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24.11.15

FOLHA EM BRANCO - PARTE XLVI


                                                    foto do google

Depois do lanche, percorreram o centro, admiraram a fachada do Palácio Nacional de Sintra, e a paisagem envolvente, de onde se destacava no cimo da serra, o Palácio da Pena e o Castelo dos Mouros.
Já ao findar do dia, encaminharam-se para o carro.
Como a jovem continuava calada, Miguel disse:
-  Estás muito calada hoje. Que se passa? Estás zangada?
Foi como quem ateia fogo ao rastilho. A ira, a decepção, a dor da rejeição, explodiram-lhe no peito fazendo-a levantar a voz
- Que se passa, Miguel? És tu que me perguntas, que se passa? Tu a quem ontem, confessei o meu amor, abrindo-te o meu coração? Tu que fizeste com que me sentisse a mulher mais reles do mundo, quando me rejeitaste?
Sentiu como se lhe tivessem dado um murro no estômago. Doía-lhe profundamente a mágoa dela.  Sentindo-se penalizado, respondeu sincero.
- Não te rejeitei. Sabe Deus como queria aceitar a generosa dádiva do teu amor. Mas não é possível. Não posso, -  murmurou com amargura.
- Porquê Miguel? Porque não podes? O que te impede? Não me amas? Tens alguém? É isso?
- Não. Não, tenho ninguém.
- Então, não te entendo. Que pode impedir-nos de ser felizes?
Ele parou. Pôs-lhe as mãos nos ombros, obrigando-a a olhar para ele.
- Olha para mim. Olha com atenção. Vês as rugas à volta dos meus olhos? Os fios brancos no meu cabelo? Tenho quase quarenta e sete anos. Tens vinte, Mariana. Vinte. Podias ser minha filha…
- Mas não sou. E a diferença de idade não me interessa. O que me importa é o teu amor.
- Hoje, talvez não. Mas, serás capaz de dizer o mesmo daqui a vinte anos, quando estiveres na plenitude da vida, e eu na curva descendente? - Perguntou com amargura.
Tinham entrado no carro, mas continuavam no mesmo sítio.
Ó Miguel! Quanto sofrimento! – Levantou a mão, e acariciou  a face masculina - A vida é para ser vivida, hoje, neste momento. Daqui a vinte anos, até posso já ter morrido. Aliás, neste mesmo momento, eu podia já ter morrido. No acidente de carro ou naquele dia na falésia.  Ninguém sabe o que será o dia de amanhã. É o presente que interessa. Repara na palavra. Presente. É o hoje que temos para viver como uma dádiva, um presente da vida. Vamos vivê-lo e ser feliz. Por favor Miguel. Não nos condenes ao sofrimento.
-Não posso, Mariana. Nem  sabes, quanto o desejo. Mas não posso! Conheço-me bem. Se hoje nos amassemos, eu não suportaria perder-te depois.
Amargurado, pôs o carro a trabalhar e arrancou velozmente.


19 comentários:

Edum@nes disse...

Mariana, terá razão em assim pensar. Diz o ditado vale mais um pássaro na mão do que dois a voar. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje. Que se lixe a idade, há que aproveitar enquanto há tempo. Porque amanhã pode ser tarde de mais?

Tenha uma boa tarde, amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.

Maria do Mundo disse...

É muito importante aproveitar o aqui e agora. Mas, também não menos verdade é que às vezes a diferença de idades se sente e nota quando um dos elementos começa a atingir uma idade mais avançada.

São disse...

Vinte anos é ser realmente muito jovem..para alguém com mais do dobro da sua idade.

Beijinho e boa semana

Rogério G.V. Pereira disse...

Se eu fosse motor de carro
tinha-me recusado...

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Rsss... Esta do Rogério foi ótima.
E como é bom quando o amor fala mais alto!
Mas a idade sempre a atrapalhar...
Aguardando!!!
Abração!
Mariangela

Janita disse...

As pessoas têm uma inclinação para complicar a vida que é uma coisa impressionante!
Esse Miguel já me está a fazer nervos, ó Elvira!!
O que interessa a diferença de idade se a moça tem mais maturidade que muitas mulheres der 40?...:)

Tanto obstáculo ultrapassado e agora que tudo parecia encaminhado vêm-me o homem com esses pruridos de quem se habituou ao celibato e tem medo de ser feliz ao lado de uma mulher mais nova?
Santa paciência!!

Um abraço.

( veja lá se fala com o Miguel...)

Janita

Vera Lúcia disse...


Que Miguel 'cabeça-dura"! rsrs...
A vida se mede pelos belos momentos vividos.
Nada importa enquanto existir amor.

Tive um tio que casou-se com uma garota de 18 anos quando ele tinha mais de quarenta. Viveram bem até o dia da partida dele deste mundo, no ano passado, com quase noventa anos.

Beijo.

POESIAS SENSUAIS E CONTOS disse...

A vida em movimento. Relativamente! Uns até conseguem serem felizes e outros conseguem apenas complicações e mais complicações... Uma grandiosa noite

Donetzka Cercck L. Alvarez disse...

PARA QUE COMPLICAR COM ESSE PROBLEMA DE DIFERENÇA DE IDADE. TEMOS QUE VIVER O PRESENTE E SERMOS FELIZES.O FUTURO A DEUS PERTENCE. A HEROÍNA ESTÁ COBERTA DE RAZÃO.

ESTOU ADORANDO SEU CONTO,QUERIDA AMIGA.

VOCÊ ESTÁ CONSEGUINDO PUBLICAR NO MEU ESPAÇO SIM,QUERIDA. É QUE MEU COMPUTADOR DE MESA QUEBROU E ESTOU COM UM LAP TOP HORRÍVEL,QUE MAL CONSIGO LER.POR ISSO,NÃO TENHO ENTRADO MUITO PARA MODERAR E LIBERAR OS COMENTÁRIOS.

OBRIGADA PELA VISITA,BEIJOS SABOR CARINHO E UMA QUARTA-FEIRA DE PAZ PROFUNDA

DONETZKA

Pedro Coimbra disse...

Essas diferenças de idade são sempre complicadas.
E fazem-me grande confusão.

Olinda Melo disse...


Pois. Miguel lá disse o que o amargura e faz infeliz.
E se eu disser que, a meu ver, tanto um como outro têm razão.
A vida não é um mar de rosas e há que pesar bem os prós e os
contras se se tratar de um amor para vida...
Mas também quando há paixão o raciocínio não é para aqui
chamado. Vamos lá ver como é que a Elvira e eles resolvem
este imbróglio.

Bj

Duarte disse...

Como gosto daquilo que escreves!
Também gosto de Sintra, de tudo, mas especialmente deste palácio... mas também dos travesseiros e das queijadas.
Besos

Lua Singular disse...

Ai, Meu Deus
Se eu fosse a Mariana, rasgava a roupa de Miguel numa fúria vergonhosa, se despia rapidamente. Queria ver se aguentava.kkk
Esse seu conto me sinto com meus 24 anos, por isso essas bobagens certas certas que escrevo.
Beijos no coração
Lua Singular

Socorro Melo disse...


Ele tem razão. Ela tem razão. Hum... Mas, quem manda no coração?


Paz e bem!

Rosemildo Sales Furtado disse...

O Miguel que se cuide, pois quem guarda com fome, o gato vem e come.

Abraços,

Furtado.

Portuguesinha disse...

Que debate interessante a história está a gerar.
Uns dizem - e bem - que a idade não importa, etc, etc.
Mas a história conta com a diferença de idades entre um homem mais velho e uma mulher muito mais nova que ele. Mas e se fosse o contrário?

Será que os que defendem essa abertura para o amor não teceriam comentários preconceituosos?
Porque eles existem - os comentários preconceituosos. Não são imaginação, escutam-se na rua.

Laura Santos disse...

A idade não conta para nada, se o amor existe mesmo. É apenas uma questão de convenção social e nada mais.
xx

Berço do Mundo disse...

Bem.... tantas emoções no ar! Essa menina parece muito sábia, para quem só tem 20 anos.
Sigo para o próximo episódio

Portuguesinha disse...

Elvira, fiz "batota" e vim espreitar o resto da história que me parecia familiar. Aqui estou. Apanhei exatamente um capítulo que logo entendi que teria comentado. Estou a recordar a história. Já havia escrito que me parecia familiar - embora não tivesse apanhado o início.

O tempo passa de facto bastante depressa. Já foi em 2015!
O debate nesta história, para mim, foi a diferença de idade. Na altura acho que entendi bem a preocupação de Miguel. Porque o preconceito existe, não é fabricação. Mas com a maturidade dos anos entende-se que o tempo que está por vir é mais curto que o que ficou para trás. E isso põe as coisas em perspectiva. Desperdição um amor em prol de um preconceito... Eu fiz isso, era 7 anos mais velha e deixei isso pesar mais do que a vontade de aproveitar uma paixão. Isso, e outros receios e entraves, claro. Então aprendi: quando se vive de receios, quando se dá muita importância às ideias pré-concebidas socialmente estigmatizadas, já se está a ir no rumo errado. Quem não arrisca, não petisca eheheh. QUando se tenta agradar o "socialmente aceitável" é como a história do velho, o rapaz e o burro. Nunca ninguém está satisfeito e a tua vida pessoal não desenvolve.

Miguel vai arriscar e vai gostar de o ter feito.

Bela história.
Irei continuar a acompanhar o desfecho pelo blogue.