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12.5.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE V

 


 Chegou à Agência Imobiliária ao mesmo tempo que Rita, sua amiga, sócia e comadre.

-Bom dia! Pensei que vinhas mais tarde! Não era hoje a reunião de pais, na escola?

-Bom dia! É só às onze horas. E temos bastante trabalho.

-Lá isso é verdade. Temos mais trabalho que dinheiro. Com este tempo lindo, este sol radioso, as pessoas pensam mais em férias do que em comprar ou vender casas. Mas pareces preocupada. Aconteceu alguma coisa?

- O mesmo de sempre. A Matilde que insiste em querer saber porque não lhe falo do pai. Quer saber o nome e onde mora.  Ontem disse—me que enquanto não souber quem é o seu pai, e porque a rejeitou, será sempre uma pessoa pela metade. Penso que esta fixação dela tem muito a ver com o seu aspeto físico. Ninguém na nossa família, tem aquele tom de pele, ou olhos azuis. Todos somos bastante morenos de cabelos e olhos castanhos. E o pior é que isso parece refletir-se nos testes. Ela foi sempre uma aluna de excelente e muito bom, mas os dois últimos testes não passaram de bom.

-Ela tem os olhos azuis, mais bonitos que eu já vi. Talvez os tenha herdado de algum antepassado, uma vez que segundo me contaste, o pai também era moreno de  olhos escuros. Porque não lhe contas a verdade?

-- Que verdade? Devo dizer-lhe que a sua mãe é tão estúpida que se apaixonou perdidamente por um traste de quem não sabe sequer o nome?

 - Não eras estúpida, mas sim ingénua. Nunca tinhas saído da terra, não conhecias as artes sedutoras dos homens. E ele tinha nome. Gonçalo Bacelar, não era?

- E será que esse era o seu verdadeiro nome? Não seria tão falso como todas as juras que me fez?

- Provavelmente nunca o saberemos. Mas não podes deixar que isso dê cabo da vida da tua filha. Conta-lhe a verdade. Depois se preciso for, levamo-la a um psicólogo.

 --Talvez tenhas razão!

 - Claro que tenho. E tu também precisas mudar. És uma mulher inteligente, levas a vida a resolver os problemas dos outros, mas és incapaz de resolver o teu. Porque não quiseste sair com o Diogo?

-Não sinto falta de ter um homem na minha vida! A Matilde enche-a e sou feliz assim.

-Tens trinta e dois anos Lena. Em breve a tua filha faz treze anos. O tempo passa a correr, um dia destes acordas e ela está na Universidade e daí a ter a sua própria vida, são dois dias. E quando te deres conta estarás sozinha. Devias dar a ti mesmo uma outra oportunidade de conheceres alguém, de amares de novo.

- A experiência foi demasiado dura para que deseje repeti-la.

- Eu sei. Mas nem todos os homens são iguais. Quando me conheceste, eu tinha acabado de me divorciar do Rui Morais. E também estava convencida que nunca mais ia confiar num homem a ponto de pensar noutra relação. Mas é como diz o ditado “Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera” E tudo mudou quando conheci o Inácio. Há seis anos que casamos e não me arrependi um único dia de o ter feito. E tu conheces-nos, sabes que a nossa felicidade é real.

- Fico feliz por ti, mas continuo a sentir que não estou preparada para uma relação e depois, nem sequer sei como a Matilde aceitaria tal situação. Bem vamos trabalhar?

Sentou-se à sua secretária e abriu o portátil ao mesmo tempo que recordava os anos de estudo, no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa, conhecido pelo ISCAL, o fim do Curso de Solicitadoria, o ano de estágio com o solicitador Artur Salgueiro, no Campo Grande, a sua filha num colégio ao pé de casa desde a creche até ao final do primeiro ciclo, o namoro e casamento da amiga e comadre, que lhe deixou a casa mediante um aluguer muito simpático, ao mudar-se depois do casamento. E finalmente o emprego na agência do pai dela, até que seis anos atrás ele se reformou e deixou a agência à filha. Rita acabara por lhe propor sociedade. Inicialmente ela entrara com uma pequena  quota, que fora reforçada dois anos antes, estando agora equiparadas. 

Ao longo dos anos, Rita fora para ela mais do que uma amiga. Era como uma irmã. Lena não hesitaria em afirmar que a sua ligação afetuosa por Rita era tão ou mais intensa do que a que tinha por Sérgio, o seu irmão de sangue.

 

Aos amigos a quem interesse saber da minha saúde , está tudo aí no post de ontem

15 comentários:

Emília Pinto disse...

Querida Elvira, que dia tão terrivel tiveram ontem! Espero que já tenham descansado desse corrida louca e que tudo se vá resolvendo de acordo com o que precisais. Tens muita coragem e força, querjda Amiga! Sinto uma grande admiração por ti. Boa moite e que amanhã o dia seja tranquilo. Quanto ao conto, bem...esperemos pelo próximo capitulo. O que importa, agora é que, finalmente, comeces a ver os teus problemas resolvidos. Beijinhos
Emilia

lis disse...

Li sobre a peripécia do dia 11 de maio , dia 11 é meio sinistro mesmo Elvira rs
_ mas graças a Deus tudo ficou só no sufoco do momento.
O capitulo de hoje começa a delinear as dificuldades que essa mãe vai passar com a filha sem o pai presente. Vamos acompanhando, tu é ótima nos detalhes e sabe prender o leitor direitinho :))
Beijos e boa semana, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Eu e a minha prima com quem vim viver para Macau - mais que irmãos.

teresadias disse...

Elvira, gostei muito deste diálogo entre as duas amigas e comadres.
Venham mais!
Espero que tenha descansado bem.
Beijo.

Tintinaine disse...

Eu estou com a Matilde, deve-se contar tudo aos filhos, logo que eles tenham capacidade para entender. Segredos são como ervas daninhas, agarram-se a tudo e não há modo de as eliminar.
Bom dia e que ele seja melhor que o de ontem!
E o marido tem que ir festejar o título do seu clube, será melhor programar uma saidinha, nem que seja para um chá e um bolo, às 5 da tarde!

Ailime disse...

Bom dia Elvira,
Lena agora está num dilema sem saber como contar a filha que é o pai.
Não é fácil depois da enorme desilusão que sofreu.
Vamos aguardar o desenrolar dos próximos acontecimentos.
Um beijinho, esperando que hoje já esteja mais descansada, assim como o marido.
Ailime

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de muita paz, querida amiga Elvira!
Que seus lhe dê saúde em todas as áreas do sei viver para aguentar dias assim puxados!
Ontem meu dia foi cansativo também, resolvendo questões de saúde.
Haja forças!
Que Ele lhe dê do Alto!
Tenha dias abençoados!
Beijinhos carinhosos e fraternos

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Começa a ficar interessante .
Novo dia, novo fôlego !

JR

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um excelente capitulo.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

noname disse...

Está a chegar a hora de contar à filha a sua história. Nestas coisas, penso eu que, mais vale uma verdade dura que uma eterna mentira adocicada.

Boa tarde, Elvira

Cidália Ferreira disse...

Uma diálogo interessante!:))
-
Perdida num sonho entre a multidão...
-
Beijos e uma excelente tarde.

Maria Dolores Garrido disse...

Às vezes, as ligações de amizade são tão ou mais fortes do que algumas relações familiares.

Espero, Elvira, que esteja tudo a correr bem consigo e com o seu marido.
Um beijinho e muita muita saúde.

Edum@nes disse...

Venho espreitar como é que vai por aqui a moenga. Têm mais trabalho do que dinheiro, disse Lena Rita. O trabalho nunca acaba. Já o dinheiro às vezes não não chega para as encomendas!

Tenha uma boa boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Fê blue bird disse...

Elvira, boa noite.

Era de esperar que a Matilde ao crescer, queira saber quem é o pai.
A relação entre as amigas é forte e sincera.
Continuo a seguir com bastante interessente.

Um abraço com o desejo de muita saúde.

Rosemildo Sales Furtado disse...

Acho que a Lena deve seguir o conselho da Rita, pois mais cedo ou mais tarde a Matilde poderá descobrir toda a verdade. Afinal, é um direito dela, saber quem é o pai. Continuo acompanhando e gostando.

Abraços,

Furtado