Já o sol baixava no horizonte quando Cláudio entrou no alpendre que rodeava a casa. Limpou os ténis no
tapete, mirou-lhes a sola em busca de alguma impureza que fosse sujar a casa e
só depois entrou em casa. Pendurou o boné num bengaleiro na entrada e seguiu para o quarto. Vestia umas calças de ganga velhas e sujas, e uma camisa
que deveria ter sido branca quando a vestiu, mas que se apresentava suada e
suja. Se Helena o visse naquela hora, teria dificuldade em reconhecer o homem
elegante, que conhecera há dez dias. Ouviu a voz dos pais que conversavam na
sala, mas seguiu para o quarto, e daí passou à casa de banho. Despiu-se, enfiou no cesto, a roupa para lavar, e meteu-se debaixo do duche. Fechou os olhos e deliciou-se com a frescura
da água que lhe acariciava o corpo. Estava cansado. Toda a amanhã, percorrera
os vinhedos, verificara o estado de maturação das uvas das duas castas de uvas
que a quinta produzia, a fim de decidir o momento certo de iniciar as vindimas.
Porque as uvas
não são todas colhidas na mesma época. Há castas que amadurecem mais cedo, e o
próprio clima influencia esse amadurecimento. Se elas forem colhidas, antes do
seu ponto ideal de maturação, o vinho será mais ácido e menos alcoólico. Se
pelo contrário forem colhidas mais tarde, os vinhos terão menos acidez e mais
álcool. Em qualquer dos casos nunca será um vinho de primeira qualidade.
Cláudio amava a terra como amava a própria vida. Ele
nunca seria um homem de cidade, nunca seria capaz de levar a vida metido num
escritório. Claro que gostava das cidades. Para passear, para relaxar, para
um jantar de amigos, (embora não tivesse muitos) para um almoço de negócios, ou
mesmo passar a noite com uma mulher bonita, mas a sua vida era o campo, o
trabalho na terra, o ver crescer o que plantou. Por isso se formou em Agronomia. Quando era mais novo, acalentou o sonho de ir para África quando
terminasse o curso. Ajudar a desenvolver as zonas mais pobres do planeta,
explorando a terra e tirando dela tudo o que tinha a certeza ela podia
produzir. Com o tempo arrumou o sonho numa gaveta escura da memória. A saúde da
mãe era periclitante e ela morreria se ele fosse para tão longe. Por isso mal
terminou o curso de Agronomia na Escola Superior Agrária de Viseu, matriculou-se na Universidade de Trás-os-Montes e alto Douro, único sítio no país onde poderia tirar o curso de Enologia, que o ia ajudar a fazer com que os vinhedos da
quinta do pai, produzissem um dos melhores vinhos da região a que pertencia.
Desde que Cláudio assumira a direção da quinta, a sua
produção melhorara imenso e os seus vinhos embora ainda não tivessem atingido a qualidade que ele desejava, eram já vinhos muito bons.
Acabado o duche, fechou o chuveiro, enxugou-se, e
completamente nu, passou ao quarto, onde se vestiu.
Aquela casa também era agora bem diferente do que tinha
sido outrora. Quando o pai a comprara, ele não tinha mais do que doze anos. A
casa, uma vivenda térrea, com um bom espaço à sua volta, era uma típica casa de
agricultores, com boa construção, mas poucas comodidades. Quando o pai comprara
a quinta e decidira desistir da agricultura para se dedicar à vinicultura, o
dinheiro escasseava, e a casa manteve-se tal como a tinha comprado. Anos mais
tarde, já os vinhedos a produzirem bem, ele decidiu então transformar a casa e
deixá-la como sonhava. Deixando de pé apenas as estruturas, redimensionou
espaços, deitou abaixo algumas paredes, tornando as divisões maiores, e introduzindo-lhes alterações como nos
quartos, em que cada um tinha acesso a uma casa de banho, para uso pessoal do
ocupante. Também mandara instalar uma moderna cozinha, e um alpendre no espaço
fronteiro à entrada. A casa dispunha ainda de dois quartos de hóspedes, num deles, dormia agora a enfermeira que eles tinham contratado para lhes ajudar a cuidar da mãe,
naqueles primeiros tempos, (porque embora os médicos dissessem que hoje em dia
uma cirurgia de coração aberto, não oferece o risco de outrora, para os leigos
como ele e o pai, era assustador), o escritório que ele partilhava com o pai e
uma sala comum à casa de jantar.
16 comentários:
Cláudio percorrendo os vinhedos. Helena visita museus e monumentos religiosos. Cada um com os seus pensamentos. Que de certeza serão pensando um no outro?
Tenha uma boa tarde de domingo amiga Elvira.
Um abraço.
Foi uma delícia a leitura deste capítulo. Gosto de saber dos gostos e preferências das personagens que leio, gosto de saber do que lhes vai na mente e no coração, podendo, assim, avaliar do seu carácter. Gostar ou não gostar deles. Gostei do que li, gosto do Cláudio!
Um homem de bem.
Será que o final da história se aproxima a passos largos? Veremos!
Abraço.
Com que então um senhor engenheiro agrónomo!
E tem a vida toda organizadinha, só lhe falta mesmo uma mulher para fazer o papel de fada do lar. Vamos esperar que a sogra goste dela e lhe facilite a vida.
Está a fazer-se luz :)) Adorei o episódio! Já estou curiosa pelo próximo :))
:-{ B. C -Poetizando }Juras de amor num alvorecer tão terno.
Bjos
Votos de um óptimo Domingo.
Passando e lendo mais um capítulo delicioso.
BJ e bom domingo
Adorarei este capitulo. Estamos a começar a ligar as coisas !! :) Muito bom!
Beijos - Boa noite!
Mais uma visita para acompanhar esta maravilhosa historia
Bjs
Hoje em Caminhos Percorridos - Mostrando as pernas e os peitos...
Continuando a acompanhar pra nao perder nada!
Gostando! Bjs praianos,chica
E presa à história, cá a vou seguindo :)
Boa noite
Que grande surpresa que os nossos meninos vão ter quando o pai do Cláudio levar a filha lá a casa para apresentação à família.
Acho que vão cair os dois para o lado!
Bjs.
Interesante y llamativa situación, Elvira. Me sirve, además, para practicar la lectura del portugués.
Abrazo.
A passar por cá para acompanhar a história e desejar uma ótima semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Bom dia
Vamos ter mais uma semana na espectativa de um bom final .
JAFR
Acompanhando com bastante gosto e ansiedade!
Beijos!
Oiê!
Gosto muito de vinhos e de conhecer sobre o processo de produção. Amei as informações.
Quando irão encontrar-se de novo cara a cara? Vai ser um choque para ambos...
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