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19.12.18

ROUBO NA NOITE DE NATAL






— Não tens coragem, não tens coragem…
— Claro que tenho! — atalha Max incisivamente.
O que tinha de especial? Se a velha senhora era realmente quase surda, como diziam os colegas, então não iria conseguir ouvi-lo tirar o anjo do parapeito da janela que se encontrava meio aberta. Só tinha de esperar que um deles tocasse à campainha e a senhora fosse atender, e tinha tempo suficiente para actuar.
— Então vamos lá! — ordenou Rica, o líder do grupo.
Deslizou furtivamente ao longo da parede lateral da casa modesta até chegar à janela. Ali estava o anjo doirado com uma harpa na mão e a boca aberta, como se entoasse uma canção que só ele ouvia. Visto assim de perto, nem sequer era bonito: estava muito estalado e o dourado apresentava-se tão gasto que em vários sítios tinha até caído.
Max ouviu a campainha da porta tocar. Não sabia que história Rica inventara, nem de quanto tempo dispunha. Por isso, ao ouvir a voz da senhora a falar com o colega, agarrou o anjo pela janela meio aberta. Mas enganara-se nos cálculos: nem com as pontas dos dedos conseguia tocar-lhe.
Retirou o braço rapidamente e observou a janela basculante. Claro! Podia enfiar o braço e tentar abrir a outra metade! O puxador girou sem problemas. Empurrou a parte atrás da qual, felizmente, não havia flores nem bibelôs, agarrou no anjo e deitou ainda um olhar rápido à sala antes de fechar a janela e correr para a rua.
Enquanto guardava o pálido anjo no bolso do anoraque, veio-lhe à mente a imagem da pequena e torta arvorezinha de Natal em plástico poisada em cima da mesa. Para além daquela feia árvore e do anjo que ele agora levava no bolso, não havia na sala nenhuma outra decoração natalícia. E estava-se já a vinte e três de Dezembro! No bolso, o anjo tornou-se tão pesado que Max pensou não conseguir dar nem mais um passo.
Chegou finalmente junto de Rica e dos outros rapazes que, indolentemente encostados à vedação da casa vizinha, o olhavam com um ar provocador.
— Então, trouxeste o anjo? — perguntou Rica, fazendo um aceno de cabeça apreciador quando Max retirou o anjo do bolso do casaco.
— Ei, fixe, tiraste mesmo!
— E o que há de fixe nisso? — ouviu-se Max a si próprio responder em voz baixa mas firme. Tornou a guardar o anjo antes de lançar a Rica um olhar desafiador.
— Roubar velhinhas qualquer um consegue! Mas se vocês fossem mesmo corajosos…
— Mas nós não temos medo! — retorquiu Rica furioso. — Não temos medo de nada! O que queres dizer com isso?
♦♦♦♦
O pai de Rica ainda se admirou por o filho querer um pinheiro pequenino do seu viveiro, mas pensou que a arvorezinha devia ser para alguma namorada secreta e não pensou mais no assunto. De igual modo os pais de Max não acharam esquisito ele ter ido à cave buscar o suporte velho da árvore de Natal e algumas decorações que não eram usadas há anos e levado tudo para o quarto. Da mesma forma, os pais dos outros rapazes do bando de Rica não faziam ideia para que quereriam os filhos maçãs e nozes, estrelas de palha e fitas de Natal já velhas. Pelo menos, pensavam todos eles, os filhos pareciam ter finalmente passado a portar-se bem. O Natal estava próximo… Não faziam ideia que os rapazes iriam sair furtivamente de suas casas, iriam gatinhar pelas janelas do sótão, trepariam às escondidas as cercas dos jardins vizinhos até se encontrarem na mesma casa onde tinham estado pela manhã.
— Bolas, a janela já não está aberta! — sussurrou Rica.
— Eu acho que só deixei a outra parte da janela encostada — respondeu Max após um segundo de susto.
De facto, a metade da direita podia ser facilmente empurrada. Todos descalçaram os sapatos para não deixarem nenhuns vestígios que os denunciassem e saltaram silenciosamente para dentro da sala. A árvore de Natal e o suporte foram passados pela janela. Não foi preciso muito até a arvorezinha estar relativamente direita. Em seguida, esvaziaram os bolsos, enfeitaram a árvore com as estrelas de palha do ano anterior e as guirlandas que tinham sobrado, deixando as maçãs, as nozes e as tangerinas na taça da fruta. Um deles tinha até trazido para a ponta da árvore uma estrela doirada ligeiramente estragada.
Quando terminaram, observaram o resultado à luz pálida da lua e dos candeeiros de rua.
— Fixe! — exclamou Rica. E os outros rapazes concordaram com um aceno de cabeça. Aquilo era realmente algo de especial, muito mais excitante e melhor do que as aventuras habituais.
Saíram da sala pela janela, tão silenciosos como tinham entrado, e calçaram de novo os sapatos. Max colocou o anjo de volta no parapeito da janela antes de fechá-la. Prendera um bilhetinho atrás da harpa: “Desculpa ter desaparecido por umas horas. Tinha ainda algumas coisas urgentes para resolver. Feliz Natal!”
Andrea Tillmanns
Ursula Richter; Barbara Mürmann (org.)
Weihnachtsgeschichten am Kamin.23
Reinbek bei Hamburg, Rowohlt Taschenbuch Verlag, 2008
(Traduçao e adaptação)


Gente, peço desculpa pela ausência. A minha recuperação não está a ser nada fácil. Além de ainda estar a ver muito embaciado, de vez em quando tenho dores horríveis no olho que me deixam de rastos.
É como se tivesse um grão de areia dentro do olho que arranha como ponta de faca. Isto não acontece sempre mas quando acontece é insuportável, as lágrimas correm, o olho fica vermelho e até o outro fica meio inchado do choro. Estive assim ontem desde as sete horas até às onze da manhã. Estive para ligar ao médico mas pensei que provavelmente ele ia querer ver-me e estava mau tempo para ir para Lisboa. E tenho consulta amanhã dia 20. 



16 comentários:

Pedro Coimbra disse...

As melhoras, votos de um Santo Natal

chica disse...

Lindo conto e desejo que o Pai Noel te dê de presente a visão normal, sem dores e bem clara e n[nítida! beijos, fica bem,chica

Roselia Bezerra disse...

Bom Dia, querida amiga Elvira!
Que logo esteja totalmente recuperada na paz de Cristo!
Oro por você daqui de além- mar.
Tenha dias natalinos felizes e abençoados junto aos seus amados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

Maria João Brito de Sousa disse...

Muito bonito, este Roubo na Noite de Natal, Elvira.

Quanto ao seu problema ocular, lamento sinceramente que esteja a passar por uma tão atribulada e prolongada convalescença. Espero que o seu médico oftalmologista encontre rapidamente forma de a aliviar dessa tão indesejável sintomatologia.

Forte abraço.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

As melhoras minha amiga e aproveito para desejar um Santo e Feliz Natal. 🎄

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Portuguesinha disse...

Lamento muito Elvira.
Sinto-a receosa e não gosto que se esteja assim.
Vou orar para que melhore rápido.


Felicidades

Nataline disse...

Visitando, vendo, lendo e escrevendo:- Rápidas melhoras.
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FELIZ NATAL

Cidália Ferreira disse...

Mais um bonito conto!
Muito obrigada por ter acedido ao meu pedido...
Estou preocupada com o seu olho. Deve ser uma aflição para além da falta de paciência! As melhoras


Catorze anos de um amor eterno...
Beijos e um excelente dia.

Pedro Luso de Carvalho disse...

Bom dia, Elvira, faço votos para que melhore logo, minha amiga. Não preciso te dizer que é muito importante que faças a consulta com teu médico o quanto, pois nesses casos não se pode esperar muito.
Desejo que tenhas um feliz Natal, junto à tua família, e já livre destas dores.
Um abraço
Pedro

Tais Luso de Carvalho disse...

Querida Elvira... amiga, fiquei com dó, agora, nas vésperas do Natal vai acontecer isso? Não leve muito tempo para ir ao médico... O que desejo pra você, agora, é que essa dor passe, não volte, e que 2019 traga muita paz, saúde e alegrias pra você junto aos seus queridos!
Beijo, cuide-se.

Meu Velho Baú disse...

As melhoras ....
Desejo um Santo e feliz Natal principalmente com muita Saúde e que esse problema se resolva rápido
Beijinhos

luisa disse...

Obrigada, Elvira, por esse conto que aqui deixa. É muito bonito.
Pior é essa recuperação que lhe está a dar trabalhos. Faço votos para que melhore rápido e passe umas Boas Festas.
Um beijinho.

Cantinho da Gaiata disse...

Conto maravilhoso, gostei.
Tenho andado ausente, mas hoje não podia deixar de enviar uma mensagem de rápidas melhoras, coisas na vista são muito chatas.
A minha mamy já teve isso e a médica receitou umas pastilhas e uns pingos, tem melhorado um pouco.
Beijinhos

Rogério G.V. Pereira disse...

Rapidas melhoras, Elvira

Do que o médico te disser
vem nos dizer

Os olhares da Gracinha! disse...

Espero que recupere rapidamente e em bem!!!
Festas (bem) FELIZES Elvira!

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Outra história muito bela.
Espero que esteja melhor do seu olho. Que coisa! Eu iria a outro médico. A minha mãe foi operada com oitenta anos e ficou a ver quase cem por cento e graças a Deus não teve esses sintomas. Espero que a Elvira recupere o mais breve possível. Bjs Ailime