Abriu a porta, entrou e como era seu hábito, cerrou-a com um toque de calcanhar. Tirou o telemóvel do bolso do casaco, despiu-o e pendurou-o no bengaleiro. Então reparou num papel em cima da mesa de entrada. Aproximou-se, e verificou que se tratava da fatura de uma compra de produtos de limpeza, que a mulher-a-dias lhe tinha deixado.
Há anos que tinha aquela empregada, era pessoa em quem tinha confiança total. Tinha cuidado da sua mãe, e anos mais tarde, quando comprara aquela casa, contratara-a com a certeza de que podia estar descansado que a casa estaria sempre impecável.
Raramente a via, ela chegava sempre depois dele ter saído. Levantava a chave no condomínio e voltava a deixá-la lá, quando se ia embora. No final de cada mês, ele deixava o dinheiro ali, e o recibo que ela assinava e deixava no mesmo sitio. E quando era necessário fazer alguma compra, fazia-a e deixava-lhe ali a fatura. No dia seguinte encontrava o dinheiro.
Foi até à sala, e deixou-se cair no sofá. Não parecia o homem forte e dominador que geria com mão de ferro, os seus negócios. Dirigiu-se à estante mas não pegou em nenhum livro. Ficou parado durante uns segundos, e depois, abriu o armário que ficava na parte inferior da estante, e retirou um saco de pano preto com uns desenhos circulares em cinzento.
Foi até à sala, e deixou-se cair no sofá. Não parecia o homem forte e dominador que geria com mão de ferro, os seus negócios. Dirigiu-se à estante mas não pegou em nenhum livro. Ficou parado durante uns segundos, e depois, abriu o armário que ficava na parte inferior da estante, e retirou um saco de pano preto com uns desenhos circulares em cinzento.
Voltou para o sofá. Abriu o saco e retirou uns ténis infantis, azuis-escuros com estrelas nas laterais.
Durante uns momentos, deu-lhes várias voltas nas mãos. Estava pálido, e o seu rosto estava tão tenso que dir-se-ia ser de pedra.
Depois pressionou-os contra a palma da mão, e os ténis faiscaram como se tivessem uma corrente luminosa à volta da sola.
Decorreram largos minutos, com o homem fixando as luzinhas como se estivesse hipnotizado. Finalmente abrandou a pressão, e ao apagarem-se as luzes, como que voltou à terra. Respirou fundo e voltou a guardar os ténis no saco de pano.
Se alguém tivesse presenciado aquela cena, decerto ficaria perplexo. Como é que um homem, que todos conheciam como um implacável homem de negócios, ficava assim emocionado à vista de um simples par de ténis? Que fetiche era aquele?
Recostou a cabeça no enorme sofá branco, fechou os olhos, e durante um bom tempo, permaneceu assim, relembrando os dois anos que vivera com Teresa. Agora, à distância, dava-se conta de que aquela época da sua vida fora a única realmente feliz que vivera. Agora que cumprira as juras de criança, que a ambição de riqueza já estava aplacada, chegava à triste conclusão que toda a fortuna amealhada, não servia para comprar um único dia de felicidade. E afinal para quê? Se a única pessoa a quem gostaria de dar uma vida de luxo, não tivera forças para viver até esse dia.
13 comentários:
Querida Amiga, vim aqui especialmente para te dizer que, como de costume, o começar de novo ficará sem posts durante este mês de Agosto. Vi, com grande alegria, que os teus olhos melhoraram muito e que o teu marido também está a recuperar de um modo muito satisfatório. Que bom, Elvira! Espero que tudo continue a melhorar para que possas voltar às tuas actividades com perfeita saúde. Um beijinho e voltarei aqui sempre que possível
Emilia
Agora a busca da felicidade.
O que o dinheiro não compra.
Boa semana
Efectivamente, o dinheiro não compra a felicidade, mas a sua prolongada e excessiva ausência garante-bos, no mundo que criámos, uma existência cheia de lacunas, dependência de terceiros e de temores de contas por pagar que quase sempre a tornam humilhante.
Abraço, amiga.
Lembro-me bem desta história dos ténis do Capitão América, mas do resto nem uma vírgula. De tanto ler, acho que mal fecho o livro acabado de ler, faço um reset à minha memória para estar pronto e sem reservas para o próximo.
Uma boa semana!
Mais um episódio maravilhoso!:)
Beijos e boa recuperação para todos..
Lendo e pouco a pouco relembrando! beijos,chica e ótima semana!
A vida é construída por muitos bicos, se só nos dedicamos a alguns, é certo e sabido que um dias os outros cobram.
Bom dia, Elvira, votos de que tudo esteja a correr bem convosco.
Abraço apertadinho
Há que dar continuidade para se sentir feliz!!! Bj
Sem dinheiro não haveria empregada de limpeza... mas a verdade é que a felicidade não depende de nenhuma dessas variantes... ainda que deva ser tida coo prioritária... a felicidade resume-se a opções... e ao caminho a percorrer.~
Gostei muito do texto
Ainda irá a tempo, de recuperar alguma da felicidade perdida. Mas toda aquela que perder pela ambição do dinheiro, jamais e recuperará?
Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.
Vou fazer uma pausa e entrar de férias, aproveito para desejar uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Boa noite Elvira,
Não estive os últimos dias e estou a pôr a leitura em dia.
Quero desejar-lhe as melhoras do seu braço.
Não peça desculpa, porque é absolutamente compreensível. Tem que pensar mais em si.
Um grande beijinho e boas melhoras.
Ailime
Esse capítulo deixa claro pelo pensar e solidão dele que o dinheiro não traz e nunca trará felicidade.
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