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19.7.18

O DIREITO À VERDADE - XXXVII




Setembro estava a chegar ao fim. Cláudio saiu da adega, depois de ter mexido o mosto, e verificado o açúcar do vinho que estava no seu processo de fermentação. Ia sentar-se no alpendre mas ao ver o pai, fez menção de entrar em casa.   O pai gorou-lhe a intenção.
- Senta-te filho. Precisamos conversar.
 Sentou-se de má vontade. Não queria falar com ele, se pudesse nem queria vê-lo. Não conseguia esquecer a imagem do pai a entrar no hotel com a jovem Helena. Dois dias depois, ao retirar o correio, viu uma carta do hotel dirigida ao pai. Claro, ele devia estar a pagar-lhe as despesas. Durante as vindimas o pai não tinha ido a Viseu, mas várias vezes o surpreendeu ao telemóvel, todo carinhoso. E naquela tarde ele voltara à cidade. Cláudio toda a vida amara e respeitara aquele homem com se fora o seu pai. Houve uma altura em que Jorge quisera adotá-lo. Cláudio tinha então dez anos, tinha perdido o pai havia quatro anos. Lembrava-se bem do progenitor, parecera-lhe que a adoção seria uma traição à memória do pai, e não quis que Jorge o adotasse. Disse à mãe que fugiria se eles levassem aquela ideia adiante. Mas quando tinha catorze anos, seduzido pelo amor que o marido da mãe lhe dedicava, começou a chamar-lhe pai. E nunca se arrependeu. Até descobrir que o pai não só traía a mãe, como o fazia com a única mulher do mundo  que não podia fazê-lo. A mulher que ele amava. Aquela com quem sonhava todas as noites, a mulher que não lhe saía do pensamento apesar de saber da sua indignidade. Tinha horas, em que lhe apetecia desaparecer, para não ter de encarar o pai.
- Queres dizer-me o que se passa contigo? Porque andas com essa cara de quem comeu e não gostou e foges do nosso convívio? A tua mãe já anda preocupada.
Apertou os punhos, furioso.
- Será que não sabes? Como podes ser tão cínico? “Se pensas que eu era capaz de trair a tua mãe, não me conheces. Amo-a mais do que a mim mesmo” – disse imitando o jeito de falar do pai.  És um hipócrita. Julgas que eu não sei que tens uma amante?
- Baixa a voz, Cláudio. Que a tua mãe não oiça tal disparate!
- Isso, finge que te preocupas com ela. Mas não penses que me enganas.
- Não sei o que te disseram, mas não te admito que me faltes ao respeito.
- Que respeito, julgas que me mereces, quando te vejo levar para um hotel uma jovem mais nova que eu, enquanto a mãe estava a convalescer da cirurgia? E não me venhas dizer que é mentira, eu vi, ninguém me contou.
Furioso, Jorge levantou-se e dirigiu-se ao filho. Cláudio pensou que o pai lhe ia bater, e preparou-se para se defender. Apesar de toda a raiva acumulada durante aqueles dias, um resto de respeito impedia-o de revidar, se o pai o agredisse. Porém Jorge limitou-se a passar por ele ordenando.
- Vem comigo ao escritório. Agora!
E sem ver se o filho o seguia, ou não, encaminhou-se para o aposento.



16 comentários:

Edum@nes disse...

Está para aí uma confusão,
com alguns ciumes à mistura
até ser mais sofre o coração
bem esclarecida essa dúvida!

Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.

chica disse...

Bah...a coisa tá empolgante! Adorando!bjs praianos,chica

Teresa Isabel Silva disse...

Está intenso!

Bjxxx
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Cidália Ferreira disse...

Já esperava esta reacção de Cláudio, acho que é normal. Mas agora que ouça o Pai. Amei! :) Isto está muito bom!!

Beijos
Desejo que se encontre bem.

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde, querida amiga Elvira!
Há coisas que ultrapassam as aparências...
Vou aguardar nova etapa.
Tenha dias felizes e abençoados!
Bjm fraterno de paz e be

Janita disse...

Fico sempre contente quando se desfazem mal-entendidos, se esclarecem situações duvidosas, se conversa usando de transparência. Acho isso muito salutar, quer seja nas relações entre familiares ou de amigos.

Ainda bem que a Elvira colocou esses dois frente a frente, olhos nos olhos.
Creio que a relação entre eles sairá mais forte dessa conversa.
Parabéns e obrigada, amiga!

Um abraço.

Rosemildo Sales Furtado disse...

Beleza! Tudo caminhando para o ponto da felicidade! O Cláudio não é filho do Jorge e, para sua alegria, vai saber que Helena é filha do Jorge, e não amante como ele imaginava.

Abraços,

Furtado

Larissa Santos disse...

Acho que vai pegar fogo. Vamos a ver como vai escutar o Jorge Noronha:))

Bjos
Votos de uma óptima Noite

Kique disse...

A coisa esta muito quente
Bjs

Hoje em Caminhos Percorridos - You Are The Reason

A Nossa Travessa disse...

INFORMAÇÃO
Tal como tinha anunciado acabo de publicar mais um episódio, o oitavo, da saga É DIFÍCIL VIVER COM UM IRMÃO MONGOLÓIDE que desta feita tem como título... "Empernanço de pestana"... Com este texto a acção entra de raspão na guerra colonial e ainda na ida do primeiro homem à Lua. Uma vez mais alerto para imagem que pode impressionar as/os mais sensíveis.


Volto depois para comentar.


Pedro Coimbra disse...

E agora o filho vai ter uma surpresa.
Abraço, bfds

Cantinho da Gaiata disse...

Embora um pouco ausente tenho posto a leitura em dia.
Estou gostando imenso desta estória, agora mais um mistério que vai ficar esclarecido, mais uma estória magnífica.
Beijinho grande e boa saúde por aí.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Vaia haver uma conversa que pensávamos que era de pai para filho , mas não . Vai ser de homem para homem .
Ate mais logo para saber tudo sobre uma grande conversa no escritório .
JAFR

Os olhares da Gracinha! disse...

E qual será a surpresa para acalmar o seu coração!!!!???... bj

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Agora o esclarecimento e a surpresa, haja emoção!
Beijos carinhosos!

Gaja Maria disse...

Ui! vai ser difícil...