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5.11.18

ESTRANHO CONTRATO - PARTE VI





Francisca estava a precisar desabafar, e Graça fora noutros tempos sua confidente. E apesar da vida que as separara nos últimos anos, mostrava que continuava a ser sua amiga. Assim abriu o coração e contou tudo desde que abandonara a escola, como se vira envolvida num casamento que não a entusiasmava, como de repente deixara tudo para seguir o marido para a cidade, falou dele, do nascimento dos filhos que adorava, da falência e suicídio de Jorge, e finalmente de como teve que voltar para a casa dos pais, com dois filhos e sem quaisquer meios de sobrevivência, por causa das dívidas da firma.
- E assim está a minha vida, amiga. Preciso urgentemente de arranjar um emprego, mas não é fácil com duas crianças pequenas.
- O que tu precisas é de um novo marido. És muito jovem para ficares a remoer a viuvez, e um marido ajudava-te a criar os filhos.
Francisca olhou para a amiga espantada. Que se passava com ela? Estava doida? Donde tirara uma ideia tão estapafúrdica?
Como se não tivesse dito nada de mais Graça perguntou:
- Não chegaste a conhecer o meu irmão Afonso, pois não? Não. Claro que não. É mais velho que nós, já estava na Universidade, quando nos conhecemos. E depois que se formou, ficou a viver sozinho em Lisboa. É advogado. Começou a trabalhar num escritório de advogados, até que montou o seu próprio escritório. Um dia conheceu uma jovem do interior, apaixonaram-se e casaram. Como ela não gostava de Lisboa, compraram uma casa na terra e mudaram-se para lá. Tem duas filhas, a mais pequena com apenas um ano. Quando a bebé tinha dois meses, a mulher teve um acidente de carro e morreu. Ele amava-a, foi-se muito abaixo e eu deixei a minha casa para vir acompanhá-lo e cuidar das meninas, pois embora ele tenha uma empregada duas crianças de tenra idade dão muito que fazer, como sabes. Decididamente precisa de uma mulher que lhe ajude a criar as filhas, porque eu não posso anular a minha vida por causa dele, e o meu marido já me está a pressionar para eu regressar. Era uma boa solução para ti e para ele se vocês casassem.
Francisca estava cada vez mais espantada com a amiga. Como era possível pensar que ela se iria casar com um homem que nunca tinha visto? Estava doida. Só podia.
- Não faças essa cara, não estou doida. Nos últimos meses, tenho massacrado o meu irmão com esta ideia. Ele precisa de uma mulher em casa. Uma empregada mais jovem, pode dar azo a falatórios que não lhe convém, até porque os ex-sogros lhe querem tirar a guarda das meninas. Casando resolve o assunto. É claro que tem de ser uma pessoa de confiança, que trate as crianças com carinho. E isso, tu és. Lembro-me bem como tratavas a irmã da Luísa. Melhor do que ela que era irmã. E depois era uma solução para os teus filhos. Conheço o meu irmão. Tenho a certeza que os trataria da mesma maneira que trata as filhas. E então, não dizes nada?


reedição



16 comentários:

Os olhares da Gracinha! disse...

Desabafar ajuda imenso e pode ser que a amiga a ajude!!!
Boa semana!

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Já não é a primeira historia que a nossa autora começa desta forma .
Ou seja só começamos a entrar no esquema a partir de alguns capítulos o que torna isto muito mais interessante.
Uma boa semana para todos .
JAFR

chica disse...

Muito bom te ler e recordar...bjs, chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

É sempre bom desabafar.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Maria João Brito de Sousa disse...

Ontem à noite, li o quinto capítulo. Não comentei porque, à noite, já trago os olhos muito cansados e mal consigo distinguir as letras das teclas.
Li agora o sexto e verifico que esta história se vai distanciando muito da anterior.

Abraço e uma boa semana, Elvira.

_ Gil António _ disse...

Bom dia:- É sempre bom ter alguém que nos saiba ouvir. Que entenda o alcance dos nossos desabafos.
.
* Desnorte na Morte do Sentimento *
.
Cumprimentos poéticos.

Cidália Ferreira disse...

Hummm fora então por influências da amiga!! Muito bem! Estou curiosa...
Silêncio desmedido
Beijos e uma excelente semana!

noname disse...

Juntar o útil ao agradável, por mais que choque, era, quiçá é, muito usual. Em tempo de guerra não se limpam armas, e creio, pôr-se-á acima de tudo o bem estar de crianças pequenas, nestas situações.

Bom dia, Elvira

Berço do Mundo disse...

Afinal lembro-me da história. Mas lê-se com o mesmo prazer que da primeira vez.
Beijinho e boa semana

Edum@nes disse...

Graça estendeu o tapete para Francisca passar. À primeira vista pode até parecer exagero. Não deixando, todavia, de ser uma oportunidade para a vida de Francisca!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço.

Fá menor disse...

Já tive oportunidade de ler esta história completa e é belíssima! (Bem como, depois, a sua continuação ;) ) Meus parabéns! Agora é sempre bom ir relendo.

Boa semana!
Beijinhos.

Mariazita disse...

Lembro-me desta história, o que não impede que seja um prazer relê-la.
Como "apanhei o comboio em andamento"... :)))dei umavista de olhos aos capítulos anteriores.
Vale a pena reler.

Votos de uma semana feliz
Um abraço
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Janita disse...

Cá estou eu a reler e, à medida que as coisas vão avançando, mais me vou lembrando. Sim, que isto de memória, a minha já não é o que era. São tantas as coisas que lemos...!

Um abraço, Elvira

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um desabafo que vai dar frutos.
Beijinhos,
Ailime

Anete disse...


Olá... Recordando a história por aqui contada... Interessante e o bom é que tudo acontece com muita criatividade da sua parte, Elvira...
Recordar é viver muito mais...
Abçs

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Essa é uma amizade verdadeira, ouve com carinho, atenção e ainda dá solução para a adversidade ser transformada em horizontes de paz.
Beijos!