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28.2.23

POESIA ÀS TERÇAS - CASIMIRO DE BRITO - POETA COMO TU, IRMÃO

 



Poeta como Tu, Irmão

Não sou mais poeta do que tu, irmão!
Tu cavas na terra a semente da vida,
eu cavo na vida a semente da libertação.

Somos partes perdidas dum só
que a razão de ser das coisas
separou. Não sou mais poeta do que tu, irmão.
A mãe que te gerou a mim me gerou —
não foi ela quem nos trocou
as mãos, a voz do coração.

Abandona um pouco a charrua, arranca
da terra os olhos cansados, e limpa
o sujo da cara ao sujo das mãos — onde
os calos são um só e as rugas da morte
caminhos cobertos de pó.

E olha
na direcção do meu braço cansado, sem
músculos quadrados
nem merda nas unhas, mas que te aponta
o mundo onde as raízes do dia, a luta, o trabalho
reclamam suor
mas não te roubam o pão.
Arranca os olhos da terra, irmão!

27.2.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XXIV


 

 -Venha Anabela, antes de apresentá-la ao meu sobrinho, gostaria de lhe mostrar a sala de tratamento que eu e o meu irmão montámos para as sessões de fisioterapia – disse abrindo uma porta e dando-lhe passagem.

A jovem entrou e parou maravilhada. A sala era maior do que esperava, e dentro dela havia sido montado tudo o que poderia usar nas suas sessões, uma marquesa, recipiente para os calores húmidos, aparelhos de ondas curtas, de ultrassons, botas de pressoterapia, um armário com toalhas, cremes e óleos analgésicos e de massagens. Também barras de alongamento na parede e barras paralelas com base antiderrapante para começar a andar. Em cima de uma pequena mesa, uma agenda com o programa de tratamentos iniciais. Maravilhada, voltou-se para o médico e disse:

-Isto é uma autêntica maravilha. Não falta nada para a recuperação do doente. Assim ele tenha vontade de se curar.

-Vejo que está satisfeita com as condições da sala. Esta era a sala de espera, para os doentes, pois o Tiago esperava dar aqui consulta gratuita, aos doentes mais necessitados, aqueles cujos recursos são tão baixos que evitam a ida ao médico. Claro isso seria apenas no intervalo das suas estadias nas regiões mais inóspitas de África ou Asia, onde algumas ONGS atuam.

 Infelizmente nesta última missão o centro onde trabalhava foi praticamente devastado e ele viu morrer alguns dos seus companheiros, o que o deixou tão mal como as próprias lesões. Depois, ao recuperar a consciência, a noiva rompeu o compromisso no próprio hospital, quando o foi ver,  o que o tornou ainda mais amargo.

Tenho de a avisar que já lhe falei de si e ele não se mostrou minimamente interessado, em cumprir com nenhum tratamento. Parece ter perdido a vontade de viver. Mas como já lhe disse, acredito em si e na sua força de vontade para mudar as coisas. Sei que se alguém pode tirá-lo do fundo do poço onde está, esse alguém é a Anabela.  E agora, vamos vê-lo?

Anabela apenas anuiu com a cabeça. Estava emocionada. Pelo que o doutor Azevedo dizia, Tiago era um herói. Um herói destroçado, com corpo e alma em ferida, mas ainda assim um homem admirável. E ela apercebia-se que ia teria pela frente o maior desafio da sua vida. E naquele momento prometeu a si mesma, que se os médicos diziam que o doente poderia voltar a andar, ela o faria andar ou abandonaria a sua carreira de enfermeira-fisiatra.

26.2.23

DOMINGO COM HUMOR



Um casal de contabilistas chega ao consultório de um terapeuta sexual.

O médico pergunta:

- O que posso fazer por vocês?

O rapaz responde:

- Pode ver-nos a fazer amor?

O médico olha espantado, mas concorda.

Quando o sexo termina, o médico diz:

- Não há nada de errado na maneira como vocês fazem amor.

E então, cobra 70,00€ pela consulta.

Isto repete-se por várias semanas!

O casal marca horário, faz amor sem nenhum problema, paga ao médico e deixa o consultório.

Finalmente o médico resolve perguntar:

- O que vocês estão a tentar descobrir?

O rapaz responde, dizendo:

- Nada. O problema é que ela é casada e eu não posso ir à casa dela.

Eu também sou casado e ela não pode ir até minha casa.

No Hotel Vila Galé, uma suite custa 140,00€.

No Hotel Ibis custa 80,00€.

Aqui nós fazemos amor por 70,00€ tenho acompanhamento médico, arranjo um atestado para faltar ao trabalho, sou reembolsado em 42,00€ pelo seguro de saúde e ainda consigo uma restituição no IRS de 19,20€.

Tudo calculado o custo é de 8,80€!

E, por fim, a única testemunha está sob sigilo profissional !




                                      ******************************



Um jovem chega num velório e a primeira coisa que disse foi:

- Qual é a senha do WI-FI ?

Um familiar, incomodado disse:

- Respeite o falecido !

Pergunta o jovem.

-É tudo junto?



                                        ********************



Um médico queria ir pescar e aproveitava e descansava um pouco do trabalho do dia-a-dia. Então aproximou-se do seu assistente e disse-lhe:
- Amanhã vou pescar e não queria fechar a clínica, acha que consegue cuidar dela e de todos os pacientes?

- Sim, senhor… Sem problema! – respondeu o assistente.

Então o médico lá foi pescar e voltou no dia seguinte. Ao chegar à clinica tenta saber o que se passou na sua ausência. Pergunta o médico ao assistente:
- Então como correu o dia de ontem?

Diz o assistente:
- Cuidei de 3 pacientes. O primeiro tinha dor de cabeça e então dei-lhe paracetamol.

- Bravo meu rapaz. E o Segundo? – Pergunta o médico.

- O Segundo teve indigestão e eu dei-lhe Gurosan. – Informou o assistente.

- Boa, muito bem! Você é bom nisto. E o  terceiro? – perguntou o médico.

Continua o assistente:
- Bom doutor, eu estava aqui sentado e, de repente, abriu-se a porta e entrou uma linda mulher. Ela tirou a roupa, despiu tudo, incluindo o soutien e as cuequinhas. Despois deitou-se sobre a marquesa, abriu as pernas e gritou:
- “Ajude-me, pelo amor de Deus! Há cinco anos que eu não vejo um homem!”

- Nossa senhora… E o que você fez? – pergunta interessadíssimo o médico.

Responde o empenhado assistente:
- Eu?! Eu pus-lhe gotas de Visadron nos olhos…



                                          *******************************



Advogado: Doutor, antes de fazer a autópsia, o senhor verificou o pulso da vítima?

Testemunha: Não.
Advogado: O senhor verificou a pressão arterial?
Testemunha: Não.
Advogado: O senhor verificou a respiração?
Testemunha: Não.
Advogado: Então, é possível que a vítima estivesse viva quando a autópsia começou?
Testemunha: Não.
Advogado: Como é que o senhor pode ter a certeza?
Testemunha: Porque o cérebro do paciente estava num jarro sobre a mesa.
Advogado: Mas ele poderia estar vivo mesmo assim?
Testemunha: Sim, é possível que ele estivesse vivo e tirando o curso de Direito em algum lugar!!!


                                             *********************

Na aula de Português, o professor pergunta à turma:

- Boia tem acento?

Rápido levanta-se o Joãozinho e diz:

-Não senhor professor, tem um buraco no meio!



                                          ***********************


 O médico, que havia tratado a Dona Berta em quase toda a sua vida, aposentou-se e foi substituído por outro colega.

Na consulta seguinte, o novo médico pediu à Dona Berta a lista dos medicamentos que lhe haviam sido receitados.
Quando o jovem médico viu a lista, ficou atónito!!!
- 'D. Berta, sabe que estas pílulas são.... são... ANTICONCEPCIONAIS???'
- 'Sim, doutor, elas ajudam-me a dormir.'
- 'D. Berta, eu afirmo perentoriamente que não há ABSOLUTAMENTE NADA nestas pílulas que faça uma pessoa dormir!'
A velhinha deu um sorriso, e disse:
- 'Sim, eu sei.. mas para mim, FAZ ! Todas as manhãs dissolvo uma pílula no sumo de laranja da minha neta, que tem 16 anos e, assim,
durmo em paz... ...TODAS AS NOITES...'





24.2.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XXIII





 A empregada saiu e Anabela olhou à sua volta. O quarto era grande com uma mobília rústica compacta onde se destacava uma cama de casal de cabeceira alta. Todos os móveis davam a sensação de solidez e conforto, embota fossem de linhas simples e com muitas gavetas. Numa das paredes, havia uma grande porta envidraçada cujas cortinas abertas deixavam entrar o sol aumentando a sensação de conforto. Aproximou-se e abriu a porta. Dava para uma varanda da qual se podia ver uma maravilhosa paisagem da serra.

Voltou a entrar no quarto e fechou a janela quando bateram à porta. Foi abrir e um homem alto e forte, não aparentando mais de sessenta anos apesar do seu cabelo completamente encanecido, carregando as suas duas malas entrou no quaro e poisando-as disse:

- Bom dia, menina, sou Joaquim, o caseiro e marido da Isilda. O doutor Azevedo pede se pode descer dentro de vinte minutos. Quer apresentá-la ao sobrinho e dar-lhes instruções antes do almoço que será servido há uma hora. Pretende partir depois do almoço.

- Obrigado, descerei daqui a pouco.

Olhou o relógio, colocou as malas em cima da cama, e começou a arrumar as suas roupas e livros que trouxera consigo. De seguida dirigiu-se à outra porta e abriu-a descobrindo que se tratava de uma casa de banho, equipada com uma antiga banheira de pés de leão que nunca devia ter sido usada, e uma cabine de duche. Sob o lavatório um armário branco que depois de aberto verificou estar cheio de toalhas também brancas.

Tudo na casa de banho era branco, desde a pintura no teto até aos azulejos, móvel e moldura do espelho. Parecia, uma coisa de enfermaria, não lhe transmitiu a mesma sensação de conforto do quarto a qual voltou.

Guardou dentro do armário as malas vazias e levou para a casa de banho a bolsa com os produtos de higiene pessoal. Abriu a torneira e lavou as mãos e o rosto. Deu uma olhadela rápida ao espelho e saiu.  Não mudou de roupa, nem vestiu a bata branca que tinha estendida em cima da cama. Teria de falar primeiro com o doutor, pois sabia que havia doentes que não gostavam de que as enfermeiras que os tratavam usassem bata.

Desceu as escadas e encontrou o doutor Azevedo conversando com o caseiro. 

23.2.23

PORQUE ME APETECE


Em algumas partes do vídeo nota-se que que a imagem não tem uma boa qualidade. De qualquer modo penso que vale a pena ver, como se consegue música com qualquer coisa quando a música vive em nós.

22.2.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XXII


Era quase meio-dia, quando Anabela estacionou o seu carro, atrás do veículo do doutor Azevedo, junto da porta de uma casa de dois pisos, tipicamente rural, nos arredores da vila da Lousã.

Ela ainda saía do carro quando a porta se abriu e uma mulher aparentando uns cinquenta e poucos anos saiu e se dirigiu ao doutor Azevedo.

-Bom-dia, doutor. Que bom que veio, estava a pensar telefonar-lhe hoje. Não sei que fazer com o patrão. Ele quase não come, geme todo o dia com dores, mas nega-se a tomar a medicação e as enfermeiras que vieram não aguentaram mais de dois dias. No fim de semana, os pais estiveram aí, mas não conseguiram convencê-lo a mudar de atitude. Disse-lhes que o deixassem sozinho, que queria morrer em paz. Os senhores coitados ficaram em pânico.

-Eu sei, Isilda. Falei com o meu irmão. Por isso estou aqui. E trouxe ajuda. Tenho a certeza de que a enfermeira Anabela, não se vai embora ao fim de dois dias. Queria pedir-lhe que atenda as suas ordens e a trate como se ela fosse a senhora da casa e não o meu sobrinho. Enquanto ele não mudar de atitude, não se pode lidar com ele, com paninhos quentes  E não se importe com o seu mau génio, nem com as ameaças de despedimento. Conheço-o bem. Ele nunca o faria. Agora se não se importa, ajude-a a instalar-se, enquanto eu vou ver o meu sobrinho.

- Por aqui, menina – disse a empregada seguindo em direção às escadas, para o segundo piso. – Os quartos são aqui, mas devido ao problema de saúde do doutor, os pais mudaram o escritório cá para cima e instalaram no espaço vazio, o quarto dele.

-Mas o meu quarto não devia ser lá em baixo para ficar mais perto do doente?

- Não sei menina, mas lá em baixo não há mais quartos. Havia uma sala de visitas ao lado do escritório, que foi transformado numa sala de tratamentos e ginásio. Há até aparelhos que o doutor Azevedo trouxe no fim de semana. De qualquer modo o doutor Tiago tem uma campainha que se ouve pela casa toda, se quiser chamá-la. 

Aqui é o seu quarto, o meu marido já lhe vai trazer as malas, pode-se instalar, eu virei chamá-la quando o doutor Azevedo quiser apresentá-la ao sobrinho.

- Diga-me só uma coisa, o doente nunca sai do quarto?

-Não menina. O meu marido ajuda-o todos os dias com a higiene e sempre o incentiva a usar a cadeira de rodas para ir à rua apanhar um pouco de sol, mas ele nunca o faz.

- Obrigado, Isilda. Vou então arrumar as minhas coisas.


Amigos, entre os problemas de saúde, (dia 23 vou fazer uma TAC ao crânio)  o cuidar da neta de 3 anos e a preparação para o lançamento do próximo livro estou com o tempo muito limitado. Peço-vos desculpa.

21.2.23

POESIA ÀS TERÇAS - DIA DE CARNAVAL -




BACANAL


Quero beber! cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé Momo!

Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Vênus!
Se perguntarem: Que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
— Vinhos... o vinho que é o meu fraco!...
Evoé Baco!

O alfanje rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!...
Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!

Manuel Bandeira


 

20.2.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XXI

 


O jantar decorreu com a animação de quem está em família e sente que é amado. E na verdade, era assim que a jovem se sentia na companhia dos compadres. Sabia que eles a amavam e se preocupavam com ela como o fariam com uma irmã.

Durante a refeição, Anabela contou a conversa que tivera com o Dr. Azevedo.

-E aceitaste? - perguntou Diogo.

- Disse que ia pensar e lhe dava uma resposta amanhã. O que vocês acham?

- Pessoalmente, preferia que ficasses cá, do que ponhas em prática a ideia de ires para a Inglaterra. Monetariamente embora o doutor não te tenha dado um valor, decerto  o salário não ficará atrás do que ganharias em qualquer país na Europa e não terás que pagar alojamento nem comida o que é uma mais-valia.

Por outro lado, é um grande desafio e se tiveres êxito é muito bom para o teu curriculum. Mas como dizia minha avó, “teu coração, teu mestre”. Tu é que terás de analisar os prós e os contra, e decidir.

-O Dr. Azevedo parece depositar uma grande esperança nas minhas capacidades. E se eu não aguento mais tempo do que as minhas antecessoras?

-Tenho a certeza de que aguentarás. Tu adoras um desafio e por muito mau que seja não será pior do que aquilo porque já passaste com o traste do Óscar.

-A Paula tem razão, - acrescentou Diogo. A tua profissão não é fácil, mas nada se compara, ao que o Óscar te fez, ou à violência psicológica a que os teus sogros te submetem, sempre que se cruzam contigo.

-Tens razão. Mas embora me custe a atitude deles e me queira afastar daqui, no fundo eu compreendo. Eles amavam o filho, estão destroçados e atacarem-me faz com que não pensem na culpa que eles têm. Algumas pessoas atacam as outras, como defesa própria contra o sofrimento.

-E não pensas que pode ser esse o caso do sobrinho do Dr. Azevedo? Imaginas como se sentirá, um homem jovem e ativo que de um momento para o outro se vê incapacitado de seguir a sua vida e ainda tem de lidar com a traição da noiva? – perguntou a amiga.

-Se acontecesse comigo, não sei se não faria um disparate, que me levasse de vez, - acrescentou o marido.

-Não sejas tonto, - zangou-se Paula. Isso é um ato de cobardia…

-A Paula tem razão. Nenhum sofrimento, por maior que seja se resolve com o suicídio. Além do mais é uma atitude egoísta, porque deixa o sofrimento para aqueles que o amam. Mas vamos mudar de assunto. Já ouvi a vossa opinião, vou pensar no assunto, mas estou quase decidida. Bom, - disse pondo-se de pé, - vou-me embora.

Vejo-te amanhã quando for à clínica, e a ti Diogo qualquer dia se não me decidir a aceitar a proposta, ou quando me vier despedir se decidir o contrário. Muito obrigado aos dois, por tudo o que têm feito por mim, e por me acolherem no seio da vossa família como se fosse um membro dela.

-Mas tu és…- disseram os dois em uníssono, acompanhando-a à porta.

19.2.23

DOMINGO COM HUMOR


 - Ó compadri, vocemecêi sabi dizer alguma coisa da manêra como são fêtos os bébés provêta?

Responde o outro:
- Sê sim sinhori, amigo Chico! Olhi, até foi assim que a minha Maria e eu fizemos o nosso primêro filho!

- Ah sim?!!! Antão,  diga lá comé que foi? – Pergunta o primeiro muito interessado.

Explica o Segundo alentejano:
- Olhe, compadri, ela e eu iamos passeando pelo monti e, a certa altura, ela parou à sombra duma olivêra, levantou a saia, baixou as cuecas e disse-me: ”Manéli, olha a provêta...




Esta ainda vê pior do que eu. Rsrsrs





17.2.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XX

 



-Boa noite, Diogo - saudou. A Paula avisou que eu vinha?

-Boa noite. Entra, o jantar está quase pronto, a Paula está a pôr a mesa.

A criança esticava os braços, chamando a “madinha”, mas Diogo disse:

- Primeiro temos de ir lavar estas mãozinhas e a cara. - E voltando-se para a jovem, acrescentou: Esta Princesa, continua a comer mais com as mãos do que com o talher. Fica à vontade, conheces bem a casa.

Anabela pendurou a mala no cabide junto à porta, despiu o casado e deu-lhe o mesmo destino, seguindo depois para a cozinha, onde Paula acabava de retirar do forno um tabuleiro que cheirava deliciosamente.

-Boa noite, - saudou. Que cheiro maravilhoso.

-Boa noite, Anabela. O jantar está pronto. Não pus a mesa na sala, porque sempre clamas que preferes comer aqui. Estou “em pulgas” para saber o que o doutor Azevedo queria contigo.

A afilhada agarrando-se às suas pernas e exigindo a atenção da “madinha” impediu a jovem de responder. Baixou-se e pegou na menina ao colo, mas logo a mãe disse:

- Dá-ma. Está na hora, dela dormir. Vamos ver se corre bem, ou se a excitação de te ver, não a deixa adormecer.

-Vou, contigo. Quantas histórias temos de ler para ela dormir?

-"Históias não, madinha. À, à, à," - interrompeu a menina.

- O que é isso?

- Agora quer que lhe cantemos todas as noites essa canção. Talvez seja o que cantam na creche.

- Muito bem, Princesa. Vamos ver se a madrinha, ainda se lembra da machadinha – disse Anabela enquanto Paula punha uma fralda na menina e lhe vestia o pijama.

Já deitada, as duas entoaram em coro a canção, enquanto a criança murmurava a silaba final de cada verso como se estivesse acompanhando-as.

Adormeceu a meio da terceira vez que as duas entoavam a canção. Paula aconchegou-lhe a roupa, apagou a luz e as duas saíram do quarto, fechando a porta em silêncio.

-Vá lá, pensei que levasse mais tempo para adormecer, - disse Paula enquanto se dirigiam à cozinha. Às vezes tenho de lhe cantar tanta vez, que quase adormeço primeiro que ela.

 

 

15.2.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XIX





Minutos depois, enquanto o doutor Azevedo atendia o primeiro paciente, Anabela informava Paula de que iria a sua casa à noite, pois precisava do seu conselho  despedindo-se em seguida.

Já na residencial, a jovem pensou longamente na proposta do médico.

O que mais a entusiasmava, era a possibilidade de conseguir vencer a oposição do doente e levá-lo a andar de novo. Era um grande desafio e ela gostava de desafios.

Além disso embora não soubesse o montante, o doutor Azevedo tinha-lhe dito que o irmão lhe pagaria um bom salário. E atendendo a que teria habitação e alimentação grátis, poderia aumentar substancialmente as suas finanças.

Porém era melhor continuar a pagar o quarto na residencial. Estava a dois passos do hospital para onde voltaria no termino da sua licença sem vencimento.

E também teria de ir aos Recursos Humanos do hospital, para aumentar o tempo da  licença, que estava prestes a terminar.

Iria pedir mais seis meses, embora suspeitasse que seis meses não seriam suficientes para a empreitada que teria pela frente, mas talvez nessa altura o jovem médico tivesse recuperado o suficiente para continuar sozinho o tratamento.

 O ideal seria pedir um ano, mas arriscava-se a que lha negassem e não lhe convinha pôr em perigo o seu posto de trabalho, até porque não sabia se ia ou não conseguir aguentar muito tempo o mau feitio do doente. Sabia que o sofrimento, faz as pessoas amargas, mas isso não era razão para descarregar nos outros as suas dores.

Estendeu-se sobre a cama, para descansar um pouco e o cansaço venceu-a em poucos minutos.

 Acordou sentindo frio e assustou-se ao ver o quarto envolto na escuridão. Olhou o relógio. Dezoito horas e trinta. Saltou da cama e olhou-se ao espelho. A roupa estava completamente amarrotada. Não podia ir assim para a rua.

 Foi à casa de banho, lavou o rosto, escovou o cabelo e entrançou-o. Voltou ao quarto escolheu um vestido de lã verde-escuro. Depois de trocar de roupa, vestiu um casaco comprido castanho, procurou uns sapatos igualmente castanhos sem salto, pegou na bolsa e saiu fechando a porta do quarto e guardando a chave na mala.

Dez minutos depois tocava a campainha da casa da amiga.  O dono da casa, abriu a porta com a filha ao colo.

14.2.23

POESIA ÀS TERÇAS - JOAQUIM PESSOA - NENHUMA MORTE APAGARÁ OS BEIJOS

 PORQUE HOJE É O DIA DOS NAMORADOS, FELIZ DIA  A TODOS OS QUE POR AQUI PASSAREM.. 


Nenhuma Morte Apagará os Beijos

Nenhuma morte apagará os beijos
e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas
[clandestinas da grande cidade livre
estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor,
esses densos sinais do amor e da morte
com que se vive a vida.

Aí estarão de novo as nossas mãos.
E nenhuma dor será possível onde nos beijámos.
Eternamente apaixonados, meu amor. Eternamente livres.
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,
profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma líquida
[e atormentada

desvendará em cada minuto o seu segredo
para que este amor se prolongue e noutras bocas
ardam violentos de paixão os nossos beijos
e os corpos se abracem mais e se confundam
mutuamente violando-se, violentando a noite
para que outro dia, afinal, seja possível.

13.2.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XVIII




É uma mais-valia, porque além de enfermeira, a Anabela é fisioterapeuta e essa é na verdade uma condição muito importante na reabilitação dele.  Além disso uma mulher que passou pelo que você passou, que já teve uma faca encostada ao pescoço, não se vai assustar com a diatribe verbal do meu sobrinho.

Se a Anabela aceitar, o meu irmão está disposto a pagar muito bem e você pode continuar com a sua licença sem vencimento, afasta-se daqui, de maus encontros e pode vir visitar a sua afilhada nas suas folgas.

- Mas não seria melhor, contratar um enfermeiro? Ele não se sentiria mais à vontade, com alguém do seu próprio sexo?

-De modo nenhum. Ele seria ainda mais rebelde. Que me diz?

- Preciso pensar. Profissionalmente, tentar fazer com que um doente volte a andar é um desafio que me agrada. Porém sei por experiência que os piores doentes para tratar são aqueles cuja profissão é tratar os outros. Como o doutor acabou de dizer a minha vida tem sido muito dura e a verdade é que queria dar paz ao meu espírito, coisa que acredito, o seu sobrinho não me vai dar.  Ele já foi visto por algum psicólogo?

-Já lá foi um, que é amigo do pai, mas ele negou-se terminantemente a recebê-lo

-E não tem mais ninguém? Está sempre sozinho?

Tem a caseira que lhe faz as refeições e cuida da casa, e o marido dela que o ajuda na higiene diária. No resto do dia não sai do quarto, apesar do meu irmão ter comprado uma cadeira de rodas, ele nega-se a usá-la, está sempre deitado.

- E se eu aceitar, onde ficaria

- A casa fica numa pequena quinta nos arredores da vila. Embora antiga, tem três quartos, e instalações modernas, já que ele a remodelou, quando a herdou há três anos. Escolheria um dos quartos vagos e viveria lá. Por favor, Anabela, acredito que se alguém pode recuperar o meu sobrinho é você.

- Preciso vinte e quatro horas para pensar. Amanhã dou-lhe a resposta.

12.2.23

DOMINGO COM HUMOR




 








O marido ao despedir-se da esposa:
Querida, enquanto eu estiver em viagem, como queres que te mande noticias? Por telefone, telegrama ou fax?
De preferência, por transferência bancária.



Nota: Ontem sábado vi uma série de blogues, quase todos os da minha lista, mas não consegui comentar em nenhum. Mal começava o comentário aparecia uma mensagem de que não foi possível ligar à CAPTCHA para verificar e Internet, que quanto a mim estava normal, já que entrava nos blogues e nos comentários. A última vez que tentei faltavam 10 minutos para a meia noite.


Por favor alguém me pode ajudar? Já tentei esta manhã vários blogues e continua aquela CAPTCHA a não me deixar comentar. O que posso fazer?


10.2.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XVII

 


-Tudo bem, doutor, a dona Angelina e o senhor Anselmo, já aí estão, mas como só acabam os tratamentos hoje eu vou dizer-lhes para irem primeiro fazê-los, e têm a consulta no fim.

-Obrigado. Vamos, Anabela?– perguntou afastando-se em direção ao seu gabinete.

Paula ergueu as sobrancelhas em sinal de interrogação e a jovem respondeu com um encolher de ombros, apressando-se a seguir o médico.

Já no gabinete, o médico despiu o casaco que pendurou num cabide, pegou na bata que lá estava pendurada e voltando-se para a jovem, disse:

-Sente-se por favor.

Anabela sentou-se sem saber bem, o que esperar daquele encontro, ou porque o velho médico queria tanto falar com ela. Sentou-se e aguardou que o clínico fizesse o mesmo.

- Decerto está curiosa para saber porque quero tanto falar consigo ao ponto de pensar em pedir à Paula que a chamasse, se o acaso não tivesse feito com que a encontrasse hoje.

-Na verdade…

-Já me explico. Mas antes devo dizer-lhe que tenho acompanhado o percurso da sua vida desde que saiu desta clínica para se formar, coisa que fez com brilhantismo. Conheço a sua força de vontade e o seu profissionalismo.

Também sei que tem estado de férias sem vencimento por causa de problemas familiares. Sei, porque ouvi por acaso o comentário da Paula com a Judite, que está a pensar candidatar-se a uma vaga de enfermagem em Londres, porque a família do seu falecido marido lhe tem feito a vida negra. É verdade?

-Sim. Eles culpam-me pelos disparates do filho, quando eu fui uma vítima dos vícios dele.

- Percebo que se queira afastar daqui por uns tempos embora pense que o que devia fazer era dirigir-se à polícia e pedir que eles fiquem proibidos de se aproximarem de si. Mas existe outra solução que lhe vou expor. O meu sobrinho Tiago, médico cirurgião, estava integrado numa ONG, em serviço na República Centro Africana, quando foi gravemente ferido. 

Esteve em coma durante mais de um mês, foi submetido a várias cirurgias e finalmente teve alta no final do mês passado. E embora os especialistas digam que a cirurgia à coluna correu bem e ele pode voltar a andar, o facto é que ele continua sem conseguir mexer as pernas.

 Na verdade, perdeu a vontade de viver, não só, por não poder movimentar as pernas, mas porque tem algumas outras cicatrizes no corpo e a pior de todas, na alma, pois a noiva com quem pretendia casar na próxima primavera rompeu com ele, quando o viu ferido.

Desde então ele isolou-se numa casa que herdou da madrinha, na Lousã, e não quer ver ninguém, nem sequer os pais que estão desesperados.  Já lhe arranjámos três enfermeiras, mas a que aguentou mais tempo, esteve três dias. Ora, eu pensei que se alguém é capaz de lidar com ele e fazer com que recupere a saúde, esse alguém é a Anabela. 


8.2.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XVI


 
Anabela só respondeu, quando já se encontravam sentadas à mesa esperando que o empregado lhes servisse o prato do dia, como habitualmente.

- Estive na esquadra esta manhã. Ainda não sabem quem matou o Óscar e provavelmente não vão sabê-lo nunca. Se foi como a polícia acredita uma execução, da rede da droga, eles são demasiado organizados para se deixarem apanhar.  Mas o que me importa neste momento é que segundo o inspetor Morais eu fui investigada, e a polícia chegou à conclusão de que não há nenhuma suspeita sobre mim.

 Portanto estou liberada, posso ir inscrever-me para ir para o Hospital St. Thomas em Londres, se me aceitarem. Não posso estar muito mais tempo de licença sem vencimento aqui e não sei se tenho coragem para voltar ao meu posto no hospital e ver o ar de pena dos demais sobre mim, além de estar sujeita aos encontros indesejáveis com os pais do falecido.

- Mas... para Londres, Anabela? Não podias pedir transferência para outro hospital cá? Sei lá, Porto, Coimbra, Faro? Ficavas mais perto para que nos pudéssemos encontrar de vez em quando. A Patrícia vai ficar muito triste com a tua ausência.

O empregado colocava os pratos com o pedido na mesa e Anabela esperou que ele se retirasse para responder. 

-Eu também vou ter muitas saudades dela, de ti, do Diogo e de algumas colegas do hospital. Mas não consigo continuar aqui, sujeita aos ataques dos meus ex-sogros, ou de algum do “amigos” do Óscar. Não, estou decidida. Esta tarde vou à embaixada, informar-me dos procedimentos necessários para me candidatar.

-Mas logo vais jantar lá a casa. Quero que me contes tudo.

Tinham acabado a refeição. Paula chamou o empregado e depois de pagarem saíram do restaurante e dirigiram-se para a clínica. Anabela entrou e esteve ainda um pouco conversando com os antigos colegas.

 Quando a sala de espera começou a encher-se de doentes, ela despediu-se e acabava de sair quando o doutor Azevedo saiu do carro e a chamou. Surpresa, ela parou e esperou que o seu antigo chefe chegasse junto dela:

-Boa tarde, Anabela. Que acaso feliz. Ia pedir à Paula para lhe telefonar informando-a de que eu precisava falar consigo com urgência. Pode dispensar-me alguns minutos?

Cada vez mais surpreendida, ela assentiu e passou pela porta que o médico mantinha aberta para ela. Ele seguiu-a, e dirigindo-se a Paula disse-lhe:

-Boa tarde, Paula. Não sei se já tenho algum doente à espera, mas por favor não mande ninguém entrar por enquanto, eu preciso falar com a Anabela durante alguns minutos.


7.2.23

POESIA ÁS TERÇAS - EUGÉNIO DE ANDRADE - CORAÇÃO HABITADO


Coração Habitado

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
— eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"