Dois meses depois, Carlos continuava na psiquiatria do hospital sem saber mais de si do que aquilo que lhe contavam os demais. Pais, irmãs, cunhados, amigos de infância, muita gente se deslocara da Régua até Lisboa para verem o homem que voltara à vida quase sete meses depois de ter sido dado como morto em combate. Não reconheceu ninguém à exceção de Cacilda, a mais nova das irmãs. Porque a reconheceu imediatamente e não reconheceu Amália a irmã mais velha era mais um mistério da sua cabeça que ele não sabia decifrar, e que intrigou o psiquiatra. Este, fez-lhe a seguinte proposta. Gostaria de iniciar um novo tratamento com base na hipnose clínica. Porém aproximava-se o Natal e ele ia-lhe dar alta para a quadra natalícia. Queria que ele fosse a casa, convivesse com família e amigos, andasse pelos lugares da sua infância e juventude. Acreditava que nesse contexto ele poderia recuperar a memória. Se tal não acontecesse, quando regressasse ao hospital, se ele estivesse de acordo, começariam então as sessões de hipnose.
Proposta que ele aceitou imediatamente, receava
endoidecer com tanta luta para se recordar de qualquer coisa, um pequeno
acontecimento que fosse, e sentir-se completamente vazio. Às vezes pensava que
estava num pesadelo, que ia acordar a qualquer hora, e então beliscava-se a si
próprio mas nada mudava. Duas vezes por semana, Luísa ia vê-lo, e ele agarra-se
aquelas visitas como náufrago, à bóia que o vai salvar. Os dois tornaram-se
amigos. Ambos viveram uma tragédia, e talvez por isso, um buscasse no outro, a
força que os havia de fazer esquecer. Naquele dia, mais uma vez, Luísa foi visitá-lo.
- Boa tarde Carlos. Como se sente hoje.
- Na mesma. Um pouco mais animado porque o médico me vai dar alta para passar o Natal na terra com a família. Pensa que isso me pode trazer de volta a memória, e me propôs se eu voltar na mesma, no regresso, ser hipnotizado para ver se revivendo o que se passou, quebro o bloqueio que me
faz estar assim.
- E isso não é perigoso?
- O médico diz que não. Ele pensa que se isso não
resultar, poderei levar anos até que um qualquer facto me faça recuperar a memória.
Eu nem quero pensar nisso. Mais me valera ter morrido naquele dia.
- Não diga isso, meu amigo, está vivo, é jovem,
teoricamente tem muitos anos pela frente, mesmo que durante algum tempo não se
lembre, virá o dia em que recupere a memória. Para os mortos não há retorno nem esperança.
- A Luísa não sabe o que é não saber nada, não ter
recordações, nem amigos, nem familiares.
- Mas o Carlos tem. Já o visitaram.
- É verdade. Mas se exceptuarmos o meu pai que reconheci
porque foi como se me estivesse a ver ao espelho, embora mais velho, e a minha
irmã Cacilda, acreditaria no que me dizem, apenas porque o desejo com toda a minha
alma. Como acreditei que aquela carteira era minha, só porque ma deram e
disseram que era.
- Entendo. Deus queira que a hipnose resulte.
23 comentários:
Leitura em dia! Curiosa quanto ao desenvolvimento, aguardo os próximos capítulos.
Bjinho, Elvira
Muitas vezes essas situações revertem com um choque, uma memória inesperada.
Abraço
bom dia
O reconhecimento daquela irmã talvez seja onde esteja algo que o vai trazer de volta á realidade .
haver vamos !
JAFR
E a Luísa não mostra nem um bocadinho de interesse pelo doente? Do ponto de vista amoroso, quero eu dizer. Como ele nunca namorou a sério, eu estava à espera que eles se começassem a inclinar um para o outro. Deixo à consideração da autora.
A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Tenho para mim que vai fazer-lhe bem ir à terra. Oxalá corra bem.
Hoje:- Ainda chove no meu caminho...
-
Bjos
Votos de uma boa Quinta-Feira
Oxalá corra bem! Beijinhos
Há quem diga que pode resultar!!!
bj
Talvez o convívio familiar lhe faça bem>..Vamos aguardar! bjs, chica
Talvez dê resultado à coisas inexplicáveis.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Estou a adorar!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
A memória de Carlos, Está vindo lenta, mais lenta do que anda um alentejana. Como eu antes de alguém para alguém ouvia dizer. Mexe essas pernas, andas tão devagar, eras bom para ir buscar a morte. A qual assim demoraria mais tempo a chegar?
Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.
Bem, vamos a ver se a ida à terra o faz, lentamente, voltar às origens!!! Estou a gostar!!
Beijo e um excelente dia
Bom sinal o facto de ter reconhecido uma das irmãs. Isso poderá significar que há uma “memória selectiva” a explorar, primeiramente envasa e seguidamente pela medicina. Tudo indica que a partir daí a recuperação será total e quantoà Luisa, creio que os destinos de ambos estão traçados.
Vejamos o que a autora nos reservará .
Abraço, Elvira :)
acompanhando mais este excelente conto
isto vicia...
aguardando os próximos capitulos
beijinhos
:)
Passei para desejar uma boa noite!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
Curioso lembrar-se da irmã mais nova...
Será que ir à terra no Natal lhe trará algumas recordações.
Vamos esperar.....:))
Beijinhos
Ahahahah, eu desejosa do Verão, e aqui estou prestes a viver um Matal :-)
Boa noite, Elvira
Essa de se lembrar da irmã mais nova e da mais velha não, será que vem daí uma história a mais?
Bom vou esperar para ver.
Bjs
Espero que a memória volte em breve.
Deve ser aflitivo uma pessoa não se lembrar da sua vida passada.
Bj
Olinda
Coloquei a leitura em dia e agora na espera dos próximos capítulo com muitas emoções!
Beijos!
Será que a hipnose o vai ajudar?
Enviar um comentário