Quatro semanas se passaram depois desta conversa que
aproximou emocionalmente os dois irmãos. Quatro semanas em que muita coisa
aconteceu na vida deles, e dos que com eles conviviam.
João continuava a passar diariamente as horas em que as
enfermeira faziam as refeições com Teresa e fiel ao seu desejo de num futuro
próximo pedir-lhe que se casasse com ele, decidiu que ela devia saber como
tinha sido a sua vida, quem tinha sido e quem era. Por sua vez Teresa, também
abriu o livro das recordações e falou da sua infância na aldeia, da mãe e da avó,
ambas desiludidas com o sexo oposto, contara que ela própria tivera uma má experiência
amorosa, quando estava na faculdade e que tudo isso contribuíra para a sua decisão de que nunca iria querer saber de homem
algum na sua vida. Essa fora a razão que a levara a querer ser mãe solteira, e a procurar a
clínica de Procriação Medicamente Assistida.
Com o convívio diário e com todas as confidências trocadas os
dois sentiam que começavam a estar unidos por qualquer coisa maior, mais íntima
e mais pessoal do que a responsabilidade de criarem as três crianças.
Inês ia regularmente todos os fins de semana vê-la, levava-lhe o correio, falava-lhe
de como o negócio estava a decorrer e contava-lhe novidades de clientes e empregadas.
Às vezes levava o filho e Teresa ficava radiante com o menino que crescia a
olhos vistos e aumentava o vocabulário de uma visita para a outra.
Também João tinha ido jantar uma noite com o irmão e a
futura cunhada, com quem simpatizou de imediato. Esperava que Teresa fizesse os
três meses e tivessem a conversa que decidiria o seu futuro a fim de os
convidar a irem passar um dia lá a casa para lhos apresentar e estreitar os laços de sangue que
os uniam.
E chegou o dia em que Teresa ia ter a sua consulta das doze
semanas. De mútuo acordo, os dois combinaram com Sandra, que ele acompanharia
Teresa à consulta, e ele a chamaria depois se a médica achasse necessário
dar-lhe novas instruções.
Já na consulta a médica fez-lhe a ecografia das doze
semanas depois de lhe ter medido a tensão arterial, a ter pesado e lhe ter
feito várias perguntas sobre como se tinha sentido durante aquelas quatro
semanas.
Depois de vários minutos em que a observou atentamente
disse:
-Está tudo bem com os vossos bebés. Vejam, aqui estão eles,
minúsculos ainda, medem apenas cinco centímetros, mas já estão completamente
formados da cabeça aos pés. Vejam.
- Já se consegue ver se são meninos ou meninas – perguntou João.
- Vamos ver – disse a médica e depois de uns segundos
apontou o ecrã. - Este é um menino sem duvida, reparem
aqui - disse ampliando a imagem - Este outro tem o cordão umbilical a impedir a
descoberta, e este como vêm tem as pernitas cruzadas. Pode ser que se deixem
ver na próxima ecografia. Mas às vezes não se deixam ver até ao momento em que
nascem
Mas como são gémeos se um é menino, os outros também devem
ser, ou não? – perguntou João.
-De modo algum. Os gémeos só são obrigatoriamente do mesmo sexo quando são gémeos monozigóticos. Ou seja, o óvulo é fecundado por um só espermatozoide que se divide em dois depois de fecundado. São formados na mesma placenta dividem o saco amniótico, possuem o mesmo genoma e o mesmo DNA, e por isso são tão iguais que também se chamam idênticos. Podem distinguir-se apenas pelas impressões digitais, que são diferentes. Os vossos filhos são gémeos dizigóticos uma vez que não dividem a placenta nem o saco amniótico o que quer dizer que houve três óvulos, fecundados por três espermatozoides diferentes e assim tanto podem ser três meninos, como dois meninos e uma menina ou o contrário.
A consulta está terminada, a Teresa recuperou muito bem, agora o risco de aborto foi reduzido, embora não esteja totalmente afastado e o repouso continue a ser recomendado, já não precisa estar o tempo todo na cama. Claro que não pode fazer esforços como subir escadas ou carregar pesos, deve evitar viagens grandes, mas já pode dar pequenos passeios, apanhar sol por causa da vitamina D. Continua com as vitaminas, o ácido fólico e volta para a consulta das vinte semanas a menos que surja algum problema. Vai continuar acompanhada com a enfermeira?
- Até que os bebés nasçam pelo menos, - respondeu João.
- Isso é bom. Pode sair e mandá-la entrar?
À margem:
Hoje dia 11 deslocar-me-ei ao hospital De Santa Maria para ver como está o olho do transplante, e ver se me vêm o outro que me está a dar grandes problemas. Vamos ver.