Ainda que vivesse uma eternidade, Odete não esqueceria aquele dia em Aveiro, pensava à noite, enquanto se olhava no espelho, já depois de ter escovado os dentes e de se ter preparado para dormir. Tinha sido uma tarde e uma noite fantástica, com João sempre pendente dela, sempre disposto a vê-la feliz. A julgar por aquele dia, qualquer pessoa diria que ele estava apaixonado por ela. Mas ela sabia que isso não era verdade. Quem ama não trai. Devia tratar-se de um jogo qualquer. E o pior é que ela continuava a amá-lo com a mesma paixão de outrora. A distância e a saudade, longe de lhe fazerem esquecer, pareciam ter avivado o seu amor por ele. E agora ali estava ela, preparada para dormir, mas com as pernas a tremer e sem coragem de se dirigir à cama que teria que partilhar com o homem, que ainda era seu marido.
Finalmente saiu da casa de
banho e respirou fundo ao ver que estava sozinha no quarto. Apressada enfiou-se
na cama, puxou o lençol até ao pescoço adotando a posição fetal, e fingiu
dormir. Poucos minutos volvidos, João entrou no quarto, foi direto à cama, e
puxando o lençol, deitou-se e apagou a luz.
No seu lado da cama, Odete
relia mentalmente a carta de Inês, tantas vezes lida que a sabia de cor,
tentando assim afastar o desejo que o partilhar da cama com o marido,
despertara no seu corpo.
No outro lado da cama, de
costas para ela, João apertava os punhos, amordaçando a vontade de se voltar e
abraçar a mulher. Tinha quase a
certeza de que se o fizesse, ela não ia resistir. Mas não ia
fazê-lo. Um dia, ela tinha-o amado. E sempre ouvira dizer que onda há cinzas há fogo. Tinha que conseguir avivar esse fogo. Conquistá-la de novo. Só assim podia ter a certeza de que não voltaria a abandoná-lo, logo que a mãe ficasse curada.
Recordar o que sofrera, naquela altura, dava-lhe força para resistir. Não saber onde e com quem estivera naqueles quase quatro anos, era um espinho cravado na alma, que doía sem parar. Se ele soubesse, talvez amenizasse a sua dor, mas era demasiado orgulhoso para lho perguntar. Teria que ser ela a contar-lhe, quando viesse para ele de livre vontade. Se assim não fosse, seria melhor pedir o divorcio e por de vez um ponto final nos seus sonhos, por muito que lhe doesse.
Recordar o que sofrera, naquela altura, dava-lhe força para resistir. Não saber onde e com quem estivera naqueles quase quatro anos, era um espinho cravado na alma, que doía sem parar. Se ele soubesse, talvez amenizasse a sua dor, mas era demasiado orgulhoso para lho perguntar. Teria que ser ela a contar-lhe, quando viesse para ele de livre vontade. Se assim não fosse, seria melhor pedir o divorcio e por de vez um ponto final nos seus sonhos, por muito que lhe doesse.
Cansado acabou por adormecer.
Odete continuava acordada.
Fingindo dormir mas atenta a todos os movimentos do marido, soube que ele tinha
adormecido quando percebeu a alteração da sua respiração. Relaxou, esticou um
pouco as pernas doloridas, e murmurou uma pequena prece ao Anjo da Guarda,
hábito antigo, aprendido em criança com a sua avó paterna
Anjo da Guarda / minha
companhia
Guardai a minha alma/ de noite
e de dia.
21 comentários:
Continuando a acompanhar a "estória". Acredito que vai ter um final feliz.
.
* Se te amar for pecado ... Então sou um Pecador *
.
Cumprimentos poéticos
Estou como o Gil também acredito num final feliz.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Na minha opinião se ele realmente tivesse andado com a Inês, teria todo o cuidado em ver (marcas e outras coisas antes de ir para casa) Quase tenho a certeza que a carta foi apenas para lhe estragar o casamento e conseguiu na altura, se não não teria ficado sozinho e sempre a pensar onde andaria a Esposa.
Ela é que que saiu de casa (lesada) Ela é que lhe deve explicações. Pois só falando de todo o assunto poderá saber a dita verdade (ou não)
Gostei... está quase!!! :)
Um casal na mesma cama, se amando e um de costa para o outro... Triste cena..Vamos ver se as coisas serão finalmente ditas e ajustadas, sem uma conversa de verdade, colocando os pingos nos "is", isso não acontece! beijos, chica
bom dia
tenho sessenta anos e todos os dias faço a oração ao Anjo da guarda que minha mãe me ensinou.
quando há duvidas dos dois lados , só mesmo o dialogo resolve o sofrimento .
JAFR
Que sacrifício naquela cama!
Continuação de boa semana.
Esta coisa está intrincada, mas eu sei que a Elvira a vai desenrolar daqui a uns dias.
Bom dia
Uma boa conversa esclarecerá os motivos secretos!
Aguardo o px capítulo com carinho...
Uma boa 5ª feira...
É um hábito bonito, esse de dizer uma oração no final do dia.
Não fui criada nas práticas religiosas mas hoje gostava de ter criado o hábito de dizer um "mantra".
Também aprendi essa oração ao Anjo da Guarda, em criança, e rezei-a muitas vezes...não sei se o 'meu' Anjo da Guarda, guarda a minha alma, mas a minha vida ele tem descurado muito.
Será que a Odete vai ter mais sorte do que eu?
Tomara!!
:)
Diz Odete quem ama não trai,
talvez disso ela tenha razão
dizem que abana mas não cai
disse a certeza não tenho não!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço.
Boa tarde Elvira,
Suspeito que o ainda casal não tardará a dizer de suas razões e o entendimento finalmente chegará e cairão nos braços um do outro.
Beijinhos,
Ailime
Estão a precisar de um Recomeço!bj
Isto ainda vai virar
Bjs
https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt/
"As coisas" estão a compor-se e creio que as dúvidas, julgadas certezas pela Odete, serão esclarecidas em breve ! (?)
Creio haver uma grande traição da Inês para fazer sabotar o amor entre o casal.
Aguardemos .
Abraço
Curiosa a situaçao :)
Um pouco mais de raciocínio resolveria a questão. Se o João não pediu o divórcio nem falou nada para a mãe sobre a separação, foi porque tinha esperança que ela voltasse. Se Odete, quando o procurou, não foi acompanhada por mais ninguém além da mãe, foi porque não estava vivendo com outro homem que aceitasse que ela procurasse o ex marido sem a presença dele. O que não pode é dois famintos numa mesa (cama) ficarem só na vontade, diante do prato que mais gostam. Continuo gostando e aguardando os acontecimentos.
Abraços,
Furtado
Quanto desejo contido na alma desse casal, quando explodir vai ser uma onda de felicidade sem fim.
Beijos!
Possivelmente vão reatar o casamento, mas ela não o merece. A carta que já sabe de cor só prova uma coisa: Odete é uma mulher muito imatura.
Estou confuso pelos sentimentos deles...
Também me ensinaram a mesma prece
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