Mais tarde, Teresa recordaria
aquela primeira saída com o empresário como um dia especial. O almoço decorrera
em harmonia, como se efetivamente fossem velhos amigos. João falou do seu
trabalho, dentro da firma que ele mesmo criara, do jogo que lançara na véspera,
de como se sentia feliz e divertido enquanto criador de jogos, que iriam
divertir muita gente em todo o mundo.
Teresa disse que era mais ou
menos a mesma sensação que ela sentia, quando conseguiam um novo creme ou uma
nova massa.
- És pasteleira? Foi o que
cursaste?
- Não. Cheguei ao último ano
de Economia. Fui até há pouco tempo a
gerente. Tenho um pasteleiro, um homem fantástico, que me ensinou muitos dos
segredos de pastelaria e com quem gosto de experimentar novas criações. Mário é
um homem incrível, sem ele não teria conseguido o sucesso que consegui. Foi
ele que ao levar-me até ao seio da sua família, evitou a minha solidão, quando
a minha tia-avó Julieta morreu.
João, remexeu-se na cadeira. Quem
raio era aquele Mário, de quem ela falava com tanto entusiasmo. Sentiu-se
incomodado. Ele não podia estar com ciúmes do pasteleiro, ou podia? Alheia aos
pensamentos do empresário, Teresa continuou:
-Fui até há pouco tempo a
gerente. Agora estou afastada. Contratei a filha do Mário como gerente. É minha
amiga, tenho plena confiança nela, e sei que o pai a ajudará nalgum problema
que possa surgir como me ajudou a mim, tantas vezes. Há cinco anos que trabalho
de segunda a sábado mais de doze horas por dia. Resolvi fazer uma pausa durante
um ano ou dois. Graças a Deus o negócio vai muito bem, posso dar-me a esse
luxo.
Tinham acabado a refeição, e
Teresa sentia-se feliz porque não se sentira enjoada, nem com vómitos como ao
pequeno almoço.
O empregado retirou o serviço
deixando a carta das sobremesas e eles escolheram “Ananás dos Açores confitado”
Depois do café que apenas João
tomou, ele pediu e pagou a conta. Saíram do restaurante e caminharam lado a lado, em direção ao Mercedes
que os esperava no parque. Apesar do empresário não lhe ter tocado, Teresa
estava por demais consciente do homem que seguia a seu lado. Já no automóvel,
ele disse:
-Gostava de te mostrar a minha
empresa. É sábado, não haverá ninguém lá senão o porteiro e os seguranças.
Queres ir, ou sentes-te muito cansada?
-Estou um pouco cansada sim,
mas o pior é o sono. Estou tão sonolenta que sou capaz de me deixar dormir no
carro.
- Se assim é, faz a vontade ao
corpo. Eu vou devagar, e quando chegarmos já estarás mais desperta.
Pôs o carro a trabalhar e fez
a manobra para seguir em direção a Sintra. A volta era maior, mas se ela adormecesse
dava-lhe um pouco mais de tempo para descansar. Sentia-se bem junto dela, não
queria ir já levá-la a casa. Era a primeira vez que se sentia tão bem junto de
uma mulher que não era sua amante. Bom,
também se sentia bem quando saía com Olga. Mas Olga não contava. Era como uma
irmã mais velha. Naquele momento ouviu uma respiração diferente e olhou a sua
companheira. Teresa tinha adormecido.
Tinha no rosto uma expressão suave, nada semelhante à tensão que demonstrava na ida para o almoço. Parece que a sua estratégia para ganhar a confiança dela, estava a resultar.