Teresa dormiu mal, incomodada por uma dor nas costas que não a largava desde as dez horas da noite. Não que ultimamente não tivesse sempre dores, só o ter que estar deitada há quase dois meses lhe fazia dores no corpo, mas aquelas eram mais intensas.
Será que estava com alguma
infeção urinaria, interrogou-se? Tentou virar-se para o outro lado e gemeu
levando à boca o lençol para evitar acordar a enfermeira. "Coitada" - pensou - também quase não dormira, ela levara a noite a chamá-la, a toda a hora aflita por uma
premente vontade de urinar. Os últimos tempos não tinham sido nada fáceis, mas
Graças a Deus, a gravidez estava quase no fim.
O mês de Fevereiro ia a meio e ela tinha a cesariana marcada para o dia um de Março, altura em que estaria com trinta e seis semanas.
Para trás ficara o casamento do cunhado, a que não assistira, o Natal passado em casa, com os noivos, acabados de regressar da lua-de-mel, Olga, e a Inês e família. Nessa altura ela dera folga às enfermeiras, para que também elas tivessem o Natal com as suas famílias, e Olga fizera questão de dormir no seu quarto e cuidar dela com todo o carinho. Às vezes Teresa pensava, no que levara Olga a escolher uma vida solitária. Apesar dos quarenta e seis anos, tinha ainda um aspeto jovem, era bonita, inteligente e carinhosa.
Voltou a sentir uma dor mais forte e desta
vez não conseguir evitar o lamento que acordou a enfermeira. Gabriela
levantou-se e aproximou-se da cama.
-Que se passa dona Teresa? - perguntou a ver o seu rosto pálido e crispado.
Teresa explicou-lhe e a enfermeira alarmou-se:
- Meu Deus devia ter-me dito logo ontem, - disse afastando
a roupa para a observar precisamente no momento em que a bolsa amniótica se rompia e Teresa tinha a sensação de que acabava de fazer xixi na cama. Gabriela endireitou-se e correu para o telemóvel dizendo:
- Os bebés não querem esperar mais tempo. Vou chamar a
ambulância, e telefonar à doutora Laura.
Ao mesmo tempo que falava ao telemóvel, ela corria para o quarto de vestir onde pegou nas malas com as roupas dos bebés, para levar para o
hospital e colocou-as em cima do sofá. Depois foi bater à porta do quarto do
empresário gritando que tinha chegado a hora.
Correu à casa de banho, lavou-se e vestiu-se com toda a
rapidez.
Depois ajudou Teresa a sentar-se na cama para trocar a camisa de dormir molhada e vestir-lhe o
robe. Tinha acabado de o fazer quando João entrou no quarto já vestido, e os dois ajudaram Teresa a deslocar-se até ao sofá, porque a cama estava toda molhada. Ela movia-se com muita dificuldade. Estava com trinta e quatro semanas
e além das dores, pesava mais vinte e cinco quilos.
Já no sofá agarrou a mão do marido como se buscasse nele a coragem que lhe faltava.
-Tenho tanto medo, João. E se eles ainda não estão capazes
de sobreviverem? - disse com as lágrimas a deslizar pelo rosto pálido e suado.
Embora ele também estivesse apreensivo, disse:
-Não penses nisso, amor. A natureza é sábia. Se eles querem
nascer é porque estão prontos para enfrentar o mundo. E depois a doutora Laura não te receitou aquele medicamento para acelerar o desenvolvimento dos pulmões e parte respiratória? Vai correr tudo bem, vais
ver.
Naquele momento chegou a ambulância e os paramédicos apressaram-se a transportar a jovem depois de terem sido informados pela enfermeira do "rebentamento das águas" e de que se tratava de uma gravidez múltipla de trinta e quatro semanas.
Já na entrada do elevador, o empresário disse:
-A Gabriela pode ir para casa. Eu sigo com a Teresa para o hospital.
- Por favor dê-me notícias. Fico em cuidado, - respondeu a enfermeira.