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7.7.24
DOMINGO COM HUMOR
6.7.24
PORQUE HOJE É SÁBADO
4.7.24
MEU NOME É AMÉLIA
AMÉLIA
Meu nome é Amélia. Não, a dos olhos doces, que doçura na
minha vida nem no café. A minha vida é um Carnaval constante e no rosto trago a
máscara, de uma mulher feliz. Apesar dos meus quarenta anos, feitos
recentemente, cujo brilho da juventude, já se perdeu no tempo, ainda sou uma
mulher bonita. Não tenho nenhum curso, pelo que o meu emprego de balcão numa
perfumaria é tudo o que consegui na vida. Quando era menina, sonhava ser
médica, poder salvar vidas. Hoje quem me dera coragem para salvar a minha
própria vida.
Mas sabem, sou uma excelente atriz, que nunca foi ao
teatro, mas vivo representando no palco da vida. Porque quem me vê na rua, ou
no emprego, saudando com um sorriso, um conhecido, um cliente, ou brincando com
as colegas, que não sou uma mulher feliz.
Casei aos dezoito
anos completamente apaixonada, a cabeça cheia de senhos, o corpo fervendo de hormónios.
Todavia os sonhos não duraram muito. Em breve o marido saía para o café, enquanto
eu ficava na
cozinha, a preparar os almoços para o dia seguinte, as roupas e finalmente caía cansada na cama, já que no dia seguinte tinha de se levantar cedo. E o pior não era isso. O marido raramente voltava sóbrio.
Eu fingia que dormia para não provocar uma discussão altas horas da
noite. Mas quando de manhã lhe chamava a atenção, ele ficava agressivo e dizia
que eu estava doida, que bêbado tinha eu o juízo. Estava decidida a deixá-lo quando
descobri que estava grávida e pensei que o nascimento do filho fizesse o pai
ganhar juízo.
Mais
uma vez me enganei, pois aconteceu precisamente o contrário. Ele ficou muito
mais agressivo, cada vez que lhe chamava a atenção dizia-me que o que eu queria
era separar-me dele, que devia ter arranjado algum amante e que se calhar o
filho nem era dele.
Nunca
mais lhe disse nada. Pus um divã no quarto do menino e passei a dormir lá. E
foi nessa altura que afivelei a máscara de mulher feliz decidindo que ninguém
ia descobrir o meu sofrimento.
Não, não me separei dele, não por amor, ou por qualquer outro sentimento, que não seja a indiferença. Não me separei porque o meu vencimento era curto para alugar uma casa e criar um filho sozinha, e apesar do seu mau génio, sempre contribuía com as despesas, desde que perante os amigos eu me mostrasse amável, para que eles não soubessem o fracasso do nosso casamento.
E pronto. Meu nome é Amélia e sou uma das muitas mulheres portuguesas que sofrem sozinhas uma vida sem amor mas com muito fingimento.
2.7.24
SAUDADES - ELVIRA CARVALHO
SAUDADES
Tenho saudade
Do tempo em que a minha casa
era um palácio.
Tinha por rei o Amor
e por rainha a Felicidade.
Tenho saudade,
do tempo que passava
Sentada no chão
Com a cabeça nos teus joelhos,
sentindo a doce carícia
dos teus dedos no meu cabelo,
tão suaves como brisa de verão.
E em silêncio vivíamos
o amor que nos unia.
Tenho saudades, amor
dos passeios de mão dada
dos sorrisos cúmplices
em palavras trocadas.
Agora a nossa casa
já não é um palácio.
Os reis partiram contigo
as paredes perderam o calor
e um silêncio de chumbo
espalhou-se pela casa,
trazendo consigo a dor
e a saudade.
Elvira Carvalho