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12.12.18

O COMBOIO DE NATAL







  1. 1. O COMBOIO DE NATAL
  2. 2. Há muitos, muitos anos, numa terra bem distante, um ferroviário, de nome Vassil, vivia com a filha, Malina, numa pequena estação. Competia a Vassil zelar pela segurança do caminho-de- ferro que atravessava as montanhas, já que súbitas quedas de rochas podiam bloquear a linha e causar acidentes. Na tarde da véspera do Dia de Natal, Vassil estava, como de costume, a trabalhar na estação. Em casa, Malina ocupava- se da decoração da árvore e não parava de pensar no presente que o pai lhe prometera: o que seria? Estava desejosa de o ver regressar e corria para a janela constantemente, a ver se o avistava. 
  3. 3. De repente, ouviu um ruído semelhante a um trovão. A sua cadelinha, Bella, desatou a ladrar e a arranhar a porta com força. — Deve ter sido uma queda de rochas — exclamou Malina, horrorizada, correndo para fora de casa. Com efeito, a linha de caminho-de-ferro encontrava-se bloqueada por uma enorme quantidade de rochas.
  4. 4. Depois do estrondo, instalara-se na montanha um profundo silêncio. Malina sentiu-se assustada: — O comboio expresso vai chegar dentro de meia hora! E agora, o que faço? O que faria o meu pai? Já sei! Tenho de avisar o maquinista. Pensou durante algum tempo. Depois, correu para casa, acompanhada por Bella, aos saltos. Malina lembrou-se do que o pai lhe tinha dito vezes, vezes sem conta: — Se a linha estiver bloqueada, coloca-te 400 metros à frente do acidente e acende uma fogueira. Depois, acena sem parar com uma lanterna para avisar o maquinista e dar-lhe tempo para travar. A menina pegou na árvore de Natal e levou-a consigo. Nem deu pelas decorações que iam caindo pelo chão. Correu pela linha abaixo em direção ao túnel, arrastando a árvore. Faltavam apenas 15 minutos para a chegada do comboio! O túnel estava escuro e silencioso e
  5. 5. o brilho da neve ao fundo mal se via. Malina, porém, continuou a arrastar a árvore, sem largar a lanterna acesa. Em breve saiu do túnel e começou a atravessar a ponte; agora, o expresso far-se-ia ouvir a qualquer momento. Chegou, por fim, ao local que escolhera. Estava sem fôlego devido à corrida e as suas mãos tremeram quando pegou fogo à árvore. As chamas altas que se ergueram no céu nevado mais pareciam velas gigantes. Malina conseguia ouvir o comboio a aproximar-se cada vez mais. De repente, ei-lo a sair do túnel, envolto em grossas nuvens de fumo.
  6. 6. Foi então que o maquinista viu a fogueira e a lanterna. Puxou imediatamente pelo travão de emergência e desligou a locomotiva. Ouviu-se o som estridente do apito. O enorme comboio tremeu, estremeceu e, lentamente, acabou por se imobilizar. Lá dentro, andava tudo aos tropeções. Os passageiros tombaram dos assentos e as bagagens caíram no chão. O caos instalou-se no vagão-restaurante: empregados, pratos, bolos e peixe viram-se, de repente, atirados ao ar. Lá fora, rodeada pela neve, Malina permanecia imóvel, a segurar a lanterna acesa e a olhar para o enorme comboio arquejante. O maquinista e o revisor saltaram do comboio e foram ter com a menina. — Olha, é a Malina! — exclamou o maquinista. — Há uma enorme queda de rochas em frente do túnel grande e eu tinha de vos avisar — disse Malina.
  7. 7. Os dois homens entreolharam-se com admiração. Em breve, todos no comboio sabiam da queda de rochas e de como a menina os tinha salvado. Alguém disse: — A pobrezinha deve estar cheia de frio, ali no meio da neve. E logo Malina foi conduzida ao vagão-restaurante, que estava bem quentinho e cheio de rostos que a fitavam. Percebeu que as pessoas falavam entre si e, de repente, viu-se rodeada de presentes! À entrada da carruagem, o pai observava-a. Vassil segurava nas mãos um cordeirinho branco como neve, com manchinhas negras atrás das orelhas. “Que magnífico presente de Natal!” pensou Malina, correndo para o pai. — Anda, pai, vamos para casa — pediu. — A Bella deve estar a pensar no que nos terá acontecido.
  8. 8. O maquinista esperava-os lá fora com uma bela árvore de Natal, que tinha ido à floresta cortar para eles. Agora, Malina e o pai já podiam celebrar o Natal como queriam. Sabem porque conheço esta história? É que, há muitos anos, quando era criança, passei um Natal nessa mesma estação de comboio, com a minha tia Malina e o meu avô Vassil…

  9.  Ivan Gantschev The Christmas Train Harmondsworth, Viking Kestrel, 1987 (Tradução e adaptação)

11 comentários:

chica disse...

Linda e doce história de Natal! Como estás? Te cuida! beijos, chica

Maria João Brito de Sousa disse...

Um belíssimo conto de Natal, Elvira!

Uma boa parte da minha infância foi passada na casa do Dafundo, na Marginal, à beira Tejo e à beira linha da CP. Os combóios ficaram para sempre ligados a mim... ou fui eu que fiquei para sempre ligada a eles :)


Forte abraço.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais uma belo conto de Natal.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Larissa Santos disse...

Um encanto este conto, tal como os outros. :)) Adorei:))

Hoje : Insano discernimento ...
Bjos
Votos de uma óptima Quarta-Feira.

Cidália Ferreira disse...

Boa tarde, Elvira!
Desejo que se encontre melhor. Obrigada pelo brilhante conto!!


Beijos e uma tarde excelente!

maria disse...

Obrigado Amiga por partilhar connosco estes Belos Contos de Natal, que eles continuem a encantar-nos e a inspirar-nos sempre!

Sandra May disse...

Como sempre, beleza de postagem, Elvira. Um conto muito bonito!
Vou já desejando um Feliz Natal e Boas Festas, entrarei em recesso até Janeiro.
Muita saúde, principalmente. A você e todos da sua família e amigos.
Um abraço carinhoso.

Graça Sampaio disse...

Que lindo conto de Natal!!! Uma daquelas histórias de encantar. Gostei muito de ler.

Beijinhos e boas melhoras do olhito....

Kique disse...

Gostei imenso de ler este lindo conto
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - A vida não está fácil...

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Outro conto de Natal maravilhoso.
Estou a gostar imenso desta série de contos , pois não os conhecia.
Espero que esteja melhor da sua visão.
Beijinhos,
Ailime

Pedro Coimbra disse...

Doce e ternurento conto de Natal.