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24.10.18

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE XXXVIII



No dia seguinte, Ricardo apareceu na cozinha  à hora do costume. Não ia para o quartel, mas não queria deixar de tomar o pequeno-almoço com os filhos. 
Porém quando eles se preparavam para sair, e lhe perguntaram se ia levá-las à escola, desculpou-se dizendo que não podia. E dando um beijo em cada um, retirou-se para a biblioteca. Era evidente para todos que estava de mau-humor.
Clara deixou os pequenos na escola e seguiu para a Secundária com o irmão.
- O Ricardo parecia aborrecido, - disse Tiago quando ficou sozinho no carro com a irmã. – Zangaram-se?
- Não. Mas eu fui estúpida e incorreta com ele e decerto o magoei.
- Tem cuidado maninha. O Ricardo é um bom homem e adora-te.
- Donde tiraste essa ideia?
- Basta ver como te olha. Não me digas que tens dúvidas.
- Não sei. Penso que me vê mais como amiga que como esposa.
-Ninguém olha assim para uma simples amiga. Não gostaria de saber que vocês são infelizes por falta de confiança. Até logo, – disse abrindo a porta do carro e saindo.
No caminho de regresso, Clara ia pensando no que o irmão lhe dissera. Seria verdade que Ricardo a amava? Deveria ser. Ela mesma suspeitara disso, mas quem sabe, não era apenas a sua vontade que a fazia ver aquilo que queria ver. E agora? Por causa da sua estupidez teria estragado as suas hipóteses de ser feliz?
Chegou a casa e dirigiu-se à biblioteca. Bateu levemente na porta e entrou. Ricardo estava sentado à secretária com um monte de cadernos na sua frente. Não levantou os olhos do caderno que lia.
- Posso falar contigo? – Perguntou
Continuando a manusear os cadernos, ele respondeu com outra pergunta:
-É importante?
- Para mim é. Fui irrefletida, falei sem pensar e sei que te ofendi. Quero pedir desculpa. Nestes nove meses, tens sido sempre correto comigo e atencioso com o meu irmão.  Não tinha o direito de te ter dito, o que te disse ontem.
- Desculpas aceites. Agora se não te importas, tenho muito trabalho pela frente.
Sentindo-se quase a chorar, voltou-se e dirigiu-se para a porta. Quando se preparava para a abrir, ele levantou a cabeça e disse.
-Suponho que não mudaste de ideia em relação à adoção das crianças.
- Claro que não.
- Obrigado. Vou telefonar ao Francisco.
Durante o resto da semana, a situação não se alterou. Quando as crianças estavam presentes, os dois tratavam-se com a maior cordialidade possível, mas assim que elas saíam para a escola, Ricardo fechava-se na biblioteca, de onde só voltava a sair quando regressavam à hora do almoço. Por seu lado Clara, quando não estava com as crianças, ou estava na cozinha ajudando Antónia, na confeção de algum prato que sabia ser de especial agrado delas, ou no terraço lendo, ou ainda no seu quarto muitas vezes a chorar.
Sentia que Ricardo continuava magoado, e recriminava-se por isso.
Enquanto isso, na biblioteca, ele olhava a página em branco, sem saber como começar a delinear as personagens que se iam movimentar na trama do romance que queria escrever.
Começava a pensar que se tinha metido numa camisa-de-onze-varas, quando seguiu o conselho de Francisco. É verdade que os seus filhos tinham encontrado uma mãe. E para ser justo, uma excelente mãe. Nesse aspeto nada a apontar. Já como mulher era outra história. Fizera-lhe questionar-se e acabara revolucionando toda a sua vida.  Fizera-o sonhar com uma família, libertara a sua libido, e abrira o seu coração, a novos desejos. E acabara traindo-o como todas as outras mulheres que passaram pela sua vida.
Como fora capaz de lhe jurar amor, se não confiava nele, se duvidava da retidão do seu carater? Poderia existir amor sem confiança? Por outro lado de que tinham servido aqueles seis meses de mensagens constantes onde sem pudor ele desnudou a sua alma?
Certo que ele não a amava. Mas a admiração, respeito e carinho que sentia por ela, não contavam? E a química que existia entre os dois? E o desejo de a fazer feliz? E o desejo de partilhar com ela o resto da sua vida? Isso não valia nada?
Ricardo estava tão obcecado em nunca mais amar, que não se dava conta de que o amor não era mais do que aquilo que ele sentia. Será que o ia reconhecer algum dia? E será que Clara o compreendia e o aceitava, desistindo de esperar que ele reconhecesse os seus sentimentos?


16 comentários:

noname disse...

É ele que está errado. É ele que tem que deixar os seus sentimentos vir à tona.

Boa tarde, Elvira

Gaja Maria disse...

Será que ele não consegue enxergar???

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Ele está a complicar a situação, vamos ver no que isto vai dar.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Edum@nes disse...

Penso eu que é a insegurança de Clara,
que está complicando a sua felicidade
por Ricardo se sente, tão, apaixonada
sem dar braço a torcer à sensibilidade!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço.

Anete disse...

De volta p ver a continuação do bonito drama... Os dois estão desfazendo conflitos e construindo um amor sólido!
Vamos adiante, a Elvira nos garante boas emoções e lições de vida...

Um 😘 bj...

Cidália Ferreira disse...

Que casmurro. Lool! Espero que os sentimentos falem mais alto quanto breve! Lol!! Amei!

Beijos e uma excelente tarde.

Roselia Bezerra disse...

Boa Tarde, querida amiga Elvira!
Nossa! Nem sei como desmagoar estes dois corações... mas a amiga saberá, na certa.
Deus a abençoe muito!
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem

O meu pensamento viaja disse...

Obrigada pelo comentário, Elvira. Aqui continua calor, apesar de haver previsões de frio polar para o fim de semana. Será?
beijo

Larissa Santos disse...

Ela já foi humilde em ir pedir desculpas, mas ele agora está a fazer "caixinha! kkkk


Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira

Maria João Brito de Sousa disse...

Passando para actualizar a leitura :)

Abraço, Elvira.

chica disse...

Dois teimosos não se bicam,rs...ARRE!! bjs praianos,chica

Cantinho da Gaiata disse...

Tanta pergunta, que até me deixa maluca, está a exagerar demais... precisa de bater com a cabeça para acordar para deixar de ser teimoso.
Beijinhos

Kique disse...

O pior cego é aquele que não quer ver
Bjs
Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Quando o meta na boca te olhe nos olhos...

Janita disse...

Perante a leitura deste capítulo já mudei a minha opinião...Começo a pensar seriamente que a Clara deve aceitar essa ternura que o marido sente e deixar que o amor dela e o tempo, faça o resto.

Quantos casamentos se concretizam desse modo e resultam numa união duradoura e feliz? Já outros, parecem arder de paixão e vai-se a ver é pavio curto que arde em três tempos!

Vamos lá para uma bela noite de amor e o resto virá com o decorrer do tempo. Senão, nem o pai morre nem a gente almoça, que estes dois são farinha do mesmo saco...

Um abraço e noite boa Elvira.

Sandra May disse...

Uma hora vai acontecer. Parece que eles estão mesmo apaixonados.
Tá indo muito bem, Elvira. continuo na torcida para um final feliz!!!
Bjs do Brasil!

Os olhares da Gracinha! disse...

Ele tem de deixar fluir o sentimento :=)