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24.11.18

UMA HISTÓRIA DE AMOR - PARTE XI






-Vai-te embora, Ana.
A voz saiu-lhe seca e rude como um tiro. Assustada, a jovem largou-lhe o braço e deu um passo atrás.
- Outra vez? Estás muito instável. Não pensei que depois de cinco anos voltasses assim. Não podes ser o Simão. És apenas parecido com ele. O Simão que eu conheço não me trataria assim. 
Afastou-se a correr, para que ele não visse as lágrimas que embaciavam o seu belo olhar.
Ele ficou no jardim vendo-a afastar-se. Doía-lhe o corpo e a alma. Sentia-se impotente para dominar os seus sentimentos. Apertou os punhos. Que podia fazer? Correr atrás dela e confessar-lhe… o inconfessável? Não podia fazê-lo. Ia odiá-lo. E com ela toda a sua família. Tinha que se dominar. Disfarçar. Fingir.
Mas ele nunca fora bom a fingir. Desde menino sempre quis saber a verdade das coisas e ser verdadeiro com os seus sentimentos e as pessoas que o rodeavam. Sentou-se e fechou os olhos.
Sobressaltou-se ao sentir uma mão no ombro.
- Que se passa, filho? Porque não entras e te divertes como os teus irmãos? Convivem tão pouco.
- Não se passa nada, pai. Estava aqui a recordar. A lembrar da primeira vez que entrei nesta casa, para cá morar. Até aí, vivia com os meus avós.
-Sim? Tinhas cinco anos. Não julguei possível que te recordasses.
-Pois. Mas na verdade até lembro, da primeira tarefa que me deste. Disseste para vir para o jardim com os manos, tomar conta deles, e ter especial cuidado com a Ana porque era ainda um bebé.
- E tu passaste a manhã toda com ela ao colo, - sorriu Afonso
- Ela gostava. E eu sentia-me tão importante com isso.
O pai sorriu e mudando de conversa, perguntou:
-Quando é que pensas, deixar Paris e voltar para casa? A mãe sofre, com a tua ausência.
- Sinceramente ainda não pensei nisso.
- Tens alguém lá que te prenda? – Perguntou encarando-o.
-Não. – Respondeu com firmeza, devolvendo o olhar
- Então filho, juro que não te entendo. Sei que Paris é uma cidade linda, com uma grande concentração de artistas de todo o mundo, muitas tertúlias, muita boémia. Mas será que um homem pode ser feliz só com isso? Já realizaste algumas exposições e todas foram um êxito. O teu nome anda sempre associado ao talento. Então, o quê, ou quem, te mantém exilado da tua pátria e daqueles que te amam?
Engoliu em seco. Mas não respondeu.
Afonso sentiu que havia qualquer coisa que impedia o filho de regressar. Qualquer coisa de muito doloroso. Era advogado há muitos anos. Conhecia a natureza humana. Estava habituado a descobrir nos silêncios, coisas que lhe queriam esconder. E o filho escondia-lhe alguma coisa. Talvez precisasse da sua ajuda e não se atrevesse a pedir. Tinha que estar alerta.
- Vamos Simão. Está na hora do jantar.
E os dois homens entraram em casa.

reedição







17 comentários:

noname disse...

Simão parece ter esquecido que ela não é sua irmã.

Boa noite, Elvira

Zé Povinho disse...

A verdade vem sempre à tona...
Abraço do Zé

PROFESSORA LOURDES DUARTE disse...

Querida Elvira, muito interessante a continuação. Acho interessante amaneira como o pai interroga. E Simão em dúvida, mas a verdade sempre vem a tona. Amei! Grata pela visita, volte sempre amiga. Bjuss

Cidália Ferreira disse...

Vai ser complicado, ou esquecer, ou partir para outra! Complicado! Amei!

[Poetizando e Encantado ] ESPELHO MEU...
Beijos. Bom fim - de - semana!

Toninho disse...

Bela forma de prender a atenção Elvira, admiro quem escreve conto e gosto muito de seguir mesmo com todas as dificuldades. O que pode Simão com o coração em estado de emoção?
Parabéns amiga.
Um bom domingo abençoado para vocês.
Meu carinhoso abraço de paz e luz.
Uma semana maravilhosa e grato sempre pelo carinho.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Estive a pôr a minha leitura em dia e adorei todos os capítulos.
Será que Simão vai ter coragem para abrir o coração e enfrentar a família?
Vamos ver os capítulos seguintes.
Beijinhos e bom domingo.
Ailime

chica disse...

Simão passando por momentos tristes pra ele e não sabendo bem como com a verdade lidar! beijos, chica

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história e desejar um ótimo domingo!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Maria João Brito de Sousa disse...

Cá estou, lendo e desvendando um pouco mais o fio desta meada.

Abraço, Elvira.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
A solidão quase nunca é boa conselheira, e aqui talvez um a boa conversa com alguém mais intimo lhe venha fazer bem .
Um santo domingo .
JAFR

_ Gil António _ disse...

Bom dia:- O amor é lindo. Esperando um final feliz.
.
* Porque partes em desatino ( Poetizando e Encantando ) *
Votos de um Domingo Feliz.

O meu pensamento viaja disse...

Olá, Elvira! Passando para desejar um feliz domingo. Beijinhos

Anete disse...


Conflitos na alma, mas logo os esclarecimentos trarão alívio e leveza... Simão será MUITO FELIZ!

Bom domingo...
Aqui, muita chuva agora... Tempo para isso...

Edum@nes disse...

O que terá de ser será. Se Simão e Ana nasceram um para o outro. O destino os juntará?

Tenha um bom dia de Domingo amiga Elvira.
Um abraço.

Os olhares da Gracinha! disse...

Conversar faz bem à alma!!! Bj

Rosemildo Sales Furtado disse...

Quem sabe, talvez só mesmo a mãe possa ajudá-lo? aguardemos.

Abraços,

Furtado

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Que coração conflituoso!!!!! Ama a irmã que não é irmã e tem medo de confessar, pensando na reação dos demais e o sofrimento, a solidão e a angústia aumentando.
Beijos!