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31.10.18

VAMOS FALAR DE COISAS SÉRIAS?


Vocês devem ter reparado que durante todo este mês de Outubro, tive esta foto no final dos mês posts. De facto convencionou-se que Outubro seja o mês de prevenção do cancro da mama, mas isso não quer de modo algum dizer que no resto do ano descuremos a observação dos seis, e ao menor sinal de alerta recorramos ao médico. Tenho a certeza de que as minhas amigas, estão cientes disso mas nunca é demais lembrar. Já perdi várias amigas, duas delas até aqui dos blogues, ceifadas pela doença. Mas também os homens devem estar atentos, já que embora mais raro ele também atinge os homens.
E agora que o mês rosa termina, começa Novembro, o mês azul, que se convencionou ser o mês de prevenção do cancro da próstata. 
Em Portugal surgem 4000 novos casos por ano e, apesar de ser o tumor mais frequente, se for diagnosticado e tratado numa fase inicial tem grandes probabilidades de cura na maior parte dos casos. E no entanto quantos homens continuam a morrer dele?
Por isso meus amigos, façam os rastreios, não descurem a vossa saúde. Não vou voltar ao tema, mas vou manter durante todo o mês esta imagem nos meus posts.

CONVERSANDO COM O LEITOR






Chegou ao fim mais uma história.  E mais uma vez, a maioria de vós pacientemente me acompanhou.
Não é por acaso que eu costumo dizer que vocês são os melhores leitores do mundo, se bem que talvez seja melhor dizer os melhores amigos virtuais do mundo, já que os melhores leitores não se interessariam por estas historietas que gosto de inventar.
Agora vem a parte pior. Os últimos tempos têm sido atribulados, primeiro por doenças e depois por ter participado em muitas iniciativas nos últimos tempos. De modo que não tenho nada novo para vos dar. E estou num dilema. Ou reedito uma história antiga, que os que chegaram nos últimos tempos não conhecem e os mais antigos poderão relembrar se quiserem, ou vou publicando outro tipo de coisas, poemas, pensamentos, fotos etc. enquanto escrevo nova história. .
O que vocês preferem?
Muito obrigado a todos. E tenham um feliz dia, sem grandes encontros com bruxas que hoje, parece que andam por aí à solta, dizem.

30.10.18

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE XLV




Clara abriu os olhos ao sentir as mãos de Soraia no rosto. A menina olhava para ela muito admirada
- Mãe, não vamos à escola hoje?
- É claro que sim, - disse puxando a roupa atá ao pescoço, para que a menina não suspeitasse que estava nua. – Vão-se lavar, a mãe já vai ter convosco.
Do outro lado da cama, Ricardo também acordava. Olhou-a e sorriu deliciado ao vê-la ruborizar-se.
Mal os filhos saíram, ele deu-lhe um beijo, saiu da cama, enfiou as calças de pijama e disse:
-Toma o teu duche eu cuido deles.
Já no quarto, Bernardo perguntou-lhe:
-A mãe está doente?
-Não filho. Mas quero aproveitar para vos dizer uma coisa. A partir de hoje, a vossa mãe vai mudar-se para o meu quarto. Vocês devem saber que quando os pais são casados dormem juntos.
-Mas vocês, nunca dormiram, - disse Soraia.
-Mas dormimos agora. De modo que se vocês precisarem alguma coisa de noite devem bater na porta de comunicação com o meu quarto. Combinado?
- Combinado.
-Agora vão ter com a Antónia à cozinha, que já deve ter o vosso pequeno-almoço feito.
Ele foi ao seu quarto tomou um duche em tempo recorde, vestiu-se e desceu. Porém Clara já estava com as crianças.
E aquele foi o primeiro dia, das suas vidas como casal.
Uma semana mais tarde Tiago teve alta e dias depois a família deu uma grande festa para festejar não só os seus dezassete anos, como o seu regresso à vida.




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Dez anos depois, na mesma igreja onde onze anos antes, se celebrara o casamento de Ricardo e Clara, agora totalmente decorada com belos arranjos florais, o pároco olhava o casal que tinha na sua frente, e pensava como eram grandes os desígnios do Senhor. Lembrava, que quando oficializara aquele casamento, sentira uma grande tristeza, por lhe parecer que não havia alegria nos noivos e pensar que era um casamento destinado ao fracasso. E agora ali estavam os dois,irradiando felicidade para apadrinharem o casamento do jovem que levara a irmã ao altar. É claro que agora o jovem era um homem feito.
E tinha razão, Tiago era já um conceituado profissional, em investigação biológica, mas apesar disso não estava menos nervoso do que há onze anos atrás. Pelo contrário, olha para o relógio a cada dez segundos. É que hoje é o dia do seu casamento, e a noiva como é da praxe está atrasada.
  A seu lado, impecavelmente vestidos, a irmã e o cunhado, tentam acalmá-lo, enquanto trocam entre si sorrisos cúmplices. Ele tem já o cabelo a ficar grisalho, mas mantém o corpo forte, e um rosto sereno e feliz, Clara muito elegante, num comprido vestido creme, acaricia com a mão o volumoso ventre. No banco da frente, Bernardo numa ponta e Soraia na outra, vêem-se embaraçados para manterem quietos os seus três irmãos de nove, seis, e três anos.
- Querida, é melhor sentares-te um bocadinho até a noiva chegar, - disse Ricardo, como sempre preocupado com o bem-estar da esposa.
- Estás demasiado bonito, para te deixar sozinho, - respondeu ela sorrindo.
Ele sorriu feliz. Há dez anos, Clara tinha adotado, os seus filhos e ele quisera adotar Tiago para fazer dele seu herdeiro. Porém o jovem não aceitara. Dissera que aceitava a sua ajuda para os estudos, mas não mais que isso. Ele, Ricardo, era um homem jovem, a irmã era doida por crianças, e tinha a certeza que os dois ainda iam ter vários filhos, para herdarem os seus bens. E a verdade é que o quarto já estava quase a nascer. 
Depois do terceiro filho, ele disse-lhe que talvez fosse melhor tomarem precauções para ela não voltar a engravidar. 
Doía-lhe vê-la nos últimos meses, cansada com os pés inchados. E sentia-se culpado.  Ela riu-se, e perguntou-lhe se ele já tinha ouvido falar no decréscimo demográfico. E aí estava de novo prestes a dar à luz.
Entretanto, Também já publicara dois livros. E se o primeiro, apesar de ter agradado aos críticos, passou quase despercebido, do grande público,  o segundo, intitulado “Renascer”, um romance autobiográfico, fez tanto sucesso, que já tinha negociado os direitos de autor, para ser adaptado ao cinema. E dentro em breve, irá publicar o terceiro.
Naquele momento ouviu-se a marcha nupcial, e a noiva entrou na igreja pelo braço do pai, fazendo com que o noivo, respirasse fundo e abrisse um sorriso, que lhe iluminou o rosto. A noiva, uma jovem muito bonita, era um amor que já vinha da universidade. 
Ricardo e a esposa gostavam muito dela e estavam convencidos que os dois iriam ser muito felizes.
E nesse momento o padre iniciou a cerimónia.



Elvira Carvalho

E pronto esta historia acaba como começou. Com um casamento, porque a vida se processa por ciclos que se vão renovando.

29.10.18

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE XLIV







Quando chegaram a casa e deram a notícia a alegria foi geral. O comportamento educado e cordial do jovem, tornara-o benquisto não só das crianças, mas também dos restantes habitantes da quinta.
O jantar foi pois bem mais animado do que nos dias anteriores, com as crianças a quererem saber quando podiam ver o tio Tiago.
Depois do ritual, de deitar as crianças, e de os adormecer, lendo as histórias infantis, Clara desceu à biblioteca, onde Ricardo se recolhera, depois do jantar.
Encontrou-o de volta com os seus manuscritos. Aproximou-se da secretária.
- Estás muito ocupado? – Perguntou.
- Não,- respondeu sem saber o que ela poderia querer naquela altura. Não tinham voltado a falar deles nem dos seus sentimentos, apesar de por todos os meios ao seu alcance, ele lhe ter demonstrado o que ela representava para ele. Mas Ricardo pensava que esse era um assunto para ser tratado depois da recuperação do cunhado. Não queria que Clara pensasse que ele se estava a aproveitar da sua vulnerabilidade.
-Quero que saibas uma coisa. Não foi só pelo Tiago que quis ir à igreja.
-Não? – Interrogou arqueando o sobrolho.
-Foi também para agradecer a Nossa Senhora de quem sou devota, por te ter trazido para as nossas vidas. O que fizeste por mim nestes seis dias foi incrível. A tua preocupação, o teu apoio, o respeito pelo meu sofrimento, o teu carinho, ter-me-iam dado volta à cabeça se eu não estivesse já apaixonada por ti.
Ele levantou-se e aproximando-se abraçou-a, atraindo o corpo feminino ao seu.
- Se alguém tem que agradecer, sou eu, querida. Estava morto para o amor, e provavelmente assim estaria o resto da vida se não respondesses aquele bendito anúncio. O que fiz não foi nada, comparado com o que gostaria de ter feito, para minimizar o teu sofrimento. Porque a única coisa que eu desejo é fazer-te feliz.
- E tudo isso porque me admiras e desejas, - disse ela com tristeza.
-Não, meu amor. Tudo isso porque te amo e desejo partilhar contigo, sonhos e projetos, alegrias e tristezas, - disse mergulhando o seu olhar nos olhos que o perscrutavam ansiosos. - É verdade, podes crer. Na verdade, creio que te amei desde que te conheci. Admirava-te, e emocionavas-me, mas eu estava muito ferido e sabes o que diz o povo, “Gato escaldado de água fria tem medo”
Depois no Afeganistão, as mensagens que recebia tuas, davam-me alento e faziam-me sonhar com um futuro em conjunto, mas, pensava eu, baseado na amizade, companheirismo e admiração. Mais tarde já de regresso comecei a sonhar com o teu corpo mas ainda assim não liguei o meu desejo à paixão e ao amor.
-E então, quando descobriste a verdade dos teus sentimentos?
- Naquela noite em que dormimos juntos. Quando adormeceste, confiadamente junto a mim, comecei a pensar. Meu Deus, não havia nada no mundo que eu quisesse mais do que fazer amor contigo. E no entanto ali estava eu, deitado contigo na mesma cama, com o teu corpo junto ao meu, feliz da vida por ter conseguido aquietar o teu coração, e feito com que descansasses. Na sociedade hedonista em que vivemos, totalmente virada para o prazer, pelo prazer, aquele sentimento, aquele desejo de te fazer feliz, aquela paz que sentia naquele momento, não podia ser apenas desejo sexual. Tinha que ser algo muito maior, que só por cegueira eu ainda não tinha compreendido. Amor.
Feliz, ela enlaçou-lhe o pescoço e ofereceu-lhe os lábios para um primeiro beijo amoroso.
Depois apagaram a luz, e de dedos entrelaçados, subiram as escadas, rumo ao quarto. 
Mais tarde ela murmurou:
-Meu Deus, é mesmo verdade!
-O quê?- Perguntou curioso.
-Os sinos, a explosão de cores, tudo.
Ele riu-se. E perguntou por sua vez:
- Tens noção do que me fizeste? 
- Não tenho grande experiência. Fui muito má?  - Perguntou insegura.
- Má? Foste maravilhosa. Tão assim que estou com uma vontade enorme de repetir, - disse atraindo-a para juntar o seu corpo  ao dela.
E de novo se perderam nos encantos da ancestral dança do amor.
Horas mais tarde, aquietados os corpos, ela perguntou num sussurro:
-O que vamos dizer amanhã às crianças, quando descobrirem que dormimos juntos?
- Que o pai e a mãe se amam e as pessoas que se amam dormem juntas,- respondeu-lhe entre beijos.
-Temos que ser mais criativos do que isso, ou eles vão dizer que também nos amam e querer dormir connosco.
-Mau. Isso não pode ser, - disse rindo. Bom amanhã inventamos alguma coisa, mas agora não, querida. É quase manhã estamos os dois a precisar descansar um pouco antes que eles acordem.


Parece que acabou? Mas ainda não. Vamos ver o que nos reserva  o último capitulo.

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE XLIII


Não, não é um barco que errou a sua vocação marítima, ou foi trazido numa tempestade.  É mesmo a Igreja de S, Francisco Xavier, no Restelo em Lisboa.


Findas as vinte e quatro horas, de observação, Tiago foi transferido para o quarto. Segundo os médicos, estava tudo a correr bem, mas o jovem continuava em coma. Clara passava junto dele todo o tempo que o hospital permitia. Lembrava coisas da sua infância, falava das crianças, da saudade que elas tinham dele, enfim de tudo o que se lembrava, e que pensava o podiam trazer de volta. Ricardo por seu turno levava e ia buscar os filhos à escola, deixando-os depois com Antónia, para se juntar à mulher no hospital, dando-lhe todo o apoio necessário para ela não desanimar. Não raras vezes, tinha que insistir com ela para que fosse ao bar comer qualquer coisa, pois estava a emagrecer a olhos vistos. Foi assim naquele dia, o sexto desde o acidente.
Depois de grande insistência de Ricardo, Clara saíra para comer alguma coisa, e ele sentara-se junto da cama, pegou na mão do jovem e começou a falar pausadamente.
-Sabes, hoje lá fora, brilha um sol radioso. Os dias já são bem maiores, estamos quase no verão.
Foi impressão sua, ou Tiago mexeu a mão?
Levantou-se, aproximou o rosto do paciente e acariciando-lhe o rosto falou ternamente perto do seu ouvido.
- Acorda, Tiago. Nós amamos-te muito, e estamos com muitas saudades. Volta para nós, Campeão. Por favor, dá-nos essa alegria.
Então lentamente o jovem abriu os olhos. Ricardo tocou imediatamente a campainha, e pouco depois uma enfermeira entrou no quarto. Viu que o jovem tinha recuperado embora parecesse estranho como se não soubesse o que se tinha passado.
- Ora bem, o nosso jovem acordou. Já era tempo, de voltar. Vamos ver como está, - disse pegando-lhe no pulso e olhando o relógio. Depois disse: - Vou ter que lhe fazer algumas perguntas, para ver se está tudo bem. Entende?
Ele fez um gesto afirmativo
-Consegue falar?
- Sim.
- E sabe onde está?
-No hospital – disse passeando o olhar pelo espaço
-Muito bem. - Colocou a mão na sua frente com o indicador erguido.-
- O que é que eu estou a fazer? - Perguntou correndo a mão de um lado ao outro para ver se o olhar do paciente seguia o movimento.
-Está a mostrar-me um dedo.
- Certo. E lembra-se do que lhe aconteceu?
-Fui atropelado.
-Muito bem.
Consultou a papeleta aos pés da cama, e acrescentou.
- Vou ter de comunicar com o médico. Precisa de alguma coisa?
-Água.
-Vou molhar-lhe os lábios. Por agora não, pode beber água. Acabou de sair do coma, podia engasgar-se. Dentro de uma hora já poderá beber.
A enfermeira saía quando Clara voltava. Ao ver o irmão acordado, chorou de alegria e emoção. Beijou o irmão e depois refugiou-se nos braços do marido que lhe disse ao ouvido:
-É melhor ires lá para fora, um bocadinho para te acalmares. O teu irmão não deve emocionar-se e ver-te assim não lhe faz bem nenhum.
As palavras dele tiveram o condão de a acalmar. Aceitou o lenço que lhe dava, enxugou as lágrimas e esboçou um sorriso.
Virou-se para o irmão e acariciou-lhe o rosto. Ele fechou os olhos.
- Tens dores?- Perguntou-lhe.
- Não. Mas sinto-me cansado e enjoado.
- Queres que vamos embora, para descansares?
- É melhor sim- respondeu a enfermeira que voltava. O médico já aí vem, o paciente vai ter que fazer alguns exames e precisa descansar.
Amanhã já estará bem melhor e podem então conversar.
Os dois despediram-se do doente, e saíram. Ricardo colocou o braço sobre os ombros da jovem e ela não se afastou. Pelo contrário enlaçou-lhe a cintura e assim enlaçados como um casal de namorados, encaminharam para o elevador.   -Gostaria de ir a uma igreja. Sabes se há por aqui perto, alguma? – Perguntou já no carro, quando ele pôs o veículo em marcha.
- A Igreja de S. Francisco Xavier fica próximo daqui. São dezoito horas, penso que ainda estará aberta. Vamos lá ver.
Minutos depois Ricardo estacionou o carro perto da igreja, junto de uma florista.  Entrou na loja enquanto Clara  entrava na igreja.
Pouco depois ajoelhou a seu lado e sussurrou entregando-lhe um ramo de rosas brancas.
- Supus que gostarias de oferecê-las à Virgem, - disse, sabendo por ela lhe ter dito anteriormente, que pedira a Nossa Senhora pelo irmão.
Oraram, durante alguns minutos, lado a lado, e depois ela levantou-se e foi depositar o ramo no altar da Virgem, persignou-se e encaminhou-se para a saída, seguida pelo “marido”.




28.10.18

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE XLII





Antes de ir para casa, passou pelo hospital. O quadro clínico de Tiago evoluía favoravelmente, embora continuasse inconsciente. Continuava na UTI por precaução até fazer as vinte e quatro horas e só depois se não houvesse agravamento passaria para um quarto.
- E visitas?- Perguntou
-Enquanto estiver na UTI, uma pessoa, apenas um minuto às três horas.
-Obrigado.
Voltou para casa.
Quando chegou, já encontrou Clara impecavelmente vestida na cozinha. Tinha uma chávena de chá na mão, e falava com Antónia.
- Bom dia. Devias ter descansado um pouco mais.
- Tenho que ir ao hospital.
- Deixei as crianças na escola e fui lá. Disseram-me que o estado do Tiago está a evoluir muito bem. Depois de comeres podes descansar mais um pouco, porque só poderás vê-lo às três horas e como ontem. Apenas um minuto.
Propositadamente ou não, Antónia saiu dizendo que ia colher uns legumes para o almoço.
- Queres uma chávena de chá? Ou café, - perguntou a jovem.
- Faço-te companhia com o chá, - disse ele tirando uma chávena do armário, e sentando-se.
- Obrigado, por todo o apoio que me deste – disse ela enquanto pegava no bule e despejava o chá na caneca dele. – Foste um amor não só no hospital, como aqui. Não tinha o direito de te ter pedido para ficares comigo, mas estava com medo. Fechava os olhos e via o meu irmão, lívido como um cadáver, ligado, aquelas máquinas.
- Não fiques preocupada, eu entendi perfeitamente. Acredites ou não, eu gosto muito do teu irmão. Agora sobe e vai dormir um pouco.
- Não seria capaz. Prefiro ficar por aqui, Vou fazer um bolo, preciso de me manter ocupada. Descansaste menos do que eu, porque não vais tu dormir um pouco até ao almoço. Eu vou buscar as crianças. E depois leva-mo-las à escola, e vamos ao hospital. Vais comigo, não vais?
-Claro, querida, não te deixarei sozinha até que o Tiago esteja em casa, são e salvo.
Ela levantou a mão para lhe acariciar a face. Ele segurou-a e depositou-lhe um beijo na palma, fazendo com que ela estremecesse ao mesmo tempo que o seu rosto se tornava escarlate.
- Há muito tempo que não via uma mulher enrubescida- disse sorrindo. – És maravilhosa. Bom,- acrescentou levantando-se. Vou fazer a barba. Sabes o que me disse a Soraia, quando me despedi à porta da escola? “Hoje picas, pai”- disse imitando a voz da filha.
Clara não pode evitar rir-se e ele saiu feliz por ter conseguido desanuviar o rosto feminino.
Subiu ao quarto e escanhoou o rosto. De seguida passou o after shave. Mirou-se e não se achou mal. Enquanto se olhava pensou como o amor mudava tudo. Vinte e quatro horas antes andava irritado, sem vontade de fazer nada, questionando todas as suas atitudes até ao momento. Depois daquela noite, em que descobriu que afinal o sentimento que tinha por Clara, era muito mais que desejo, a vida parecia-lhe mais colorida apesar do momento doloroso porque passavam. Agora ele acreditava num futuro feliz. Amava a mulher e sabia que ela lhe retribuía, ela mesma lho confessara. Agora o que tinha a fazer era esperar que aquela tempestade passasse e então poderiam entender-se, amar-se, e até quem sabe aumentar a família.
Ah! Se isso acontecesse, ele ia ser o homem mais feliz do mundo. Porque ia poder viver com essa criança o que não vivera com Bernardo, muito menos com Soraia. O seu nascimento, o primeiro choro, o primeiro sorriso.
“Acorda” - disse dando uma leve palmada na sua própria face. “Não é hora de te pores a sonhar”
Voltou ao quarto, vestiu a camisa e olhou o relógio. Onze e meia. “Está quase na hora de ir buscar os miúdos para o almoço “ – pensou enquanto fechava a porta e se dirigia para o piso inferior.


Gente, desde quarta-feira que ando numa roda viva, com visitas de estudo, jornadas do património cultural, hoje acabei de chegar da festa da UTIB a nossa Universidade, e amanhã tenho aulas de manhã e uma tertúlia poética à tarde.Terça-feira as coisas acalmam e espero retomar as visitas normais.As minhas desculpas.



27.10.18

RUINAS ROMANICAS DE S. CUCUFATE - VISITA DE ESTUDO.


Em S. Cucufate, ( nome esquisito deste Santo, que estará sepultado em Barcelona e cujo nome lá é San Cugat. Não vou estar a cansar-vos com a sua história, mas se estiveram interessados AQUI  tem toda a sua história. Adiante. Em S. Cucufate, vamos ver as ruínas de uma villa romana (villa, casa senhorial, não villa no sentido de classificação portuguesa.)
Então, neste local, existem três fases de construção desta villa, embora quase tudo o que vemos seja da última fase, pois das primeiras duas resta apenas alguns muros.  A primeira fase, datará do século I, e terá sido edificada sobre uma ocupação do período Neolítico final.
Este edifício foi reconstruído na primeira metade do século II, com planta centrada em peristilo, e terá sido destruído em meados do século IV.Então por volta do ano 360 d.C. foi então erguida esta magnifica vila palaciana que vamos visitar.
Quando entramos, e embora o nosso olhar abarque logo o complexo da villa, este primeiro edifício é o templo. Dedicado é claro a deuses pagãos, foi cristianizado no século V tendo sido efetuados alguns sepultamentos no seu pórtico envolvente.

 Eis a localização do templo na planta.

Foi-nos dito que estas serão das ruínas românicas mais importantes da península Ibérica por se tratar de ruínas de Villa com mais de um piso, A construção é enquadrada por dois corpos com robustos contrafortes que se ligam por meio de arcadas. Três pequenas escadas  sobem a um comprido palco, descoberto onde os donos da casa aguardavam as visitas.
Deste patim logo em seguida, entrava-se numa espaçosa galeria, cuja abobada ruiu, vendo-se ainda nos extremos os seus arranques. Outras salas com abobadas de berço ficavam por trás desta nave servindo de armazém.

 .

 Ao piso de cima subia uma só escada, estreita e íngreme para um edifício de tão elaborada arquitetura. Uma varanda comprida, guarnecida de madeira, corria ao longo da fachada a ao nível do piso superior.
Como podem ver, algumas partes do edifício,estão com andaimes. Quisemos saber porquê. A guia explicou que na altura das descobertas, os arqueólogos que dirigiram o trabalho, usaram aquelas estruturas para evitar que as intempéries,  acabassem derrubando os arcos.
  Segundo a nossa guia, neste edifício além da casa situada a sol nascente, de jeito a receber a luz do sol mal ele despontasse no horizonte, seguia-se em toda a parte de baixo, os celeiros, lagar do vinho  e adega. Segundo ela terá sido aqui que nasceu o tão famoso vinho da talha, que como sabemos foi introduzido em Portugal pelos romanos.~
Aconselho uma visita a este site, para terem uma ideia do que seria a grandiosidade desta construção. AQUI
 Esta espécie de piscina em frente ao edifício principal,  era um tanque imenso, onde chegava por por um canal a água que saía da piscina sempre que era renovada, para ser utilizada na rega dos campos. O que nos leva a crer que eles já se preocupavam com a poupança da água.



 Aqui uma porta que daria para a adega.
 Ora bem, segundo parece com as grande invasões bárbaras, e a consequente expulsão romana, toda esta enorme construção terá sido abandonada e mais tarde por aqui terão talvez estado os muçulmanos, embora não se saiba ao certo o que aconteceu desde que foi abandonado pelos romanos até ao século IX, data provável da instalação de um convento de frades na Villa. Sabe-se contudo que em 1254, se criou a paróquia de S. Cucufate no Convento e se entregou a mesma ao Mosteiro de S. Vicente de Fora, que em data desconhecida o entregaram aos frades de S. Bento. A comunidade monástica viria a abandoná-lo no século XVII permanecendo nela apenas um frade ermitão. Pensa-se que a capela funcionou até ao século XVIII altura em que ele terá morrido. A instalação dos frades nesta villa romana, terá dado origem à povoação Vila de Frades, que se crê tenha recebido o primeiro foral no século XIII. Infelizmente este documento foi perdido, pelo que D. Manuel I lhe atribui um segundo foral a 1 de Junho de 1512.
Esta é a porta de entrada para a capela situada na zona da adega. Mas antes de entrar ainda queria mostrar-vos mais uma coisa.


 Conduta de água para a casa,
 E pronto já entrámos na capela. Esta parte é uma zona de muitas colunas, infelizmente na outra foto em que tentei mostrar várias, "o meu sabonete" não se portou à altura e a foto não saiu apresentável. E pronto estamos na zona da capela.


 Duas imagens com as pinturas do teto.
 A pintura do altar está muito deteriorada.

 Cá temos de novo uma estrutura metálica para manter intacto um arco .
 Esta seria a zona da casa de jantar.
 A zona da piscina
 Estas construções na parte de trás, separadas do complexo principal, seriam as instalações dos serviçais.


 E vamos subir a escada que nos vai  conduzir  ao piso superior da casa, deste rico senhor.
 Deste local, onde seria o salão nobre, vêem-se as dependências inferiores e tem-se uma esplêndida vista para as termas da família.

 Pronto aqui está a zona termal. A propósito, vocês sabiam que aqui havia uma pedra mármore na parte superior da digamos sanita, embora naquele tempo ela não existisse ainda. Bom do recipiente, onde as pessoas se aliviavam. Pois havia um empregado cujo trabalho era ter sempre a pedra mármore à temperatura do corpo, para que os senhores, não pusessem o seu rabiosque na pedra fria?
Uma curiosidade, Crê-se que aquela oliveira será contemporânea da villa.

  E pronto chegámos a zona agrária. Este era um senhor muito rico com uma zona de muito quilómetros de vinho e azeite, ou melhor vinhas e olivais.  Teria decerto além de muitos serviçais, gado e utensílios vários e daí estas instalações agrárias logo depois das casas dos trabalhadores. Esta zona que aparece aqui com estes dois pedregulhos era o lagar do azeite. E estas duas pedras que pesarão toneladas, não estavam aqui para decoração. Que o azeite se faz da azeitona todos sabemos. Hoje há máquinas para tudo. Mas numa época em que não existiam como se faria o azeite? O vinho era fácil, pisa-se a uva toda a gente sabe, embora hoje, já quase se use a pisa apenas como atração turística. Mas e o azeite? Então estas duas pedras eram exatamente para esmagar as azeitonas. Naquele encaixe. que se vê na pedra encaixava uma peça que por complexo processo as faziam rodar, esmagando assim as azeitonas.
E aqui era o cemitério.

Por aqui a visita terminou, espero não me ter esquecido de nada, resta-me só mostrar-vos uma outra oliveira também milenar que se encontra logo na entrada, mas na qual não reparamos, pois viemos logo direcionados para as ruínas


Cá está ela. Reparem no tronco seco e carcomido. No entanto a oliveira apresenta-se surpreendentemente verde e carregada de azeitonas.

E pronto espero que tenham gostado do passeio.



Nota: todos os objetos arqueológicos encontrados nas Ruínas da villa, encontram-se expostos na casa do arco em Vila de Frades.  Vila de Frades e S. Cucufate, pertencem ao Concelho da Vidigueira, distrito de Beja.


26.10.18

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE XLI








Com a bandeja nas mãos, voltou-se vagarosamente e encarou-a
- O que disseste?- Perguntou sem afastar o olhar do seu rosto.
- Disse para não ires. Por favor Ricardo, não quero ficar sozinha.
Não era a súplica de uma mulher apaixonada, ansiosa por uma noite de amor. Nos seus olhos Ricardo leu o medo. Naquele momento, Clara não precisava de um homem apaixonado. Precisava de um pai, um irmão mais velho, um amigo de confiança. Estava tão vulnerável como Soraia, quando acordava a meio da noite com os seus terríveis pesadelos. Pousou a bandeja em cima da cómoda, e aproximou-se do leito.
- Eu fico, se me prometeres que te portas como uma menina bonita e dormes. São quase quatro da manhã. Daqui a pouco amanhece e precisas descansar.
 Despiu o roupão, e enfiou-se na cama abraçando o corpo feminino e puxando-o para junto do seu de modo a que descansasse a cabeça no seu peito, consciente de que era aquilo que ela precisava, para acalmar a tensão acumulada nas horas passadas no hospital.
- Pronto, já aqui estou, - disse depositando um casto beijo no rosto feminino. - agora fecha esses olhinhos bonitos e dorme. 
Sentiu como aos poucos a sua respiração se ia tornando mais suave e o corpo relaxava, finalmente vencido pelo sono.
Ele permaneceu ainda um bom pedaço deitado de costas, pensando em tudo o que acontecera naquele dia. E no enorme desejo que sentira de proteger a mulher que repousava confiante a seu lado. Sentira no peito uma dor terrível, enquanto ela chorava no hospital. Se ele pudesse afastar dela aquela dor tê-lo-ia feito.
Espantado, descobriu que aquele sentimento era o mesmo que lhe fizera mover todas as influências para adotar Soraia. Aquilo era amor!
Não um amor paternal, mas amor de qualquer forma. O amor de um homem pela mulher que o completa.
Afinal o seu coração não estava seco como ele pensava. Era verdade, ele amava Clara, e essa verdade mudava tudo. Trazia uma nova esperança à sua vida. Pousou suavemente os lábios na testa feminina e murmurou docemente:
-Dorme, meu amor.
E finalmente adormeceu. Não dormiu muito. Menos de duas horas depois acordou. Clara dormia profundamente. Com o maior cuidado deslizou o corpo para fora da cama, vestiu o roupão e olhou o relógio.
Sete horas, as crianças não tardariam a acordar e ele não queria que acordassem a mãe. Abriu a porta de comunicação com o quarto das crianças, atravessou-o, abriu a porta que comunicava com o seu quarto e entrou.
Foi à casa de banho, tomou um duche rápido, vestiu-se e voltou a atravessar a porta de acesso ao quarto dos filhos precisamente quando Bernardo acordava.
- Olá pai.
-Bom dia, filho. És capaz de te lavar sozinho?
-Claro pai, já sou crescido. 
-Então vai, o pai vai buscar a roupa para vestires.
A criança entrou na casa de banho e ele tirou uma muda de roupa, e colocou-a em cima da cama do filho. Fez o mesmo com a roupa para a filha, depois fez-lhe uma carícia no rosto, que a levou a abrir os olhos e estender os braços para o seu pescoço.
- Bom dia, preguiçosa. Vamos a levantar, o mano já está quase despachado. Costumas lavar-te sozinha, ou a mãe cuida de ti?
A mãe só me lava a cabeça, no banho, mas só à tarde quando voltamos da escola.
- Então vai lá, que o mano já aí vem. E despacha-te, se não queres chegar tarde à escola.
Enquanto os ajudava a vestir, explicou-lhes que o tio Tiago tinha tido um acidente e estava no Hospital. A mãe estivera lá quase toda a noite e agora estava a descansar, por isso não podiam vê-la nessa manhã.
- Mas o tio não vai morrer, pois não? – Perguntou o filho.
- Não, claro que não. Mas foi ferido e tem que lá estar até ficar curado.
Agarrou nas batas e nas mochilas e dirigiu-se para a porta seguido dos filhos.
- Bom-dia, Adelaide, - saudou ao entrar na cozinha.
-Bom-dia senhor. Lamento o que aconteceu ao menino Tiago. Ontem a Antónia pediu-me para vir fazer o pequeno-almoço, - disse colocando na mesa, um recipiente com pão, um frasco com doce, um prato com queijo, um jarro com sumo de laranja, e duas taças com cereais para as crianças.
Comeram em silêncio, pois saberem que Tiago estava no hospital, tirara a habitual alegria às crianças.  
Quando acabaram, vestiu-lhes as batas, e entregou-lhes as mochilas.
- Vamos lá então, meninos.
 Já no carro, Bernardo perguntou:
- Podemos ir ver o tio Tiago, quando sairmos da escola?
- Não filho. O tio está no hospital e não deixam entrar lá meninos para não ficarem doentes.
Pouco depois chegavam à escola. Antes de os entregar à auxiliar que os estava a receber ao portão, baixou-se para lhes dar um beijo.
- Hoje picas, pai - disse a filha.
Só então se lembrou que com a pressa não fizera a barba.


Esta história que como todos já perceberam está na reta final, volta segunda feira. 
Entretanto espero poder já amanhã mostrar-lhes um pouco do meu passeio. Entretanto amanhã tenho agendada uma visita pelo complexo da antiga CUF aqui mesmo no Barreiro, o estudo da importância que teve para o País aquela que foi a empresa maior da Península Ibérica, e a sétima maior da Europa. com visita à antiga residência do Alfredo da Silva, a visita ao seu mausoléu e  a visita ao museu industrial do Barreiro. E no Domingo a festa da nossa Universidade. Mas não deixarei de os visitar, embora seja um tanto de fugida e às vezes a horas impróprias. As minhas desculpas.