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15.3.18

A TRAIÇÃO - PARTE XX




Ainda que vivesse uma eternidade, Odete não esqueceria aquele dia em Aveiro, pensava à noite, enquanto se olhava no espelho, já depois de ter escovado os dentes e de se ter preparado para dormir. Tinha sido uma tarde e uma noite fantástica, com João sempre pendente dela, sempre disposto a vê-la feliz. A julgar por aquele dia, qualquer pessoa diria que ele estava apaixonado por ela. Mas ela sabia que isso não era verdade. Quem ama não trai. Devia tratar-se de um jogo qualquer. E o pior é que ela continuava a amá-lo com a mesma paixão de outrora. A distância e a saudade, longe de lhe fazerem esquecer, pareciam ter avivado o seu amor por ele. E agora ali estava ela, preparada para dormir, mas com as pernas a tremer e sem coragem de se dirigir à cama que teria que partilhar com o homem, que ainda era seu marido.
Finalmente saiu da casa de banho e respirou fundo ao ver que estava sozinha no quarto. Apressada enfiou-se na cama, puxou o lençol até ao pescoço adotando a posição fetal, e fingiu dormir. Poucos minutos volvidos, João entrou no quarto, foi direto à cama, e puxando o lençol, deitou-se e apagou a luz.
No seu lado da cama, Odete relia mentalmente a carta de Inês, tantas vezes lida que a sabia de cor, tentando assim afastar o desejo que o partilhar da cama com o marido, despertara no seu corpo.
No outro lado da cama, de costas para ela, João apertava os punhos, amordaçando a vontade de se voltar e abraçar a mulher.  Tinha quase a certeza de que se o fizesse, ela não ia resistir. Mas não ia fazê-lo. Um dia, ela tinha-o amado. E sempre ouvira dizer que onda há cinzas há fogo. Tinha que conseguir avivar esse fogo. Conquistá-la de novo. Só assim podia ter a certeza de que não voltaria a abandoná-lo, logo que a mãe ficasse curada.
 Recordar o que sofrera, naquela altura, dava-lhe força para resistir. Não saber onde e com quem estivera naqueles quase quatro anos, era um espinho cravado na alma, que doía sem parar. Se ele soubesse, talvez amenizasse a sua dor, mas era demasiado orgulhoso para lho perguntar. Teria que ser ela a contar-lhe, quando viesse para ele de livre vontade. Se assim não fosse, seria melhor pedir o divorcio e por de vez um ponto final nos seus sonhos, por muito que lhe doesse.
Cansado acabou por adormecer.
Odete continuava acordada. Fingindo dormir mas atenta a todos os movimentos do marido, soube que ele tinha adormecido quando percebeu a alteração da sua respiração. Relaxou, esticou um pouco as pernas doloridas, e murmurou uma pequena prece ao Anjo da Guarda, hábito antigo, aprendido em criança com a sua avó paterna
Anjo da Guarda / minha companhia
Guardai a minha alma/ de noite e de dia.

21 comentários:

_ Gil António _ disse...

Continuando a acompanhar a "estória". Acredito que vai ter um final feliz.
.
* Se te amar for pecado ... Então sou um Pecador *
.
Cumprimentos poéticos

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou como o Gil também acredito num final feliz.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Cidália Ferreira disse...

Na minha opinião se ele realmente tivesse andado com a Inês, teria todo o cuidado em ver (marcas e outras coisas antes de ir para casa) Quase tenho a certeza que a carta foi apenas para lhe estragar o casamento e conseguiu na altura, se não não teria ficado sozinho e sempre a pensar onde andaria a Esposa.

Ela é que que saiu de casa (lesada) Ela é que lhe deve explicações. Pois só falando de todo o assunto poderá saber a dita verdade (ou não)

Gostei... está quase!!! :)

chica disse...

Um casal na mesma cama, se amando e um de costa para o outro... Triste cena..Vamos ver se as coisas serão finalmente ditas e ajustadas, sem uma conversa de verdade, colocando os pingos nos "is", isso não acontece! beijos, chica

Joaquim Rosario disse...

bom dia
tenho sessenta anos e todos os dias faço a oração ao Anjo da guarda que minha mãe me ensinou.
quando há duvidas dos dois lados , só mesmo o dialogo resolve o sofrimento .
JAFR

António Querido disse...

Que sacrifício naquela cama!

Continuação de boa semana.

noname disse...

Esta coisa está intrincada, mas eu sei que a Elvira a vai desenrolar daqui a uns dias.

Bom dia

Anete disse...


Uma boa conversa esclarecerá os motivos secretos!
Aguardo o px capítulo com carinho...
Uma boa 5ª feira...

Portuguesinha disse...

É um hábito bonito, esse de dizer uma oração no final do dia.
Não fui criada nas práticas religiosas mas hoje gostava de ter criado o hábito de dizer um "mantra".

Janita disse...

Também aprendi essa oração ao Anjo da Guarda, em criança, e rezei-a muitas vezes...não sei se o 'meu' Anjo da Guarda, guarda a minha alma, mas a minha vida ele tem descurado muito.
Será que a Odete vai ter mais sorte do que eu?
Tomara!!

:)

Edum@nes disse...

Diz Odete quem ama não trai,
talvez disso ela tenha razão
dizem que abana mas não cai
disse a certeza não tenho não!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira.
Um abraço.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Suspeito que o ainda casal não tardará a dizer de suas razões e o entendimento finalmente chegará e cairão nos braços um do outro.
Beijinhos,
Ailime

Os olhares da Gracinha! disse...

Estão a precisar de um Recomeço!bj

Kique disse...

Isto ainda vai virar
Bjs
https://caminhos-percorridos2017.blogspot.pt/

Rui disse...

"As coisas" estão a compor-se e creio que as dúvidas, julgadas certezas pela Odete, serão esclarecidas em breve ! (?)
Creio haver uma grande traição da Inês para fazer sabotar o amor entre o casal.
Aguardemos .

Abraço

Gaja Maria disse...

Curiosa a situaçao :)

Unknown disse...

Um pouco mais de raciocínio resolveria a questão. Se o João não pediu o divórcio nem falou nada para a mãe sobre a separação, foi porque tinha esperança que ela voltasse. Se Odete, quando o procurou, não foi acompanhada por mais ninguém além da mãe, foi porque não estava vivendo com outro homem que aceitasse que ela procurasse o ex marido sem a presença dele. O que não pode é dois famintos numa mesa (cama) ficarem só na vontade, diante do prato que mais gostam. Continuo gostando e aguardando os acontecimentos.

Abraços,

Furtado

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Quanto desejo contido na alma desse casal, quando explodir vai ser uma onda de felicidade sem fim.
Beijos!

aluap disse...

Possivelmente vão reatar o casamento, mas ela não o merece. A carta que já sabe de cor só prova uma coisa: Odete é uma mulher muito imatura.

Andre Mansim disse...

Estou confuso pelos sentimentos deles...

redonda disse...

Também me ensinaram a mesma prece