João caiu no desespero. Nem ele próprio, se tinha dado conta, da intensidade do amor que tinha pela mulher. Mandou a sua assistente desmarcar todas as consultas, que tinha agendadas e fechou o consultório. Sentia vontade de largar tudo e desaparecer. E se não o fez, foi porque o sentido do dever para com os seus doentes, impunha-se mesmo ao seu desgosto. Não pediu o divórcio, se ela queria ser livre, que o pedisse. Durante meses, esperou todos os dias por isso, mas ela nunca o pediu, e ele também não. Como se adivinhasse o que se tinha passado, Inês que há algum tempo tinha regressado à cidade, divorciada, e já tinha tentado reatar a relação, sem qualquer sucesso, intensificou os seus esforços, tentando cercá-lo numa teia de sedução, e recuperar o seu amor. Ele não lhe deu qualquer esperança. Para ele, ela morrera no dia em que descobrira a sua traição.
Durante quase um ano, sentiu-se no inferno, e só não caiu
na depressão, graças à ajuda ao seu amigo Manuel, um excelente psicólogo, e a única pessoa a saber que a esposa o abandonara. Quando
conseguiu enfim dominar o desgosto, reabriu o consultório, mas agora apenas
duas vezes por semana. Os anos foram passando, e já lá iam quase quatro desde aquele dia em que Odete partira. João tinha agora, trinta e nove anos. Os cabelos
apresentavam-se grisalhos e as rugas à volta dos olhos tinham-se acentuado.
Profissionalmente tinha recuperado o prestígio de outrora. Mais. Era agora o diretor do hospital onde sempre trabalhara. No seu consultório, a sua assistente
estava a marcar consultas, com três meses de espera. Ele não se importava. Quem
tivesse urgência, procurasse outro cardiologista. Ele não voltaria a entrar
naquela espiral de excesso de trabalho. Afinal para quê? Tinha mais dinheiro do
que aquele que precisava para ter uma vida de qualidade. Não tinha filhos e já
tinha perdido as esperanças de os vir a ter. O facto de Odete não ter pedido o divórcio, criou no seu coração a secreta ilusão de que um dia ela voltaria. E essa ilusão, dava-lhe forças para se manter vivo.
Abriu os olhos e endireitou-se. Pegou a garrafa de
cerveja, e levou-a à boca. Bebeu um pouco e cuspiu de imediato para a garrafa.
Estava quente e choca. Levantou-se e foi à cozinha, despejou a cerveja na lava
loiça e pôs a vasilha no receptáculo da reciclagem. Introduziu uma cápsula na
máquina e tirou um café. Precisava espantar o cansaço. Tinha que entrar em
contacto com um colega espanhol por causa de uma técnica inovadora que ele usara no tratamento de um doente, e precisava estar bem
desperto. Eram quase oito horas, a hora combinada para falaram. Foi ao quarto
vestiu uma camisa, penteou os cabelos e dirigiu-se ao escritório onde abriu o
computador.
22 comentários:
É sempre bom ter um amigo nos momentos difíceis.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Que será que a novelista nos reserva desta vez? As expectativas são grandes!
Riqueza de detalhes nos deixam a esperar sempre mais! Lindo! bjs, chica
BOM DIA!
Com sol na minha Figueira, vou lendo a sua história.
Abraço
Humm muitas duvidas, mas adorei. :))
Hoje: - {Poetizando e encantando} ...Promessas
.
Bjos
Votos de uma feliz Terça-Feira.
João tinha muito dinheiro. João tinha esperança de que um dia Odete voltaria para ele. Se isso não acontecer João jamais na sua vida será feliz?
Tenha um bom dia amiga Elvira.
Um abraço.
Aquilo que me apraz dizer, após a leitura dos capítulos que tinha em falta, é que houve ali muita falta de diálogo.
Antes de ter tomado a decisão de abandonar o marido, a Odete deveria ter-lhe aberto o coração, falar-lhe da sua solidão, do quanto sentia a sua ausência. Das suas duvidas. Quanta amargura se teria evitado...mas isto sou eu a divagar. :)
Estou a gostar muito e a ler tudo com muita atenção, Elvira.
Um abraço.
No geral é mais comum a mulherada sofrendo pela traição.
Essa versão masculina prova que homem tb sofre.
bjokas =)
Ele ainda tem esperanças. Humm não sei. Mas estou a gostar.. Obrigada ! :))
Beijo e um dia feliz
Muitas emoções e dores ele tem passado... Puxa, decepções e traumas fortes, ainda bem que está despertando para a questão do bom uso do tempo... Trabalhar tanto pra quê?! Qualidade de vida é importante!
Um abração e boa continuação da terça-feira...
Já quatro anos. O tempo passa num instante.A Odete que tome cuidado onde quer que esteja. Se gosta do marido é melhor voltar. A Inês aí está à espreita...
Bj
Muito estranho, um homem ser abandonado, logo por duas mulheres ! :(
Também, a profissão de médico, podendo ser financeiramente interessante, não deixa de correr estes riscos ! :(
A ver vamos, qual o futuro !
Abraço :)
Já estou "colada" neste conto!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram
A ver o que o destino lhe reserva!bj
Acompanhando e gostando!
Bjs!
Capítulo de transição, mas muito bem escrito!!!
Boa noite Elvira,
Outra história muito bem concebida e que ainda vai fazer correr muita tinta.
Estou a gostar imenso.
Beijinhos,
Ailime
Olá, querida amiga Elvira!
Muito sofrimento para ele. Homens também sofrem. Haja visto que tenho dois filhos homens...
Ansiosa pelo final...
Seja muito feliz e abençoada junto aos seus amados!
Bjm de paz e bem
Concordo com Rosélia, muito sofrimento para esse homem, mas, por outro lado, isso é bom, pois chega de ser a mulher a sofrer. O amor quando não correspondido atinge aos dois sexos e o sofrimento é o mesmo. Vamos ver no que vai dar todo esse sofrimento e a esperança que percebe-se no ser dele.
Beijos!
Voltei para recomeçar a ler do ponto onde estava...
Ele devia era ir procurá-la!
Oi Elvira
Ninguém merece essa maldita traição, eu largaria na hora
Beijos
Lua Singular
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