-Mas estas semanas alteraram tudo. O ter descoberto a verdade sobre a minha mãe, fez-me encarar as mulheres com outra confiança e pela primeira vez nos meus quase trinta e cinco anos, comecei a pensar que afinal o amor pode realmente existir, e não ser uma miragem, inventada por poetas e romancistas.
Teresa escutara-o sem o interromper e continuou mais um
longo minuto em silêncio, fazendo com que João se sentisse cada vez mais
nervoso.
-Se bem entendo, acabas de me propor casamento, - disse por fim. Como sabes, essa é uma ideia que nunca me passou pela cabeça, pois tinha tão má ideia dos homens, como tu das mulheres.
Também para mim, estas seis semanas alteraram muita coisa. Meu Deus, quando a médica me disse que em vez de um, eram três bebés, e que estava em risco de os perder, tive tanto medo. E quando me disse o que tinha de fazer fiquei apavorada. Como ia poder ficar os dias de cama, sem ninguém de família que me fizesse as coisas?
A Inês é uma grande amiga, mas além da gerência da pastelaria, tem marido e um filho pequeno que requer muita atenção. Mas então tu chegaste e num instante resolveste tudo. E quando acordei na madrugada daquela primeira noite, e te vi no sofá, a postos para me ajudar se fosse preciso, também a minha ideia sobre os homens, sofreu um choque.
Fez uma pequena pausa e continuou.
Estas semanas de convívio, os teus cuidados, as longas conversas que temos tido, as confidências, tudo contribuiu para me convencer de que estava enganada e não te podia julgar pelos trastes que foram meu avô, meu pai e o Alfredo. Esse convívio, também fez com que te ganhasse um certo carinho, mas temo que isso por si só, não seja suficiente para que duas pessoas possam ser felizes juntas uma vida inteira, com todas as adversidades que ela acarreta, muitas vezes.
E o casamento, apenas por causa das crianças, não me convence. Se nós estivermos infelizes com a relação, eles vão dar-se conta disso e vão sofrer mais, do que se vivessem apenas com um dos dois.
Por favor não me interrompas, - disse ao ver que ele se preparava para o fazer. – Ainda não acabei. Eu não seria capaz de aceitar um homem na minha cama, sem um sentimento forte por ele. De modo, que em vez de argumentares, cala-te e beija-me.
- Queres que te beije?
De verdade? – perguntou ele surpreso.
- Sim, homem, quero que me beijes, agora, de verdade com tudo
o que sentires.
- Mas… porquê agora?
- Porque os dois vivemos quase toda a vida, desconfiando do sexo oposto, sem acreditar no amor, e sem permitir a ninguém que penetrasse nos nossos sentimentos mais íntimos. Sentir desejo é fácil, ambos somos jovens, saudáveis, e bastante apresentáveis.
Mas isso sendo importante, também não é suficiente, se não houver algo mais. É fácil juntar dois corpos, mas sentir aquela intimidade de duas almas que se completam, é totalmente diferente. E se não o sentirmos num simples beijo como vamos conseguir um casamento feliz? A paixão morre quando acaba a novidade. Tem que existir algo mais, para que a intimidade, e o amor persistam.