eram médicos. Mal estava o mundo se ser médico impedisse o homem ou a mulher que o é, de viver uma história de amor e formar uma família. Se assim fosse, decerto seria mais fácil encontrar uma agulha num palheiro do que um médico.

- Mãe, o Miguel cheira mal, - gritou Sara da sala.

- Está bem, a mãe já vai. Desculpa Gonçalo, tenho de ir. De qualquer modo já acabámos a refeição. Se tiveres de ir não levo a mal. Entre mudar a fralda ao Miguel e conseguir que adormeça, vou demorar um bocado.

-Não faz mal. Vou pôr a loiça na máquina e ver se a Sara precisa de ajuda com os TPCS. Como te disse, hoje só vou para o hospital à noite.

Meia hora mais tarde, com Miguel adormecido e Sara no quarto, a estudar para o teste do dia seguinte, os dois irmãos encontravam-se sentados na sala, quando Laura retomou a conversa anterior.

- Não acredito que um homem inteligente e bonito como tu, se sinta feliz sozinho. Estás em Lisboa há mais de dois anos, e passas o teu tempo onde?  Ou no hospital, ou aqui.  De certeza não há no hospital uma médica, ou uma enfermeira com quem gostasses de passar algumas horas fora do hospital?

- E diz isso quem passa o tempo metida em casa, e até as compras faz pela Internet?

- É diferente Gonçalo. Ir às compras com um bebé não é tarefa fácil.

- Acredito. Mas diz-me, quantas vezes vais ao parque com ele? Não devias aproveitar o tempo em que a Sara está na escola para o fazeres? O teu desgosto, não pode estar a atrasar o desenvolvimento do teu filho. Procura uma creche e pelo menos aí ele aprende a conviver com outras crianças.

- Palavra que ainda um dia, descubro como o fazes?

-O quê?

- Cada vez que tento falar da vida que levas, dás um jeito de falares da minha, e não responderes.

-Prometo que da próxima vez, não o faço, se quando o Miguel acordar, formos os quatro ao parque.


20.5.21

PORQUE ME APETECE...




Procura-se Um Amigo | Poema De Vinícius De Moraes Narrado Por Mundo Dos 


Mais duas consultas estas semana. A minha, na Segunda, estou com um pequeno agravamento nas apneias, veio  um técnico da Linde na Terça, fazer uma pequena alteração no CPAP, que foi a correção que o médico mandou.
A do marido ontem, Quarta foi uma boa noticia. Fez este mês 10 anos que acabou a radioterapia, os exames mantém-se sem alterações, o médico deu-lhe alta.

19.5.21

COMEÇAR DE NOVO PARTE VIII

 


Uma hora depois, Gonçalo acabava de dar a sopa ao seu afilhado, Miguel de vinte e seis meses, enquanto a irmã punha a mesa para o almoço deles.

Então, Laura disse à filha:

- Sara, já acabaste de comer, vai para a sala brincar com o mano, enquanto a mãe e o tio almoçam. Podes ligar a televisão.

As crianças saíram e os dois sentaram-se à mesa. 

Ele e a irmã tinham uma pequena diferença de idades, dois anos apenas e desde criança, sempre foram muito unidos, até que ainda na Universidade ela conhecera Joaquim Cardoso e os dois se apaixonaram. Laura ficou grávida e foi complicado, os dois eram muito jovens, estavam ainda a terminar o curso, tinham a cabeça cheia de sonhos, e o terem de casar à pressa não era nenhum deles. 

Mas quando tomaram conhecimento da gravidez, de imediato a assumiram, sem que o aborto passasse pela cabeça de nenhum deles. Joaquim, estava a terminar o curso de direito, já tinha assegurado trabalho em Lisboa, no escritório do tio, também advogado.

 Laura formara-se em Literatura e Línguas, sonhava ser professora. Tinham casado pouco antes do fim do curso e logo que o terminaram mudaram-se para Lisboa, onde ficaram a viver em casa dos tios do Joaquim, que na prática era como se fossem seus pais, pois o criaram desde que aos seis anos perdera os pais num acidente.

Fora um grande desgosto para os seus pais, especialmente para a mãe que sonhava com outro tipo de casamento para a filha. Não que tivesse algo contra Quim, (era assim que amigos e família o chamavam), mas não queria separar-se da filha, principalmente quando esta estava prestes a torná-la avó.

Gonçalo apoiou o casal, mostrando aos pais que não tinha qualquer sentido, Laura ficar em casa dos pais em Braga, quando os dois estavam tão apaixonados e Quim ia começar uma nova vida em Lisboa. Ele precisava do apoio da esposa, não de estar preocupado e cheio de saudades, porque a mulher ficara lá longe.

Sara nascera cinco meses depois. Era uma menina linda, mais parecida com o pai e o tio do que com a mãe. E Laura ficou em casa com ela, até aos dois anos, altura em que a levou para uma creche, e iniciou a sua carreira de professora, num colégio particular bem perto de casa.

Durante dez anos, foram um casal feliz. Tão feliz que tinham resolvido ter outro filho.  E então sem nada que o fizesse prever, no final de uma tarde de Outono, Quim que em toda a sua vida nunca se queixara sequer de uma dor de cabeça, sentiu-se mal, e morreu a caminho do hospital. A autópsia registara que morrera de um aneurisma cerebral. Sara tinha dez anos e Laura estava grávida de cinco meses. E fora nessa altura que Gonçalo viera para Lisboa. Inicialmente ficara a viver com a irmã, apoiando-a na gravidez, cuidando da sobrinha, de modo a que elas ultrapassassem aquela fase de maior dor.

Apoio que se manteve, depois de Miguel ter nascido, até que há meio ano atrás, decidira que era altura de deixar a casa da irmã, e alugar um apartamento onde pudesse ter alguns momentos só para si.

Mas a irmã sabia que podia recorrer a ele sempre que precisasse desde que não estivesse de serviço no hospital.

- Já pensaste que talvez esteja na hora de pores o Miguel numa creche e voltares ao ensino? – perguntou Gonçalo enquanto partia um pouco de pão.

-Não. É ainda tão pequeno!

- A Sara tinha dois anos quando foi para a creche. O Miguel já tem mais dois meses.

- Mas a Sara tinha pai e mãe. O Miguel só me tem a mim.

 


18.5.21

POESIA ÀS TERÇAS - A PALAVRA DOS AMIGOS

 





O TEU SORRISO




Gosto do teu sorriso
quando o barco te aporta
ao início da madrugada
na praia incendiada por pássaros
no rebentar das marés.

Pé ante pé persigo a luz
que desponta suave,
quase inocente
nos gestos das águas
que te aspergem o dia.

Um rasto de corais
move-se contra o vento
que sopra a manhã
que te abraça
com faíscas imperceptíveis.

Ailime

Ailime, é mais uma amiga  que começou por ser virtual e se tornou real há uns anos.
 Podem encontrá-la AQUI

17.5.21

COMEÇAR DE NOVO -- PARTE VII

 




 Entraram na sala e sentaram-se. Ninguém diria ao vê-los que eram irmãos. Ele era alto, moreno, de olhos e cabelos castanho-escuro, quase pretos. Como o pai. Ela, teria pouco mais de metro e meio, loira e de olhos azuis. Como a mãe.

- Hoje estou no turno da noite. Nas urgências.

- Trabalhas de mais. Dentro de dias fazes trinta e cinco anos. Desde que terminaste o curso vives praticamente no hospital. Só sais de lá para nos apoiar.  Nunca te vi entusiasmado por ninguém. Não há lá pelo hospital, nenhuma mulher interessante?

- Sabes porque saí do hospital no Porto e vim para cá?

- Porque o Quim morreu e vieste cuidar de mim.  Sinto-me tão mal, por isso. Tinhas a tua vida lá.

- Nada disso, maninha. Talvez nunca te tenha dito, mas a verdade é que já tinha pedido a transferência para este hospital antes do aneurisma que vitimou o teu marido. E sabes porquê? Porque a nossa mãe passava a vida a apresentar-me as encantadoras filhas das suas amigas. Acredita que nunca pensei que ela tivesse tantas amigas. Parece que todas as jovens desde Braga até ao Porto e arredores eram filhas de amigas suas.

- E por isso fugiste? E eu que pensava que tinhas vindo por mim!

 -Não sejas tonta. Se não tivesse já pedido a transferência tê-lo-ia feito nessa altura. Não ia deixar-te cair numa depressão grávida de seis meses e com a Sara a precisar mais do que nunca de ti. És a minha irmã preferida, faria qualquer coisa por ti e sei que farias o mesmo por mim. Mas a verdade é que na altura já tinha pedido a transferência.

-Também és o meu irmão preferido, - disse Laura sorrindo. - Ou não fôssemos só dois. Falando sério, Gonçalo. Nunca houve uma mulher que te interessasse? Nunca te apaixonaste?

- Talvez, quem sabe?

- Meu Deus! Quer dizer que não queres saber de ninguém porque já deste o coração a alguém? Um amor impossível? Quem é?

- Ninguém. Referia-me a que mais tarde ou mais cedo todos nós tivemos uma paixoneta. Lembras-te da Inês Salgado aquela menina sardenta que na primária andava sempre atrás de mim, e que aos doze anos me trocou pelo Nuno Carvalho? Pois foi só depois disso é que descobri a minha paixão por ela, - disse rindo

- Não disfarces Gonçalo. Se não queres contar, eu respeito, mas sempre te digo que se não deu certo uma vez não quer dizer que rejeites todas as oportunidades de seres feliz.

- Mas é que não há mesmo nada para contar, acredita-me! 

Nesse momento ouviu-se o balbuciar de um bebé e Laura levantou-se de imediato

-O teu afilhado acordou. Já volto.

 


15.5.21

PORQUE HOJE É SÁBADO

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Andrea Bocelli - Quizas Quizas Quizas (HD) ft. Caroline Campbell

Desde que levei a primeira dose da AstraZeneca, tenho estado mais para lá que cá. Dores no corpo e principalmente na cabeça horríveis e temperaturas entre os 38.5 e os 39. Tenho estado de cama e à base de Ben-u-ron. Espero e desejo que esteja melhor hoje sábado. Não entendo. O marido levou-a há um mês e não sentiu nada. 

14.5.21

COMEÇAR DE NOVO PARTE VI


- Lena, já passa das dez e meia. Não te esqueceste da reunião na escola, pois não?

- Meu Deus, já? Estava distraída, com o inventário dos bens do caso Mendes verso Correia. Tenho que resolver isto esta semana. Mas agora tenho mesmo que ir. Até logo, Rita.

Saiu, meteu-se no automóvel e dirigiu-se à escola. Ficou aborrecida ao chegar e verificar que não tinha lugar para estacionar no parque frente à mesma. Deu uma pequena volta e estacionou numa transversal ali perto. A caminho da entrada olhou o relógio. Estava quase em cima da hora e ela detestava chegar atrasada. Apressou o passo e ao dobrar a esquina para entrar na zona da escola chocou com um homem que vinha em sentido contrário, trazendo uma menina pela mão. Teria caído se ele não a tivesse segurado.

- Está bem? – perguntou ele

- Desculpe, a culpa foi minha, estou atrasada, vinha quase a correr - disse ela  levantando os olhos para ele.  Nesse momento, o seu rosto empalideceu, sentiu que as pernas lhe tremiam, mas num enorme esforço de vontade, desprendeu-se dos seus braços, e correu para o portão da escola.

-Que mulher maluca! - disse a menina e dando a mão ao homem que continuava estático olhando o portão da escola, perguntou:

-Vamos?

-Vamos sim, Princesa, a tua mãe já deve estar a perguntar-se porque nos demoramos tanto.

 - A mãe não sabe que vou contigo. Ia ligar-lhe quando soube que não tinha as duas últimas aulas, mas então vi-te a saíres da sala de reuniões e já não o fiz.

Entraram no carro e a caminho de casa, ele perguntou:

-Conheces todas as professoras da escola, Sara? Aquela mulher é professora?

-Tenho a certeza que não. Nunca a vi antes. Mas hoje é dia de reunião de pais. Deve ser alguma mãe, que ia para a reunião das onze. Porquê?

-Curiosidade, Sara. Apenas isso.

Não voltou a falar até chegarem a casa. Gonçalo estava inquieto. Só tinha segurado aquela mulher durante breves segundos, mas a sensação que teve foi muito estranha. Como se de algum modo, o seu destino estivesse ligado ao daquela desconhecida.

 Chegaram. Mal teve tempo de estacionar, em frente da moradia e já uma jovem mulher abria a porta de casa.

- Já em casa, Sara? – perguntou admirada

- Não tinha as duas horas de Inglês. Ia telefonar-te, mas então vi o tio Gonçalo a sair da reunião e vim com ele. O mano?

- Está a dormir.  Vamos entrar. Gonçalo, quero que me contes tudo sobre a reunião. Como está a Sara nos estudos?

- Não tens razões para estar preocupada. A tua filha é uma ótima aluna. Vai ter excelentes notas como sempre.

-Obrigado. Não sei o que seria de nós sem ti. Vamos entrar?

Afastou--se para deixar entrar a filha e o irmão, fechando a porta em seguida. 

- Mãe, vou para o meu quarto fazer os TPCS.  Almoças connosco, tio?

- Se a tua mãe me convidar, - respondeu o homem sorrindo.

- E desde quando, é preciso convidar-te?  Não tens hospital hoje? – perguntou Laura.

 

Finalmente ontem levei a primeira dose da AstraZeneca. Mas ainda tive que ir buscar mais um documento ao meu centro médico. Hoje tenho uma nova ida ao hospital para uma consulta de pneumologia. Não me tem sido possível visitar-vos. Ou melhor tenho lido alguns dos vossos posts nas salas de espera, mas não consigo comentar através do telemóvel. Penso conseguir voltar ao normal no próximo fim de semana

12.5.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE V

 


 Chegou à Agência Imobiliária ao mesmo tempo que Rita, sua amiga, sócia e comadre.

-Bom dia! Pensei que vinhas mais tarde! Não era hoje a reunião de pais, na escola?

-Bom dia! É só às onze horas. E temos bastante trabalho.

-Lá isso é verdade. Temos mais trabalho que dinheiro. Com este tempo lindo, este sol radioso, as pessoas pensam mais em férias do que em comprar ou vender casas. Mas pareces preocupada. Aconteceu alguma coisa?

- O mesmo de sempre. A Matilde que insiste em querer saber porque não lhe falo do pai. Quer saber o nome e onde mora.  Ontem disse—me que enquanto não souber quem é o seu pai, e porque a rejeitou, será sempre uma pessoa pela metade. Penso que esta fixação dela tem muito a ver com o seu aspeto físico. Ninguém na nossa família, tem aquele tom de pele, ou olhos azuis. Todos somos bastante morenos de cabelos e olhos castanhos. E o pior é que isso parece refletir-se nos testes. Ela foi sempre uma aluna de excelente e muito bom, mas os dois últimos testes não passaram de bom.

-Ela tem os olhos azuis, mais bonitos que eu já vi. Talvez os tenha herdado de algum antepassado, uma vez que segundo me contaste, o pai também era moreno de  olhos escuros. Porque não lhe contas a verdade?

-- Que verdade? Devo dizer-lhe que a sua mãe é tão estúpida que se apaixonou perdidamente por um traste de quem não sabe sequer o nome?

 - Não eras estúpida, mas sim ingénua. Nunca tinhas saído da terra, não conhecias as artes sedutoras dos homens. E ele tinha nome. Gonçalo Bacelar, não era?

- E será que esse era o seu verdadeiro nome? Não seria tão falso como todas as juras que me fez?

- Provavelmente nunca o saberemos. Mas não podes deixar que isso dê cabo da vida da tua filha. Conta-lhe a verdade. Depois se preciso for, levamo-la a um psicólogo.

 --Talvez tenhas razão!

 - Claro que tenho. E tu também precisas mudar. És uma mulher inteligente, levas a vida a resolver os problemas dos outros, mas és incapaz de resolver o teu. Porque não quiseste sair com o Diogo?

-Não sinto falta de ter um homem na minha vida! A Matilde enche-a e sou feliz assim.

-Tens trinta e dois anos Lena. Em breve a tua filha faz treze anos. O tempo passa a correr, um dia destes acordas e ela está na Universidade e daí a ter a sua própria vida, são dois dias. E quando te deres conta estarás sozinha. Devias dar a ti mesmo uma outra oportunidade de conheceres alguém, de amares de novo.

- A experiência foi demasiado dura para que deseje repeti-la.

- Eu sei. Mas nem todos os homens são iguais. Quando me conheceste, eu tinha acabado de me divorciar do Rui Morais. E também estava convencida que nunca mais ia confiar num homem a ponto de pensar noutra relação. Mas é como diz o ditado “Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera” E tudo mudou quando conheci o Inácio. Há seis anos que casamos e não me arrependi um único dia de o ter feito. E tu conheces-nos, sabes que a nossa felicidade é real.

- Fico feliz por ti, mas continuo a sentir que não estou preparada para uma relação e depois, nem sequer sei como a Matilde aceitaria tal situação. Bem vamos trabalhar?

Sentou-se à sua secretária e abriu o portátil ao mesmo tempo que recordava os anos de estudo, no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa, conhecido pelo ISCAL, o fim do Curso de Solicitadoria, o ano de estágio com o solicitador Artur Salgueiro, no Campo Grande, a sua filha num colégio ao pé de casa desde a creche até ao final do primeiro ciclo, o namoro e casamento da amiga e comadre, que lhe deixou a casa mediante um aluguer muito simpático, ao mudar-se depois do casamento. E finalmente o emprego na agência do pai dela, até que seis anos atrás ele se reformou e deixou a agência à filha. Rita acabara por lhe propor sociedade. Inicialmente ela entrara com uma pequena  quota, que fora reforçada dois anos antes, estando agora equiparadas. 

Ao longo dos anos, Rita fora para ela mais do que uma amiga. Era como uma irmã. Lena não hesitaria em afirmar que a sua ligação afetuosa por Rita era tão ou mais intensa do que a que tinha por Sérgio, o seu irmão de sangue.

 

Aos amigos a quem interesse saber da minha saúde , está tudo aí no post de ontem