Mais tarde, quando Natália e Artur chegaram, tornou-se evidente, a sua cumplicidade, um novo brilho no olhar de ambos e antes que o casal fizesse alguma pergunta, eles deram a notícia
com toda a naturalidade. Tinham decidido casar, mas não iam esperar pela
cerimónia para assumir a relação. Já estavam juntos, desde aquela noite. O casal
felicitou-os e depois separaram-se. Isabel e Natália foram para a cozinha, os
homens ficaram na sala com a pequenita.
-Parece que a notícia não lhe agradou muito, Isabel - disse a
amiga logo que se encontraram sozinhas.
- Se a Natália está feliz, eu também estou. Talvez tenha
ficado um pouco preocupada, vocês mal se conhecem, e tenho receio de que venha
a sofrer.
- Não é bem assim. Conheci o Artur no início de Outubro.
Eu ia a sair com a a Matilde, e ele perguntou-me se as conhecia, a si e à sua irmã. Disse-me que trabalhava para um empresário e eu pensei que seria algum daqueles onde a Isabel tinha ido à entrevista de emprego. Falei-lhe de si e da Susana. Só muito mais tarde ele me confessou que estava a
investigá-las a pedido do Ricardo. Mas naquela altura simpatizámos logo um com
o outro e desde aí ele passou a aparecer no parque sempre que eu lá estava com a Matilde.
-Nunca me disse nada. Pensei que só se tinham conhecido no meu casamento.
-A Isabel andava preocupada com os seus problemas, e eu não sabia as intenções do Artur.
Como sabe, fui casada durante trinta anos, e Deus sabe como gostava do meu marido, e como sofri quando ele morreu. Estou viúva há oito anos, acho que não se pode dizer que não respeitei a sua memória. Agora, penso que tenho direito, a aproveitar da melhor maneira possível, o tempo que me resta de vida. A solidão é uma companhia indesejável. É que apesar do meu corpo já não ter as formas bonitas de outrora, dos meus cabelos serem cada vez mais brancos, e das rugas que ao longo dos anos se foram instalando no meu rosto, o meu corpo continua a gostar de sentir o calor de outro corpo junto ao seu, e o meu coração gosta de ter alguém que me dê um abraço, ou simplesmente se sente junto a mim no sofá, para ver um filme, ou ouvir uma música.
-Nunca me disse nada. Pensei que só se tinham conhecido no meu casamento.
-A Isabel andava preocupada com os seus problemas, e eu não sabia as intenções do Artur.
Como sabe, fui casada durante trinta anos, e Deus sabe como gostava do meu marido, e como sofri quando ele morreu. Estou viúva há oito anos, acho que não se pode dizer que não respeitei a sua memória. Agora, penso que tenho direito, a aproveitar da melhor maneira possível, o tempo que me resta de vida. A solidão é uma companhia indesejável. É que apesar do meu corpo já não ter as formas bonitas de outrora, dos meus cabelos serem cada vez mais brancos, e das rugas que ao longo dos anos se foram instalando no meu rosto, o meu corpo continua a gostar de sentir o calor de outro corpo junto ao seu, e o meu coração gosta de ter alguém que me dê um abraço, ou simplesmente se sente junto a mim no sofá, para ver um filme, ou ouvir uma música.
Os mais
jovens, pensam que a gente da nossa idade, está velha, já nada nos interessa.
Não é verdade. O corpo pode não ter o vigor da mocidade, não ser capaz de paixões intensas, mas o nosso coração é tão
capaz de amar ou odiar como qualquer outro.
E depois, como sabe, nem eu, nem o Artur, temos filhos a quem dar satisfações. Estou quase a fazer sessenta anos, ele tem sessenta e três. Sabemos bem o que
fazemos e o que queremos. E o que queremos, é viver juntos os poucos anos que nos restam, e é isso que estamos a fazer. O casamento será logo que a burocracia o permita, mas até lá não vamos
perder tempo. A vida é demasiado curta para que a deixamos desperdiçar, por receio daquilo
que os outros possam pensar de nós.
- A Natália tem razão, - disse a jovem abraçando-a. –
Desejo-lhe a maior felicidade do mundo. A amiga merece-o.
- Tinha a certeza, que ia entender - retorquiu
retribuindo o abraço. E acrescentou tentando esconder a emoção.
-E agora que já nos entendemos que tal tratar do almoço?
- Já tenho o cabrito com as batatas no forno. Falta cozer
os ovos, e preparar o Bacalhau que sobrou ontem para a “Roupa Velha.”
- Então ponha lá os ovos a cozer e dê-me o Bacalhau que
eu vou já prepará-lo.
Pouco depois enquanto os ovos coziam, e Natália tirava as espinhas e a pele ao Bacalhau, Isabel cortava as couves e as batatas conversando sobre as últimas
novidades.
-Sabe que a Matilde já chama o Ricardo de pai? Foi ontem à noite pela primeira vez e ele ficou muito emocionado.
- Calculo que sim. Vê-se que gosta muito dela.