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10.5.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE IV





Quase doze anos depois…

O relógio despertou como habitualmente às seis e trinta da manhã. Helena saltou da cama, calçou os chinelos, e dirigiu—se à casa de banho. Abriu a torneira, despiu-se e meteu-se por baixo do chuveiro, no mesmo ritual de todos os dias.

Depois de um duche rápido, secou o cabelo, vestiu-se, passou um pouco de sombra nas pálpebras que realçavam o dourado dos olhos, puxou as orelhas à cama e antes de ir para a cozinha bateu à porta do quarto da filha.

- Está na hora de te levantares, Matilde! Não te demores, já vou fazer o pequeno-almoço!

Não esperou para ver se a filha de doze anos se levantava. Ela nunca se atrasava fosse de Verão ou Inverno. Já na cozinha, pôs o avental, colocou o leite ao lume, para os cereais da filha e colocou duas fatias de pão na torradeira. Ligou a máquina do café, e abriu uma carcaça. Barrou-a com manteiga, colocou-lhe em cima uma fatia de queijo. Ia embrulhá-la num guardanapo, mas desistiu ao sentir as fatias de pão saltarem na torradeira. Colocou-as num prato, e antes que arrefecessem, apressou-se a barrá-las.  Sem se sentar, deu uma trincadela numa, no momento em que a filha entrava na cozinha com a mochila, já preparada para tomar o pequeno almoço e ir para a escola.

-Bom dia mãe.  Hoje há a reunião de pais, não te esqueceste, pois não? – perguntou enquanto despejava o leite quente na taça, sobre os cereais.

- Não, claro que não, - respondeu Helena, dando mais uma trincadela na torrada, ao mesmo tempo que abria o frigorífico e tirava um sumo para juntar à sandes que acabara de preparar para a filha levar para o lanche.

Acabou de comer as torradas, meteu uma cápsula na máquina e tirou um café que bebeu de pé, enquanto lançava um olhar ao relógio.

-Acabei, mãe - disse a filha levantando-se da mesa.

- Guarda o dinheiro para a senha do almoço-- disse  estendendo-lhe umas moedas. - E vai lavar os dentes enquanto eu acabo isto.

Matilde agarrou nas moedas, colocou-as na bolsa a mochila e dirigiu-se à casa de banho

A mãe guardou a sandes e o sumo, na pequena lancheira plástica e esta na mochila, passou a chávena e a taça por água e meteu-as na máquina.

De seguida limpou as mãos, retirou o avental e dirigiu-se para a casa de banho, precisamente quando a filha saía dizendo:

-Estou ponta!

-Vê se não te esqueces de nada, eu não demoro.

Escovou os dentes, passou um pouco de brilho nos lábios, deu uma rápida olhadela ao espelho e saiu. No corredor retirou de uma mesinha de apoio, o porta-chaves, e o telemóvel, pegou na mala que tinha ali ao lado, pendurada no bengaleiro e saiu. Fechou a porta e apressou-se a seguir a filha, que já descia as escadas em direção à porta da rua.

Já instaladas no carro, e antes de ligar o motor, perguntou:

-Não te esqueceste do passe?

Os magníficos olhos azuis da filha, tão brilhantes que parecias duas safiras, olharam para a mãe com expressão de aborrecimento, enquanto respondia:

- Não mãe, está na bolsa da mochila. E já sei, quando sair apanho o autocarro e vou ter contigo à agência. Não precisas repetir o mesmo todos os dias, já não sou uma miúda.

Atenta à estrada, Helena não respondeu. A verdade é que a filha ia a caminho dos treze anos, e desde menina sempre fora muito responsável, mas o seu coração ficava sempre em sobressalto quando não podia ir buscá-la.

Estacionou junto ao portão da escola, recebeu o beijo de despedida da filha, esperou até que ela atravessou o portão e só depois arrancou e se dirigiu à agência.

 

20 comentários:

Emília Pinto disse...

E eu não digo que a vida é um constante " Começar de novo ? " Cá está a nossa Helena nun novo começo, a filha já uma mulherzinha e ela a " entrar numa agência ". Será um emprego? Vamos ver !!! Espero que esteja tudo bem connvosco e que já tenhas conseguido a resposta da tua médica para poderes fazer os exames. Beijinhos e boa noite
Emilia

Emília Pinto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Coimbra disse...

Nós também estamos a viver uma época de recomeços.
Boa semana

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

E a novela continua, ainda sem o artista principal dar as caras!
Boa semana, Elvira!!!

Maria Dolores Garrido disse...

Bom dia, Elvira.
A correria matinal de tantas mães trabalhadoras.
Um beijinho e boa semana

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
O pão nosso de cada dia. Por agora !

JR

noname disse...

Vida corrida.

Bom dia, Elvira

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei deste capitulo.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Maria João Brito de Sousa disse...

Será já a seguir que Helena reencontra Gonçalo?

Estarei atenta :)

Forte abraço, Elvira!

chica disse...

Lindo enredo e saber recomeçar ,nem que sejam pequenos o s passos, é preciso! beijos, linda semana! chica

Maria do Mundo disse...

Beijinho de boa semana!

Cidália Ferreira disse...

Fantástica publicação!! .
A brisa descansa, e abre o caminho ...
.
Beijos
Uma excelente semana...
:)

teresadias disse...

"Quase doze anos depois..."
Elvira, é delicioso o seu «quase»!!!
A vida continua... mãe e filha, já adolescente, numa rotina matinal.
Beijo, saúde.


Edum@nes disse...

o tempo passa a correr. Enquanto o sol vai e volta. Quando um dia acaba outro dia começa. Haja saúde e alegria. Não haverá outra vida melhor do que esta?

Tenha um bom dia de Segunda-feira amiga Elvira. Um abraço.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Então a Lena tem sido mãe e pai para a filha!
Grande Mulher!
Linda e muito bem escrita a história.
Um beijinho e saúde.
Ailime

Teresa Isabel Silva disse...

Passando para colocar a leitura em dia!

Bjxxx
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Fê blue bird disse...

A sua escrita Elvira, tem o dom de nos prender desde a primeira linha.
Tudo flui com ligeireza, parece que estamos a ver um filme.
Doze anos passaram, vamos ver o que acontece a seguir.

Um abraço, feliz semana !

lis disse...

Vindo do capítulo anterior vejo que a bebê cresceu e a mãe continua nas tarefas costumeiras das mamães de primeira viagem, principalmente. Todo cuidado e muito dengo.
Vamos aguardar o conto se desenrolar e o que como a vida da Helena vai começar a fazer sentido .Por enquanto a filha basta.rs
abraço, Elvira
Boa semana

Janita disse...

A Lena, é hoje uma mãe responsável que, sozinha, criou a sua filha, como tantas mulheres espalhadas pelo mundo. Notei, neste episódio, uma narrativa mais fluida e gostei muito. Quando lemos algo que nos despertou o interesse, queremos logo ver o passo seguinte sem nos determos em demasiados pormenores. O que terá dito a Lena à filha acerca do pai?
Eis um pormenor que me interessa e muito. A Matilde por certo já terá feito essa pergunta à mãe.

Quarta-feira haverá mais ( e vou eu tomar a 2ª dose da vacina ) Isto é suspense demais para o meu velho coração.

Um abraço, Elvira.