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27.8.19

A HISTÓRIA DE UM PAR DE BOTAS...DA TROPA II




                                            foto minha.



                                                   II

A Seca de Bacalhau, da Parceria Geral de Pescarias, da família Bensaúde, situava-se na Azinheira Velha, um local cheio de história, pois lá esteve sediada uma importante  base naval portuguesa, antes e depois dos descobrimentos. O local, situado na feitoria da Telha, era abrigado, estava afastado da base naval da Ribeira das Naus, embora funcionasse como complemento desta, mas suficientemente afastado, dos olhares dos espiões de outros países, que no século XV tentavam descobrir onde Portugal tentava chegar com os descobrimentos.
 Acresce a isto o facto da abundante madeira de qualidade, nos arredores, dos sapais do Coina, onde essa madeira era enterrada, num processo de preparação, para a construção das caravelas e de pertencer à histórica vila de Alhos Vedros, onde se refugiara D. João I, depois da morte da rainha, D. Filipa de Lencastre, vítima da Peste Negra que assolou a capital.
Era portanto na Azinheira Velha, que as naus eram construídas entre o Outono e a Primavera, chegando nesta à Ribeira das Naus para acabamento. Ou vice-versa, já que segundo a história, foi na Telha, no séc. XVI, na extinta Igreja de Santo André, que D. Manuel I terá assistido ao lançamento ao Tejo (1)  da Armada de Vasco da Gama. Atingida pelo terramoto de 1755 a feitoria foi destruída. Foi pois neste local cheio de história, que em 1891 a família Bensaúde, instalou a Parceria Geral de Pescarias, dedicada à indústria da pesca do bacalhau. A tão famosa Seca de Bacalhau, de que tanta vez, falo nas minhas histórias.
Em 1946, Manuel apaixona-se por uma das irmãs de um grande amigo, o Varandas, homem do norte como ele.
 Certo dia, logo no início do ano, o Varandas convidou o Manuel para ir com ele ao Seixal, onde ia visitar uma das suas irmãs a trabalhar na Seca, que aí existia. Para Manuel foi amor à primeira vista, pois ficou perdidamente apaixonado, mal viu a jovem. Ela porém não ficou muito interessada. Primeiro, porque Manuel tinha mais oito anos do que ela, segundo porque ele tinha fama de ser mulherengo, de não se prender a ninguém, e de gastar tudo o que ganhava, com “as meninas” em Lisboa.
Por pressão do irmão, mais velho, que ela respeitava, mais do que por amor, acabou por lhe aceitar namoro. Manuel estava perdidamente apaixonado. Tinha esquecido as idas a Lisboa, e tudo o que isso implicava. Todos os seus tempos livres serviam ao Manuel para ir ver a amada.
Na verdade a Seca da Azinheira, era conhecida por este nome, embora o seu verdadeiro nome, fosse Parceria Geral de Pescarias, e a Sociedade Lisbonense de Pesca de Bacalhau, conhecida por Seca do Picado, situada na Ponta dos Corvos, ficavam em frente uma da outra, apenas separadas pelo rio Coina.




                                  Antiga Seca do Seixal. 
                                  Foto de Hugo Gaito



1) Embora na história se fale de lançamento da Armada, ao Tejo, a feitoria estava no Coina, um afluente do Tejo e não nele. No entanto não sei se à época, os afluentes já estariam classificados, ou se todos eram considerados como sendo o Tejo. 
  



11 comentários:

noname disse...

Tudo isto por causa de um par de botas? eheheheheh

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Comentei na altura e repito agora - um Portugal que já não existe e que aos mais jovens parece mentira.
Abraço

Fatyly disse...

Gostei de ler o "antigamente da metrópole" que desconhecia por completo.

Desejo que tu e os teus estejam bem melhores e que continuem no caminho certo.

Beijocas e um bom dia

Tintinaine disse...

Lembro-me bem desta história, por isso vou um pouco menos assíduo, enquanto ela durar.

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!


Isabel Sá
Brilhos da Moda

chica disse...

Acompanhando e gostando! bjs, lindo dia!chica

Majo Dutra disse...

Uma narrativa que faz parte da nossa história...
Gostei de reler...
Voltei a escrever sobre Lagos...
Abraços
~~~~

Gaja Maria disse...

Vamos lá ver onde é que um par de botas, ou a falta dele o vai levar :)

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Gosto imenso dos seus enquadramentos históricos.
Vamos ver como o Manuel e sua amada vão construindo o seu futuro.
Um beijinho.
Ailime

Os olhares da Gracinha! disse...

Também me recordo desta história mas é sempre um bom momento de leitura... Bj

Portuguesinha disse...

A história é verídica, Elvira?
Oito anos mais velho que a amada... que coincidência ;)

Bjs