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15.8.19

LONGA TRAVESSIA - PARTE XXV


Ouviu a campainha. Vestiu o casaco, pegou na mala, abriu a porta e saiu.
-Olá.- Disse ele, ao mesmo tempo que se inclinava e lhe aflorava a testa com um beijo breve.
- Foste pontual. Não me quero demorar.
- Não te preocupes, - disse abrindo-lhe a porta do carro.
- Onde vamos?
-A minha casa.
“Mau. Se ele pensava em levá-la para sua casa no intuito de uma tarde na cama, nunca lhe perdoaria”
- Não te preocupes. Confia em mim.
Era como se ele tivesse adivinhado os seus pensamentos. Chegaram a um luxuoso condomínio. Um segurança, abriu o portão e o carro rolou até se deter em frente de um bonito edifício de dois pisos.
Ajudou-a a descer, e conduziu-a pelo braço até casa. Abriu a porta, e desviou-se para lhe dar passagem. Quase de uma forma inconsciente fechou a porta com o calcanhar. Teresa, não se atrevia a falar. Deixou que lhe despisse o casaco, e a conduzisse à sala.
Pegou num comando e fez correr o reposteiro que cobria a enorme janela, inundando a sala de luz. Ela viu que estava numa divisão de grandes dimensões. Reparou na parede coberta de livros, atrás de um dos sofás. No móvel bar, e na brancura dos enormes sofás. Em frente de um deles, uma mesa de vidro. Sobre ela um par de ténis de criança, e um álbum.
- Senta-te Tê. Trouxe-te aqui para te mostrar algo, que nunca pensei mostrar a ninguém.
Sentou-se e ele sentou-se a seu lado. Pegou no álbum, abriu-o e entregou-lho.
Ela viu vários recortes de jornal. Eram muito antigos. Leu o primeiro.
Relatava um crime. Uma mulher vítima de maus tratos, matara o marido. E tinha uma foto de um homem estendido no chão. Leu outro. Falava do mesmo crime. Sem compreender o que se passava, virou a página. E viu mais recortes. Com ligeiras variantes, mais ou menos sensacionalistas, os recortes traziam todos a mesma notícia.
Numa delas havia uma foto de criança. Dizia-se que era o filho do casal, que devia ser enviado para numa instituição estatal.  Numa outra dizia-se que a mulher aguardava julgamento em prisão preventiva, e que o filho fora acolhido por uns tios.
Sem saber o que pensar olhou para Rui.
- Eram os meus pais. Eu sou essa criança.- Disse com voz rouca.
Sentiu-se zonza. Como se tivesse levado uma pancada na cabeça. Tentou dizer alguma coisa, mas não conseguiu. O que viu nos olhos do homem, era terrível. Estendeu a mão e colocando-a sobre a masculina, apertou-a suavemente. Ele continuou
 - Por mais que me esforce, não me recordo de ter visto algum dia o meu pai sóbrio. Em contrapartida sempre me lembro de ouvir os seus gritos e o choro da minha mãe, quando ele lhe batia.

9 comentários:

noname disse...

Eu, entendo o tão mal que este miúdo passou, mas isso deveria tê-lo feito aprender a respeitar o outro, assim como a mãe dele deveria ter merecido, esse respeito, pela parte do pai dele, e não, ele tratou a Teresa como coisa descartável, sem uma explicação. Uma explicação teria mudado tudo, mesmo que ele seguisse o seu caminho. Vamos ver o que pensa a Tê.

Boa noite, Elvira

chica disse...

Capitulo com cenas fortes,marcantes.Muito bom! Bjs,chica

Pedro Coimbra disse...

Distúrbios emocionais que nunca se ultrapassam.
Abraço

Maria João Brito de Sousa disse...

Os primeiros dez anos de vida de uma criança definem inexoravelmente o adulto em que ela se virá a transformar...

Desejando que tanto a Elvira quanto o seu marido continuem a melhorar, deixo um forte abraço.

Victor Barão disse...

Minha muito estimável amiga Elvira, de momento não tenho disponibilidade geral e temporal e concreto para recuperar os diversos capítulos que entretanto perdi desta história, mas pelo que tão só se pode apreciar pelo presente, não só pressinto, como mesmo constato ser algo profundamente interessante.
Espero voltar o mais breve possível e com a suficiente mais disponibilidade para ler tudo.
Finalmente tomando por base o último comentário que deixou lá no meu espacinho virtual próprio, resta-me até acima de tudo desejar-lhe o mais rápido e pleno restabelecimento fisiológico possível, desde logo pro si própria e mas também por nós!
Abraço de parabéns, admiração e gratidão
VB

Os olhares da Gracinha! disse...

Um capítulo bem forte a nível emocional... Bj

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um episódio cheio de tensão emocional.
Situações que marcam a vida de uma pessoa para sempre.
Beijinhos,
Ailime

Cidália Ferreira disse...

Lembranças terríveis, que marcam para toda a vida!

Beijo. Bom dia

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Lembranças ruins que marcam e desolam uma vida.
Beijos!