Eram exatamente três da tarde quando Olga introduziu o advogado David Varanda no gabinete do seu chefe.
David era um homem alto, moreno, de cabelos castanho-claro
e olhos cinzentos.
-Boa tarde, -saudou o visitante estendendo-lhe a sua mão direita.
João apertou a mão que ele lhe estendia com alguma
curiosidade, tanto mais que lhe pareceu detetar uma certa emoção no olhar do advogado. Então disse:
- Boa tarde, doutor Varanda. Por favor sente-se, e diga-me
o que o trouxe cá. Confesso que estou curioso. A minha empresa tem um gabinete
jurídico, e é com os meus advogados que todos os assuntos de lei são tratados.
-Eu sei. Mas o assunto que me trás aqui é pessoal, e nada
tem a ver com as leis. Confesso que antes de tentar esta entrevista,
investiguei o seu historial. Sei que é um empresário de sucesso, a propósito,
deixe-me cumprimentá-lo pelo recente lançamento do Survive 2. Sei também que é
um homem rico, mas nenhuma destas coisas me fariam visitá-lo, pois me preocupo mais com o carater de um homem do que com o peso da sua carteira. O que me trouxe aqui,
foi a informação de que é um homem que subiu na vida à custa do seu esforço,
mas é considerado por todos, clientes e empregados um homem honesto.
Enquanto o advogado falava, João tentava descobrir onde é, que ele
queria chegar.
-O nome Braizinha diz-lhe alguma coisa? -perguntou David
após uma curta pausa.
João fez um esforço de memória, mas não recordou ninguém
com aquele nome.
-Não, nada. Porquê?
-Porque era o apelido de solteira da sua mãe, e pensei que
embora não o usasse faria parte do seu nome.
- Mãe? Que mãe? - disse o empresário pondo-se de pé. Eu não tive mãe. Uma mulher
que dá à luz uma criança e a abandona para seguir um qualquer macho que lhe
aparece na frente, não pode ser considerada mãe de ninguém. Não é mais do que
uma…
-Não o digas, - interrompeu David, levantando-se o rosto
vermelho e o punho cerrado. Não quero ter de te partir a cara.
Os dois tinham levantado tanto a voz, que Olga se assustou e após uma leve
batida entrou no gabinete, onde os dois homens se olhavam numa atitude tão
agressiva que ela temeu começassem a lutar como dois miúdos de rua.
-Vinha perguntar se desejam alguma coisa – disse tentando
amenizar o ambiente. Um café, uma bebida?
João foi o primeiro a reagir. Virou costas ao advogado e
foi sentar-se. Acabara de perceber que só um filho, ou um marido, defenderia
assim uma mulher. David era demasiado novo para ser casado com aquela mulher –
não conseguia pensar na progenitora como mãe, - logo aquele advogado, que até ao momento nunca vira, só podia ser, seu
meio irmão.
- Eu preciso de uma bebida forte. E tu David, queres alguma
coisa? Mas por favor senta-te, - disse ao ver que o outro continuava de pé.
- Nunca bebo álcool em horário de trabalho. Aceito um café.
- Então traz-nos dois cafés bem fortes, por favor.
Olga saiu para executar o pedido, completamente atónita.
Como era possível que o seu chefe estivesse quase a iniciar uma luta com um
homem que lhe dissera não conhecer, e de repente mudasse totalmente de atitude? Que se estava a passar lá dentro? Deveria chamar a
segurança para ficar ali de prevenção?