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20.11.18

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE II






Foi direta à sala, onde sabia que encontraria a mãe a ler. Era o seu lugar favorito. Sentou-se a seu lado. Francisca fechou o livro e olhou para ela na expectativa. Não fez perguntas, e Ana teve a certeza de que a mãe sabia o que lhe ia dizer. A mãe sempre sabia o que se passava com ela:
- Mãe, já não vai haver noivado, muito menos casamento. Acabei tudo com o Paulo.
Se esperava que a mãe dissesse alguma coisa, enganou-se. Francisca levantou a mão, acariciou o rosto da filha, e esperou.
-Eu queria, mãe. Começo a desejar estabilizar a minha vida emocional. Ter a minha casa, marido, filhos. Pensei que com o Paulo, isso ia acontecer. Mas não é assim. Na intimidade, a chama não se acendeu, senti-me estranha nos seus braços. E não quero um casamento assim. Não me basta ter um homem apaixonado ao meu lado. Eu quero alguém a quem eu ame com intensidade.
A mãe abraçou-a como fazia quando ela era criança. Ana deitou  a cabeça no seu regaço, e deu largas à sua desilusão, deixando correr as lágrimas. Francisca sentiu um nó na garganta. Apesar dos anos, tinha bem presente o que fora o seu casamento com Jorge. Sabia bem o que era rolar na cama, depois de ter feito amor, pensando que devia estar feliz, mas sentindo apenas que cumprira uma obrigação, que a envergonhava e lhe deixava um aperto no peito que não a deixava adormecer. De forma nenhuma queria isso para a sua menina. Dos seus filhos, Ana era aquela que mais se identificava com ela. A mais sensível. Sentindo que se acalmara, afastou-a um pouco e olhou-a com ternura.
- Se assim é, fizeste bem, Ana. Um casamento é uma coisa muito séria. Bem sei que na atualidade, o divórcio está na ordem do dia. Mas acarreta sofrimento. Deixa cicatrizes. Já contaste ao pai?
- Eu sabia que me ias entender. No fundo, o que eu queria, era um casamento como o vosso. Essa felicidade que transportam no olhar, esse amor visível em cada gesto. Foi sempre assim, ou isso aprende-se com o tempo?
Francisca sorriu: Continuava a ser uma linda mulher apesar de já ter ultrapassado os cinquenta anos.
-No amor, nada se aprende Ana. Ele é espontâneo e avassalador. O tempo não lhe acrescenta, nem tira nada. Somos nós, com as nossas atitudes que o engrandecemos ou o matamos. Compara-o a uma fogueira. Quando começa, as labaredas são altas, o calor intenso. Mas se não fazes nada, à medida que a lenha vai ardendo, as labaredas vão diminuindo de tamanho, o calor vai enfraquecendo até que da fogueira inicial só restam cinzas.
- E é impossível uma fogueira arder só de um lado, - murmurou a jovem desalentada. Para depois acrescentar.
-Contei ao pai, e ficou furioso. Tenho a sensação de que sentia vontade de me bater.
- Está preocupado contigo. É natural. Não te preocupes. No fundo o que nós queremos é que sejas feliz. Estás com muito trabalho? Devias pedir-lhe que te desse umas férias. Precisas espairecer. Porque não fazes uma viagem?
- Agora? E a vossa festa de aniversário?
- Faltam cinco dias. Podias, aproveitar para pôr em ordem algum assunto que tenhas pendente e partir depois da festa.
-Não tinha pensado nisso. Obrigado mãe, fazes com que os meus grandes problemas se tornem menores e menos dolorosos.
Francisca sorriu quando a jovem se inclinou para a beijar murmurando:
-És um anjo.

reedição







15 comentários:

Larissa Santos disse...

As Mães entendem sempre.. (mesmo aquelas que não o sendo, são muito mais) Adorei este diálogo.

O nosso amigo Gil António, diz: Queria abraçar-te ... meu amor

Bjos
Votos duma óptima Terça - Feira.

noname disse...

O entendimento é perfeito.

Bom dia, Elvira

chica disse...

Essa cumplicidade e parceria entre mãe e filha é linda! Adorando! beijos, chica

Maria João Brito de Sousa disse...

Passando para acompanhar a história, deixo outro abraço.

Anete disse...


Gostando de acompanhar "Uma História de Amor"!
Mãe é mãe!... O coração de uma boa mãe é amoroso e tem bons conselhos...
Beijo e abraço nesta terça-feira...

Cidália Ferreira disse...

Estou a gostar bastante deste (25 anos depois) Parabéns, Elvira!

Beijos e um excelente dia!

Edum@nes disse...

Vou acompanhando no andamento da carruagem. Mais uma corrida, mais uma viagem. Que no tempo não fique perdida, a felicidade de quem nela viaja?

Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço.

rendadebilros disse...

Mais uma história, mais uma vez a delicadeza dos sentimentos... (Fiquei enternecida com as suas palavras, bem haja! Então há boas novidades? Que maravilha! Saúde e paz para toda a Família.) Muitos beijinhos.

Isa Sá disse...

A acompanhar a história.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Emocionada com essa cumplicidade entre mãe e filha, reportei-me logo a lembrança da minha mãe, oh que saudades!
Beijos!

Tintinaine disse...

Já não me lembrava desta parte, fiz bem em passar por aqui, hoje!

Meu Velho Baú disse...

Adorei a cumplicidade de Mãe e filha...
Vai ser outro belo romance
Beijinhos

Sandra May disse...

Bonita amizade e intimidade entre mãe e filha!
Abraços

Os olhares da Gracinha! disse...

As mães ... sempre mais compreensivas!!!bj

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Que momento tão lindo entre mãe e filha.
Estou a ler os capítulos desta segunda parte e estou a adorar.
Beijinhos,
Ailime