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31.12.18

MENSAGEM DO ÚLTIMO DIA DE 2018



O ano que aí vem é regido por Marte, o Deus da Guerra. E se Marte tem muitos aspetos positivos, infelizmente a nossa evolução só tem atraído a negatividade. O último ano regido por Marte, foi 2015. Lembram-se dele? Pois é. 
Será que evoluímos o suficiente para que 2019 seja mais benéfico? Recebi por email o aviso abaixo. Conferi e realmente estamos no quarto minguante.  Por isso aqui deixo o aviso para quem acredita nestes rituais.




Aviso para terem cuidado com a virada do ano, estaremos em lua minguante, cuidado com os pedidos. Se forem pedir prosperidade e amor numa lua minguante, com certeza não terão. Lua minguante é de banimento, ela mingua tudo e para desafiar mais um pouco, dia 1° será Terça feira, dia de banimento mesmo. Quando fizerem pedidos, façam da seguinte forma: Desejo banir pobreza, dívidas, doenças, medo, sofrimento, solidão, falta de amor, energias negativas, pessoas negativas, enfim, tudo que seja negativo.
A cor da virada do ano é vermelha. Por Flavia Amendola




Verdade ou Superstição? Não sei. Mas acreditando ou não, todos vamos memorizando em silêncio os nossos mais caros anseios enquanto mastigamos as 12 passas. Por isso aqui deixo o aviso.






30.12.18

O AMOR E O BARQUEIRO

  

Chegando, afinal, à margem do grande rio, o Amor avistou três barqueiros que se achavam, indolentes, recostados às pedras.
Dirigiu-se ao primeiro:
– Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?
Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:
– Não posso, menino! É impossível para mim.
O Amor recorreu, então, ao segundo barqueiro, que se divertia em atirar pedrinhas ao seio tumultuoso da correnteza.
– Não. Não posso – respondeu secamente.
O terceiro e último barqueiro, que parecia o mais velho, não esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio. Levantou-se, tranquilo, e estendendo-lhe bondosamente a larga mão, disse-lhe:
– Vem comigo, menino! Levo-te sem demora para o outro lado.
Em meio da travessia, notando o Amor a segurança com que o velho barqueiro navegava, perguntou-lhe:
– Quem és tu? Quem são aqueles dois que se recusaram a atender ao meu pedido?
– Menino – respondeu, paciente, o bom remador – o primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo. Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o Amor.
– E tu, quem és, afinal?…
– Eu sou o Tempo, meu filho – atalhou o velho barqueiro. – Aprende para sempre a generosa verdade. Só o Tempo é que faz passar o Amor!
E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento de seus braços possantes fosse regulado por um pêndulo invisível e eterno.
Sofrimento, Desprezo… Que importa tudo isso ao coração apaixonado? O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor.

Malba Tahan, in Os Melhores Contos


Amigos continuo a vir ao pc o mínimo possível, pois vejo mal do olho esquerdo à espera da cirurgia logo que o direito esteja bem o que está difícil. Essa é a razão da minha ausência. Todos os contos apresentados durante o mês estavam programados desde Novembro. Estou muito grata a todos pelo vosso carinho. Bem Hajam.

29.12.18

A HISTÓRIA DO PERDÃO




Yom Kipur ou Kippur é um dos dias mais importantes do judaísmo. No calendário hebraico começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebraico de Tishrei (que coincide com setembro ou outubro), continuando até ao pôr do sol seguinte. Os judeus observam tradicionalmente esse feriado com um período de jejum e orações.
O pai de Hanoch contou-lhe que, todos os anos, quando era novo, na véspera do Yom Kippuria visitar os seus amigos e conhecidos e fazia-lhes a seguinte pergunta:
— Digam-me, por favor, se vos fiz algum mal, se vos ofendi de alguma forma, ou fui causa de infelicidade. Se o fui, lamento profundamente e peço-vos perdão.
Esta história deu que pensar a Hanoch. O rapazinho disse para consigo “E porque não faço eu a mesma coisa?”
Correu para a cozinha, onde a mãe preparava o jantar, atarefada. Reinava ali um grande reboliço, com panelas e frigideiras a fumegar, e um cheirinho agradável no ar.
Ficou junto da porta e esperou pelo momento certo para falar com a mãe. Quando esta o viu, deixou as sertãs e perguntou-lhe:
— O que se passa, filho? Já tens fome?
Hanoch não respondeu. Sentia-se desconfortável.
— Porque estás tão calado, querido? — insistiu a mãe. — Não te sentes bem? Diz-me o que se passa.
— Não estou doente, mamã.
— Nesse caso, o que te traz à cozinha no meio da minha azáfama? É melhor ires brincar.
Hanoch foi até junto da mãe e segredou-lhe:
— Hoje é véspera do Yom Kippur e venho pedir-te que me perdoes.
— Perdoar-te, filho? Porquê? O que fizeste?
— Talvez te tenhas esquecido, mamã. Foi quando tiveste aquela dor de cabeça, e estavas deitada. Pediste-me que guardasse as galinhas na capoeira. Prometi-te que o faria, mas fui brincar com os outros meninos. Fui andar com eles de bicicleta e esqueci-me das galinhas. E cinco galinhas foram encontradas mortas na manhã seguinte. Não te disse nada naquela altura porque me sentia muito infeliz.
Enquanto falava, Hanoch tinha lágrimas nos olhos.
— Mas hoje tive de te contar e pedir-te que me perdoes.
A mãe olhou para ele com amor e beijou-o.
— Claro que te perdoo!
O menino abraçou-a e, com o coração já bem mais leve, foi brincar.
Leslie Daiken
Gan-Gani Let us play in Israel
Tel-Aviv, N. Tversky Publishing House, 1966

28.12.18

O ESPÍRITO DE NATAL





Estava o Senhor Teotónio, que era rico, muito gordo e grande fumador de charutos, a carregar o carro com os presentes que passara a manhã a comprar para os filhos, para os sobrinhos e para as muitas pessoas com quem fazia negócios, quando se aproximou dele um homem pobre, idoso e magro, que prontamente obteve dele esta resposta:
— Comigo não perca tempo porque não tenho dinheiro trocado, nem alimento falsos mendigos.
— Mas eu não lhe pedi nada — respondeu o homem idoso serenamente, com um sorriso que desarmou o Senhor Teotónio e a sua bazófia de novo-rico.
— Então se não me quer pedir nada, por que motivo está tão perto de mim enquanto eu carrego o meu carro? — perguntou o Senhor Teotónio entre duas baforadas de charuto que fizeram o homem idoso e magro tossir convulsivamente.
— Estou aqui, meu caro senhor — respondeu ele, já refeito da tosse — para tentar perceber o que as pessoas dão umas às outras no Natal.
— Com que então — concluiu ironicamente o Senhor Teotónio, grande construtor civil com interesses de norte a sul do País — temos aqui um observador! Deve ser, certamente, de uma dessas organizações internacionais que nós pagamos com o nosso dinheiro e que não sabemos bem para que servem.
— Está muito enganado. Mas já agora responda à minha pergunta: o que é que as pessoas dão umas às outras no Natal? — insistiu o homem pobre, idoso e magro.
— Bem, se quer mesmo saber, eu digo-lhe. Quem tem posses como eu pode comprar uma loja inteira, deixando toda a gente feliz, a começar nos comerciantes e a acabar nas pessoas que vão receber os presentes. Quem é pobre como você fica a assistir. Percebeu a diferença?
O homem magro e idoso reflectiu uns instantes sobre a resposta seca e sarcástica do Senhor Teotónio e depois respondeu-lhe com uma nova pergunta:
— Então e o espírito do Natal?
— O que vem a ser isso do espírito do Natal? — quis saber, cheio de curiosidade, o Senhor Teotónio.
— O espírito do Natal — respondeu o homem idoso e magro — é aquilo que nos vai na alma nesta altura do ano e que está muito para além dos presentes que damos. Para muitas pessoas, o melhor presente pode ser um telefonema, uma carícia ou um telefonema quando se está só.
— Era só o que me faltava agora — desabafou, enfastiado, o Senhor Teotónio, enquanto arrumava os últimos presentes na mala do automóvel — ter agora um filósofo, ainda por cima vagabundo, para aqui a debitar sentenças.
O homem magro e idoso afastou-se do carro, mostrando que não queria esmolas nem qualquer outra coisa que lhe pudesse ser dada pelo Senhor Teotónio, e encaminhou-se para um grupo de crianças que o esperavam.
Quando o Senhor Teotónio passou por eles no carro, ouviu uma voz de criança a dizer:
— Vamos, Espírito do Natal, porque hoje ainda temos muito que fazer.
Dizendo isto, o grupo ergueu-se no ar a esvoaçar com destino incerto, largando um pó luminoso enquanto ganhava altura no céu cinzento de Dezembro.



José Jorge Letria
A Árvore das Histórias de Natal
Porto, Ambar, 2006



Este é o último conto de Natal de 2018. Ainda tinha programados mais três mas ficarão para o próximo Natal.
Para que pergunta pelo meu olho, estou melhor mas não tanto quanto gostaria. Já não ando perdida no nevoeiro e deixei de ver em duplicado, mas ainda vejo desfocado. Continuo a sentir a impressão de ter uma areia no olho mas já não dói.
Obrigada a todos pelo vosso carinho. Bem Hajam

27.12.18

UMA ÁRVORE DE NATAL ESPECIAL






Estar aborrecido com o que não tens é desperdiçar o que tens.
Ken S. Keyes





Era um dia frio, depressivo em vários sentidos. O Natal estava a aproximar-se e, como mãe solteira de três crianças a viver de apoios financeiros esporádicos, eu tentava fazer com que o pouco dinheiro que tinha esticasse em várias e diferentes direções. A minha mãe e o meu pai, juntamente com outros parentes bondosos, fariam com que os rapazes tivessem presentes, e a grande festa de Natal seria em casa do meu irmão. Por isso, eles cuidariam que o essencial não faltasse.
A festa de Natal anual feita na escola pouco contribuiu para me animar e, no caminho para casa, o vento cinzento e tempestuoso, arrastando a minha velha e pequena pick-up na estrada, apenas tornava as coisas pior.
Naquela noite, a questão seria colocada, como era todas as noites, por um ou por todos os rapazes: quando faremos a nossa árvore de Natal? E disseram-me de forma inequívoca que o Pai Natal não teria onde colocar os presentes se não tivéssemos uma árvore de Natal… Infelizmente, descobri que mesmo as árvores mais pequenas para venda nos Escuteiros estavam muito para além do meu orçamento.
Pequenos e grandes ramos agitavam-se em todas as direções, tornando a condução ainda mais desafiadora. Pareciam empurrar-se uns aos outros para fora do caminho, como se estivessem a fazer uma corrida para ver qual deles poderia saltar para a minha frente em primeiro lugar.
Muitos eram compactos, vacilando de um lado para o outro, como que a decidir o caminho a seguir. Alguns deles até se pareciam um pouco com uma árvore de Natal… De repente, fui arrastada para a berma da estrada, saí do carro e aguardei que um deles viesse ter comigo. O primeiro que vi era de tamanho médio, de cerca de sessenta centímetros de altura e noventa centímetros de largura. Amarrei-o na parte de trás do camião, e comecei a andar pelo campo, à procura de ramos ainda mais pequenos e com uma forma mais adequada. Não sabia muito bem o que ia fazer com eles, mas cheguei a casa com quatro e levei-os para a sala de estar. Quando as crianças chegaram, questionaram-me sobre a pilha de ramos a formarem um tufo denso e castanho…

— Esta vai ser a nossa árvore de Natal — disse eu, sabendo que seria realmente difícil convencê-los. — Será uma árvore como nenhuma outra e nenhum dos nossos amigos vai ter uma igual! E até ficaria muito surpreendida se nenhum fotógrafo viesse cá para lhe tirar uma foto…
Os meus filhos ouviram com educação, olhando fixamente o tempo todo para as quatro manchas de densa folhagem. O olhar de descrença no rosto deles era o mesmo que exibiram quando lhes disse que as cenouras eram boas para os olhos e que os espinafres iriam torná-los fortes…
No dia seguinte, tinha de pensar em algo antes que eles chegassem a casa da escola. Andei em torno das ramagens várias vezes, estudando a sua forma e tamanho individuais. A mais pequena era pontiaguda, e com uma fina corda branca pendurei-a no teto em frente da janela da sala de jantar, com o fundo arredondado virado para o chão. As três mais redondas foram penduradas à volta, dando a ilusão de árvores suspensas, com muito espaço em baixo para os presentes do Pai Natal.
Mas ainda não estava parecida com uma árvore de Natal!
Encontrei então uma lata de spray de tinta branca e alguns brilhantes multicoloridos que sobraram de um projeto da escola. Pendurei um lençol sobre a janela para protegê-la da tinta, pulverizei a “árvore” e, então, cuidadosamente, polvilhei-a com os brilhantes. Os arbustos eram demasiado frágeis para luzes tão pesadas. Então, cautelosamente, enfiei pequenas luzes brancas em volta do perímetro de cada um deles. O enfeite refletia as luzes, dando um efeito cintilante. Adicionei apenas os ornamentos mais pequenos, e o nosso anjo tradicional, que já vira melhores dias, encaixou-se perfeitamente no ponto mais alto do arbusto pontiagudo. Ficou maravilhoso!
As crianças olharam pela janela antes de entraram em casa, e correram para ver a minha criação.
— Parece um sonho bom! — disse o mais novo, aprovando.
Todas as crianças do bairro vieram naquela noite e ouviram-se ooohed! e aaahed! em torno da nossa árvore de Natal.
Felizmente, este seria o último ano em que teríamos um orçamento tão apertado. A nossa situação familiar mudou, e começou a haver dinheiro para uma grande árvore de Natal na nossa nova casa grande. Ficámos gratos por isso. Mas tempos difíceis tinham exigido criatividade, e não teríamos descoberto isso se tal não tivesse acontecido.
Os meus filhos são agora homens e têm as suas próprias famílias. Mas todos os anos, pelo Natal, alguém conta a história da nossa peculiar árvore de Natal. Como a mãe queria algo diferente, procurou arbustos ao longo de quilómetros pelos campos abertos, debaixo de uma enorme ventania, tentando apanhar os mais perfeitos. Estava cansada das mesmas árvores de sempre…
Sorrimos todos, e até hoje concordamos que aquela foi a árvore de Natal mais bonita de sempre!



Jackie Fleming


26.12.18

LENDA DO PINHEIRO DE NATAL


 A tradição de enfeitar árvores tem origem em costumes pagãos anteriores ao cristianismo, que durante as festividades ligadas à natureza e à fertilidade da terra elegiam árvore como um símbolo dessa força da natureza. Este era um costume presente em muitas culturas do mundo antigo, desde os egípcios aos helénicos (gregos), romanos e sobretudo os celtas. Com o estabelecimento do cristianismo tal costume passou a ser proibido. Foi só com surgimento dos movimentos protestantes, iniciados pelo alemão Martinho Lutero que a prática de decoração de árvores foi retomada e introduzida nas celebrações de Natal, muito provavelmente como modo de desafio às proibições da igreja católica. Assim nasceu o conceito da árvore de Natal. A adoção de tal prática – hoje em dia indissociável da época natalícia – não foi rápida e encontrou mais resistência nos países em que a igreja católica exercia muita influência. Em Portugal, por exemplo, somente no século XIX é que a árvore de Natal passou a ocupar um lugar nos lares durante a época do Natal. A árvore de Natal é, por tradição, uma árvore conífera (pinheiros, cipestres, abetos), não só porque são o tipo mais comum de árvore na Europa mas também porque estão verdes o ano todo, simbolizando por isso a perfeição e a vida. Em Portugal é o pinheiro a árvore de Natal por excelência e indissociável à época.  Na região transmontana conta-se uma lenda sobre a origem do Pinheiro de Natal. Segue-se a lenda:


Diz-se que quando Jesus nasceu as árvores de todo o mundo floresceram e revestiram-se de flores nesse dia. Todas, exceto o pinheiro. Sendo o pinheiro uma árvore que não produz flores, tudo o que lhe nasceu foram pinhas, e apesar de ter muito orgulho nelas, ele viu que, ao lado das outras árvores, tinha um aspeto muito humilde. Por isso entristeceu-se e envergonhou-se por não conseguir homenagear o nascimento do menino Jesus com a mesma beleza das outras árvores. Ouvindo o seu lamento, os anjos apiedaram-se da sua condição e decidiram ajudá-lo. Do céu colheram estrelas e com elas foram-lhe enfeitar os ramos. O pinheiro ficou radiante e brilhou com tanta luz que gente de muito longe avistou o pinheiro iluminado no meio da serra e veio ver o que era aquilo. E a todos os que chegavam o pinheirinho dizia: — Alegrem-se! Hoje nasceu o Salvador do Mundo!  


A partir desse dia o pinheiro passou a ser celebrado como a árvore que se decora por altura do Natal em comemoração no nascimento do menino Jesus

(Contos de Natal Portugueses)



Espero que tenham tido um Feliz Natal. O meu foi passado entre a esperança de me ver recuperada, e o desanimo de não ver melhoras substanciais. Mas graças a Deus não voltei a ter dores e acho que isso é bom sinal.

25.12.18

MENSAGEM DE NATAL






A todos os amigos e amigas, que ao longo do ano me

 distinguiram e honraram com a vossa amizade e na

 impossibilidade de vos visitar a todos nos vossos cantinhos, 

por causa do "farol" direito que qual D. Sebastião, anda 

perdido pelo nevoeiro, desejo que tenham um Santo e Feliz 

Natal, com saúde, amor, e muitas alegria, mesmo que as 

prendas não abundem. Quando os anos passarem, as 

vossas memórias de ouro, não serão as prendas, mas a 

alegria das crianças, o sorriso compreensivo dos mais 


velhos, o abraço de quem há tempos não se via.




FELIZ NATAL




23.12.18

FELIZ NATAL


Todos os anos era a mesma coisa: eu e minha irmã, que já estávamos dormindo, sendo acordados pelos nossos pais para irmos à Missa do Galo , onde sempre , logo no início da celebração, meu pai se lembrava de que havia esquecido alguma coisa em casa e que precisava voltar lá para apanhá-la …
ele ia e, sempre, só voltava já no final da missa …
E logo que acabava a solenidade, lá íamos nós de volta p#ra casa, cambaleando e cheios de sono … e quando chegávamos, sempre todas as luzes da casa estavam acesas e o meu pai corria na nossa frente e dizia para que nós esperássemos um pouco no portão, porque pode- ria ser algum ladrão …Mas logo depois Ele voltava , chegava na porta e dizia:
– #Papai Noel esteve aqui ! …Só pode ter sido enquanto eu fui apanhar vocês na igreja!…E olha só isso: ele deixou uma porção de presentes no fogão!…#.
E então nós corríamos e sempre encontrávamos o fogão todo enfeitado e cheio de presentes : uma bicicleta que minha irmã havia pedido na sua #cartinha# e o chão todo sujo de cocô de um pato #de verdade# que eu havia pedido ao Papai Noel e que estava lá, amarrado num dos pés do velho fogão …Sempre também tinham outros presentes que, geralmente, eram roupas e sapatos que o Papai Noel, com todos os seus conhecimentos sobrenaturais , bem sabia que nós estávamos precisando …
Êle também sempre deixava #pegadas# da sua bota no chão da cozinha, as quais iam do fogão até a janela…e elas eram brancas #como talco#, mas os nossos pais nos diziam que o trenó do Papai Noel era todo forrado com talco, para que os presentes ficassem bem cheirosos … e nós acreditávamos!
A mesa da sala também sempre estava enfeitada para a ceia, que tinha bolo , castanhas, rabanadas , passas … e também refresco de vinho-tinto com água …
Mas quase sempre a ceia só era apreciada mesmo no café da manhã do dia seguinte, porque no resto da noite de Natal nós ficávamos era brincando com os presentes …
Das melhores coisas da minha infância, ficaram na minha lembrança esses antigos natais …
Marcelo Cardoso


22.12.18

NADA DEBAIXO DA ÁRVORE





As melhores coisas na vida chegam inesperadamente
— precisamente por não haver expectativas.
Eli Khamarov, “Surviving on Planet Reebok”





— Não me deem nada no Natal! — a voz do meu marido irrompeu entre os meus pensamentos, sobrelotados com todos os preparativos natalícios que tinha planeado completar nas próximas semanas. Olhei para ele e acenei que sim.
— Dizes isso todos os anos.
— Este ano é mesmo a sério. Não haverá nada para ti debaixo da árvore ou na tua meia, pelo menos da minha parte. Portanto, também não me venhas com presentes. Usa o dinheiro que sobrar para dar mais coisas aos miúdos — repetia ele.
Nem me preocupei em ripostar. Todos os anos passávamos por isto. A maior parte das vezes eu ouvia e arranjava-lhe umas pequenas lembranças para que as crianças pudessem desfrutar do momento em que ele tirava o que estava dentro da sua meia. Todos os anos ele tinha debaixo da árvore um presente para mim e a minha meia tinha dentro imensas surpresas, por vezes até surpresas caras. Todos os anos eu desejava não ter ouvido as suas instruções. Mas este ano não.
Os dias passaram num turbilhão de atividades que incluíam cozinhar, fazer compras, decorações, e enviar postais e cartas de Natal. O meu marido repetia a sua mensagem frequentemente. De cada vez, eu olhava bem fundo dentro dos seus olhos, em busca daquele brilhozinho malandro que eu tinha a certeza que estava lá, no entanto ele parecia-me mais sério do que no passado.
Por fim, os presentes estavam todos embrulhados e debaixo da árvore, as coisas para pôr nas meias bem escondidas de olhos curiosos, e as atividades infantis próprias do Natal todas prontas. A véspera de Natal tinha chegado. Meti as crianças na cama. O sono chegaria atrasado por causa de toda a sua excitação, portanto enrosquei-me no sofá e preparei-me para uma longa espera.
— Sabes que não vais ter prenda debaixo da árvore, não sabes? — perguntou o meu marido.
— Sim! Já verifiquei.
— Também não vais ter nada na meia. Portanto não fiques desapontada. Eu avisei-te. Tu ouviste e também não compraste nada para mim, certo? — disse ele.
Olhei para ele e sorri. Ia esperar para ver. Talvez este ano ele tivesse escutado as suas próprias regras e eu estivesse com uma pequena vantagem. Depois tentei expulsar aqueles pensamentos da minha cabeça. Desde quando é que dar presentes se tinha tornado uma competição? Isso não deveria ter nada a ver com o espírito de Natal. Senti-me como se tivesse acabado de deitar a cabeça na almofada quando ouvi as vozes das crianças tentando penetrar no meu cérebro tonto pelo sono.
— Levanta–te. É Natal! Levanta-te!
Eles puxaram-nos pelos braços, obrigando-nos a apressar-nos. Precisavam de ver o que o Pai Natal tinha posto nas suas meias. Enfiei o meu roupão e segui-os até à sala de estar, onde os observei ansiosamente a esvaziar as meias de todos os seus tesouros. Adorei ver as suas caras sorridentes. Depois virei-me para ver o Brian esvaziando a sua meia. Ele inclinou-se e sussurrou para os meus ouvidos apenas:
— Não era suposto eu receber coisa nenhuma.
Retirei alguns bombons de chocolate e uma laranja da minha meia. Ele estava a falar a sério. Não havia qualquer presente debaixo da árvore e nada na minha meia. Tentei esconder o meu desapontamento.
Mais tarde, nessa mesma manhã, dirigimo-nos através de alguns quarteirões até à casa dos meus pais, para celebrar com o resto da família. Quando entrámos na casa, o aroma fragrante do peru assado e das tartes penetrou nas nossas narinas.
O almoço de Natal apresentava sempre uma abundante oferta de comida deliciosa. Rapidamente me juntei aos outros para ajudar a pôr a comida na mesa, enquanto as crianças foram a correr brincar com os primos.
A seguir à refeição, as crianças reclamaram a troca de presentes mas, primeiro, todas nós, mulheres, tomámos a cargo a mundana tarefa de arrumar a cozinha, enquanto os homens saíam para espreitar os camiões e os armazéns. Com um apurado e certeiro sentido da hora, eles regressaram exatamente quando estávamos a acabar o último prato e eu esperava ansiosa por uma tarde relaxante recebendo visitas. Brian olhou para mim e disse:
— Antes de abrirmos os presentes, porque é que não levas algumas destas sobras para o nosso frigorífico e trazes para aqui alguns jogos para mais tarde?
— Parece-me bem, mas porque não vais tu? — respondi.
— Não, eu fico aqui. Vai tu. Não demores a voltar — contrapôs ele.
Olhei em volta mas ninguém me apoiou. A frustração começou a tomar conta de mim quando lhe pedi de novo para fazer aquele recado e ele voltou a recusar. Não consegui arranjar um argumento mais forte, portanto, em vez de criar uma cena desagradável, agarrei no meu casaco e enfiei lá dentro os braços. Calcei as botas, peguei em algumas caixas com sobras de casa da minha mãe e dirigi-me à porta, refreando a custo a vontade de bater com ela ao sair. Resmunguei e rosnei comigo mesma durante todo o percurso até casa, e quando cheguei à minha cozinha a frustração tinha-se já transformado em raiva pura.
Abri com um puxão a porta do frigorífico, atirei lá para dentro as caixas e bati com a porta ao fechá-la. Virei-me, quase colidindo com uma enorme máquina de lavar louça que estava no meio da cozinha.
— Uma máquina de lavar louça? Eu não tenho uma máquina de lavar louça! — gritei para o compartimento vazio. A minha raiva desvaneceu-se gradualmente à medida que as lágrimas começaram a correr-me cara abaixo. Estendi as mãos para aquele aparelho novinho em folha. A minha prenda não cabia debaixo da árvore ou na minha meia. Tinham-me mandado ir a casa precisamente para a encontrar. Ir verificar o armazém tinha sido uma desculpa para entrar sorrateiramente com a máquina da louça. Limpei as lágrimas antes de sair de novo para o frio. A minha raiva dissipara-se, dando lugar a vergonha pela minha atitude. Caminhei devagar até à casa da minha família e encarei-os timidamente. Os seus rostos estavam emoldurados por sorrisos, enquanto esperavam ansiosamente a minha reação.
Dirigi os comentários ao meu marido:
— Não cumpriste a tua palavra. Deste-me um presente!
— Que presente? — disse ele, enquanto tentava manter uma cara séria. O brilho nos seus olhos traía a batalha perdida que tinha travado.
— A máquina de lavar louça na nossa cozinha! — respondi.
Risos encheram a sala e toda a gente se pôs a falar ao mesmo tempo.
O riso levou-me os últimos vestígios de frustração, raiva e vergonha. Naquele Natal aprendi uma ou duas lições. Primeiro, as coisas nem sempre são o que parecem. Segundo, a frustração e a raiva não deveriam levar a melhor na minha vida em altura alguma, especialmente no Natal.



Carol Harrison


21.12.18

O PRIMEIRO PRESÉPIO VIVO





Em Itália, na aldeia de Grecchio, há séculos que os habitantes vêm contando de pais para filhos esta linda história:
«Francisco de Assis e os seus amigos tinham escolhido uma gruta próxima da aldeia para viverem uma vida de pobreza. Assim fora decidido entre eles. Afastados dos demais, os quatro jovens companheiros aproveitavam o isolamento para rezar.
Uma bela manhã, ao aproximar-se o Natal, Francisco resolveu que não iriam passar a festa sozinhos.
— Gostava que celebrássemos aqui o Natal — anunciou ele aos outros irmãos.
— Na gruta? — perguntou, admirado, o Irmão Rufino.
— Então Jesus não nasceu na pobreza? — respondeu Francisco. — O presépio de Belém não é semelhante à nossa gruta?
— Que óptima ideia! — aplaudiu o Irmão Leão .
— Então, mãos à obra! — exclamou Francisco, dirigindo-se de imediato para a aldeia.
Horas depois, ouvem-se mugidos na serra. Era o Irmão Leão que tentava trazer um boi para a gruta. Não era tarefa fácil! Atrás, vinham o Irmão Ângelo e o Irmão Rufino com um burro carregado com uma manjedoura que um morador emprestara. Durante todo aquele tempo, Francisco encarregara-se de encontrar figurantes para o presépio: uma rapariga para fazer de Maria e um rapaz, de José, um ou dois pastores e, claro, um recém-nascido!
Ao cair da noite, tudo estava pronto.
A jovem Maria foi a primeira a chegar. Estava muito comovida. Vieram depois os pastores, cada um com um borrego às costas. Mas José nunca mais chegava! De facto era tão tímido que receava não estar à altura do papel. Por fim, uma mulher pousou uma criança na manjedoura. Tinha-a agasalhado muito bem, com os bracinhos bem apertados ao longo do corpo para não apanhar frio ! A missa podia começar!»
Conta-se que este primeiro presépio vivo tocou profundamente os aldeãos que assistiram a esta missa tão admirável. Um acontecimento em particular marcou os espíritos: quando os sinos da aldeia bateram, ao longe, as doze badaladas da meia-noite, o recém-nascido acordou, abriu os olhos e sorriu!
E, não se sabe como, dos agasalhos bem enfaixados tirou os bracinhos para os estender na direcção dos habitantes da aldeia… Um autêntico milagre de Natal!


Christine Pedotti
24 histoires de Noël pour attendre Jésus
Paris, Mame, 2007
(Tradução e adaptação)


20.12.18

NOTÍCIAS




Bom consulta feita, o médico diz que fiz um edema sub capsular da córnea, e daí as dores que tenho tido. Diz que o olho ainda está muito embaciado, que tenho que continuar o tratamento e quer-me ver de novo a 3 de Janeiro. Acrescentou que há progressos, que são lentos mas que é mesmo assim, e que espera que nessa data, esteja completamente recuperada para marcar a outra cirurgia. Obrigada pelo vosso carinho

O DIA EM QUE FIZ O PAPEL DE MARIA



Quando morávamos à beira-rio, ainda havia invernos a sério: muito frios, com muita neve e cristais de gelo nas janelas.
Quando morávamos à beira-rio, a minha mãe acendia sempre o fogão pela manhã.
Amarrota folhas de jornal e mete-as na portinhola do fogão. Por cima coloca lascas de madeira e depois dois briquetes em brasa retirados da caixa do carvão. Embrulhada na camisa de dormir comprida e branca, ajoelha-se em frente do fogão e sopra com cuidado.
Puxo até ao pescoço o cobertor grosso e observo-a. Faz isto todas as manhãs. Fecho os olhos e ouço a madeira a crepitar.
Quando morávamos à beira-rio, podia ficar na cama até a cozinha estar aquecida. Em seguida, a mãe fazia chocolate quente e colocava à minha frente, sobre a mesa, a chávena cor de rosa com desenhos de nuvens.
Podia ficar o dia inteiro sentada em frente da chávena das nuvens mas não posso, porque a escola começa às oito menos um quarto e a Brigite já está na esquina à minha espera.
A mãe dá três voltas com o cachecol no meu pescoço. Ajuda-me a pôr a pasta às costas e diz-me para não me atrasar. Não gosto de ir à escola. Acabámos de nos mudar, e eu sou a nova e ninguém quer sentar-se à minha beira nem brincar comigo, nem mesmo a Brigite. Só espera por mim porque o professor Alfredo quer. Na verdade, acha que sou uma pateta.
— Pareces um pulgão — disse-me. — E és tão lenta! E… olha só para ti…
A Brigite tem tranças pretas, compridas, e orelhas de abano. Só que elas não se vêem quando faz de Maria, porque solta os cabelos e põe um lenço na cabeça.
Foi o pai do Martim quem construiu o presépio, porque o Martim vai fazer de S. José. O papel é simples, José quase não tem nada para dizer. Só tem se apoiar no cajado e ficar em pé, com um ar de devoção, ao lado de Maria e do Menino. Para o Martim, a devoção é o mais difícil, porque o Óscar, na última fila, passa o tempo a fazer caretas. O Óscar não só abana as orelhas como consegue trocar os olhos de tal maneira, que uma pessoa até pensa que eles vão ficar assim para sempre.
O Professor Alfredo é muito severo e pode encolerizar-se a sério! Sempre que se enfurece, tem uma veia na testa que fica muito grossa. E até se vê o sangue a pulsar. De cada vez que a Filomena Cardoso não está concentrada, vejo o sangue do professor Alfredo a latejar. E isto acontece muitas vezes. De qualquer maneira, eu não tenho nada para fazer porque faço o papel de ovelha e limito-me a ficar junto dos pastores. Todos se riram quando o professor me deu o papel de ovelha.
— Até te fica bem — disse a Brigite com um risinho. — Uma ovelha preta…
Riu-se baixinho, porque também ela tem medo dos ataques de fúria do professor.
A mamã está a coser-me um fato de ovelha. Tinha-mo prometido. E disse que estava contente por eu fazer de ovelha na peça de teatro. Porque as ovelhas são animais pacíficos. Meiguinhas e suaves, que são qualidades boas, diz a mãe.
Mas eu preferia ser um pastor e gostava ainda mais fazer de Maria. Mas nunca hei de sê-lo porque a mamã me cortou o cabelo.
Cabelos curtos são mais práticos, diz ela.
Mas não existem Marias com o cabelo curto.
Os ensaios para a representação do presépio já duram há quatro semanas. O Natal está cada vez mais próximo.
À tarde, à beira-rio, escurece muito cedo. A mamã faz bolachas e eu ajudo-a. A nossa cozinha cheira a Natal. As bolachas prontas vão para uma lata prateada e aí ficam à espera da noite de Natal, diz a mãe.
Eu gostava de também poder esperar pela noite de Natal dentro de uma lata prateada, mas não posso. Todos os dias, pela manhã, tenho de ir para a escola fazer de ovelha.
Do que tenho mais medo é do dia vinte e quatro de dezembro, que é quando vamos representar a nossa peça, na igreja.
O professor Alfredo diz que as pessoas vêm todas assistir só para nos ver. E que por isso devemos dar o nosso melhor.
Mas como é que uma ovelha dá o seu melhor? O que é o melhor de uma ovelha? De qualquer maneira, vou esforçar-me e ficar deitada muito quieta. Espero que ninguém se ria porque isso seria o pior, não para mim, mas para a mamã, que se envergonharia de mim, e isso, eu não quero.
No dia dezanove de dezembro começa a nevar. Estou sentada no meu lugar, na sala de aula, e olho para os flocos de neve que caem do céu como açúcar em pó. De tanto olhar, uma pessoa até se sente cansada.
Felizmente, o professor não repara como estou cansada porque tem de prestar atenção ao Martim e à Filomena. A Brigite belisca-me o braço mas eu não posso gritar, nem sequer dizer “Ai!”, porque senão o professor Alfredo fica furioso.
No intervalo grande, fazem uma batalha de bolas de neve e eu sou o alvo. O professor Alfredo é quem está a vigiar. Encostado ao muro da escola, vai trincando a sua sanduíche e desvia o olhar.
Apesar de tudo, gosto da neve porque, sob o gorro de flocos, tudo tem um aspeto diferente. De certa maneira, mais limpo e mais fofo do que de costume.
Quando era pequena, pensava que, se me lavasse com neve, ficava branca como os outros meninos. Mas a mamã disse que aquilo era uma patetice e que gostava que eu fosse assim, mais escura. Disse escura, porque sou negra. A minha pele é toda preta, exceto nas solas dos pés e nas palmas das mãos.
— Tu és muito especial — disse a mamã.
Mas eu não quero ser especial.
Na minha lista de desejos para o Natal escrevi que queria fazer o papel de Maria. Este é o meu maior desejo, e também o do próximo ano, mas isso, o Menino Jesus já sabe. Fecho o envelope com cola e coloco-o no beiral da janela. A mamã acrescenta uma bolacha da caixa prateada. É para o anjo carteiro. É um longo caminho até ao céu!
Temos de lá estar uma meia hora antes, como disse o professor.
Espero pela Brigite na esquina da rua mas ela não aparece. Espero cinco minutos, espero dez minutos, depois, desato a correr.
A igreja já está cheia. E a veia do professor Alfredo a latejar. Mas não ralha.
— Graças a Deus! — exclama ele, ao ver-me. — Depressa! Veste-te. Tens de fazer de Maria! Sabes o texto?
— Mas… mas… a Brigite… — gaguejo.
— Está doente — responde o professor.
Os sinos começam a tocar e o órgão ressoa.
Todos cantam “Noite Feliz. Noite de Amor.”
Estou de pé junto do Martim e seguro o Menino Jesus nos braços. A Filomena, hoje, tem um olhar muito concentrado.
Quando terminamos, toda a igreja está em silêncio. Depois, as pessoas começam a aplaudir e nunca mais param.



Jutta Richter; Jacky Gleich
Als ich Maria war
München: Karl Hanser Verlag, 2010
Tradução e adaptação
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