Seguidores

29.12.18

A HISTÓRIA DO PERDÃO




Yom Kipur ou Kippur é um dos dias mais importantes do judaísmo. No calendário hebraico começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebraico de Tishrei (que coincide com setembro ou outubro), continuando até ao pôr do sol seguinte. Os judeus observam tradicionalmente esse feriado com um período de jejum e orações.
O pai de Hanoch contou-lhe que, todos os anos, quando era novo, na véspera do Yom Kippuria visitar os seus amigos e conhecidos e fazia-lhes a seguinte pergunta:
— Digam-me, por favor, se vos fiz algum mal, se vos ofendi de alguma forma, ou fui causa de infelicidade. Se o fui, lamento profundamente e peço-vos perdão.
Esta história deu que pensar a Hanoch. O rapazinho disse para consigo “E porque não faço eu a mesma coisa?”
Correu para a cozinha, onde a mãe preparava o jantar, atarefada. Reinava ali um grande reboliço, com panelas e frigideiras a fumegar, e um cheirinho agradável no ar.
Ficou junto da porta e esperou pelo momento certo para falar com a mãe. Quando esta o viu, deixou as sertãs e perguntou-lhe:
— O que se passa, filho? Já tens fome?
Hanoch não respondeu. Sentia-se desconfortável.
— Porque estás tão calado, querido? — insistiu a mãe. — Não te sentes bem? Diz-me o que se passa.
— Não estou doente, mamã.
— Nesse caso, o que te traz à cozinha no meio da minha azáfama? É melhor ires brincar.
Hanoch foi até junto da mãe e segredou-lhe:
— Hoje é véspera do Yom Kippur e venho pedir-te que me perdoes.
— Perdoar-te, filho? Porquê? O que fizeste?
— Talvez te tenhas esquecido, mamã. Foi quando tiveste aquela dor de cabeça, e estavas deitada. Pediste-me que guardasse as galinhas na capoeira. Prometi-te que o faria, mas fui brincar com os outros meninos. Fui andar com eles de bicicleta e esqueci-me das galinhas. E cinco galinhas foram encontradas mortas na manhã seguinte. Não te disse nada naquela altura porque me sentia muito infeliz.
Enquanto falava, Hanoch tinha lágrimas nos olhos.
— Mas hoje tive de te contar e pedir-te que me perdoes.
A mãe olhou para ele com amor e beijou-o.
— Claro que te perdoo!
O menino abraçou-a e, com o coração já bem mais leve, foi brincar.
Leslie Daiken
Gan-Gani Let us play in Israel
Tel-Aviv, N. Tversky Publishing House, 1966

12 comentários:

chica disse...

Linda história! O perdão realmente dá um alívio ao coração de ambos os envolvidos:quem perdoa e quem pede!

beijos, feliz 2019! chica

Tintinaine disse...

Judeus e tremoços são coisas ruins. Ensinaram-me isso desde pequenino e não consigo apagá-lo da minha cachimónia!

Maria João Brito de Sousa disse...

Uma história sobre o perdão, neste caso induzido por uma tradição religiosa.

Devo ter uma costelazinha de judía, pois sigo esse princípio no dia a dia e peço desculpa sempre que me apercebo de ter sido menos conveniente com alguém :)

Um forte abraço, Elvira. Continuo à espera de que a sua convalescença seja tão rápida quanto possível e que esses nevoeiros continuem a dissipar-se, ainda que lentamente.

Majo Dutra disse...

Gostei do conto, estimada Elvira.
O seu menino ficou aqui muito bem...
Terno abraço.
~~~

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Mais uma historia bonita e que nos obriga a meditar sobre a mesma !!
JAFR

Larissa Santos disse...

Mais um interessante conto:)) Adorei.

Hoje com a "marca" de ambos:- Dádivas Poéticas ... Feliz ano de 2019. [ Poetizando e Encantando ]

Bjos
Votos de um optimo fim-de-semana e um feliz Ano Novo.

Manu disse...

Uma história muito interessante!
Por vezes custa tanto pedir perdão, ou esquecemo-nos de o fazer.

Abraço Elvira

Teresa Isabel Silva disse...

Ora aqui está uma história que muita gente deveria de ler!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram

Cidália Ferreira disse...

Mais um fantástico texto!!

---> Que a humildade nos acompanhe em 2019 (Poetizando e Encantando)
Beijos – Muita Saúde e Paz para todos...Até para o Ano.

Fá menor disse...

Muito bom! O perdão torna a alma mais leve de quem o dá e de quem o recebe.

Continuação de Felizes Festas Natalícias! Um Bom Ano de 2019, sobretudo repleto do bichinho do Amor e onde também o perdão nos beije a alma!

Beijinhos.

maria disse...

As pessoas nem sequer pedem desculpa umas às outras quando se atropelam nas filas de supermercado, no trânsito, na rua... algo me diz que perdoar, dizer: perdão, acabará só por existir nas histórias que se contam às crianças. Infelizmente.

Aproveito para lhe desejar, Elvira, um excelente ano de 2019. Espero que esteja melhor.

PS: Obrigada pelo seu email de Natal ao qual não tive oportunidade de responder, respondo agora e, lá está, peço desculpa pela demora.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Uma história de perdão muito bela.
O exemplo do pai do qual o filho absorveu a verdadeira essência.
Beijinhos e bom fim de semana.
Ailime