O jantar decorreu com a animação de quem está em família e
sente que é amado. E na verdade, era assim que a jovem se sentia na companhia
dos compadres. Sabia que eles a amavam e se preocupavam com ela como o fariam
com uma irmã.
Durante a refeição, Anabela contou a conversa que tivera
com o Dr. Azevedo.
-E aceitaste? - perguntou Diogo.
- Disse que ia pensar e lhe dava uma resposta amanhã. O que
vocês acham?
- Pessoalmente, preferia que ficasses cá, do que ponhas em
prática a ideia de ires para a Inglaterra. Monetariamente embora o doutor não te tenha dado um valor, decerto o salário não ficará atrás do que ganharias em qualquer país na Europa e não terás que pagar alojamento nem comida o que é uma mais-valia.
Por outro lado, é um grande desafio e se tiveres êxito é
muito bom para o teu curriculum. Mas como dizia minha avó, “teu coração, teu
mestre”. Tu é que terás de analisar os prós e os contra, e decidir.
-O Dr. Azevedo parece depositar uma grande esperança nas
minhas capacidades. E se eu não aguento mais tempo do que as minhas
antecessoras?
-Tenho a certeza de que aguentarás. Tu adoras um desafio e
por muito mau que seja não será pior do que aquilo porque já passaste com o traste do Óscar.
-A Paula tem razão, - acrescentou Diogo. A tua profissão
não é fácil, mas nada se compara, ao que o Óscar te fez, ou à violência
psicológica a que os teus sogros te submetem, sempre que se cruzam contigo.
-Tens razão. Mas embora me custe a atitude deles e me
queira afastar daqui, no fundo eu compreendo. Eles amavam o filho, estão
destroçados e atacarem-me faz com que não pensem na culpa que eles têm. Algumas
pessoas atacam as outras, como defesa própria contra o sofrimento.
-E não pensas que pode ser esse o caso do sobrinho do Dr.
Azevedo? Imaginas como se sentirá, um homem jovem e ativo que de um momento
para o outro se vê incapacitado de seguir a sua vida e ainda tem de lidar com a
traição da noiva? – perguntou a amiga.
-Se acontecesse comigo, não sei se não faria um disparate,
que me levasse de vez, - acrescentou o marido.
-Não sejas tonto, - zangou-se Paula. Isso é um ato de
cobardia…
-A Paula tem razão. Nenhum sofrimento, por maior que seja
se resolve com o suicídio. Além do mais é uma atitude egoísta, porque deixa o
sofrimento para aqueles que o amam. Mas vamos mudar de assunto. Já ouvi a vossa
opinião, vou pensar no assunto, mas estou quase decidida. Bom, - disse pondo-se
de pé, - vou-me embora.
Vejo-te amanhã quando for à clínica, e a ti Diogo qualquer
dia se não me decidir a aceitar a proposta, ou quando me vier despedir se
decidir o contrário. Muito obrigado aos dois, por tudo o que têm feito por mim,
e por me acolherem no seio da vossa família como se fosse um membro dela.
-Mas tu és…- disseram os dois em uníssono, acompanhando-a à
porta.