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28.2.23

POESIA ÀS TERÇAS - CASIMIRO DE BRITO - POETA COMO TU, IRMÃO

 



Poeta como Tu, Irmão

Não sou mais poeta do que tu, irmão!
Tu cavas na terra a semente da vida,
eu cavo na vida a semente da libertação.

Somos partes perdidas dum só
que a razão de ser das coisas
separou. Não sou mais poeta do que tu, irmão.
A mãe que te gerou a mim me gerou —
não foi ela quem nos trocou
as mãos, a voz do coração.

Abandona um pouco a charrua, arranca
da terra os olhos cansados, e limpa
o sujo da cara ao sujo das mãos — onde
os calos são um só e as rugas da morte
caminhos cobertos de pó.

E olha
na direcção do meu braço cansado, sem
músculos quadrados
nem merda nas unhas, mas que te aponta
o mundo onde as raízes do dia, a luta, o trabalho
reclamam suor
mas não te roubam o pão.
Arranca os olhos da terra, irmão!

6 comentários:

Olinda Melo disse...


Bom dia, Elvira

Poema forte de Casimiro de Brito, que adorei
ler aqui.
"Poemas às terças" já nos habituou a prazerosos
momentos de leitura.

Parabéns!

Abraço
Olinda

Caderrno de San disse...

Casimiro de Brito esteve aqui conosco (faz tempo) em um Seminário sobre literatura. Conversamos muito. Ele mantinha uma estreita relação de amizade com o poeta Ildazio Tavares.
Um belo poema da sua produção você partilha!
Um abraço,

Olinda Melo disse...


Rectificando:
"Poesia às terças"
:)

Ailime disse...

Bom dia Elvira,
Magnífico poema de um autor que não conhecia.
Obrigada por tê-lo partilhado.
Beijinhos e saúde.
Ailime

Maria João Brito de Sousa disse...

Um belíssimo poema que me recordou um outro poema de meu avô - anterior a este - que faz um apelo similar ao seu irmão que trabalha a terra.

Um grande abraço, Elvira!

Anete disse...

Gostei de refletir com o poema escolhido, Elvira, muito envolvente e realista.
Boa noite e até Março. Logo a Primavera trará lindas cores por aí...
Bjs