Poeta como Tu, Irmão
Não sou mais poeta do que tu, irmão!
Tu cavas na terra a semente da vida,
eu cavo na vida a semente da libertação.Somos partes perdidas dum só
que a razão de ser das coisas
separou. Não sou mais poeta do que tu, irmão.
A mãe que te gerou a mim me gerou —
não foi ela quem nos trocou
as mãos, a voz do coração.Abandona um pouco a charrua, arranca
da terra os olhos cansados, e limpa
o sujo da cara ao sujo das mãos — onde
os calos são um só e as rugas da morte
caminhos cobertos de pó.E olha
na direcção do meu braço cansado, sem
músculos quadrados
nem merda nas unhas, mas que te aponta
o mundo onde as raízes do dia, a luta, o trabalho
reclamam suor
mas não te roubam o pão.
Arranca os olhos da terra, irmão!
6 comentários:
Bom dia, Elvira
Poema forte de Casimiro de Brito, que adorei
ler aqui.
"Poemas às terças" já nos habituou a prazerosos
momentos de leitura.
Parabéns!
Abraço
Olinda
Casimiro de Brito esteve aqui conosco (faz tempo) em um Seminário sobre literatura. Conversamos muito. Ele mantinha uma estreita relação de amizade com o poeta Ildazio Tavares.
Um belo poema da sua produção você partilha!
Um abraço,
Rectificando:
"Poesia às terças"
:)
Bom dia Elvira,
Magnífico poema de um autor que não conhecia.
Obrigada por tê-lo partilhado.
Beijinhos e saúde.
Ailime
Um belíssimo poema que me recordou um outro poema de meu avô - anterior a este - que faz um apelo similar ao seu irmão que trabalha a terra.
Um grande abraço, Elvira!
Gostei de refletir com o poema escolhido, Elvira, muito envolvente e realista.
Boa noite e até Março. Logo a Primavera trará lindas cores por aí...
Bjs
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