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6.7.18

O DIREITO À VERDADE - XVII


                                  Fonte das lágrimas




Chegaram ao restaurante e a jovem admirou-se ao descobrir que ele já tinha feito marcação, afinal ela pensava que tinham ido ali como poderiam ter ido a qualquer outro lugar.
O almoço foi muito agradável, tanto pelo serviço, como pela conversa animada entre eles. Cláudio estava encantado não só com a cultura e clareza de ideias da jovem, como com a simplicidade com que expunha os seus pontos de vista. Porém notou que ela se retraía e contornava a situação, cada vez que ele tentava saber mais sobre ela, onde vivia o que fazia etc.
No fim da refeição, foram passear pela Quinta das lágrimas, com Cláudio fazendo de guia e explicando à jovem as maravilhas com que se ia deparando naquele lugar tão belo. Passearam pelo jardim medieval, único no país, admiraram as frondosas e bicentenárias sequóias, viram o canal que em 1326 a Rainha Santa Isabel mandara construir para levar a água das duas nascentes para o Convento de Santa Clara. Por esse canal reza a lenda, que Dom Pedro mandava barquinhos com mensagens a Dona Inês, a sua amada que fora obrigada  a entrar para esse convento, por causa desse mesmo amor. Sempre que Pedro podia libertar-se das suas obrigações de futuro rei, refugiava-se nessa quinta e por  esse meio, mandava-lhe mensagens,  pedindo-lhe para se encontrar com ele. 
No local existem duas fontes. Uma chamada Fonte dos Amores, por, diz a lenda, ter presenciado os encontros amorosos de Pedro e Inês. A outra a Fonte das Lágrimas, porque segundo a mesma lenda nasceu das lágrimas de Inês quando do seu assassinato pelos homens de Dom Afonso IV pai de Dom Pedro e rei de Portugal à altura.
O passeio, a envolvência romântica do local, a história trágica de um tão grande amor, a sua recente orfandade, a descoberta do mistério do seu nascimento, a presença marcante do homem que seguia a seu lado e lhe iam mostrando aquele local, tudo isso contribuiu por uma enorme emoção que foi tomando conta de Helena, de tal modo que em determinado momento não conseguiu mais suster um soluço. Cláudio parou, colocou-lhe as mãos nos ombros, e vendo as lágrimas que lhe molhavam as faces, abraçou-a e quase de forma inconsciente, baixou a cabeça e procurou a boca feminina. Não foi um beijo apaixonado, invasivo, foi antes um beijo suave cheio de ternura, mas que incendiou o coração da jovem, virgem de carícias masculinas. Assustada com as reações que o seu corpo experimentava, colocou as duas mãos sobre o peito masculino e empurrou-o.
- Por favor, Cláudio, leva-me ao hotel.
- Não fiques assim. Foi apenas um gesto de carinho, uma reação à tua emoção.
-Reages à emoção das pessoas beijando-as? Eu não. E não me agrada, que um quase desconhecido me beije.
- Estás a ser criança, Lena. Primeiro porque como deves saber muito bem, um beijo entre um homem e uma mulher é muito mais que o toque carinhoso que  te dei. Segundo, prometi que te ia mostrar alguns pontos interessantes de Coimbra e ainda não vimos quase nada. Vamos para o carro.
Ela não respondeu. Limitou-se a encaminhar-se para a saída da quinta. Claro que ela sabia que aquilo não era um beijo de amor. Não por experiência própria mas sabia-o. Porém se a reação do seu corpo foi tão poderosa que ainda sentia as pernas a tremer, se tivesse sido mais intenso morreria queimada na fogueira que o seu corpo ateara.
Enquanto isso, o homem interrogava-se. Em que mundo teria ela vivido até então, para ficar tão perturbada com um simples toque de carinho. Afinal o calendário marcava o mês de Agosto do ano da graça de dois mil e quinze, e ela tinha vinte e três anos que ele reparara na data de nascimento, quando fora fazer a inscrição no hospital. Devia ter sido beijada dezenas de vezes. Que raio de reação fora aquela?



13 comentários:

Jaime Portela disse...

Nem sempre é fácil perceber o óbvio numa mulher...
A história está a ser bem interessante. Estou a gostar muito.
Amiga Elvira, bom fim de semana.
Beijo.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhar esta interessante história.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Larissa Santos disse...

Para mim apaixonou-se e não sei se pode.. Ai minha nossa senhora das lágrimas.. kkkkkkk :))

Bjos
Votos de uma óptima Sexta - Feira.

chica disse...

As coisas estão bem românticas e ela a derreter-se... Vamos aguardar! bjs, chica

Edum@nes disse...

O lugar escolhido pelo "mariola, do Cláudio, para almoçarem não terá sido por acaso? Se Helena com um tocar de lábios quase que incendiou o seu corpo. A seguir o que é que mais irá acontecer?

Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
temos de saber evitar os espinhos quando se colhem as rosas.
Será que não vai haver aqui um amor impossível ??
JAFR

Cidália Ferreira disse...

Tão bonito! Cada dia gosto mais deste conto. Isto promete! :)

Hoje - A janela, reflexos da minha alma.

Beijos e um excelente fim de semana!

Os olhares da Gracinha! disse...

O cenário é perfeito!
O romance paira no ar!
bj

noname disse...

E, como sempre, as suas histórias prendem o leitor.

Está melhor?

Janita disse...

Ah meu Deus! Mas que mania as pessoas aquilatarem da experiência de vida dos outros, sobretudo das mulheres, pelos anos de vida que têm! Enfim!..
O Cláudio está a ir depressa demais pra meu gosto! Estou a ver que de mulheres percebe pouco. :))

Está a ficar muito interessante, mas espero que a Helena não se esqueça dos motivos que a levaram a sair de Lisboa. :)

Um abraço, bom fim de semana.

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história e desejar um bom fim de semana!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Duarte disse...

Como narras! Neste caso aproximando-nos a um ponto geográfico que fez historia, e ficou para sempre na historia.
Beijinhos.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Cada vez mais empolgante essa história!
Beijos!