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12.4.18

RENASCER - IX





Dois meses depois, Carlos continuava na psiquiatria do hospital sem saber mais de si do que aquilo que lhe contavam os demais. Pais, irmãs, cunhados, amigos de infância, muita gente se deslocara da Régua até Lisboa para verem o homem que voltara à vida quase sete meses depois de ter sido dado como morto em combate. Não reconheceu ninguém à exceção de Cacilda, a mais nova das irmãs. Porque a reconheceu imediatamente e não reconheceu Amália a irmã mais velha era mais um mistério da sua cabeça que ele não sabia decifrar, e que intrigou o psiquiatra. Este, fez-lhe a seguinte proposta. Gostaria de iniciar um novo tratamento com base na hipnose clínica. Porém aproximava-se o Natal e ele ia-lhe dar alta para a quadra natalícia. Queria que ele fosse a casa, convivesse com família e amigos, andasse pelos lugares da sua infância e juventude. Acreditava que nesse contexto ele poderia recuperar a memória. Se tal não acontecesse, quando regressasse ao hospital, se ele estivesse de acordo, começariam então as sessões de hipnose.
Proposta que ele aceitou imediatamente, receava endoidecer com tanta luta para se recordar de qualquer coisa, um pequeno acontecimento que fosse, e sentir-se completamente vazio. Às vezes pensava que estava num pesadelo, que ia acordar a qualquer hora, e então beliscava-se a si próprio mas nada mudava. Duas vezes por semana, Luísa ia vê-lo, e ele agarra-se aquelas visitas como náufrago, à bóia que o vai salvar. Os dois tornaram-se amigos. Ambos viveram uma tragédia, e talvez por isso, um buscasse no outro, a força que os havia de fazer esquecer. Naquele dia, mais uma vez, Luísa foi visitá-lo.
- Boa tarde Carlos. Como se sente hoje.
- Na mesma. Um pouco mais animado porque o médico me vai dar alta para passar o Natal na terra com a família. Pensa que isso me pode trazer de volta a memória, e me propôs se eu voltar na mesma, no regresso, ser hipnotizado para ver se revivendo o que se passou, quebro o bloqueio que me faz estar assim.
- E isso não é perigoso?
- O médico diz que não. Ele pensa que se isso não resultar, poderei levar anos até que um qualquer facto me faça recuperar a memória. Eu nem quero pensar nisso. Mais me valera ter morrido naquele dia.
- Não diga isso, meu amigo, está vivo, é jovem, teoricamente tem muitos anos pela frente, mesmo que durante algum tempo não se lembre, virá o dia em que recupere a memória. Para os mortos não há retorno nem esperança.
- A Luísa não sabe o que é não saber nada, não ter recordações, nem amigos, nem familiares.
- Mas o Carlos tem. Já o visitaram.
- É verdade. Mas se exceptuarmos o meu pai que reconheci porque foi como se me estivesse a ver ao espelho, embora mais velho, e a minha irmã Cacilda, acreditaria no que me dizem, apenas porque o desejo com toda a minha alma. Como acreditei que aquela carteira era minha, só porque ma deram e disseram que era.
- Entendo. Deus queira que a hipnose resulte.


23 comentários:

Odete Ferreira disse...

Leitura em dia! Curiosa quanto ao desenvolvimento, aguardo os próximos capítulos.
Bjinho, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Muitas vezes essas situações revertem com um choque, uma memória inesperada.
Abraço

Joaquim Rosario disse...

bom dia
O reconhecimento daquela irmã talvez seja onde esteja algo que o vai trazer de volta á realidade .
haver vamos !
JAFR

Tintinaine disse...

E a Luísa não mostra nem um bocadinho de interesse pelo doente? Do ponto de vista amoroso, quero eu dizer. Como ele nunca namorou a sério, eu estava à espera que eles se começassem a inclinar um para o outro. Deixo à consideração da autora.

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Larissa Santos disse...

Tenho para mim que vai fazer-lhe bem ir à terra. Oxalá corra bem.

Hoje:- Ainda chove no meu caminho...
-
Bjos
Votos de uma boa Quinta-Feira

O meu pensamento viaja disse...

Oxalá corra bem! Beijinhos

Os olhares da Gracinha! disse...

Há quem diga que pode resultar!!!
bj

chica disse...

Talvez o convívio familiar lhe faça bem>..Vamos aguardar! bjs, chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Talvez dê resultado à coisas inexplicáveis.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Teresa Isabel Silva disse...

Estou a adorar!

Bjxxx
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Edum@nes disse...

A memória de Carlos, Está vindo lenta, mais lenta do que anda um alentejana. Como eu antes de alguém para alguém ouvia dizer. Mexe essas pernas, andas tão devagar, eras bom para ir buscar a morte. A qual assim demoraria mais tempo a chegar?

Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Bem, vamos a ver se a ida à terra o faz, lentamente, voltar às origens!!! Estou a gostar!!

Beijo e um excelente dia

Rui disse...

Bom sinal o facto de ter reconhecido uma das irmãs. Isso poderá significar que há uma “memória selectiva” a explorar, primeiramente envasa e seguidamente pela medicina. Tudo indica que a partir daí a recuperação será total e quantoà Luisa, creio que os destinos de ambos estão traçados.
Vejamos o que a autora nos reservará .
Abraço, Elvira :)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

acompanhando mais este excelente conto
isto vicia...
aguardando os próximos capitulos
beijinhos
:)

Teresa Isabel Silva disse...

Passei para desejar uma boa noite!

Bjxxx
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Meu Velho Baú disse...

Curioso lembrar-se da irmã mais nova...
Será que ir à terra no Natal lhe trará algumas recordações.
Vamos esperar.....:))
Beijinhos

noname disse...

Ahahahah, eu desejosa do Verão, e aqui estou prestes a viver um Matal :-)

Boa noite, Elvira

Cantinho da Gaiata disse...

Essa de se lembrar da irmã mais nova e da mais velha não, será que vem daí uma história a mais?
Bom vou esperar para ver.
Bjs

Diana Fonseca disse...

Espero que a memória volte em breve.

Olinda Melo disse...


Deve ser aflitivo uma pessoa não se lembrar da sua vida passada.

Bj

Olinda

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Coloquei a leitura em dia e agora na espera dos próximos capítulo com muitas emoções!
Beijos!

redonda disse...

Será que a hipnose o vai ajudar?