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13.12.18

NATAL SOBRE TRENÓS







Quando me mudei para o Alasca, fui viver com a família do meu marido enquanto ele se encontrava em Montana, onde trabalhava. Nunca estivera com uma família numerosa, e ele era o mais velho de dez irmãos, a maior parte deles casados e com filhos. Todos viviam num raio de quarenta milhas e não se escusavam a uma reunião de família.
Ninguém tinha dinheiro. Os miúdos eram pequenos, as famílias eram jovens, e muitos dos pais possuíam mais do que um emprego para conseguirem fazer face às despesas.
Mas naquele primeiro ano, Natal de 1981, mostraram-me o que era dar.
Estava lá há cerca de seis meses e ainda assustada com a força e o poder que o amor de uma família grande pode gerar. Aquilo que fizeram nesse ano já era para eles uma tradição muito antiga, mas eu nunca vira nada assim.
Dois dias antes do Natal, a família inteira reuniu-se em casa da mãe. Cada casal meteu cem dólares num pote; se pudessem, os solteiros davam cinquenta dólares; as crianças deixavam cair as mesadas ou o dinheiro que ganhavam como baby-sitters.
A igreja atribuiu-nos então «a nossa família». Assim que soubemos da situação, ficámos todos ansiosos por ajudar. O pai estava sem trabalho; o bebé estava doente; a mãe não queria fazer uma árvore de Natal para os filhos não ficarem desapontados se o Pai Natal não viesse; a companhia cortara uma vez mais o fornecimento de gás, mas a igreja pagara a conta.
Em primeiro lugar, fomos às compras. Dez adultos, uma dúzia ou mais de crianças, tomámos a loja de assalto. Sacudindo a neve das botas e tirando os chapéus e as luvas, andámos para cima e para baixo nos corredores, com cinco carrinhos, cheios de peru, objetos de uso pessoal, batatas, tartes e rebuçados de Natal. Alguém se terá lembrado de coisas simples, como papel higiénico? Alguém arranjou manteiga? E o sumo de laranja e os ovos para o pequeno-almoço?
Em seguida, os pequenos deitaram mãos à obra. Eu observei, admirada, uma criança de seis anos dar a sua mesada de dois dólares para que outra menina pudesse ter umas luvas novas. Vi os olhos de uma criança de dez anos brilharem quando descobriu a espada luminosa por que ansiara, tendo-a depois colocado no carro para a dar a um menino que nem sequer conhecia. Um cobertor quente e felpudo para o bebé foi a escolha do meu sobrinho de quatro anos.
De novo em casa da mãe, para embrulhar os presentes. Havia duas caixas de roupas de vários tamanhos, passadas e dobradas. Pouco tempo depois, juntaram-se a elas dez caixas de mercearia, a transbordar de comida.
As crianças criaram uma linha de montagem para embrulhar os presentes: presentes grandes, presentes pequenos, canecas especiais e luvas quentes. Havia papel e fita por toda a parte. O riso era tecido em laços acetinados; o amor era preso a cada etiqueta.
Trenós de plástico colorido foram guardados no espaço disponível nas malas dos carros, a uma temperatura abaixo de zero. A Lua nascera, e as árvores estavam cobertas de geada, cintilando como uma bola de neve na mão de uma criança feliz.
O tio preferido fez de Pai Natal. Vestido com um fato vermelho-vivo, conduziu a caravana até ao atrelado parado no meio de amieiros de pequeno porte. Tivemos de parar uma vez porque os sulcos na neve eram demasiado fundos e um dos carros ficou preso. Transferimos presentes e pessoas, e continuámos.
Não havia mais casas em redor da casa pré-fabricada e gelada, mas as luzes estavam acesas e um cão preso com uma corda comprida ladrou no alpendre de madeira quando parámos. A maioria de nós ficou na estrada principal, mas colocámos as caixas nos trenós, amarrámo-los e enviámos o «Pai Natal» e alguns dos miúdos mais velhos até à porta. Deixámo-nos ficar para trás e cantámos «Noite Feliz».
O Pai Natal e os ajudantes bateram à porta e entraram quando a porta se abriu. A jovem família tinha, afinal, decidido arranjar uma árvore  de  Natal,  e estava a pendurar as  lâmpadas  quando lá chegámos.
Pararam, estupefactos, quando os ajudantes do Pai Natal começaram a tirar caixa após caixa, empilhando os presentes. Pouco tempo depois, a árvore estava com uma montanha de presentes.
O Pai Natal disse que a mãe começou a chorar quando tirou o casaco de lã da caixa da roupa. Apenas disse:
— Donde vêm?
E depois, suavemente:
— Muito obrigada.
Com muitas exclamações de admiração e muitos desejos de «Feliz Natal», o Pai Natal e os ajudantes correram de novo para o carro.
Cantámos o último verso de «Feliz Natal», saltámos para os trenós mágicos e desaparecemos na noite.


Debby Mongeau
Jack Canfield; Mark Victor Hansen
Canja de galinha para a alma – O tesouro do Natal
Mem Martins, Lyon Edições, 2002
(adaptação)



9 comentários:

Maria João Brito de Sousa disse...

Outro belo conto no qual impera a partilha, Elvira.

Espero que hoje já se esteja a sentir um pouco melhor, muito embora pense que continua a ser muito cedo para que possa verificar-se uma total recuperação.

Abraço.

chica disse...

Gostei de mais esse,Elvira! beijos e tudo de bom! Estás repousando teu olhinho? bjs, chica

Larissa Santos disse...

Bom dia. Mais um conto Perfeito:)) Obrigada.

Bjos
Votos de uma óptima Quinta-Feira

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei minha amiga é mais um belo conto de Natal.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Cidália Ferreira disse...

É uma leveza na alma passar por aqui e ler! Obrigada

Desejo que se encontre bem!

Beijos e um excelente dia!

maria disse...

Mais um bom exemplo dos valores que devem estar presentes no verdadeiro espirito de Natal - e que deveriam manter-se durante todo o ano - partilha, solidariedade e fraternidade!

Duarte disse...

Um tema de longa distância que se foi deformando com o tempo.
Não conhecia e gostei.
Que sigas melhorando.
Abraços de vida.

Pedro Coimbra disse...

Continuamos por aqui com contos mágicos.
Bfds

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Mais um belíssimo conto que reparei ter sido editado aqui onde moro, por uma editora que, entretanto, fechou. Era a Europa América de Lyon de Castro. Foi uma pena, porque era uma editora de relevo.
Beijinhos, Ailime